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História Até Algum Dia... - Os Fins Justificam Os Meios?


Escrita por: Ka-S

Capítulo 30 - Os Fins Justificam Os Meios?


Abri a porta com um chute, o homem de meia idade usando um óculos maior que o rosto, e um terno caro e sempre bem alinhado pulou da enorme cadeira feita para parecer um trono, me olhou com os olhos arregalados e aplumou sua postura de superioridade.

— Que merda é essa? — Perguntou irritado.

Me aproximei da sua mesa tão grande quanto seu ego e joguei três pastas amarelas, ele olhou rapidamente para as pastas e depois voltou a me encarar com o rosto vermelho.

— A merda do relatório mensal. — Dei as costas e ele bateu as mãos na mesa.

— E quem você pensa que é pra entrar na minha sala desse jeito? — Dei alguns passos pra trás e fiquei de frente pra ele, apoiei as mãos na mesa e dei um sorriso de lado de forma debochada.

— Sou alguém que não passa o dia todo com a bunda colada na cadeira. — Ele travou o maxilar e alinhou os botões do paletó.

— Você está claramente em um dia ruim, então eu vou fingir que não ouvi isso.

— É eu tive a merda de um dia ruim e não preciso de um babaca como você pra terminar de estragar!

— Eu estou tentando ser compreensível, mas não vou admitir que fale como dessa forma.

— Eu estou pouco me lixando pra sua compreensão!

— Ei! — Levantou as mãos em sinal de rendição. — Também não é pra tanto, se acalme.

— Me acalmar? Eu não consigo nem olhar nos olhos da minha filha! E você me pede calma? Ela acha que eu sou um herói!


FLASHBACK ON


— Papa! — Quando me viu parado na porta Sofia correu para os meus braços, sua ternura e inocência me trazia paz, uma paz que há muito tempo tinha sido esquecida dentro de mim.

— Me desculpe pelo atraso.

— Não precisa se preocupar. Vem! É a nossa vez. — Sofi me arrastou pra dentro da sala de aula, alguns pais e alunos conversavam animadamente, assim que Sofi limpou a garganta, todos ficaram em silêncio apenas aguardando. — Bom, para o dia das profissões hoje eu trouxe o meu pai Alejandro Cabello. — Ela olhou pra mim e sorriu de forma singela que me arrancou um sorriso sem nenhum esforço.

— Boa tarde à todos.

— Boa tarde... — Todos responderam com animação, principalmente os pré-adolescentes, hoje parecia ser um dia importante para eles, isso se nota quando a maioria apresenta os pais de forma tão orgulhosa aos amigos.

— Meu pai é o Diretor/Xerife do Departamento de Polícia do Condado de Miami-Dade, ele luta pela justiça e para manter a ordem na nossa cidade, ele protege à todos nós. — Ri da empolgação com que Sofi falava.

— Você tem uma arma de verdade? — Um garoto no fundo perguntou de forma curiosa, antes que eu pudesse responder Sofi lançou um olhar mortal pro menino que se afundou na cadeira envergonhado.

— Ele é policial verdade, é claro que tem uma arma de verdade!— Fiquei sem graça da forma grosseira que Sofi respondeu.

— Calma aí ferinha.— Sussurrei e ela apenas assentiu.

— Bom, como eu estava dizendo, meu pai é um grande policial, na verdade ele é o melhor policial que essa cidade já teve, por isso ele se tornou Xerife.

— Bondade da minha filha. — Falei de forma despretensiosa, da forma que Sofia estava inflando meu ego qualquer coisa que eu falasse poderia me fazer parecer uma pessoa arrogante.

— Ele se formou com honra na Academia de Polícia, meu pai é mexicano e se casou com a minha mãe Sinuhe Cabello que é cubana, assim como a minha irmã mais velha Camila Cabello, meus pais e minha irmã tiveram uma vida muito difícil, por isso saíram de Cuba quando ela ainda era uma criança, pra fugir da ditadura da família Castro, viveram um tempo no México junto com a família do meu pai, e depois se mudaram para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Meu avô sempre diz que o meu pai é o orgulho da família, e que ele é a esperança do nosso povo latino e dos imigrantes, porque como um imigrante ele entende as dificuldades que nossa gente sofre, a verdade é que meu pai é o meu herói.

...Meu herói...

...Meu herói...

...Meu herói...

As palavras de Sofia ecoaram na minha cabeça, minhas pernas ficaram trêmulas, e uma ânsia de vômito subiu pela minha garganta.

— Papa, você está bem? — Ouvi a voz preocupada da minha filha, mas não me atrevi a olhar pra ela.

— Preciso de ar. — Falei abafado e saí correndo da sala, o barulho da sola dos meus sapatos enchiam o corredor, entrei no banheiro e só tive tempo de chegar até a pia, o vômito veio tão forte quanto a dor no meio peito.


FLASHBACK OFF


— Mas é exatamente isso que você é Alejandro. — A voz forçadamente calma dele estava começando a me irritar. — Quando tudo isso acabar, as pessoas vão te aplaudir de pé, você está ajudando a salvar vidas meu amigo, e todos serão gratos por isso.

— Salvando a vida de quem? De quem? — Perguntei irritado.

— Essa conversa de novo não! — Ele deu um soco na mesa.

— Fazem mais de três anos que estamos nessa investigação, me diz o por quê? Quero saber o motivo pelo qual ninguém foi preso ainda.

— Você sabe como funciona.

— Que se dane como funciona! Pessoas estão morrendo Superintendente, as pessoas continuam sendo traficadas e mortas, e o que nós estamos fazendo? Eu te digo o que estamos fazendo! Estamos de braços cruzados assistindo de camarote a desgraça daquele povo.

— Não existe paz sem uma guerra, e em uma guerra é inevitável que saia feridos, se para um bem maior é preciso que algumas pessoas morram, então não há o que possamos fazer.

— Isso está errado! E precisa acabar.

— Isso só vai acabar quando colocarmos as mãos naquela lista, eu quero todos os nomes dos que estão envolvidos, e eu não posso acabar com uma organização sem no mínimo prender os principais líderes, você sabe muito bem que se prendermos as marionetes eles nunca entregarão o alto escalão, e todo o nosso trabalho terá sido em vão.

— Eu já te dei nomes suficientes.

— Não! Eu já falei que não preciso saber dos peixes pequenos ou de meia duzias de idiotas que mandam em outros idiotas. Eu quero todos os nomes, de todos os países envolvidos e a função de cada um deles, principalmente do membro sombra, Lauren desconfiava que tinha um, e ela estava certa. Mesmo que a gente prenda todos os líderes se o sombra estiver solto a organização nunca irá acabar, porque essa é a função do membro sombra, a organização elege um membro que tem a identidade secreta, se a organização cair, esse sombra será o responsável por reergue-la, e isso não pode acontecer! Mesmo que os membros da organização peguem a pena de morte, eles jamais revelariam a identidade do sombra, porque eles nem sabem quem é.

E é exatamente por isso que apenas o presidente da organização sabe a verdadeira identidade do sombra, para que os mais fracos não o entreguem em troca da redução da pena ou por algum acordo com o governo.

— Tem que ter outro jeito! — Falei desesperado. — Eles vão matar a minha filha! Aquele doente está esperando apenas um deslize pra roubar a minha neta. Não! Eu não vou ficar de braços cruzados vendo a destruição da minha família. Olha só o que eu deixei eles fazerem com a Lauren, se eu tivesse dito a ela desde o começo o que estava acontecendo, ela não teria interpretado as coisas de forma errada, ninguém teria descoberto sobre ela, e hoje ela poderia estar aqui vivendo em paz.

— Não se culpe por isso, você conhece o procedimento de sigilo, e Lauren sabia muito bem que nessa profissão tem seus riscos.

— Eu fui cúmplice da tramóia pra matar a esposa da minha filha, isso é imperdoável.


FLASHBACK ON


— Daqui há duas horas o carro dela será interceptado, se prepare para apagar os rastros, Iglesias estará lá para garantir que o trabalho seja impecável. — Tentei controlar a respiração e soar o mais natural possível.

— Pode contar comigo Coronel.

— Hoje você dará uma grande prova da sua lealdade meu caro amigo.

— Sempre! — Joguei o celular em qualquer lugar e acelerei o máximo que eu pude, ainda era cedo e as ruas estavam pouco movimentadas, em poucos minutos cheguei na casa de Camila, apertei a campainha de forma frenética, logo uma Camila preocupada apareceu, quando a porta foi aberta entrei sem nem esperar o convite, e passei de cômodo em cômodo.

— Papa! O que está acontecendo? — Perguntou enquanto me seguia.

— Lauren! — Chamei mas não tive resposta, subi até a metade das escadas. — Lauren!

— Ela não está, faz mais de meia hora que ela saiu. — Senti o chão fugir debaixo dos meus pés. — Papa, o que está acontecendo? Você está me deixando nervosa! — Olhei pra ela tentando parecer normal, trouxe ela para os meus braços e a abracei apertado.

— Me perdoa? Por favor, me perdoa?

— Te perdoar pelo quê? — Quando percebi que estava falando demais tratei de amenizar a situação.

— Me perdoar por ter chegado dessa forma na sua casa, Lauren esqueceu de me entregar um relatório importante.

— Eu posso dar uma olhada no escritório e ver se ela deixou aqui.

— Não se preocupe com isso, depois eu falo com ela. — Deixei um beijo demorado em sua testa antes de me afastar. — Tranque bem a porta, e não esquece que eu te amo muito.

— Eu também te amo papa, tem certeza que está bem? — Perguntou desconfiada.

— Tenho, não se preocupe, agora eu preciso ir. — ela abriu a boca pra falar mas eu saí correndo de volta pro meu carro, procurei pelo celular que estava caído no chão e respirei fundo ao ver o número de telefone, com as mãos trêmulas atendi.

— Problema resolvido! — O celular caiu da minha mão, as lágrimas embaçaram meus olhos, um gritou cortou minha garganta, esmurrei o volante com tanto desespero.

— Perdão! Perdão! Perdão! — Pedi de forma compulsiva como se Lauren pudesse me ouvir, e meu coração apenas me perguntava como eu fui capaz de cometer tamanha traição.


FLASHBACK OFF


— Você não sabe o quanto é horrível ver minha filha chorando, e saber que a culpa é minha? Sabe não sabe o quanto foi triste vê-la se afundando em desespero, e se a minha neta não existisse, o que teria sido da minha filha? Se você não sabe o que eu passo pra suportar tudo calado, então guarde suas asneiras pra quem está disposto a escutar.

— Infelizmente faz parte da nossa profissão fazer pequenos sacrifícios. — Falou simples.

— Até o momento eu sou a única pessoa que está fazendo sacrifícios. — Respirei fundo tentando me acalmar. —

Eu quero uma reunião com o ministro.

— Por quê? — Perguntou desconfiado.

— Porque isso não pode continuar, eles vão matar a minha filha! Aquele doente quer a minha neta! Eu me recuso a continuar colocando a minha família em perigo.

— No momento isso é impossível, o ministro está em uma reunião fora do país.

— Então ele que volte!

— Olha, eu entendo o seu desespero, mas não podemos parar agora, precisamos de você, não sabemos com quem podemos contar, não sabemos quem está ou não do nosso lado. Por isso eu peço que aguente mais um pouco, eu tenho certeza que tudo vai acabar bem.

— Você falou a mesma coisa pra Erendira.


FLASHBACK ON


— Por favor, pega. — Insisti aflito olhando para os lados. — Erendira pega essa arma logo, isso é uma ordem! — Ela me lançou um sorriso calmo e negou com a cabeça.

— Não posso acatar essa ordem senhor.

— Não precisa ter medo, eu estou com as minhas armas e vou te ajudar.

— Você é tão otimista, não teríamos a menor chance.

— Vou pedir reforço, eu não vou deixar isso acontecer, isso precisa acabar. — Ela segurou minha mão.

— Sim Alejandro precisa acabar, e se você entregar o seu disfarce agora, nós dois iremos morrer, logo agora que você está tão perto, você tem a confiança deles.

— Eles vão te matar!

— Eu sei, e não me importo, você sabe muito bem do juramento que fizemos, esse é o meu trabalho, e morrerei com honra.

— Não!

— Eu sabia exatamente onde eu estava entrando quando aceitei essa missão, infelizmente fui negligente e cometi um deslize, mas não significa que é o fim, agora vamos antes que alguém desconfie de você também.

— Por favor...

— Eu quero que você faça isso, eu quero que seja pelas suas mãos, que seja com a arma da polícia, e não daqueles bandidos,

— Não me peça isso.

— Não permita que seja nenhum deles.

— Erendira, não po...

— Alejandro não sofra, eu vivi pela polícia e agora estou morrendo por ela, isso é uma honra pra mim. — Suspirei derrotado.

— Xerife... Foi uma honra trabalhar ao seu lado.

— A honra foi toda minha. — Segurei as lágrimas, ela estendeu a mão e eu a puxei para um abraço que ela retribuiu com força, ela também tentava segurar as lágrimas, morrer em uma missão é uma honra e chorar só faz o inimigo mais feliz por isso o sorriso deve nos acompanhar até o último suspiro.

Algemei suas mãos na frente e saímos da pequena sala em que estávamos, caminhei o mais lento possível, talvez tentando criar coragem.

Erendira era a minha parceira dessa missão. Infelizmente foi pega no escritório do Coronel e foi acusada de traição, e na lei da organização traição é pena de morte, no pátio estava alguns membros do alto escalão e todos do batalhão, com exceção do atirador, todos estavam sentados e impecáveis cadeiras brancas como se fossem assistir uma peça teatral.

— Não carregue esse peso na sua consciência Alejandro, se eu estivesse no seu lugar pode ter certeza de que eu meteria uma bala na sua cabeça sem pensar duas vezes, e dormiria tranquila a noite toda. — Falou divertida enquanto nos aproximavamos da platéia, forcei um sorriso querendo tranquilizá-la. — Daqui há duas semanas é o aniversário da minha sobrinha, ela pediu uma boneca ruiva que fala, eu rodei a cidade toda atrás dessa boneca e encontrei com comerciante no bairro chinês, era a última da loja, tive que ameaçar dar voz de prisão pra uma mulher desistir da compra. — Ri da sua história. — Eu deixei dentro do baú no meu quarto, entregue pra ela no dia do aniversário dela.

— Com todo prazer.

— E peça desculpa pela minha ausência.

— E para os seus pais?

— Apenas diga que eu os amo muito.

Assim que chegamos no pátio, o Coronel se levantou e entregou sua taça de champanhe para Gavin.

— Vejam senhoras e senhores. — Apontou para Erendira. — Vejam a queda de mais um inimigo da organização. — Os aplausos eufóricos confirmavam a excitação de ver o "inimigo" abatido. — Iglesias quer ter a honra? — Estendeu a mão pra ela que estava sentada, e de costas para o atirador estendeu a mão para que a arma fosse entregue.

Iglesias sorriu sem mostrar os dentes e segurou em sua mão, ao mesmo tempo em que o atirador entregou a arma ao Coronel ele levou a mão de Verônica e grudou seus lábios que tinha um tom exagerado de rosa.

— Coronel? — Chamei

— O que é? — Ele respondeu olhando pra Verônica com um sorriso asqueroso no rosto, ela mantia a pose seria e o olhava de forma estranha, coisa que ele claramente adorava, Verônica não é de falar muito e muito menos de sorrir, era uma mulher reservada, e misteriosa demais, mas não me deixo enganar por esse rosto sem muitas marcas de expressão, é uma mulher extramamente violenta e fria, mas de um tempo pra cá notei que algo em seu semblante mudou, assim como em sua postura. Ela foi designada para cuidar de Lauren, e isso não me agrada nem um pouco, por um milagre ela continua viva, e não quero que ela sofra mais, preciso tirá-la daqui antes que ela realmente acabe morrendo dessa vez.

Tenho que tomar cuidado, Verônica é inteligente e tenho certeza absoluta de que está tramando alguma coisa, só espero que não seja contra o meu disfarce, a última coisa que eu quero é essa mulher me assombrando e cercando a minha família.

Ela é o tipo de mulher que você jamais desejaria conhecer, mata sem nem mesmo piscar ou enrugar a teste de preocupação.

Muitas vezes durante meus testes para entrar na organização, a vi matando pessoas inocentes apenas por que imploraram por suas vidas, ou simplesmente porque começaram a chorar.

Claramente é a preferida do Coronel, ele a venera de uma forma repugnante, ele tem algum tipo de obsessão doentia por ela, óbvio que ela sabe disso, mas finge não perceber nada. Outra em seu lugar aproveitaria ao máximo essa situação, para tirar vantagem, mas isso é uma coisa que não parece lhe interessar, ela me intriga e não é de um jeito bom, anda sempre de cabeça erguida e o nariz empinado, mostrando não ter medo de nada nem de ninguém, mas o olhar está sempre perdido, e quando olha em seus olhos, é possível sentir o buraco dos olhos dela engolindo você. Definitivamente não é uma pessoa para ter algum tipo de contato ou vínculo, é uma víbora das mais venenosas, e eu não duvidaria nada se ela ocupasse o posto do Coronel, talvez ela não tenha ocupado ainda porque alguém importante tem medo dela, até o pior assassino teria medo de alguém com um olhar tão negro quanto o dela, ainda não entendo como alguém como ela se sujeita a receber ordens, e nem porque entrou no exército, quando eu entrei na organização ela já fazia parte, eu tentei perguntar como ela veio parar aqui, mas isso só a deixou irritada, quando o Coronel ficou sabendo do meu interrogatório, ele questionou o meu interesse por Verônica, e me alertou de que se eu quisesse alguma coisa com ela que fosse além de uma irmã de organização, ele mesmo me mostraria o que acontece com alguém que combiça o que é dele.

— Eu gostaria que me desse a honra de tirar. — Ele desviou o olhar de Verônica e me olhou ainda com um sorriso no rosto. — Excelente ideia Xerife. — Passou a mão de Verônica em seu rosto. — Mas só se a minha doce Iglesias não se importar. — Ela apenas negou com a cabeça. — Se ela não se importa eu também não me importo, apesar de ser sempre tão belo vê-la em ação, chega a ser poético. — Forcei um sorriso em concordância, esse homem era patético, um patético desprezível, preso em sua própria loucura, um bastardo influenciado por um médico tão mentalmente perturbado quanto ele. — E você o que está esperando pra começar a andar? Não temos tempo pra ficar perdendo, o show tem que começar. — Trinquei o maxilar, e soltei o braço de Erendira que começou a caminhar em direção ao paredão. O atirador pegou a arma da mão do Coronel, quando vi que iria vir em minha direção, tirei a arma da cintura e mostrei ao Coronel.

— Prefiro usar a minha. — Ele assentiu e voltou a se sentar ao lado de Verônica.

— Espero que tenha valido a pena trair os irmãos que te estenderam a mão. — O Coronel falou quando Erendira passou por ela. — Se não tivesse tentando nos enganar você teria continuado viva. — Erendira olhou por cima dos ombros e deu um sorriso antes de começar a recitar o juramento que fez quando entrou para polícia, ela fez questão de falar todo o último suspiro que restava, ela fez questão que todos escutassem.

— “INCORPORANDO-ME A POLÍCIA DO CONDADO DE MIAMI-DADE, PROMETO CUMPRIR RIGOROSAMENTE AS ORDENS DAS AUTORIDADES A QUE ESTIVER SUBORDINADO, RESPEITAR OS SUPERIORES HIERÁRQUICOS, TRATAR COM AFEIÇÃO OS IRMÃOS DE ARMAS E COM BONDADE OS SUBORDINADOS E DEDICAR-ME INTEIRAMENTE AO SERVIÇO DA PÁTRIA, CUJA HONRA, INTEGRIDADE E INSTITUIÇÕES DEFENDEREI COM O SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA”.

E assim ela chegou ao paredão, levantou as mãos algemadas, olhou no fundo dos meus olhos e bateu continência, com a mão trêmula e força sobre-humana para não derramar uma lágrima, apertei o gatilho, uma única bala atravessou seu crânio.

Para estar aqui, é preciso se anular com um ser humano, uma vez falei para Verônica que um dia acostumaríamos com os gritos das pessoas inocentes.

A polícia nos ensina a ter sangue frio e acostumar com o horror.

Mas a verdade é que cada grito e pedido de misericórdia, jamais deixarão meus ouvidos, e jamais poderão ser esquecidos.


FLASHBACK OFF


— Ela sabia dos riscos.

— É claro! Tudo se justifica com as palavras, enquanto vocês continuam suas vidas, nós perdemos as nossas, nós perdemos nossos entes queridos, porque o poderoso governo americano justifica tudo com essas palavras, porque a Erendira mesmo sendo uma profissional respeitada e condecorada, perdeu a vida porque ninguém fez nada pra ajudar.

Porque a Lauren mesmo sendo uma profissional respeitada e condecorada, não teve a proteção de ninguém.

Mesmo eu sendo um profissional respeitado e condecorado, vivo a sombra do medo e do que pode acontecer com a minha família, porque todos nós sucumbimos por esperar a boa vontade do governo.

— O governo está sempre ao nosso lado e você sabe disso.

— Onde o governo estava quando eu alertei sobre o que iriam fazer com a Lauren? Onde o governo estava quando eu falei que eles iriam fazer coisas bizarras com ela?

— Eu falei que iríamos agir. — Tentou se justificar.

— Mas essa ação nunca aconteceu, não é mesmo? Se Verônica não tivesse traído a organização e ajudado Lauren a fugir, hoje eles estariam fazendo monstruosidades com ela em algum buraco desse mundo, uma assassina que deveria estar no banco dos réus ajudou quem o governo deveria proteger a fugir... Irônico não?

— Iríamos agir e você sabe disso.

— E onde vocês estavam? — Ficou mudo. — O pai dela luta todos os dias no tribunal para prender bandidos, porque ele acredita na lei, se ele soubesse que o governo deixou a filha dele pra morrer, se ele soubesse que o governo sabia esse tempo todo que a filha dele estava viva sendo mantida trancada e não fez nada, se ele soubesse que o governo sabia que ele fez um velório e enterrou uma desconhecida e que o governo apenas participou de toda essa farsa, se ele soubesse que o homem que ele chama de amigo, o homem que ele deixa perto da família dele, o homem que dizia amar a filha dele, foi o homem que ajudou o governo a fazer tudo isso, ele jamais voltaria a acreditar na justiça que ele tanto defende.

— O Juíz Jauregui, irá entender muito bem que o que fazemos é para o um bem maior.

— E quem irá explicar isso pra minha família? Quem vai conseguir salvar o meu casamento com esse argumento?

— Alejandro... — Ele começou a falar mais eu interrompi.

— Quem é o bem maior? Pra entrar na organização vocês sabiam que como parte do teste eu teria que matar pessoas inocentes e mesmo assim não fizeram nada. A Erendira morreu acreditando na justiça e a justiça deixou que ela fosse jogada como animal em uma vala imunda no meio de um deserto.

— Essa conversa não deveria estar acontecendo, você sabia de tudo isso, quando se entra no exército e na polícia americana o que está escrito no contrato assinado antes de jurar a bandeira? — Fiquei mudo encarando o sujeito na minha frente. — Eu vou te lembrar o que está escrito em letras garrafais. "PROPRIEDADE DO GOVERNO AMERICANO".

Somos propriedade do governo Alejandro e nossos fins justificam os meios, nos importamos sim com as pessoas que a organização está escravizando e matando, porém não podemos simplesmente salvar uns e deixar que essa quadrilha continue atuando, e fazendo as mesmas coisas com outras pessoas. Eu quero a lista, e só iremos acabar com isso quando essa lista estiver em nossas mãos. Iremos colocar uma equipe de busca para encontrar Lauren e Verônica, essa mulher tem que ser presa, e Lauren pode nos ajudar na investigação, colocaremos ela no programa de proteção, não deixaremos mais nada de ruim acontecer com ela. — Soltei uma gargalhada debochada.

— Escute aqui Superintendente Fhyrrer, se alguma coisa acontecer com a minha filha ou com a minha neta, não vai ter lista que vai me impedir de acabar com aqueles desgraçados e com todos vocês.

Novamente eu tive que jurar lealdade ao Coronel, só que dessa vez eu não vou deixar ele fazer mal as pessoas que eu amo.

— Alejandro vai pra casa esfriar a cabeça, esperaremos os relatórios mensais e eu prometo que irei pedir uma reunião com o ministro.

— Sabe Fhyrrer alguma coisa não bate nessa história toda. — Ele me olhou desconfiado. — Quando o antigo Superintendente concordou comigo e começou a pressionar o governo por uma posição, ele simplesmente morreu de forma inexplicável.

— O que está insinuando? — Perguntou entre os dentes.

— Eu não sou homem de insuar, eu estou afirmando que tem alguma coisa de errada nessa história, seja lá o que for eu vou descobrir. Se vocês encontrarem a Lauren eu quero ser o primeiro a falar com ela, assim como Verônica. — Ele ia abrir a boca pra falar alguma coisa mais eu interrompi. — Eu tenho esse direito depois de tudo que aconteceu.

— Tudo bem, isso eu posso te prometer.

— Aguardo a sua ligação conformando a reunião com o ministro. — Virei as costas e antes que eu saísse da sala ele me chamou.

— Eu sei que você está assim por temer a sua família e a família de Lauren, mas acredite que eles saberão te perdoar.

— Não respondi nada e apenas continuei andando.

Existem pessoas que deixam marcas tão profundas que nem o mais bondoso dos seres humanos poderia perdoar.

Minha mente fez questão de me lembrar.


[...]


— Lauren! — Dinah se jogou nos meus braços dei alguns passos pra trás para não perder o equilíbrio. Desviei o olhar de Normani que estava estatística e aproveitei o momento nos braços da minha amiga que tanto me fez falta.

— Você achou que ia se livrar de mim tão fácil? — Falei com a voz embargada.

— Não posso acreditar. — Afaguei seus cabelos. — Você fez tanta falta, eu deveria encher esse seu rabo branco de chutes pra nunca mais fazer isso com a gente.

— Sinto muito ter causado tanto sofrimento, mas eu estava trancada, e se não fosse por Verônica eu nem sei se estaria aqui. — Ela me apertou mais e eu gemi pela força que usou, deixei Dinah chorar e me xingar de forma desconexa, pra quem sempre vê Dinah rindo e fazendo piadas, vê-la nesse estado de choro desesperado era de cortar o coração, eu estava da mesma forma, e a entendo perfeitamente, voltar pra casa é bom, é um choro que não dá pra explicar, só deixar sair.

— Obrigada por trazê-la de volta Verônica. — Dinah agradeceu ainda grudada em mim. — Acho que a minha ficha ainda não caiu, nossa! Você voltou mesmo.

— Voltei minha amiga.

— Eu te amo branquela.

— Eu também te amo.

— Sofremos muito sem você, mas agora você está aqui e não vamos mais deixar ninguém te fazer mal, daqui você só sai por cima do meu cadáver. — Ela se afastou e segurou meu rosto. — juro que ninguém vai te afastar de nós novamente, eu juro. — Sequei sua lágrimas e confirmei com a cabeça.

— E eu não vou deixar mais ninguém me afastar de vocês novamente. — Ficamos nos encarado por algum tempo, apenas memorizando os novos traços ganhados.

— Normani? — Dinah se afastou e puxou Normani pela mão e a trouxe pra perto de mim, ela continuava parada apenas me olhando. — Olha amor, a Lauren está aqui, viu? A nossa Lauren está viva, e está bem aqui. — Dinah disse afobada. — Ela não morreu, ela está aqui, olha! — Normani me olhou dos pés a cabeça, seu lábio inferior começou a tremer e ela o prendeu entre os dentes, ela deu um passo pra frente e de forma cuidosa passou a mão no meu rosto como se a qualquer momento eu fosse quebrar, duas lágrimas grossas caíram de seus olhos.

— Então é verdade, você está viva? — Assenti fraco, meus olhos nem tinha terminado de desembaçar pelo choro com Dinah e estava cheio de lágrimas novamente. — Verônica falou a verdade, ela não mentiu quando falou que você estava viva. — Sua voz falhou. — Eu me sinto tão estúpida, você esteve esse tempo todo precisando da minha ajuda, e eu perdendo tempo gritando com todo mundo e querendo que elas aceitassem que você estava morta. — Puxei ela para os meus braços e deixei que ela chorasse, minha melhor amiga estava se sentindo culpada pela minha situação, e no momento fazê-la entender que nada disso era culpa dela seria impossível.

— Me perdoa Lauren.

— Você sabe que não preciso me pedir perdão.

— Eu não te ajudei quando estava precisando, tratei Camila mal por acreditar na Verônica, por favor, não pense que eu queria roubar sua filha da Camila, eu apenas pensei estar fazendo o certo para protegê-las, me perdoa.

— Normani não me peça perdão, você não precisa fazer isso, eu confio em você.

— Quando entramos na polícia juramos que cuidaríamos uma da família da outra se por alguma coisa acontecesse com alguma de nós, mas eu falhei, eu sou tão estúpida, minha cabeça dura não me deixou ver o que estava acontecendo.

— Pare com isso! Eu tenho certeza que você fez o que pôde.

— Se eu não fosse tão cabeça dura.

— Que tal aproveitar que a sua melhor amiga está de volta? — Falei animada tentando quebrar o clima pesado. — Pare com esse monólogo e me dê um abraço de verdade, será que Dinah não anda te alimentando direito? — Ela riu contra o meu pescoço e me apertou, segundos depois senti os braços de Dinah se misturar com o nosso abraço. Não sei por quanto tempo ficamos envolvidos nesse abraço, mas só nos separamos quando Camila chamou nossa atenção.

— Desculpa interromper, mas tem alguém querendo te conhecer. — Olhei para os braços de Camila e vi o ser mais lindo desse mundo, minhas pernas vacilaram enquanto eu me aproximava devagar, a cada lágrima que descia eu secava rapidamente com medo da minha visão embaçar e eu perder qualquer detalhe daquele ser que amava tanto, mas que pela primeira vez eu não precisava imaginar como seria seu rosto, me encurvei pra ficar na altura dos olhos dela, olhos tão parecidos com os meus porém um verde em tom mais claro, ela me olhava com os olhos arregalados, passei as mãos em seu rosto que estava um pouco vermelho, deslizei os dedos pelos seus braços, quando passei pela sua mão ela segurou meu dedo com força, me fazendo rir com a cena.

— Fala oi pra mamãe meu amor. — Camila falou fazendo voz de criança. — Eu sei que você está brava com a mama por eu ter ficado esse tempo longe de você, mas foi por um bom motivo, eu fui buscar a mamãe, e eu trouxe ela pra perto de nós.

— Ela é tão linda. — Falei sussurrado com medo de assustar ela.

— Ela teve a quem puxar... Pega a sua filha meu amor. — Olhei pra Camila com receio, e ela assentiu sorrindo me incentivando. — Pega amor, faz tempo que ela está esperando para estar nos seus braços. — Com cuidado Camila colocou Angel em meus braços, ela fez um pouco de manha mas não chorou, fiquei imóvel com medo de deixar ela cair.

— Senta aqui Lolo. — Dinah falou apontando pro sofá, caminhei quase paradando, sentei com todo cuidado do mundo, colei ela sentada nas minhas pernas, senti a mão de Camila acariciar a minha nuca, olhei pra ela e retribuí seu sorriso antes de colocar nossos lábios rapidamente, Angel continuava me encarando com os olhos arregalados, encostei minha testa na tela e olhei no fundo dos seus olhos.

 Oi filha a mamãe voltou...



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