História Até esse verão - Quase um conto de fadas

-Não te contei ontem porque quando lembrei você já estava dormindo, mas sua prima é muito sinistra, sabia? -Nati falava enquanto tomava uma colherada de sorvete

-Como? -Parei de prestar atenção no meu sundae  

-Depois que Bia dormiu, eu fui assistir séries no notebook. Do nada ela entrou com uma tesoura na mão, mas quando me viu parou onde estava e toda sem graça perguntou por você.

-Tesoura? O que ela ia fazer com uma tesoura?

-Quem sabe?

-Muito estranho… -falei batendo os dedos na mesa da sorveteria -Pode deixar comigo, isso tá muito esquisito. Pra mim ela quer aprontar alguma

-Aff, Denize! Você encana demais com ela. Coitada

-Coitada? Você não sabe é de nada! Escreve aí o que ou dizer: ela vai aprontar alguma

Nati apenas revirou os olhos, enquanto tirei um gole do sundae.

(...)

Minha família estava na Vila. Eu não quis ir e Nati acabou ficando também. Eu não havia visto Cristian pela manhã, mas quando acabamos de almoçar no quiosque eu me esbarrei com ele.

-Você sumiu hoje! -Ele disse depois de passar o braço pelos meus ombros e beijar minha bochecha

-Te procurei mas não achei

-Eu estava na Casa das Pranchas. Meu pai teve que sair e acabei ficando. Achei que você fosse surfar hoje.

-Eu queria, mas como Nati não quer aprender, eu não quis deixá-la só

-Ah não! Nem vem me culpando. Virei encosto agora?

-Não foi isso que eu quis dizer, né!

-Enfim! Eu vou dar um mergulho, tá? -Disse ela, logo depois indo para o mar.

-Vamos também, Denize? -Cris parecia animado

-Eu não. Tô de roupa, não pus o biquíni.

-Tá bom então.

Achei que ele havia se conformado, mas fui pega de surpresa quando ele de repente me carregou, me levando até o mar.

-Não, Cristian! Não!!! É sério, por favor!! -Eu balançava as pernas desesperadamente

-Ah, relaxa. -Ele ria -Vai ser legal!

Eu só conseguia ver o mar cada vez mais próximo. E eu não viria preocupação em me molhar se eu não estivesse usando uma saia jeans e uma regata! Tentei lutar para que aquele banho não acontecesse, mas quando vi que não haveria saída, parei. Logo foi ficando mais fundo e só aí ele abaixou, para que realmente me molhasse.

-Como você é besta! -Comecei a jogar água nele, que retribuiu no mesmo ato

A guerra estava feita. Acontece que eu já havia perdido as forças de tanto rir, e ele estava ganhando. Pedi que parasse, mas ele continuava, e eu já estava me afogando com tanta água voando no meu rosto. Eu nem conseguia abrir os olhos, porque eles já ardiam.

Acho que ele percebeu que pra mim o jogo havia acabado. O ganhador foi ele, mas quem recebeu prêmio fui eu, com o beijo que o próprio me deu.

-Satisfeito? Agora eu vou ter que trocar de roupa! -Disse assim que nos afastamos e consegui recuperar minha visão

-E você acha que eu vou deixar você ir embora agora? -Perguntou ele, convencido

-Eu VOU embora agora. -Comecei a voltar.

Na verdade eu estava tentando. Porém quando vi que Cristian estava atrás de mim, tentei correr. Mas vocês sabem o que acontece quando tentamos correr dentro d'água, não é mesmo? Apenas ficamos lentos por fazer tanto esforço para sair. E só depois de muito esforço eu consegui chegar na parte rasa, passando a mão no cabelo para que a água escorresse.

-Nem adianta, Denize! -Cristian vinha logo atrás

Comecei a correr dele, tentando evitar voltar para o mar. Ele veio atrás de mim, e eu só corria mais, na medida do possível. Minhas pernas foram perdendo a força, minha respiração foi ficando ofegante, eu fui diminuindo o ritmo, até parar.

Cristian me abraçou por trás, logo depois me fazendo cócegas. Eu não parava de rir, e só depois ele parou, me fazendo virar para ele, quando pegou na minha cintura e me olhou sorrindo, me analisando, antes de me dar outro beijo demorado.

(...)

Depois que eu, Cris e Nati conversamos bastante, voltamos para casa. Tinha que trocar aquela roupa; já estava perto do céu escurecer e já ventava na praia. Prometi voltar, pois Yasmin chegaria com mais um amigo e havíamos combinado de nos encontrar no quiosque pra bater papo.

Minha família já havia chegado, mas estavam tão cansados que a maioria dormiu na sala, enquanto Como Eu Era Antes De Você passava na TV. Deixei um recado na geladeira para minha mãe e saí novamente com Nati.

Ficamos esperando por alguns minutos, mas logo eles chegaram.

-Amadinha! -Yasmin exclamou com um sorriso no rosto assim que me viu

-Oi!! -Levantei para cumprimentá-la

Cris apresentou minha amiga à sua irmã, o logo depois Yasmin nos apresentou o amigo dela, Renan. Ele tinha a mesma idade dela, e pelo que conversamos depois, se conheciam desde a alfabetização.

Eu já estava começando a gostar muito quando a galera se reunia, mas naquele momento, só com nós cinco ali já estava sendo bem divertido. Era como se fossemos amigos há anos.

-Você também não surfa? Achei que fosse só a Nati que não quisesse aprender! -Exclamei para Renan

-Ah, eu não vejo muita graça, e também não tenho muito entusiasmo.

-Finalmente uma pessoa que me entende! -Nati abriu os braços -Eu prefiro fazer SUP.

-Você também faz SUP? -Ele perguntou, parecendo estar surpreso.

-Faço! Comecei agora nas férias, mas já é minha atividade preferida.

-Eu pratico faz um tempão. Você sentiu dificuldade no começo? -Ele se aproximou dela, para conversarem melhor

-Já vi que esses dois vão conversar sobre muita coisa em comum… a Natália gosta de Harry Potter, Denize? -Perguntou Yasmin

Apenas fiz que sim com a cabeça

-Ihhh, então esse papo vai até a madrugada!

-Vocês querem milk-shake? -Cris perguntou se levantando

Nós duas negamos, mas ele foi até o bar do quiosque

-Denize, você pode não ter percebido, mas está fazendo um bem danado para o meu irmão. Se antes ela já era bom, agora está melhor ainda!

-Eu fico feliz em saber disso. Mas eu aposto que não fiz nem cinco por cento do bem que ele me fez. Você precisava ver o meu avanço.

-Ainnn, que fofo! -Ela sorriu -Vocês são tão bonitinho!

Ri, logo depois mudando de assunto. Eu realmente queria ficar amiga dela.

-Atrapalho as beldades? -Perguntou Cris enquanto sentava ao meu lado e passava o braço por meus ombros

-Não, estávamos até falando de você, mas já mudamos de assunto -Respondi

-Acho que vou te proibir de falar com minha irmã, ela deve estar te contando meus podres.

Rimos nós três. Cris foi fazendo carinho no meu pescoço com o próprio rosto, e logo depois foi beijando.

-Ihhh, já vi que tô de vela, né?

-Ah, Yasmin, quando você ficava com aquele pivete do Marcos eu não reclamava.

-Ah não. Não reclamava? Você só faltava expulsar o menino, Cristian! E não fala assim dele, ele era muito gente boa, você que não ia com a cara dele!

-Gente boa? Ele tinha idade pra ser seu tio! -Cris continuou, de brincadeira

-Ele tinha sua idade! Exatamente 17 anos!

-Ihh, já vi que certa pessoa é um pouco ciumenta… -Me pronunciei

-Só um pouco? Você não sabe nem da metade! -Yasmin cruzou os braços

-Epa! Ser ciumento e ser protetor é bem diferente! Eu só estava protegendo minha querida irmã de caras idiotas.

Rimos novamente.

-Tá, okay bom então! Mas agora eu já vou, eu que não vou segurar vela!

Implorei para ela ficar, mas a própria disse que ainda voltaria.

Cris me abraçou por trás, me fazendo ficar apoiada em seu peito. E assim ficamos por um longo período de tempo, conversando baixinho, enquanto ele alisava as costas da minha mão com o polegar.

(...)

-Certeza que tem que ir? -Cris perguntou novamente, enquanto eu, dessa vez, me levantava

-Queria ficar mais, mas já tá tarde, eu deixei um bilhete pra minha mãe, ela deve estar pirando por eu ainda não ter chegado.

-Tá bom, eu te levo.

-Vamos, Nati? -Perguntei olhando para minha amiga, mas me assustei com o que vi

Ela estava aos beijos com o tal Renan. Eu fiquei tentando digerir aquilo, porque… tão rápido assim?!

Só quando eles pararam fomos embora. Renan, Nati e Yasmin iam conversando na frente, enquanto eu e Cristian fomos abraçados atrás.

Minha amiga entrou e Yasmin e o amigo se despediram, ficando na frente da casa apenas eu e Cristian.

-Não queria que você fosse.

-Também queria ficar, Cris. Mas eu realmente tenho que ir.. 

-A gente já se vê todos os dias, eu já estou ficando acostumado! Já virou rotina.

-Nunca gostei tanto de rotina! -Sorri

-Nem eu -Disse ele, logo depois me beijando

-Hum -Eu disse assim que paramos -E eu gosto de você cada dia mais.

-Eu também, Denize -Ele olhou nos meus olhos -Eu também

O beijei com vontade. Eu não fazia a mínima questão de parar.

-Agora eu tenho que ir… -Fui tentando me afastar

-Só mais um beijo -Ele pediu, e eu dei

Não sei o que era, mas parece que havia um imã que me fazia não querer sair de perto dele.

-Até amanhã, Cris

-Até.

Subi as escadas, mas com sensação de andar nas nuvens. Meu coração dava leves palpitadas, minha boca formigava, e um sorriso bobo não saia do meu rosto. Mas tudo isso foi interrompido assim que minha mãe me viu.

-Denize, onde você estava? -Ela perguntou, séria

-Na praia ué.

-E você acha mesmo que pode sair sem avisar nada? Que pode sumir pelo dia inteiro e só aparecer agora?

-Eu não sumi pelo dia inteiro, e eu avisei, sim! Deixei um bilhete na geladeira, a senhora não viu?

-Não tem bilhete nenhum na geladeira! Nem tente me enganar.

-Mãe, eu tô falando sério! Eu deixei! -Fui andando até a cozinha, mas quando cheguei não encontrei nada

-E cadê? -Ela cruzou os braços

-Deve ter descolado, sei lá! Mas eu deixei, eu juro, mãe! -Abaixei para olhar se não estava no chão

-O papel sumiu! -Falei -Mas eu vim aqui, vocês já tinham chegado, só que estavam dormindo na sala

-Isso sim aconteceu, mas não pense que vai ficar barato. Só por causa disso você está proibida de sair à noite!

-Que? Ah não, mãe! -Eu acho que minha expressão foi de confusa à frustrada

-Nem adianta, é pra você aprender! Fim de papo! -Ela disse saindo

Minha cabeça estava uma loucura. Feliz pelos minutos anteriores, confusa pelo papel ter sumido e revoltada por não poder sair à noite.

Fui para o quarto e logo Nati pediu pra explicar o que estava acontecendo. Prometi contar depois do banho, mas quando voltei ela já estava dormindo.

Por mais chateada que eu estivesse, prometi que não deixaria que os pensamentos bons parassem de habitar minha mente.

Deitei na minha cama e Cristian surgiu na minha cabeça, do nada. Ele sim estava fazendo minhas férias valerem a pena, ele era simplesmente incrível. E eu tinha que admitir que já estava gostando dele, de verdade.