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História Até O Fim - Capítulo Único


Escrita por: Miichele

Notas do Autor


Espero que gostem! <3

Capítulo 1 - Capítulo Único


 Uma brisa gélida adentrava. Forte o suficiente para fazer seu corpo se arrepiar e largar a caneta para abraçar a si mesmo. Naqueles momentos sentia falta de suas longas vestes que o protegiam do sol forte de Sindria, ou dos ventos que vinham dos mares do sul. Mas não era só disso que Ja’far sentia falta.

 Suspirou cansado, reclinando-se na cadeira. O cansaço proveniente nem tanto devido ao trabalho, afinal, agora ele era muito bem distribuído aos demais funcionários da empresa, mas seu corpo começava a refletir aquela angústia que dilacerava seu coração, dia após dia.

 Estalou a língua e se recompôs, ajeitando-se no assento e esfregando o rosto alvo. Talvez a visita de Alibaba tenha lhe remetido àqueles anos maravilhosos em que seu lar fora aquele país que ajudara Sinbad a construir. Àquela vida que, mesmo atarefada, costumava levar de forma despreocupada ao lado dele, junto dele, do sorriso dele. 

Droga, devia estar feliz por ver aquele rapaz que tanto estimava bem, aliás, vivo, mas a inquietude e aquela atmosfera sinistra que cercava aquele lugar o sufocavam. Sentia-se tão só. Afinal, raras vezes tinha a companhia de Sinbad, que mesmo quando não estava ocupado em algum compromisso, estava em sua sala… trancado. Desde que haviam se mudado para Parthevia, Ja’far não tinha mais livre acesso ao escritório de seu rei, melhor, seu agora presidente, tampouco de seus aposentos. Era como se aquela barreira invisível que os distanciasse e agora ganhasse formas, paredes e portas que os dividiam. Se fosse apenas isso que os dividisse…

 Apenas o farfalhar dos lençóis se misturavam aos gemidos que ecoavam pelos aposentos do rei de Sindria. As unhas compridas do ex-assassino cravavam na seda estampada enquanto mordia firmemente o lábio inferior.

 Seu rei era impiedoso naqueles momentos. Sentia as mãos largas perscrutarem cada canto de seu corpo enquanto ele não cessava aqueles movimentos fortes e certeiros. Tinha praticamente de se agarrar àquela cama para se manter no lugar devido à violência investida por Sinbad.

 Mas Ja’far não se importava, muito pelo contrário. Pedia mais, implorava por mais.

 Como o amava. Como amava estar ali envolto pelos braços tão firmes e protegido pelo corpo bem talhado de seu rei. Ah, como o amava… A ponto de não se importar com nada. Confiava cegamente nele em qualquer momento.

 Chegaram ao ápice praticamente juntos, gemendo em uníssono. O rei lançando-se de volta à cama e puxando o corpo daquele que permanecia de bruços, ofegante, para junto de si.

 E talvez, aquele momento em que permaneciam em silêncio e ele sentia os dedos longos de Sinbad afundarem em seus cabelos, fossem o que ele esperava o tempo todo. Como se o objetivo de fazer amor com ele fosse unicamente chegar àquele ponto, em que apenas ouviriam as próprias respirações, encarando o nada, apenas contemplando um ao outro.

 Podia olhar para as janelas e ver as estrelas que iluminavam aquele país que construiram juntos, aquele mar, aquele lugar paradisíaco que pertencia apenas a eles. Aquele lugar do qual sentiria tanta saudade...

— Ja’far...

 Sinbad chamou, depositando um beijo carinhoso no topo dos fios esbranquiçados.

— Hm?

 O conselheiro piscou, a mão livre de Sinbad capturando aquela que repousava gentilmente sobre o peitoral de seu rei.

— É a última vez que fazemos amor aqui em Sindria...

 Ja’far ouviu aquelas palavras um tanto quanto confuso, mas abriu um sorriso e entrelaçou seus dedos nos dele.

— Não seja bobo. Podemos voltar aqui quantas vezes quisermos! É nosso lar… - ele disse com simplicidade.

— Sim… Mas… a partir de agora, eu acho que teremos que nos cuidar mais.

— Hm? - Ja’far voltou a parecer confuso. Do que Sinbad estava falando.

— A partir de agora estaremos em posições diferentes…

— Sem rodeios, Sin. - Ja’far o interrompeu, um pouco irritado já ao ver o moreno agir com tanta melindrosidade.

— Ja’far… - Sinbad suspirou, sentando-se na cama e trazendo consigo aquele que estava apoiado em seu peito. - Quero que entenda que nada entre nós vai mudar. Só que agora temos que ter uma distância maior...

 Os olhos verdes se arregalaram, um tanto quanto decepcionados. Por que ele sempre teve a impressão de que esse dia chegaria?

— Sua posição agora não permite, mais que nunca, que saibam que tem um caso com outro homem, não é? - Ja’far foi categórico.

— Não é nada disso, Ja’far! - Sinbad tomou as duas mãos do alvo. - Você sabe do que estou falando! Estamos indo para um lugar novo, temos que nos acostumar e eu preciso de um pouco mais de privacidade…

— Então quando disse que era a última vez que fazíamos amor, quis dizer em definitivo, e não especificamente em Sindria. Entendo…

— Não é nada disso…

— Tudo bem, Sin. Eu não tenho direito de questionar nada. Só… não devia ter me trazido para a cama, me usado pela última vez para depois me falar isso.

— Ja’far!

 Sinbad apenas pôde ver Ja’far deixar a cama enrolado em um dos lençois e começar a recolher suas vestes, aquelas que não mais usaria, que estavam espalhadas pelo quarto de seu rei.

— Boa noite, Sin, digo, presidente...

 Suspirou pesado lembrando-se da última noite de amor que haviam tido… fazia mais de seis meses.

 Organizou os últimos papéis, alinhando-os ao batê-los suas extremidades sobre a mesa de vidro e se levantou. Queria pensar ter sido muito duro com Sinbad, mas desde então, o próprio nunca mais havia lhe procurado. Nem ao menos um beijo haviam trocado desde a chegada em Parthevia e viver assim, fingindo não sentir nada diante da indiferença dele, era deveras doloroso.

 Como sentia falta daqueles braços fortes a lhe envolver. Mas mais do que isso, daquele sorriso tão genuíno, daquela alegria que contagiava e atraía tantos.

 Como sentia falta dele.

 Encarou os papéis que tinha em mãos. Levaria-os para Sinbad na manhã seguinte, mas… Por que não levá-los agora? Talvez devesse deixar o orgulho um pouco de lado e ir vê-lo. Àquela hora da noite, não havia ninguém mais trabalhando exceto eles. Há meia-hora havia dispensado Pipirika, provavelmente, naquele andar, só estariam os dois.

 Balançou a cabeça tentando se desvencilhar de qualquer pensamento negativo e abriu um sorriso confiante. Talvez pudessem se reaproximar. Será que ele estava com problemas? Será que precisava de algo?

 Foi até a mesinha próximo à porta do escritório e, deixando os papéis sobre a prateleira ao lado, depositou um pouco do chá quente que Pipirika havia lhe trazido antes de partir em uma duas xícaras. Ajeitou-as na bandeja de prata e, logo após pôr os papeis debaixo do braço, segurou-a cuidadosamente para que não derramasse nada. Poderia tomar um chá e conversar com ele, pensou, tranquilizando-se.

 Seguiu pelos corredores pouco iluminados a ponto da lua, grandiosa no céu, ser maior fonte de luz para aqueles interiores, seu brilho prata invadindo e refletindo pelas vidraças que iam do assoalho ao teto.

 Chegou àquelas enormes portas do escritório que não mais ficava ao lado do seu. Respirou fundo, pronto a adentrar. Mas se surpreendeu ao ver que elas estavam entreabertas. Sua mão, que já ia de encontro a maçaneta, parou no ar quando ouviu a voz que conhecia tão bem.

— Está me dizendo que vou ter que depender do Alibaba para encontrar uma criança?!

 Aquela agressividade no tom de voz de Sinbad era tão atípica. Fez Ja’far tremer e, consigo, a louça que havia sobre aquela bandeja. Rapidamente se recompôs, temendo ser descoberto. Com quem Sinbad falava?

 Ouviu então uma risada feminina e seus olhos cresceram, tentando ver algo pela fresta das portas.

 Só conseguia ver seu rei sentado em sua poltrona, de costas para a entrada. O cotovelo apoiado no braço do assento e o rosto apoiado de lado no dorso da mão. A poltrona girava e ele podia ver que Sinbad mantinha as pernas cruzadas, girando o tornozelo e balançando o pé com aquele movimento. Nitidamente a atitude de alguém irritado.

— Quem vê o rei Sinbad tão gentil e sorridente nem imagina que ele é capaz de ficar assim! - a mulher comentou divertida.

 Ja’far engoliu a seco. Conhecia aquela voz. Não tinha dúvidas.

— Ren Hakuei… - ele sussurrou alto, sem querer, como se seus pensamentos escapassem por entre seus lábios, cobrindo-os logo em seguida, receoso com a possibilidade de ter sido escutado.

— Não estou brincando! - Sinbad soava cada vez mais sério.

— Tudo bem, majestade… - a mulher manteve o tom despreocupado. - Mas não se preocupe. Em breve cumpriremos nosso objetivo! Mas não posso fazer muito se o Aladdin quiser continuar se escondendo…

— Pois encontre-o! Precisamos dele para ontem! Ou… seus poderes não são o suficiente para encontrar um moleque… Arba? - Sinbad parecia desafiador.

 Não podia acreditar no que ouvira. Arba? Então aquela não era Ren Hakuei, e sim aquela bruxa que Aladdin havia lhes mostrado por clarividência durante o summit? Que todos acreditavam ter morrido junto com Ren Gyokuen?

 Sem tempo de processar aquela informação, Ja’far viu a bela mulher que portava um enorme cajado, se aproximar de Sinbad. O sorriso havia dado lugar a uma expressão de desagrado após as palavras de seu rei. Será que ela o atacaria? Devia interferir? Mas não tinha seu household vessel consigo. Como o ajudaria? Seu coração disparou ao vê-la se aproximar. Mais ainda quando a mulher se atirou no colo de Sinbad.

 Sentando-se nas pernas do moreno, aquela que costumava ser a primeira princesa de Kou envolveu o pescoço dele com um dos braços, sem soltar o artefato mágico da outra mão. Deslizou então a ponta dos dedos pela curva do rosto masculino daquele que permanecia a encará-la com frieza.

— Me excita tanto vê-lo assim, mandando em mim…

 Sinbad mantinha-se impassível enquanto a mulher se aproximava mais, aspirando seu perfume masculino antes de roçar seus lábios nos dele.

 Era demais. Ja’far estava simplesmente em choque.

 As mãos trêmulas, tanto quanto as pernas, não sustentaram mais a bandeja e ela acabou indo completamente ao chão, a louça sobre ela se quebrando em mil cacos. O estridente barulho de prata e cerâmica contra o chão chamou a atenção de ambos imediatamente.

 Hakuei logo se pôs para fora do colo de Sinbad, que se levantou em seguida.

— Quem está aí?! - indagou o presidente.

 Ele queria fugir. Queria ter forças para fugir. Assustado tanto pela cena que acabara de ver, pelas palavras que acabara de ouvir, quanto por ter sido descoberto, Ja’far se viu paralisado. Conseguiu dar dois passos para longe, cobrindo os lábios completamente nauseado, quando deu de cara com a mulher que aparecia na sua frente.

— Ora, ora, quem estava espionando nossa conversa! - a mulher sorria de forma maliciosa quando abriu as portas.

 Os olhos dourados de Sinbad não podiam crer ao ver quem estava ali. Ja’far estava pálido, bem mais do que o normal. O medo estampado em seu rosto.

— Ja’far… - Sinbad chamou, suspirando em seguida. - O que faz aqui?

 Não podia fraquejar. Não agora. Ainda mais com aquela mulher tão venenosa ali.

— Eu… - ele tentava sobrepujar o gaguejo que tentava impedi-lo de falar. - Eu que pergunto o que ELA faz aqui! - Ja’far apontava para Hakuei.

— Tsc, eu disse que não devia vir a minha sala sem avisar! - Sinbad caminhou até ele. - Eu queria evitar isso, Ja’far, mas não me deixa escolha!

— Evitar o quê?! Que soubesse que está ciscando com essa bruxa?! Que trouxe para nosso lar essa bruxa ordinária?!

— CALE-SE! - Sinbad vociferou e Ja’far voltou a sentir suas pernas tremerem.

— Pobrezinho, majestade… - Hakuei se aproximou do albino e sussurrou em seu ouvido. - Não vá se molhar desse jeito. - riu.

— Sua… Irei chamar os seguranças agora para colocá-la para for…

— Seguranças? - Hakuei questionou antes de gargalhar.

— Ja’far, já mandei ficar quieto! - Sinbad foi categórico.
S-Sin! Essa mulher, como pôde trazê-la para cá? O que está tramando com ela?! Por que quer o Aladdin-kun?! Como pod… AH!

 O questionamento de Ja’far foi interrompido quando ele sentiu Sinbad segurar seu braço direito firmemente.

— S-Sin?!

 Ja’far estava perplexo ao ver os olhos dourados se estreitarem e lhe encararem com extrema frieza. Gemeu baixo sentindo Sinbad apertar cada vez mais seu braço. Tamanha dor fez seus joelhos se chocarem ao chão, mas não foi o suficiente para que seu algoz o soltasse.

— Se contar para alguém o que ouviu aqui, Ja’far, você morre. Ouviu bem?

 Sinbad dizia entre os dentes, sentia que se investisse um pouco mais de força ali, quebraria o braço de seu ex-conselheiro.

 As feições de seu rei agora ficavam completamente ocultas, transformando-se apenas em uma sombra que cobria o luar que iluminava apenas parcialmente o rosto do albino, intimidado pelo homem de pé, cuja postura e posição superior denotava bem onde cada um estava agora.

— Ouviu bem?!

 Sacudindo-o, o antigo rei de Sindria exigia uma resposta, mas Ja’far não conseguia dizer nada. Não conseguia esboçar uma reação sequer não fosse o pânico estampado em seu rosto. O único movimento de seu corpo era involuntário, o tremular intenso dos pés à cabeça. Ja’far jamais imaginaria que um dia poderia sentir, justamente de Sinbad, medo.

— Me responda!!! - Sinbad exigiu.

— S-Sin… - ele reunia forças para falar. - O que… o que está acontecendo?

— Nada que o interesse mais. Fique longe de mim! É uma ordem! Do contrário não hesitarei em matá-lo.

— Me… me conte… eu vou ficar do seu lado… para sempre! - Ja’far tentava esboçar um sorriso em meio ao desespero, mal conseguia encará-lo. - Eu prometi que o seguiria até o fim, não? Me conte! Eu… eu vou tentar entender e te ajudar, Sin! Sin… Por favor, Sin… - Por quê Sinbad não o respondia? Mantinha o olhar carregado do mais puro desprezo. - Faça o que quiser, mas… não se afaste de mim… Sin… Sin?!

— Pobrezinho...

 Sem forças para reagir e apenas querendo algo que não fosse a indiferença de Sinbad, Ja’far meneou a cabeça ao ouvir os passos da mulher que se apoiou no ombro do presidente.

— Acho que não tem mais jeito, majestade.

— Tem razão.

 Sinbad então, o arrastou ainda pelo braço e o largou no canto da sala. Ja’far nem ao menos se mexeu, nem ao menos demonstrou a dor que sentia quando foi solto por Sinbad. Os olhos arregalados e desfocados procuravam por alguma resposta.

— Sin… Disse que ficaríamos juntos até o fim, não é? - Ja’far soluçava.

Então o moreno finalmente o encarou, agachando-se por um instante. O coração de seu conselheiro se encheu de esperança, um sopro de alívio afagava sua alma quando os dedos longos de Sinbad alcançaram seu rosto e acariciaram de leve sua face esquerda. Ja’far cerrou os olhos e capturou o máximo que pôde a ternura que ele investia naquele carinho.

 - Esse é o fim, Ja’far. Nosso fim.

 Era como se o chão sob seus pés ruísse.

 Ja’far arregalou as esmeraldas que encararam as gemas douradas daquele que se levantou com um sorriso.

 - Faça o que quiser com ele, Arba.

 - Como desejar, majestade.

 Não era verdade. Não podia ser.

 Viu Sinbad lhe dar as costas e começar a caminhar despreocupadamente.

 Não permitiria aquilo. Não. Não era o fim.

 Tentou estender a mão para alcançá-lo, mas fora em vão. Seu braço ferido não tinha forças para chegar até ele, um mero reflexo de todos os seus esforços e clamores que jamais alcançariam Sinbad. Seu Sinbad… tão diferente daquele que havia dito palavras tão cruéis, capaz de feri-lo, de matá-lo.

 De fato, Sinbad tinha consciência de que ele mesmo não existia mais. Portanto, havia chegado o fim de ambos. Piedoso como era, ele não permitiria que Ja’far continuasse existindo sem ele, certo?

 Enquanto o viu se afastar e aquela mulher se aproximar, teve a certeza de que a vida estava lhe deixando para que a morte o abraçasse.

 Ja’far, então, sorriu satisfeito.

 Havia cumprido sua missão. Havia acompanhado seu rei… até o fim.


Notas Finais


Essa fic veio com a ideia da ilustração de que o Ja'far poderia estar sendo agredido ou ameaçado pelo Sin e pela Arba. Fiquei vidrada com a ideia e tive que fanficar sobre. Espero que tenham gostado e lembrem-se que críticas, comentários, elogios, tudo é bem-vindo e respondido com muito carinho! Obrigada por lerem! <3


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