História °°Até o fim dos nossos dias°° - Não estamos sozinhas

Paraíso das Flores

Lalisa atravessava a floresta o mais rápido possível montada em seu alce. Seus cabelos estavam aos ventos e ela ainda podia sentir o frio congelando daquele rastro intrigante.

Ela tinha medo, medo do que ainda estava por vir, medo do desconhecido, daquele rastro de gelo sombrio. Sabia que não estava sozinha, ou pelo menos, agora tinha certeza disso.

Tinha medo por sua gente, todos de seu reino, Os Bosques de Outono. Tinha medo por Rosé, tinha medo de vê-la machucada.

Galopava entre as árvores sentindo as mãos tremerem e quase soltarem o pescoço de seu alce. De repente tudo ficou tão sombrio, ela queria voltar no tempo, mas não queria abandonar a Senhora das Flores.

Chaeyoung estava sentada em seu trono majestoso. Era todo forjado a ouro desenhado rosas tão bonitas quanto as de seus  jardins. Suas criadas lhe mostravam os resultados da primeira colheita de orquídeas. Os gráficos eram bons, mesmo com a pequena seca a pouco tempo.

Tinha sua atenção toda voltada as explicações de Mei, seu braço direito, como um monarca deve fazer. Porém, quando as portas e janelas se abriram num estrondo, e o vento entrou violento na sala do trono, os olhos escuros da Senhora das Flores se voltou para a figura das folhas amarelas de outono flutuando pelo ar.

Chae sorriu de orelha a orelha, sabia que era Lisa, a sua Domadora dos Ventos selvagem. A loira tinha mudado de ideia e estava retornando para ficar mais um tempo com ela, estava certa disso.

Se levantou num pulo do trono e foi de encontro aquelas folhas flutuantes. O vento estava mais fraco, mas ainda muito presente. Rosé estava em frente a porta aberta e seus cabelos ruivos voavam e seu vestido florido parecia até mais leve enquanto o tecido encostava levemente sobre suas coxas.

Ela levantou a mão sobre a ventania e pegou uma das folhas amareladas. Sorriu se lembrando de Lalisa.

- Chaeyoung! - A voz da Domadora ecoou na sala do trono.

Invés de felicidade, Chae sentou medo por um breve momento. O tom na voz de Lisa não parecia nada contente. Era algo amedrontado, ansioso e ofegante. Aquilo também entristeceu o coração da Senhora das Flores.

- O que aconteceu? - A voz Rosé falhava.

Lalisa correu em direção a ruiva. Segurou suas mãos e ainda ofegante, começou a contar o que a afligia tanto.

- Eu acho que não estamos sozinhas aqui.

- Como assim?

- Quando eu estava retornando para meus Bosques de Outono, ali no meio da floresta, eu encontrei uma trilha de gelo.

- Uma trilha de gelo? - Chae se preocupou ainda mais.

- Sim, de gelo, tão fria como eu nunca vi antes - Lisa comentou - Vim de imediato te contar, pensei que você pudesse me ajudar a resolver essa questão.

- Eu nem sei o que dizer - Chaeyoung estava boquiaberta, aquela situação era pior do que podia pensar - Não sei se posso te ajudar. Meu coração está cheio de medo repentinamente, e...

- Chae! Acalme-se! - A Domadora dos Ventos segurou o rosto delicado da Senhora das Flores - Precisamos manter a calma e pensar em algo. Precisamos fazer algo.

- Eu estou com medo, não sei o que devemos fazer.

- Vamos pensar juntas, decidiremos isso juntas! - Elas sorriram.

- Se me permitem, altezas - Mei se começou a se pronunciar ainda um pouco receosa - Eu tenho uma sugestão.

- Diga, vamos, pode nos dizer - Lalisa disse a borboleta.

- Podíamos reunir o exército dos Bosques e os guardas reais daqui do Paraíso e partir todos até o fim dessa trilha - Mei explicava - Se houver algum inimigo, nós o eliminaremos.

- Sim, me parece a melhor ideia - Lalisa elogiou.

- Então vamos fazer assim? - Rosé questionou a Domadora dos Ventos.

- Sim, eu só preciso avisar Jaquel, a essa altura ele e o exército já devem estar nos Bosques.

- Quer que eu chame meu mensageiro?

- Sim, por favor Chaeyoung.

- Capitu! - Rosé gritou o nome de uma abelha simpática e ágil que entrou pela porta.

- Sim, Senhora! - A abelhinha disse com sua voz aguda.

- Vá até os Bosques de Outono, do outro lado do Paraíso e peça Jaquel para levar o exército até o final da trilha o mais rápido possível - Chae deu as primeiras ordens.

- Diga a ele que nós duas e alguns guardas reais já estamos indo para lá, peça para ele não demorar - Lalisa completou.

Capitu saiu voando o mais rápido que podia para seu destino levando consigo a mensagem, que ambas as rainhas sabiam que chegaria com êxito.

Rosé mandou reunir seus guardas, metade partiria com elas e a outra metade ficaria no Paraíso.

Ela e Lalisa se dirigiram até o quartel. Lá elas se equiparam com uma armadura douradas, elmos e espadas. Chaeyoung sentia seu coração acelerado, aquilo era muito novo para ela, nunca tinha estado numa batalha, ou o que quer que isso seja, antes.

- Eu tenho medo - A Senhora das Flores admitiu a Domadora dos Ventos enquanto subia em seu cavalo e assistia a loira montar seu alce.

- Você não precisa ter medo, vou estar com você - Lalisa tentou tranquilizar a ruiva com um sorriso.

- Eu nunca lutei antes, Lisa.

- Eu vou te proteger.

- Vai mesmo?

- É claro! Eu nunca vou deixar ninguém te machucar... Isso é uma promessa.

Rosé sorriu. Ela se sentia bem ao ouvir aquela promessa, sabia que a Domadora cumpriria, era bom tê-la a protegendo. Era bom tê-la ao seu lado.

°°°

Jisoo estava maravilhada com o quarto da Rainha das Chamas. Era rústico, mal iluminado, e numa paleta do vermelho mais vibrante até o vinha mais fúnebre.

Tinha uma lareira apagada e uma sacada com cortinas que lembravam sangue. A lua brilhante no céu era a única luz que iluminava o cômodo.

- Esse quarto combina muito com você - A Imperatriz admitiu.

- Obrigada - Jennie sorriu.

E foi ali, sobre aquela atmosfera sensual a luz da lua, que as duas se encontravam deitadas sobre a cama confortável e redonda no Reino de Fogo.

Elas se entreolhavam e sorriam brevemente. Ficaram um tempo assim, só se olhando, sorrindo e em silêncio. Silêncio constrangedor e envolvente. 

- É bom ter você aqui comigo - Jenni disse por fim.

Jisoo deu uma leve risadinha e olhou naqueles olhos de ébano da mulher a sua frente.

- É bom estar com você também.

Jennie sorriu fraco e fitou a beleza única da Imperatriz. Como ela era bela! Nunca achou uma garota tão bonita assim. Ela se sentia atraída. Atraída àquela beleza, àquela personalidade, àqueles lábios. Àqueles lábios vermelhos. Tinha vontade de estar mais perto deles. Muita vontade. Nunca tinha se sentido assim antes, tido essa vontade antes. Mas era tentador, irresistível. E quando Jisoo mordeu os lábios de forma sensual, ficou mais impossível ainda de não tocá-los.

Jennie agiu por impulso. Direcionou seu corpo à Jisoo, habilidosamente ficando por cima dela. A Imperatriz tinha as bochechas coradas com aquela ação, porém não negaria que gostou.

Após se entreolharem, talvez esperando pelo momento certo, seus lábios finalmente tocaram, contudo, foi tudo tão supérfluo,  tão superficial. Jennie abriu os olhos e não via mais Jisoo por baixo dela, nem sentia os lábios dela. Não estava em seu quarto, nem seu reino. Infelizmente, tinha retornado a realidade.

- Jennie, minha filha! Que bom que acordou, eu estava desesperada! - Viu sua mãe sentada ao seu lado, ali mesmo, no chão da dispensa onde a jovem adormeceu.

- Mãe? - Jenni questionou ofegante e assustada com a transição para o mundo real.

- Mas que ideia essa sua! Dormir na dispensa?! Sua sorte que eu tinha uma chave extra!

Elas se abraçaram, mas Jennie tinha sua mente voltada para outra pessoa. Jisoo. Será que ela ainda estava lá? O que estava acontecendo lá agora? Desejou com todas as suas forças retornar para completar aquele sonho, porém, sabia que não conseguiria tão cedo. Desejou com todas as suas forças beijar os lábios vermelhos daquela mulher, deitar sobre seu corpo e beijá-la. Beijá-la cada vez mais, como nunca antes.