Alessia Blair Z.
19 de novembro
Acordei com minha cabeça girando. Achei que um terrorista havia explodido uma bomba nela, porque a dor estava insuportável. Provavelmente meu corpo estava de ressaca. Não sabia qual era a maior: a física ou a moral.
Agora todos na mansão sabiam que eu era uma fraca. Beijar ex por estar alcoolizada? Isso é tão 2016, pelo amor de cleosvaldo.
— Gmorning, mom. Tem remédio e comida no bidê — Aurora sussurrou, permanecendo imóvel ao meu lado. Dei um beijo na testa dela, sentindo cada músculo meu doer.
— Você pode ir brincar com o Gabriel, sei que não está mais com sono — falei baixinho.
— Mas você tá doente, mamãe. Não quer que eu cuide de você?
— Vai se divertir, criança. Eu me viro facilmente — afirmei a ela, mesmo sabendo que não conseguiria. Ela me encarou de canto, me olhando desconfiada, mas logo tratou de sair pulando para brincar. Que vergonha, Alessia, você, com seus 24 anos, sendo cuidada pela própria filha. Decepcionante.
Tomei vergonha na cara e fui tomar banho. Botei um pijama confortável e planejava não dar as caras na mansão hoje. Pedi o almoço na cama e resolvi escrever meu livro. Certo, ela precisamos de um final feliz. Complicado.
A vida, geralmente, não tem final feliz, principalmente porque esse meu livro começou trágico. Fiquei encarando o arquivo por algum tempo. Nada saía.
Fui até a sacada ainda de pijama e vi Aury correndo com Gabriel. Gostava de vê-la com outras crianças. Ela vivia num mundo de adultos, não era atoa que tinha um cérebro que funcionava a mil.
Atrás dela, Rafael monitorava atento a brincadeira dos dois. Assim que me viu, abriu um sorriso. Droga. Eu já disse que o sorriso dele é lindo?
Semana passada tivemos ensaios da dança de Gabs, foi extremamente engraçado. Rafael e eu não tínhamos intimidade, o coreógrafo estava puto. Amanhã, inclusive, teria outro ensaio. A semana toda teríamos um horário só pra isso. Eu passaria novamente a semana grudada com Rafael e não estava pronta para isso.
— Ei, moça da ressaca — alguém me assustou. Olhei para trás e Thiago estava apoiado no batente.
— Nem vem. Você sumiu uma hora — observei. — Ninguém controlou meu nível de álcool, então...
— Eu dei uns beijo numa prima da Gabs. Observando o momento pai e filha? — ele apontou com a cabeça para Rafael, que ainda cuidava de Aurora.
— Isso tá me corroendo, Calango — disse, sentindo uma imensa culpa. Eu queria contar a ele. Eu estava dividida entre adorar a relação dele com ela e o medo e perdê-la.
— Eu não sei o que te falar. Tipo, absolutamente nenhuma ideia mínima. Só sei que você precisa se decidir. A Gabs pediu para mim avisar que você e o Rafael vão ter uma aula só de sincronia, o coreógrafo acha que vocês vão estragar tudo — ele riu. — Sinto muito não te ajudar, sério, mas eu te amo e vou te apoiar independente da sua escolha.
Dessa maneira, ele me deixou completamente dividida e machucada.
Fui até a área externa depois de Aurora ter se machucado (só pra variar). Aury chorava desesperadamente, enquanto Rafael e Gabriel tentavam acalmá-la. Me agachei perto e examinei o joelho que ela abrirá. Sangrava bem pouco e era muito superficial, porque caralhos ela estava chorando exageradamente? Passei o algodão com uma solução que achei ali na caixinha de primeiro socorros e limpei delicadamente. Fiz curativo e o choro dela não cessou.
— Aurora, deu — bufei irritada. Ela se calou com os olhos marejados. Céus, magoei minha filha. Abracei a menina pedindo desculpas. Logo Gabriel puxou-a para tomar água. Os dois sumiram e eu logo entendi.
— Eu não tenho nada a ver com isso — levantou a mão em rendição.
— Imagino que não tenha. Aury tem um dom natural para se machucar.
— Autodestrutiva igual a mamãe — ele sorriu. Fechei a cara olhando-o com reprovação.
— Você é quem me destrói, Rafael — bufei, indo sentar até um banco.
— Você tem certeza? Ouvi por aí que a única que está no caminho da sua felicidade é você mesma — ele respondeu, sentando-se ao meu lado.
— Sabe, eu costumava pensar da mesma maneira, até que eu notei que minha felicidade morreu junto com aquele dia infernal. A única coisa que ainda me mantém viva é minha filha, por isso sempre farei de tudo por ela — falei, sem entender como chegamos aquele assunto.
— Bem, e nossos beijos? Não te trouxeram felicidade?
— Óbvio que fiquei feliz ao me afundar na escala da trouxice — susssurei. Rafael riu do mesmo modo de 5 anos atrás. — Você sempre ri assim quando perde a timidez!
— Bem observado, Les. Você ainda fala “Céus”, não?
— Céus, você ainda lembra disso? — brinquei, feliz por ele ter lembrado disso. Engraçado como ele conseguia me deixar triste e feliz ao mesmo tempo. Ou variar entre os dois em alguns segundos.
— Eu lembro de cada detalhe seu. Como esquecer da única mulher que eu amei? — então meu sorriso se desfez.
Ele não me ama mais?
Espere, por que eu me importo?
— Hm. Preciso ir — murmurei, segurando as lágrimas. Droga, Alessia, não!
— Espere — Rafael falou, puxando minha mão.
— O quê foi?
— Preciso fazer uma correção.
— Qual? — disse confusa. Segura a porra do choro, Alessia. Ele encostou nossas testas e eu senti um arrepio me percorrer por completo
— Não é a única mulher que eu amei, é a única mulher que eu amo e sempre vou amar — ele sussurrou. Fechei meus olhos como último recurso para não chorar.
— Não brinque comigo desde jeito.
— Nós devemos ficar juntos, Les. Sua filha me ama, ela me aceitaria como padrasto numa boa.
MAS VOCÊ É O PAI DELA! – minha consciência gritou.
— Eu te amo e você sabe que me ama também. Sabe que essa chama está aí e bem viva. Volta comigo?
Então as desgraçadas começaram a cair. Droga, Alessia. Você está demonstrando fraqueza, sua estúpida.
— Rafinha? — aquela voz sedutora falou. A autoconfiança dela me dava náuseas. Consegui segurar o choro como jamais visto. Virei para ela sorrindo junto com Rafael.
— Ah, oi, Érica — ele disse, tão decepcionado como eu.
— Você esqueceu? Vamos àquele lugar que prometeu me mostrar — ela sorriu. Estava desgraçadamente linda no macaquinho retro, com uma blusa florida e um sorriso encantador.
— Tudo bem, vamos — ele disse. — Tchau, Les.
Ele me puxou para um abraço do caralho. Me apertou extremamente forte e saiu com a loira espetacular de braços dados. Droga, Rafael. Eu te amo, muito.
Queria poder te falar a verdade.
Queria voltar com você.
Fugir com você para alguma praia da Austrália onde você e eu correríamos atrás da nossa filha.
É, me parece um bom plano para não ser realizado.
Narrador
Na praça da mansão, Rafael e Érica conversavam sobre coisas aleatórias.
O plano era levá-la para o lugar favorito dele na mansão, mas acabou desistindo depois da conversa confusa e intensa com Alessia.
Falando em Alessia, os dois debatiam sobre o pai da pequena Aurora, quando a grande frase foi dita.
— Você já pensou que o pai misterioso da Aurora pode ser você?
— Aurora, minha filha? — Rafael questionou bobo. As palavras soavam tão estranhas ditas em voz alta, mas tão certas. Érica assentiu. Ela continuava se balançando ao lado do loiro. Ela sempre parecia perfeita.
— Vocês são idênticos e tipo se dão muito bem. Fazem 6 anos que a Alessia foi pro USA e 5 que ela nasceu, não acha irônico?
O cérebro de Rafael começou a fazer cálculos improvisados e quis negar a si mesmo. Alessia não esconderia isso dele.
— Bem, eu preciso ir, ainda tenho que ver se vou desfilar na SPFW. Beijos Rafinha — ela disse sumindo pela trilha que levava até a mansão.
Ele continuou pensando sobre o assunto. Érica havia plantado a melhor semente de dúvida que podia no homem.
Mais distante dali, algumas horas depois, Érica recebia o pagamento.
— Não diga nada sobre — ordenou a loira. Érica assentiu freneticamente, com medo do que aquilo resultaria.
— Quem é você e por que pediu isso? — ela sussurrou baixinho. Recebeu um olhar extremamente mortal como resposta.
— Se você quer continuar viva, cale a porra dessa sua estúpida boca e dê o fora daqui. Se me ver, ignore — granhiu irritada. Érica permaneceu parada. — VAI PORRA!
Então a Érica sumiu, deixando para trás a misteriosa e perversa mulher.
Na mansão, Aurora brincava tranquilamente com a mãe, sequer imaginando o que a esperava.
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