História Atormenta - Arrependimentos?

Acordei com a cabeça latejando, aquela famosa dor de cabeça, normalmente ela era fruto do estresse e angústia que estava passando frequentemente, as vezes a pedia que terminasse  de atormentar  e acabasse comigo de uma vez e removesse todo o cara, o vazio, e a falta de vontade de viver.

Ele não estava mais ao meu lado, sua respiração me fazia falta e seu cheiro era presente em meu travesseiro,  sua companhia tinha tirado aquele sentimento de solidão que carregava todos os dias, mas junto com ele trouxe a culpa e o arrependimento, me senti mal por se deixado levar pelo momento e desejei que aquilo tivesse sido obra da minha mente podre e pervertida, na minha cabeça nunca pensei que chegaria a ter relações com o JungKook, nada pessoal, não era pela idade ou algo do tipo, era pelo que ele significava pra mim, não posso deixar de admitir que aquele rapaz era atraente e tinha um brilho próprio que o deixava mais bonito ainda, mas talvez aquela não era a pessoa que meu coração tinha escolhido, não era o certo se aproveitar de seus sentimentos sinceros e inocentes daquela maneira, só pensava na hipótese de magoá-lo, não admitiria que alguém o magoasse, mas se esse alguém fosse eu? Como lidaria com a situação? Queria muito bem a ele, não posso ser egoísta a esse ponto. Lágrimas começaram a se formar em meus olhos e eu não podia permitir que aquilo me pertubasse agora, já tinha problemas demais, aquilo ficaria para depois, daria um jeito como sempre.

Procurei na gaveta um remédio para acalmar a dor e desci até a cozinha para buscar um copo d'água, o silêncio da casa era assustador seria por volta de 2:15 da manhã, como indicava o relógio preso na parede branca. Voltei ao quarto nas pontas do pé pois não queria ter o prazer de acordar alguém a essa hora, abri a porta do meu quarto e me certifiquei de não fazem barulho ao trancá-la, sem muito esforço reparei que tinha uma maleta em cima da escrivaninha, ao chegar mais perto acendi o abajur e meus olhos quase saltaram fora, aquela seria a pasta com os documentos que Yoongi tinha me entregue ontem e eu tinha esquecido completamente de sua existência, se eu não as entregasse hoje de manhã sem falta estaria na pior, teria que dar explicações ao diretor, no caso meu pai.

Me dirigi ao banheiro e tomei um banho quente para poder relaxar, ainda desci novamente para pegar uma garrafa de Coca-Cola, subindo feito um ninja novamente e sentei para começar a trabalhar. Cada gole daquele líquido ácido misturado com cafeína descia queimado minha garganta e meu estômago vazio, valia o esforço pois me manteria acordado por bastante tempo. 

A dor diminuirá mas uma vez ou outra demonstrava presença dando leves latejadas e conforme as horas passavam via o céu perder seu tom escuro e o brilho do sol aos poucos brotando, queria poder ser mais ágil e terminar logo aquela pilha de papéis que pareciam não ter fim nunca, apressei minha escrita com cuidado para não cometer rasuras agora tão perto de acabar, qualquer deslize seria pior para mim. Minhas mãos agora também doíam, parecia que o universo estava conspirando a meu favor e queria me ver numa morte lenta e dolorosa, só por volta de 6:50 da manhã tinha terminado aquela maldita papelada e sentado ali mesmo me entreguei ao cansaço e me permiti descansar ao menos um pouco do tempo que me restava.

O forte brilho do sol atravessava a janela acertando em cheio meu olho ato que despertou-me, um sorriso sarcástico brotou em meus lábios, não acreditei no que vi estava uma hora atrasado logo no primeiro dia, arrumei tudo e coloquei dentro da maleta e corri para o banheiro tomei novamente um banho só que dessa vez frio para tirar a cara de morto, não estava dormindo adequadamente não nego,  mas ninguém precisa saber né. Fiz minha higiene como sempre e me vesti, peguei o terno do cabide, bem passado e o coloquei com cuidado para não amassar, despejei em mim um pouco de perfume para causar uma boa impressão e sai pelo corredor arrumando as mangas do blazer.

- Puta merda a maleta! - Voltei totalmente desesperado e peguei a bendita pasta onde tinha deixado e voltei ao meu trajeto, Desejei mais que  nunca fazer como nos filmes e descer a escada pelo corrimão mais uma de minha idéias absurdas. Rapidamente passei na cozinha para beber água, descer aquela escada que ligava a sala ao primeiro andar cansava bastante.

- Não vai comer nada senhor? - A empregada que cuidava de mim desde que nasci me pedia para que sentasse e comesse algo. -Não faz bem sair de barriga vazia. - Ela sempre era muito prestativa a meu respeito, sempre que estava triste ela tratava de me animar. 

- HeeYeon já disse que não precisa de formalidade comigo. - Se desculpou e arrancou um sorriso doce em seu rosto. - Não vou poder provar de seus deliciosos waffles hoje sinto muito. - Ela assentiu que sim e chamou o motorista para mim, como eu adorava aquela senhora de coração tão doce e simples, aquilo me causava a certa inveja, nunca soube ao certo como tinha sido sua vida, mas o pouco que descobri foi que ela tinha engravidado ainda nova e o seu pai tinha expulsado-a de casa, seu namorado infelizmente não assumiu responsabilidade, com tanto rejeito se descuidou e sofreu um acidente e o seu bebê no 5 mês de gestação não resistiu, mesmo perdendo o seu filho continuou sem apoio familiar, precisando então achar um emprego para se sustentar e achou por sorte minha mãe que procurava uma babá, creio que deve ter sido bem difícil cuidar de mim com a dor ainda em seu peito,  sempre era muito gentil, não demonstrava nenhuma angústia e cuidava de mim como um verdadeiro filho.

- Tenha um bom dia e seja um bom menino sim.- Não pude deixar de rir e dar um beijo estalado em suas bochechas rosadas. Lembrei que estava atrasado e corri para o jardim onde o motorista me esperava já dentro do carro.

~

Cheguei e me surpreendi por não ter sido chamado para um sermão de meu pai, um dos rapazes mais novos que nunca os tinha visto aqui disse que ele estava agora em reunião e não notara meu atraso e podia ficar tranquilo quanto ao isso. Fui até sua sala para deixar as papeladas e observei um pouco seu escritório, sua mesa estava bem organizada, fotos de nossa família decoravam aquela enorme mesa, três cadeiras sendo a maior a sua, me lembrava aos poucos do tempo em que via aqui e pulava em sua cadeira e começava a girar até ficar tonto e cair na gargalhada, uma máquina de café expresso ali e um sofá onde costumava tirar alguns cochilos, amava aquela sala, era aqui que o via a maior parte do tempo, todo aquele lugar onde cresci era também minha casa, não deixei de sorrir, amava e odiava aquele lugar, afinal dois sentimentos tão distintos,  eu o odiava por amar demais.

- Você não devia ficar feliz por estar atrasado. - Quando ele entrou, nem mesmo vi, como sempre tudo a minha volta parava quando pensava demais, não ouvia nem via nada era incrível, era apenas eu e meu mundo, na época de escola tinha dificuldade para me concentrar e sofri um tempo com isso, nada demais, coisa de criança você acaba esquecendo o que pode fazer ou não na frente das pessoa. Não importava o que os outros achavam, só tentava não incomodá-las isso já era o suficiente. 

- Queria me desculpar por isso... - Sempre pedindo desculpas, sempre fazendo o que os outros queriam, até quando séria assim tão trouxa? Era tão fácil ser submisso ao desejo dos outros, HoSeok faz isso, faz aquilo. Me incomodava e muito, mas de onde tiraria coragem para dizer um "não"? Essa era a palavra certa, tinha que aprender a dizer não. - Prometo que não irá acontecer novamente.- Seria sempre isso, dar uma de filho bonzinho e responsável, mas no fundo era um belo fantoche que só servia para fazer favores.

- Ótimo! - Seus passos pela sala era lentos me dando aflição de que a algum momento ele iria se virar e me dar um susto daqueles, mas não foi até a máquina de café e preparou uma xícara. - Por que não me conta o motivo de seu atraso? - Desde quando ele se importava comigo? Soava tão falso como um comprimento de "tudo bem?" odiava quando me perguntavam isso, era só por educação no fundo a pessoa não se importa com seus sentimentos e não se sente na obrigação de ajudar mesmo que você diga que não. Enquanto pensava numa boa desculpa alguém bateu na porta pedindo licença para entrar.

- Desculpa interromper a conversa de vocês mas senhor a culpa não foi do HoSeok e sim minha, não entreguei seus documentos na hora correta e creio que ele se atrasou por esse motivo. - Yoongi estava me defendendo? A cara do meu pai não era das melhores, não sei se estava bravo comigo ou com ele, foi muita coragem dele assumir a responsabilidade por mim. Ele olhava pra mim e pra ele bem sério em sua cadeira.

- Yoongi dá próxima vez espero mais competência de sua parte, isso vale pra você também Hoseok! Podem sair. - Fiz que sim e obedeci, Yoongi saiu na minha frente e não dirigiu mais nenhuma palavra a mim.  Fui para nosso escritório, tinha três mesas, mas no momento ainda não tinhamos contratado outra pessoa para preencher a terceira, então seria apenas nós dois naquela sala enorme.

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Ele não fazia perguntas, mas respondia as minhas brevemente apenas com sim, não ou talvez, e me irritava quando nem fazia questão de respondê-las, Yoongi não era assim, estava me evitando, poxa beleza que estava com raiva de mim, mas ainda eramos muito amigos pensei que aquilo importava mais que tudo. Deixaria que ele voltasse a ficar de bem quando quisesse a escolha era sua. Queria que ao menos saísse do celular e me desse a devida atenção para um possível pedido de desculpas. Fiquei novamente angustiado e com fome já que não tinha comido nada, não via a hora de poder ingerir algum alimento. - Vamos almoçar juntos? - Diz que sim por favor, ao menos isso, que mal teria em esquecer um pouquinho e me perdoar por atos infantis?

- Marquei de encontrar com um amigo. Que pena, mesmo, vou comer sozinho de castigo e pensar no que fiz, afinal quantos anos eu tinha mesmo? Tá...ótimo, se ele não quer tem quem queira minha companhia, peguei o celular e mandei uma mensagem para JungKook que respondeu logo depois. "Vou almoçar ai perto do seu trabalho que tal uma pausa?''. "Claro! Assim aproveitamos para conversar um pouco." Tá talvez não tivesse sido uma ótima ideia afinal. - Mas se quiser vir junto fica a vontade...- Obrigada pela educação mas claro que não ia, não era um aceita vai ser legal, era um estou chamando para não parecer ignorante. Aquilo era muito ruim, queria chorar e lamentar pela minha vida.

- Não obrigado...- Simplesmente me levantei e sai, sem olhar pra ele, sem insistir, sem incomodar, era o que sempre fazia, talvez as pessoas não gostassem de mim por isso. Nunca vi uma pessoa tão negativa e pra baixo quanto eu, o que será que viram viu em mim meu deus.

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Cheguei no local marcado e já estava sendo esperado por ele, abriu o mesmo sorriso carismático e doce de sempre, poderia ficar horas analisando seu sorriso e os traços em seu rosto, fui recebido com um abraço e convidado para sentar a sua frente, nervoso era pouco para descrever-me. Seus olhos não saiam dos meus, analisava minhas ações com uma delicadeza e sorria, me passou uma calma todo aquele gesto. Teria continuado assim se não tivesse visto Yoongi com o rapaz da boate. Um flashback do dia que o vi pela primeira vez me bateu e o coração acelerou senti um suor frio, todo aquela adrenalina me preencher novamente.