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História Através da Estrada. - Um Monólogo de uma Ressonância.


Escrita por: GiovannaPotter

Notas do Autor


Ok, estou aproveitando meu tempo inspirada porque sinto que ele durará pouco. Espero que gostem desse capítulo!

Capítulo 3 - Um Monólogo de uma Ressonância.


Fanfic / Fanfiction Através da Estrada. - Um Monólogo de uma Ressonância.

Lágrimas escorriam dos meus olhos, minha respiração oscilava e a máquina que estava ao lado da cama apontava meus batimentos cardíacos acelerando.

Hélio e o Dr. saíram para conversar, sem eu poder ouvir e chamaram uma enfermeira para tentar me acalmar.

- Você tem que ficar calma, - a moça dizia. Era jovem, loira de olhos castanhos. Ela mantinha uma tranquilidade invejável. - Tente não se alterar, você acabou de acordar! Nada está definido, nada está definido ainda...

Não ouvia o que ela tinha a me dizer. Tentava, numa esperança inútil, bater em minhas pernas. Reanimar meu tato, sentir meus músculos. Mover meus dedos dos pés nem que fosse por um milímetro. Nada. Sentia que meus membros eram pesos, enormes pesos amarrados a mim. Será que nunca sentiria o prazer de andar de novo?

(..)

Fui levada para fazer alguns exames, radiografias e, a mais temível, ressonância magnética.

Quando eu era adolescente, minha mãe tinha que fazer algumas visitas a consultórios. Nunca soube direito se era para rotina ou se aquilo tudo servia para uma análise mais séria. Ela sempre se queixava sobre a ressonância e, realmente, é assustador.

Você deve entrar em uma espécie de tubo gigante e ser fotografado por minutos ou horas. E nem preciso falar do barulho incômodo e da minha incapacidade de não me mover.

Bem, em parte, isso não seria tão difícil, não é mesmo?

H me acompanhou pelo processo, mas quando estava sozinha, dentro da máquina, pude pensar um pouco.

Nada valeu a pena.

Tanto tempo perdido atrás de um emprego que nem me valorizara direito. Tantas caminhadas não feitas, trocadas por algum tempo escrevendo um artigo sobre um evento para crianças, o qual eu nem teria vontade de ir. Tantas besteiras não feitas pelo simples medo de falhar ou de parecer boba.

Tantos esportes, tantos passeios, tantas piscinas e mares, praias, parques, o toque da grama ou da areia nos meus pés, ou até tinta, terra e sabão. Tantas texturas que não iria sentir mais, tantas chances, tanta vida.

Muita vida eu perdi. E valeu a pena?

Valeu a pena eu ter a bosta de um carro de última geração? Valeu a pena ter um emprego renomado onde você apenas segue o looping de "Sim, Sr." e " Não, Sr."? De alguma coisa serviu eu ficar tanto tempo estudando, enfurnada, seja em um escritório ou seja no meu quarto, apenas para ter dinheiro e, um dia, poder viajar e conhecer outros locais? E se eu tivesse morrido no acidente? Alguém poderia ter dito que eu vivi? O que diriam de mim?

"Oh, Clara foi uma mulher e tanto! Escrevia artigos como ninguém!"

"Clara nas festas e reuniões era sempre a mais inteligente! Sempre tinha algo a dizer sobre qualquer assunto!"

E sobre sentimentos? E sobre mim? O que diriam de mim? Esquecendo de rótulos, esquecendo de perguntas como "Onde você trabalha? Quanto ganha? Já foi promovida?", o que perguntariam para mim? Por que ninguém nunca pergunta "Para onde já viajou? Qual sua cor favorita? Qual sua textura favorita?" ?

Minha vida fora falsa, sem sentimento e só percebi isso porque, como diz o velho ditado, "só damos valor às coisas quando as perdemos"

Se eu soubesse que isso aconteceria comigo, meu Deus, quantas coisas teria feito diferente.

Quantas vezes sairia na chuva, sem medo de me molhar? Quantas vezes pararia de estudar para sair com meus amigos? Quantas caminhadas descalça eu teria feito? Quanto mais eu teria pulado nos shows que frequentei?

Ou será que eu faria tudo igual?

Mas de nada vale olhar para o passado. Então, olhando para o futuro. Mais lágrimas.

Meu sonho de correr na praia com meus futuros filhos. Brincar na terra com eles. Ensina-los a andar. Ir na direção deles.

Hipocrisia. Teria eu tempo para fazer isso, ou a Srta. Moraes ainda estaria trabalhando? Acordaria para a vida ou continuaria igual? Ao menos aceitaria ter filhos, ou eles atrapalhariam meus projetos?

Quanto tempo falta Clara, para você deixar de ser robô?

(...)

Voltando para o quarto, minhas lágrimas cessando, não pelo meu controle, mas pela falta de água em meus canais lacrimais. Hélio estava quieto, me levando numa cadeira de rodas. Deveria me acostumar com aquela cena. Eu tentava parecer calma, controlada. Não sabia se fazia isso com êxito.

Entrando no quarto, ele me colocou cuidadosamente na cama. Disse que analisaria os exames com o Dr. Fonseca e passaria no meu quarto mais tarde. Antes de sair do recinto, deixou alguns bilhetes que me mandaram perto de mim, caso eu quisesse lê-los.

Se precisasse do auxílio de uma enfermeira, bastava apenas apertar um botão e ela apareceria.

Tudo na minha mão. Nos primeiros meses, teriam que cuidar de mim. Teriam que me tratar como um bebê.

Depois de vários minutos olhando para o teto, apenas pensando no que seria do meu futuro, tentei mudar minha cabeça, pensar em outras coisas. Decidi, então, ler alguns cartões.

O primeiro era de Daniel:

"Todos nós esperamos que você melhore, sua delícia! Brincadeira, sentiremos sua falta, volte logo para nós!

                                                                                                                                    Do seu amigo superhétero, Dan."

"Do seu amigo superhétero", ele escreveu. Consegui sorrir. Daniel sabia ser um grande amigo.

Peguei então o próximo, parecia ser de Marissol. Por algum motivo, havia balões pelo cartão e um texto já escrito:

"FELIZ ANIVERSÁRIO ESTRELINHA, QUE VOCÊ BRILHE PARA SEMPRE E SEMPRE"

Mais embaixo, havia um outro texto escrito à caneta laranja.

"Desculpe por isso, era o único da papelaria. Melhoras para a escorpiana mais brilhante da terra.

PS.: Os balões de estrela foram minha ideia.

              Marissol."

Que amor. Mari era um pouco atrapalhada, mas era única em todos os momentos.

Roberta e outros do trabalho também mandaram cartões mais simples. Não só eles, mas amigos da faculdade, família e conhecidos também se manifestaram e desejaram-me melhoras.

Eu também desejava-me melhoras.

Assim, coloquei a caixinha de músicas para funcionar, e dormi, chorando novamente.


Notas Finais


E então? Continuo?


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