Observei a casa por um tempo. Cinn havia acabado de ir embora, e parecia que ninguém tinha chegado ainda, então fiquei ali, pensando em como o papai e o tio Paps viviam. Eles me contaram histórias bem legais, sobre o dia em que o spaghetti do tio Papyrus ficou tão salgado de a tia Undyne começou a secar, ou o dia em que a mamãe apareceu pela primeira vez ali. O tio Paps que saiu com ela primeiro (estranho, ou irônico?).
Pensei. E se eu entrasse na casa? Sorri, e abri a boca para falar algo, como “Ei, Cinn, quero fazer uma coisa bem louca”. Mas ela não estava ali.
“É, não vai ser tão divertido...” pensei “não vai ter ninguém pra tentar me assustar.”
Usei meus poderes e abri a porta trancada com facilidade. Mas não abri apenas a porta da frente. Parece que outra porta abri, pois ouvi algo destrancar. Olhei.
Do outro lado da casa. Uma porta havia se abrido. Ela parecia escondida no meio das árvores, e estava aberta agora. Uma leve camada de poeira flutuava por ali. Um arrepio percorreu meu corpo.
Andei lentamente até a porta. Abri, e vi que era algum tipo de... porão. Uma mesa. Algumas gavetas. Papéis no chão. Um computador simples e um... tipo de máquina. Coberta. A sala estava toda escura, e não tinha nem um gerador. Entrei ali, sentindo a sala gelada me preencher.
À mesa, tinha uma câmera, com a lente quebrada, e um cabo que ligava ao computador (que parecia ser apenas um monitor agora.
Depois de um tempinho procurando, achei um botão, que fez o monitor ligar. Ele emanava uma luz fria e sem vida, e então...
Eu vi meu pai.
Ele parecia mais jovem. Um pouco mais, apenas. Olheiras se acumulavam debaixo de suas órbitas e ele estava com as mãos na cabeça.
-Argh, eu...- ele ofegou- eu não... aguento mais...- então começou a rir, chorando.
Eu não estava entendendo nada. Meu pai nunca havia falado daquela sala. Nem aquele video. Continuei assistindo com atenção.
-Ela resetou ontem à noite, novamente. Depois da sala do julgamento. Frisk... Chara... Não importava mais. Eu queria tanto acabar com ela de vez. Queria fazer com que ela nunca mais voltasse. Queria que o “save” não existisse!- ele gritou com raiva- quantas vezes ela já resetou? 20? 30? Eu perdi a conta.- e então suspirou, afundando na cadeira com as mãos no queixo, olhando pro nada por um tempo. Então virou os olhos para a câmera.
-Eu... ainda me lembro. Ela já foi melhor. Eu sei que foi. Frisk já foi melhor. – sorriu de lado- com certeza foi... Mas agora, ela tinha Chara com ela. Chara... MALDITA ASSASSINA!- ele ficou com raiva e jogou alguma coisa para algum lugar.
Meu coração gelou. O que tia Chara havia feito?
-Apenas um maldito espírito maligno. Uma falha. Um desejo de matar. Um demônio, com rosto e nome! “Determinação”, argh!- ele parecia muito puto da vida. Seu olho estava azulado. Se sentou novamente na cadeira, na frente da câmera.
Riu, nervoso.
-LOVE. EXP. HP. Ela conseguiu tudo isso. Matou todos ao seu redor. Chara... A destruidora da minha vida...- ele começou a chorar- ela tirou Frisk de mim! Ela matou Papyrus! Se duvidar, aquele demônio ainda possui mais alguém inocente!
Ele olhou para o lado, ouvindo algo. Olhou para a câmera então suspirou.
-Não faz diferença. É hora de ir.- ele colocou o casaco e alguma coisa em sua mão. Desligou a câmera.
Eu estava... paralisado. Não sabia o que pensar. O que ele quis dizer com... Chara, assassina? Ela só era fria, mas.. Espera, ele estava falando da mamãe ou da tia Chara?? Eu me perdi nessa parte.
Sai dali rapidamente. A visita ao subsolo estava se alongando demais. Eu tinha que encontrar a Cinn e sair daqui. O mais rápido possível.
Meus passos eram rápidos, e eu senti minha respiração ofegante. Teleportei para as ruínas, e olhei ao redor. O lugar era escuro, com as paredes em tons de roxo e violeta, e algumas vinhas crescendo por ali. Eu estava na frente de uma árvore, que estava cheia de folhas vermelhas abaixo dela. A árvore era robusta e seca, e as folhas formavam camadas, de algumas novas folhas, e outras, muito, muito velhas. Mas à minha frente, o que mais me chamou a atenção, era... Ela.
Cinn. Ela estava olhando para a casa, imóvel. Uma névoa empoeirada percorria o lugar. Deveria ser apenas o fato de não ser limpa. Só poderia ser isso.
-Cinn! – a chamei- Nós temos que sair daqui! Eu descobri uma coisa sobre meu pai, e sobre sua mãe... A visita ao subsolo está demorando mais do que eu esperava... Meu pai gravou um vídeo, falando sobre algo... “Genocídio”... Eu te explico no caminho, agora, vamos!
Ela continuou em silêncio.
-Cinn? Você tá me ouvindo? É hora de ir pra casa.- eu falei, me aproximando, e quando eu ia pegar sua mão, meu olhar se focou no que ela estava segurando.
Era um... Monstro. E em sua mão esquerda tinha a sua adaga, cravada no peito do Froggit, que virava poeira aos poucos.
-Cinn, o que...- eu me afastei, olhando para ela espantado. Seus olhos brilhavam num vermelho que eu nunca havia visto antes. A poeira do Froggit se espalhou pelas suas roupas. Seu rosto estava sem expressão. E então ela ficou de frente para mim, olhando pelos meus olhos, herguendo sua adaga. Seus passos eram silenciosos e lentos em minha direção.
-Cinn, pare! O que você está fazendo??- eu falei, já desesperado. O que estava acontecendo com ela??
Ela então, sorriu. O sorriso mais psicótico que eu já vi.
-Haha.. HahahahaHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH- Cinn começou a rir, e um líquido negro começou a escorrer de seus olhos, se aproximando com ainda mais velocidade. Seus cabelos caiam no rosto, sua roupa estava suja, e seus olhos brilhavam mais do que qualquer coisa ali.
Sem poder raciocinar direito qualquer coisa, sai dali.
Cai no chão de Hotland, em qualquer lugar. Minha cabeça girav, tentando compreender o que eu acabei de ver. Por que a Cinn estava daquele jeito??
-Ei Francis, você tá bem cara? – Crownnie perguntou, ficando na minha frente. Eu havia teleportado para onde ele estava.
-NÃO! A CINN! E-ELA...- eu gritei, ainda em choque.
-O que aconteceu Francis??- Pepita falou, se ajoelhando a minha frente, enquanto eu sentia meus olhos ficarem com lágrimas de desespero e pânico.
-Ela está... Ela matou... Ela está matando monstros!- falei, ofegante- E-Ela estava com poeira nas roupas, e-e... Eu não consegui fazer nada... Ela estava...
-Francis, explica isso direito: A Cinn está MATANDO monstros??- Crownnie ficou ao lado de Pepita, olhando para mim, mas então eu me levantei e peguei nos ombros dos dois.
-ALGO MUITO ERRADO ESTÁ ACONTECENDO AQUI! NÓS TEMOS QUE IR EMBORA DAQUI! – eu gritava.
-Calma, cara! Me escuta, nós temos que...
-Eu vou pra superfície! Eu vou chamar a tia Chara e o tio Asriel! Eles devem saber ajudar!
-Francis, me escuta!- Pepita parou na minha frente- deve ser... t-tudo um mal entendido! Você tem que ficar aqui! Temos que ficar juntos! E se a Cinn está assim... temos que ajudar ela!
-Crownnie, leve a Pepita pra algum lugar seguro, e procure a Daphiny. Se acharem algum monstro, levem junto. Se virem a Cinn...- eu não sabia o que falar. Minha melhor amiga, até mais que isso, estava matando monstros à sangue frio. Eu falaria o quê? Para impedirem ela? Para se esconderem? Para tentarem ajudar?
-Francis, espera!- Pepita gritou, mas eu já me teletransportado para longe dali.
Eu corria pela floresta, me teletransportando poucos metros e voltando a correr, variando. Eu não conseguia entender. Primeiro um vídeo, de meu pai, falando que minha mãe e minha tia, tinham assassinado monstros, agora a Cinn? A Cinn, REALMENTE fazendo isso?? Eu conhecia o poder da Cinn. Ela poderia ser bem letal quando realmente quisesse isso. E ainda tinha a maldita determinação...
Argh! Eu tinha que achar os meus tios rápido!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.