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História Auditory Hallucination - Devo apagar você?


Escrita por: taexxxxxie

Notas do Autor


ALGUÉM ME MATA, EU FIZ 14.000 PALAVRAS E QUANDO FUI POSTAR, EU APAGUEI SEM QUERER, SÉRIO, FALECI, se eu postar esse capítulo, quer dizer que eu não me matei de raiva, obrigada.

Sério, quero morrer

Capítulo 27 - Devo apagar você?


Fanfic / Fanfiction Auditory Hallucination - Devo apagar você?

              [ 13 anos atrás ]

 

Jingle bells, jingle bells, jingles all the way, tan tan tan, tan tan tan, tan tan tan taaan ~

Bati as pontas dos pés uma na outra, enquanto cantarolava baixinho a melodia que soava ao fundo. Levantei o olhar e observei a rua prontamente iluminada, o pinheiro colorido, a neve sutil, e até mesmo o pequeno robô de Papai Noel, que vez ou outra me assustava, estavam todos em perfeita harmonia. Várias pessoas passeavam de mãos dadas, recitando canções natalinas e espalhando sorrisos. 

A fumaça branca e gélida era visível saindo da boca das pessoas quando falavam, deixando claro o clima extremamente frio que fazia naquela noite. 

Arregalei o brilho dos olhos, encostando as palmas das mãos sobre o vidro fosco do mercadinho e engolindo seco, acompanhando com o olhar a garota de cabelos castanhos tirar uma daquelas fileiras de garrafinhas adocicadas e um canudo de dentro da geladeira grande e sair depois com um sorriso de orelha a orelha, fazendo meu estômago roncar alto.

Empurrei a porta com força, ouvindo o tilintar do sino acima de minha cabeça, e ficando na pontinha dos pés, apoiando as mãos na bancada e espiando o homem de gorro vermelho que mantinha os braços cruzados, atrás do balcão.

- Posso ajudar, mocinha? 

- Um yakult, por favor! - Juntei as mãos e ergui os braços, esperando ansiosa pela minha bebida açucarada, com um sorriso largo nos lábios.

- Aqui. - Ele sorriu, me entregando a fileira de garrafinhas e um canudo listrado. - São 3000 won's. 

- Obrigada! - Sorri largo e sai dando pulinhos alegres até a porta, logo sentindo uma mão em meu ombro fazendo cessar meus passos e me virando para trás.

- Ei, faltou pagar. 

- Mas... Eu não tenho dinheiro... - Murmurei, suspirando. 

- Cadê seus pais?

- Eu... não sei.

- Então sinto muito, garotinha, vai ter que devolver isso. - Ele agachou na minha frente e tomou as garrafas de minhas mãos, se levantando em seguida. 

- A-Ahjussi! Só um, me dá só um, ahjussi, por favor! Só um, por favor ahjussi! - Fiz um bico com os lábios e prendi os dedos na barra de sua camisa, sacudindo o tecido fino e sentindo meus olhos marejarem. 

- Aigoo, pequena. - Ele suspirou, agachando à minha frente outra vez e desprendendo com cuidado uma das garrafas da embalagem plástica.  

- Yah, Takuya, seu japonês imprestável! O que tá fazendo?! Eu não te contratei pra ficar distribuindo meus produtos pra pedintes! Xô, xô, xô! Xô, menina! 

Fechei meus olhos automaticamente quando fui empurrada de forma brusca sobre a calçada e a porta fechada com força, me assustando um pouco; Impulsionei meu corpo e logo cobri meus olhos com o antebraço, sem conseguir segurar meu choro. De súbito, senti algo frio afundar em minha bochecha; pisquei repetidas vezes e funguei, tentando engolir meu choro e entreabrindo os olhos, abaixando um pouco meu braço e dando de cara com um garoto mais alto e de cabelos pretos, que me encarava inocente com os olhos negros e redondos.

- Toma, pode ficar com esse. - Ele ditou, abaixando o olhar; acompanhei o mesmo vendo sua mão levantar segurando uma garrafinha de yakult e um canudo, pronto para beber.

- Huh? Pra mim? - Abri um sorriso largo, levando o canudo até meus lábios sem hesitar e voltando a fitar o menino, que agora sorria minimamente. - Obrigada, oppa!

- Meu nome é Lee Jun Hee, pode me chamar de Jun. Qual seu nome? - Jun oppa inclinou as costas, deixando o rosto na minha altura e dando um sorriso pequeno.

- Shin Yerin. - Ditei, sorrindo fofa e sendo pega de surpresa com seu ato repentino.

- Vem cá. - Jun Hee segurou minha mão e me puxou para o banco de madeira em um canto da praça, sentando e dando um tapinha ao seu lado, onde me sentei. - Tenho 8 anos, e você? 

Ele me olhou curioso, apoiando as mãos na madeira e balançando os pés, levantei a mão e estiquei todos os meus dedos, o vendo rir baixinho e voltar a olhar para seus pés, os batendo suavemente no chão. 

- 5 anos? Fofa... - Jun Hee oppa suspirou fraco, ainda cabisbaixo. - Você... também perdeu seus pais? 

- Também? 

- Minha mãe morreu e meu pai... prefiro não comentar. 

- Minha mamãe... - Mirei os olhos para o céu e sorri fraco, terminando de beber e deixando a garrafinha vazia sobre o banco. - Ela foi pro céu quando eu nasci, e o papai... eu não sei. Ele me deixou aqui sozinha e sumiu desde manhã. 

- Você tá sozinha desde a manhã? Nossa... - Ele parecia pensativo, balançava os pés distraído e os encarava. 

- Sim... O vovô vem me buscar. O que acha que aconteceu com meu papai, oppa? 

- Talvez... ele tenha sido abduzido por extra terrestres? - Jun Hee me olhou fazendo uma careta engraçada que foi impossível não rir, e, logo apertando minha bochecha, ele sorriu minimamente. - Você é fofa, Yerin. 

 

                      (...)

 

Bati meus pés no chão em um ritmo qualquer, abrindo um sorriso de orelha a orelha ao avistar de longe Jun Hee oppa balançando uma garrafinha de yakult na mão enquanto corria na minha direção com um sorriso estampado no rosto. 

- Yerin! Aqui, trouxe pra você! - Ele ditou arfando pela corrida e colocando o canudo pequeno na mesma, me entregando cuidadoso. 

- Obrigada, oppa! - Levei o canudo até meus lábios e sorri com os olhos. 

- Olha isso. - Ele sorriu, dando um pulo de braços abertos no chão e esfregando os braços e pernas por cima da neve, fazendo meus olhos brilharem com o desenho que ganhava vida. - Tcharam!

- Isso... é um anjo?! Uau! 

- Já ouviu a história sobre os anjos do natal? - Neguei com a cabeça enquanto Jun oppa batia as mãos uma nas outras, livrando-se do gelo que grudara nas mesmas. - Esses anjos protegem o natal, eles trouxeram a mensagem do natal e assim trouxeram junto a alegria do natal. Eles cuidam das crianças e as guardam do mal, protegem as pessoas boas, e ensinam que podemos ser felizes mesmo quando é difícil... 

- Você é feliz, oppa? - Me agachei perto do desenho, tocando com a ponta do dedo indicador sobre a gelada neve, sentindo um pequeno choque térmico em minha pele me fazendo sentir cócegas. 

- Feliz... - Ele murmurou, cabisbaixo, sorrindo fraco. - Eu posso ser, nós podemos ser... Yerin, quer ser minha amiga? Nós pod...

- Amiga?! De verdade?! - Nem esperei que ele terminasse e dei um pulo, arregalando os olhos e ele fez que sim com a cabeça, sorrindo. Nem hesitei e apenas assenti completamente, totalmente, supermente - isso existe? - animada! Pela primeira vez eu iria ter um amigo, não qualquer amigo, mas um amigo de verdade. - Então vamos ficar juntos pra sempre?! Brincar muito?!

- Pra sempre. - Ele retribuiu o abraço e ouvi uma risada sua, afagando meus cabelos. - Eu vou cuidar de você, prometo. Nós não temos pais mas vamos ter um ao outro, ok? Vem, vou te mostrar meu lugar secreto. 

De súbito, Jun oppa me puxou pela mão, guiando o caminho por uma viela até chegarmos em um beco, onde ele pegou uma chave escondida em um jarro de plantas e abriu uma porta velha, que rangeu baixinho. O lugar estava apenas iluminado pela luz de fora, que entrava pelas frestas das janelas. Era como um estúdio daqueles de balé, tinha uma barra de ferro e um enorme espelho que cobria uma parede inteira.

- Eu venho aqui sempre que não quero mais ficar em casa, é meu esconderijo secreto quando fujo de casa, já que ela é aqui perto. - Ele sentou no canto da parede e eu fiz o mesmo, ao seu lado, vasculhando os olhos por todo o cômodo vazio. 

- Por que fugiria de casa, oppa?

- É uma longa história... O-Oh? Abaixa! - Jun oppa me abraçou forte, fazendo meu rosto se esconder em seu ombro e meus olhos se arregalarem, assustada com seu grito repentino. Suas mãos, que me abraçavam apertado, tremiam e suavam frio, eu podia ouvir sua respiração pesada e seu corpo se encolhendo mais e mais. - C-Cuidado...! O t-teto...

- O q-que...

- O t-teto... tá caindo... tá caindo tudo...! - Sua voz soava chorosa, me deixando receosa.

- Huh? - O abracei de volta, fechando meus olhos e ficando trêmula de medo, engolindo seco. Entretanto, alguns minutos foram se passando e nada tinha acontecido, eu nem mesmo conseguia ouvir um barulho sequer ou sentir nada. Entreabri os olhos devagar e tentei levantar a cabeça, vendo o telhado totalmente intacto, assim como o resto da sala. Tudo estava perfeito, mas Jun continuava assustado, dizendo que estava caindo sobre nós, e me deixando completamente nervosa e confusa. - Jun Hee... 

   

                         (...)

               [ 5 anos atrás ]

 

Suspirei, escorando as costas na parede de uma loja qualquer e levantando o olhar, já meio sonolenta. O céu já não possuía tantas estrelas como antes, as pessoas não andavam mais tanto de mãos dadas e nem cantarolavam mais as canções.

Felizmente, meu avô não insistiu muito quando eu disse que queria ficar em Busan. Era onde eu estava feliz e não mudaria absolutamente nada, Jun Hee era como a família que eu nunca tive e nem pude ter. Meu avô parecia me evitar as vezes, talvez ele evitasse que eu perguntasse sobre meu pai. Bom, não era como se eu já não soubesse que meu pai estava preso outra vez, assim como naquele natal, onde conheci Jun Hee. 

A neve caía lentamente, cobrindo cada cantinho da rua com uma leve camada alva de gelo. Coloquei as mãos nos bolsos de meu uniforme escolar e sorri fraco, de lado, lembrando de como tudo agora estava exatamente igual naquele dia. 

Suspirei outra vez, voltando a caminhar sem pressa alguma. 

- Jun Hee...? - Meu olhar pairou sobre ele, que vinha correndo em minha direção com os cabelos negros desgrenhados, ofegante, machucado... Sua respiração pesada, a aflição que transparecia, o roxo em seu rosto, tudo fez meu sangue efervescer de raiva e sentir um aperto em meu peito... Havia acontecido outra vez. 

- Yerin-ah... - Ele deixou uma lágrima deslizar por sua bochecha, abaixando a cabeça um pouco. Ergui meu braço e estiquei meus dedos, tocando com as pontas suavemente no machucado exposto em seu rosto, o que fez meu coração doer mais ao ouvir um grunhido de dor sair abafado.

- Aquele monstro... - Murmurei, enxugando sua lágrima com o polegar. Eu não aguentava mais os dias em que encontrava Jun nesse estado por causa do maldito monstro mal caráter que diz ser seu pai. Ver ele naquele estado deplorável me deixava com os nervos à flor da pele, e eu simplesmente não podia fazer nada. 

- Vamos fugir...! - Jun Hee me pegou de surpresa, segurando minhas mãos com firmeza e se curvando, deixando a cabeça na altura da minha. - Vamos fugir daqui, Yerin-ah, huh? Por favor...

- Lee Jun Hee, o que... Nós não podemos... - Suas mãos tremiam e seus olhos pareciam mais tensos do que as outras vezes, deixando escapar lágrimas. 

- Eu já tenho 16 anos, já tô perto de ser independente e... E-Eu... tô com medo, Yerin.. Eu tô com m-medo... 

- Sai daquela casa e vem pra minha, hm? Aquele homem é mesmo assustador, ele é um completo mons...

- N-Não Yerin, eu tô com medo de mim... Eu não sei o que f-fazer... As vozes ficam me dizendo pra... me l-livrar dele... Você acha que eu devo matar ele? 

- V-Vozes? Que vozes Jun? - Recuei um passo, franzindo a testa.

- As vozes na minha cabeça... Elas ficam falando o que devo fazer, as vezes elas dizem coisas... sem sentido... Eu não sei o que fazer, se eu acabar m-mat...

- Jun Hee, não escuta essas vozes... Elas te fazem mal, não escuta elas, me escuta, ok? Você não vai matar ninguém e nem fugir... Eu...

- Yerin,  me desculpa... - Ele apenas me abraçou, escondendo o rosto em meu ombro, como fazia todas as vezes.

 

                        (...)

Respirei fundo e olhei mais uma vez à minha volta, me sentindo nervosa com a demora de Jun. 

- Aish, por que ainda não chegou? - Murmurei, suspirando e desencostando as costas do muro do velho estúdio abandonado. As vozes... Aquilo ainda estava na minha cabeça e eu não conseguia entender o que significava, estava me assustando... Talvez algo aconteceu? 

Resolvi ir até sua casa, afinal, não era tão longe dali. Não demorou muito para que eu conseguisse escutar uma gritaria, me fazendo cessar os passos de frente para um casebre. 

- Aquele garoto... fala sozinho! Eu não quero ser madrasta de um louco, ele me assusta! 

- Cala a boca! - Um estalo ecoou, junto à um barulho de algo caindo no chão. - Você não vai me dizer como educar meu filho, sua vagabunda! 

- Lee Young, o que... Yah! Você acha que porque espancou sua ex-mulher todos os dias, eu vou aguentar isso?! Deve ser por isso que seu filho ficou doente, por sua culpa!

- Vadia! 

- Seu filho tem esquizofrenia, ele deveria estar num hospício e não na minha casa!

Esquizo... frenia? 

Engoli seco, dando passos desastrosos para trás, sem conseguir raciocinar aquilo tudo que ouvia. Fechei os punhos, sentindo minhas mãos tremerem e minha respiração ficar pesada. 

- Isso... não faz sentido.... N-Não faz sentido... - Balancei a cabeça negativamente, me recusando a acreditar naquelas palavras, até ouvir um ruído. Andei receosa, me sentindo apreensiva, e fiquei na ponta dos pés, apoiando as mãos no parapeito de uma janela de madeira, tão velha que estava quebradiça, faltando alguns pedaços. Olhei pela fresta e me deparei com Jun Hee tampando os próprios ouvidos e de olhos fechados, chorando e dando passos para trás. 

- Não... P-Parem...! - Sua voz era trêmula, angustiada. - Y-Yerin disse pra não escutar... Pare com isso, e-eu não quero! Yerin d-disse... E-Eu não posso, não vou escutar..., me deixem em paz! PAREM!

Recuei um passo, sentindo uma dor em meu peito; com os olhos lacrimejando, levei as mãos até minha boca, abafando o choro e fechando os olhos. Não podia ser... Não fazia sentido algum... Dei as costas e me escorei na parede, escorregando lentamente até cair sobre o chão, sem conseguir controlar as lágrimas que insistiam em escapar. 

 

                            (...)

                  [ 4 anos atrás ]

 

Dei um passo para frente, estendendo meu braço e arregalando os olhos marejados, eu não queria que aquilo acontecesse, eu nem imaginaria que pudesse chegar naquela situação, por minha causa. Era isso, tudo era por minha causa, se eu tivesse mantido minha maldita boca fechada...Que droga!

 

- J-Jun Hee, não faz isso...! - Minha voz saiu falha; Jun Hee virou seu rosto lentamente para trás, me fitando por cima de seu ombro e dando um sorriso pequeno, deixando uma lágrima escapar. 

- Está tudo bem... - Apenas seus lábios se moveram, mantendo o sorriso mínimo e voltando a olhar para frente, fechando os olhos mais uma vez.

- N-Não... Eu tava errada, eu não sei de nada, J-Jun Hee, você não p-precisa fazer isso, i-ignora o que eu disse, a-as vozes tem r-razão, não e-eu... 

Seus cabelos negros eram soprados pelo vento fraco e sua cabeça pendia para trás quando seus braços foram abertos para o céu, e, sem abandonar seu sorriso doce, seus pés fizeram o impulso final. 

- YAH, LEE JUN HEE! 

Gritei, gritei com todas as minhas forças, gritei desesperadamente, mas já era tarde demais, e a culpa era minha. 

 

               POV Baekhyun

 

Pendi a cabeça para trás e fechei meus olhos, respirando fundo pela... perdi a conta de quantas vezes fiz a mesma coisa. 

Me sentia um completo inútil, que não sabia sobre nada e nem sabia como ajudar... Droga, Byun Baekhyun. 

- Aigoo! A ficha hospitalar dela é complicada... - Escutei um suspiro e entreabri os olhos, vendo um médico apoiar os cotovelos sobre a bancada e olhar para trás. Meus olhos acompanharam os seus e pararam sobre o vidro fosco do quarto de Yerin, me fazendo abaixar a cabeça. - Ela já esteve internada por um ano inteiro, devido um trauma...

- Um ano inteiro? Nossa... - Uma voz feminina soou, a qual julguei ser da enfermeira atrás do balcão.

- Onde ela tá?!

Levantei o olhar ao escutar passos pesados e uma voz áspera, impossível de não reconhecer o dono.  Ri soprado ao vê-lo chegar ofegante, diminuindo os passos apressados que dava.

- Você deve ser o guardião da Srta. Shin, certo? - O médico se virou e Taehyung assentiu.

- Eu sou o secretário chefe do avô dela, mas eu que cuidei desse assunto, 4 anos atrás. O que houve? 

- Com licença... Eu sou o namorado dela, pode me explicar o que tá acontecendo? - Caminhei até eles e oloquei as mãos nos bolsos, encarando Taehyung, que bufou. 

- Yah, o que você tava fazendo quando isso aconteceu?! - Ele gritou, rangendo os dentes, mas permaneci sério, rindo soprado. 

- Sem gritarias, estamos num hospital! Enfim, ela teve um choque traumático, parece que algo recente a fez lembrar de um trauma antigo. Sabe sobre algo? - O médico interrompeu e direcionei meu olhar para ele. 

- Trauma antigo...? Ah, sim, ela ficou 1 ano internada em Busan por causa desse incidente... - Taehyung suspirou, levando a mão até a testa e limpando o suor com o dorso.

-  Deve ter sido difícil, já que ela teve alucinações auditivas nesse período, de acordo com a ficha. Ainda precisamos averiguar e acompanhar por alguns dias, mas é possível que essa alucinação volte, é difícil dar um diagnóstico exato agora, então... Você é o namorado dela, certo? A Srta. Shin vai precisar de atenção e reconforto, já que o trauma foi grave, cuide dela. E você...

- Kim Taehyung. - Ele falou entredentes. 

- Pode me acompanhar para assinar os papéis? 

Olhei para o vidro e respirei fundo, caminhando finalmente para a sala e levando a mão até a maçaneta, abrindo a porta com cuidado. Yerin estava encolhida sobre a cama, abraçando as próprias pernas e apoiando o queixo sobre os joelhos; seu rosto virou vagarosamente para mim e pude ver seu semblante triste, deixando escapar lágrimas. Respirei fundo de novo e sentei na beirada da cama, sorrindo fraco e levando meu polegar até seu rosto, enxugando suas lágrimas brevemente. 

- Baek... - Ela soltou num quase sussurro, levantando o olhar ao meu. Senti meu coração ser dilacerado por aquele olhar, quis chorar simplesmente por vê-la assim, frágil e para baixo. Seus olhos começaram a lacrimejar mais e eu me aproximei, a puxando para um abraço e escondendo seu rosto em meu peito. 

- Tá tudo bem... 

- F-Foi por minha causa... Por minha c-culpa... foi minha culpa... - Quase como uma criança chorando, ela prendeu os dedos no tecido de minha camisa e escondeu mais o rosto. - J-Jun Hee morreu por minha causa... E-Eu... 

- Shhh... Tá tudo bem, hm? Sabe, uma coisa que aprendi quando minha mãe disse que me odiava antes de morrer, e de quando eu me senti culpado por destruir nossa família ou até quando meu irmão disse que me odiava e que era minha culpa que tudo deu errado... - Sorri fraco, sentindo uma lágrima deslizar por meu rosto. - ...foi que culpa é um sentimento inútil. Já pensou que talvez isso tenha sido o melhor pro Jun Hee? Ele agora deve se sentir em paz, livre de preocupações, livre das dores... Ele deve se sentir agradecido, até. 

Yerin se afastou um pouco e nossos olhares de cruzaram por um momento. Sorri fraco e levei o dorso de minha mão até sua bochecha, enxugando novamente as lágrimas que saíam. 

- Você... acha isso? 

- Com certeza. - Sorri, acariciando seu rosto e a puxando para mais um abraço, apoiando sua cabeça em meu peito. - Então não se preocupa, é um desperdício viver na culpa...

Seus braços envolveram minha cintura e fechei meus olhos, suspirando baixo e deixando algumas lágrimas escaparem. 

 

                    POV Yerin 

        [ 1 semana e meia depois ]

 

Olhei através da janela os passarinhos que formavam um pequeno ninho em um galho de árvore, ao mesmo tempo que seu canto se espalhava harmonioso por toda a sala de aula.

- YERIN?! MEU DEUS, MINHA YERIN! - Um grito quase histérico me tirou a concentração na melodia dos pássaros e me fez virar o rosto, vendo Naeyeon correr de braços abertos e praticamente pular em cima de mim, choramingando e me fazendo rir baixo. - Você tá melhor?! 

- YERINZINHA! - Mais um grito, agora vindo de um Minhyuk que tinha um sorriso que quase rasgava seu rosto e os braços esticados na minha direção.

- JESUS, BUDA, ALÁ! YERIN! - Mais um grito, e dessa vez era Hoseok, que empurrou Minhyuk para o lado e correu para me abraçar também. - Ai, socorro, que saudades! Você tá bem?

- YERIN, YERIN, YERIN! AAAH! - Dessa vez a histérica de verdade apareceu. Lalisa correu na minha direção toda empolgada, derrubando Minhyuk outra vez; ele fez uma careta e xingou em murmúrios, me fazendo rir. 

- Agora sim! - Minhyuk se levantou e olhou para trás bem rápido, com os olhos semicerrados. Sem avistar ninguém, ele suspirou aliviado e abriu os braços de novo, sorrindo. - YERINZINHA!

- SOCORRO, YERIN?! 

- AAAAH, FINALMENTE ELA VOLTOU!

- EU VOU CHORAR! É MESMO A YERIN! 

Sehun, Jooheon e Jungkook entraram na sala correndo e gritando, atropelando Minhyuk no caminho e o empurrando para o lado. 

- SEUS FILHOS DE UMA DAMA DA NOITE, VÃO TOMAR NOS VOSSOS ORIFÍCIOS ANAIS! - Minhyuk gritou com todas as forças e eu ri alto, o vendo emburrar o rosto.

- Credo, que agressivo. - Jungkook fez cara de nojo e os outros riram. 

- Vem aqui, maninho. - Abri os braços e sorri, vendo ele sorrir todo fofo e fazer o mesmo, logo sendo puxado pela gola da camisa para trás. 

- Tirem as mãos da minha namorada, suas alpacas. - Baek soltou a gola de Minhyuk, que bufou e revirou os olhos. 

- Desisto. Foi boa a tentativa Yerin. - Minhyuk riu, passando o dedo sobre os olhos como se chorasse. 

- Onde que tem alcaparras? É gostoso. - Lay apareceu na porta e Baek bateu a mão na testa, suspirando. 

- É alpacas, seu acéfalo. - Baek revirou os olhos. 

- Não fala assim com ele, caralho. - Lisa retrucou fazendo uma careta para Baek, e logo apertando a bochecha  de Lay, que sorriu. 

- Cadê sua classe, Lalisa? Deixou em casa? - Baek cruzou os braços. 

- Por gentileza, vá tomar no vosso orifício anal, seu paupérrimo morfético. - Lisa sorriu irônica e não me aguentei quando vi Baek olhar incrédulo. 

- Arrasou Lalisa, me ensina depois. - Sehun riu, assim como todo mundo. 

- Você fique na sua, porta ambulante. - Baek resmungou, vindo até mim, e me roubando um selinho. - Como tá o meu bebê? 

- Baek, você quer apanhar? - O olhei séria e ele riu. 

- Pode mais nem ser fofo. - Ele fez um bico, emburrando o rosto. 

- O Chucky é mais fofo que você. - Lisa quase gritou e Baek jogou nela um estojo que não faço ideia de onde surgiu. 

- Parem de gritar, Yerinzinha precisa de repouso. - Minhyuk afagou meus cabelos. 

- Repouso? Nada disso, eu já tô a mais de uma semana sem transar, já descansou demais já. - Baek cruzou os braços e eu quis afogar ele no Mar Morto, de preferência com uma âncora pendurada no seu pescoço.

- Baek! - Arregalei os olhos, e ele encolheu os ombros. 

- O que? Menti? 

- Você quer morrer? - Ameacei, o olhando incrédula. 

- Eu tenho uma tesoura aqui bem afiada, se quiser cortar o pinto dele. Assim, só pra avisar mesmo. - Lisa sorriu psicopaticamente, tirando uma tesoura grande de sua bolsa.

- Boa ideia. - Sorri da mesma forma e Baek engoliu seco, cobrindo o membro com as mãos.

- Eu segurou ele. - Sehun completou, e Baek o olhou repreensivo. 

- Cala a boca, satanás. - Ele deu um tapa na nuca de Sehun; a porta rangeu e uma voz conhecida soou. Só fazia um dia que eu tinha ganhado alta, mas parece que vou voltar para o hospital bem cedo - mas dessa vez não vai ser por minha causa. 

- Huh? Quanta gente... Ah, Yerin. Você tá melhor? - Jiyeon sorriu, que falsidade enorme, Jesus. Alguém me segura antes que eu pegue aquela tesoura da Lisa. - Espero que sim. Oi galera, oi oppa!

Baek não respondeu, apenas deu um sorriso bem forçado e se virou para mim de novo, que gritei vitoriosa - internamente, claro.

- Seres das trevas, vão sentando nos seus lugares, andem! E Yerin, seja bem vinda de novo! Pensei que tinha desistido dessas criaturas corrompidas dessa sala e pediu pra ser transferida, eu até tinha ficado com inveja. - O professor Marcus falou, fazendo bico de tristeza e arrancando reclamações de todos. 

- Professor, eu sei que você ama a gente. - Baek ditou convencido, e apoiou o braço na minha carteira, se abaixando e deixando o rosto próximo do meu, mordendo o lábio inferior e piscando de um jeito estupidamente provocante. - Hoje você não escapa de mim. 

Perdi até a linha do raciocínio, demorando a perceber que ele já tinha voltado para sua cadeira. Ri abafado, me tocando do que tinha acontecido segundos atrás e do quanto eu tinha ficado arrepiada. Yerin, não te reconheço mais. 

Foi aí que notei que aquela cobra coral falsificada estava olhando para Baek o tempo todo, até que ela me percebeu e sorriu sarcástica para mim. Argh. 

De repente, senti algo envolver minha cintura, me assustando um pouco com o ato. Algo se apoiou em meu ombro e olhei por cima, vendo Baekhyun sorrir fofo enquanto me abraçava por trás, com os braços por baixo da cadeira. 

- Te assustei? 

- Imagina... - Levei a mão até o coração e respirei fundo. 

- Boba. - Ele riu, aconchegando mais o queixo em meu ombro e fechando os olhos. - Eu pedi pro... sei lá quem trocar de lugar comigo, quero ficar pertinho de você.

- Se eu mandar você voltar pro seu lugar, você vai? 

- Não. - Ele sorriu todo bobo e eu ri.

- É, eu previ isso. 

- Consegui. - Deu um sorriso vitorioso e franzi a testa. 

- O que?

- Te fazer rir. Quero te fazer rir pra você se sentir melhor. - Baekhyun sorriu, me dando um beijo na bochecha. - Eu ia te dar o perfume novo da Chanel mas aconteceu um imprevisto, infelizmente. - Ele fez um bico.

- Que imprevisto?

- Eu peguei ele pra mim. Tá sentindo? Ai que delícia. 

- Cara de pau. - Ri alto.

- Consegui de novo. 

- Bobão. - Ri, dando um peteleco em sua testa.

- Mas não se preocupa, que hoje eu vou deixar esse perfume espalhado por toda sua cama, aliás, pela casa inteira. - Baek sussurrou em meu ouvido, me causando outro arrepio involuntário. - E eu adoro seu sorriso, então vou te fazer rir pelo menos 32 vezes por dia a partir de hoje, é promessa. - Ele riu, me abraçando mais forte. - Te amo. 

- Também te amo. - Sorri abobada e senti minhas bochechas queimarem quando a garota da frente se virou para trás e ficou meio constrangida com a cena. - Baek...

- Aish... - Ele emburrou o rosto e ajeitou sua posição novamente. A garota pigarreou e colocou um papel em cima da minha carteira. Um bilhete...?

Meu sangue ferveu dos pés à cabeça quando li. Amassei o maldito papel na hora e bufei, rangendo os dentes de raiva.

" Yerin, fofa, vamos conversar depois dessa aula lá no laboratório, preciso falar com você.

     Com amor, Jiyeon :3 kkkk "

 

É muito descarada mesmo! Aish, que raiva. 

Esperei o sinal tocar e respirei fundo, indo até o laboratório do segundo andar. Abri a porta e me escorei na mesa do professor, cruzando os braços. 

- O que você quer agora? 

Ela riu soprado, fechando a porta e cruzando os braços.

- Só queria saber se você tava bem. 

- Ah tá. Desembucha logo, tenho alergia à piranha. 

- Ui. - Ela riu, dando um passo para frente. - Que piada. Só queria te dizer mais uma vez pra você largar do pé do Baek oppa, porque ele é meu.

- Olha, não sei se você percebeu, mas nós dois estamos bem felizes juntos, vamos ficar juntos pelo menos uns 100 anos, então depois disso se você ainda quiser, pode ficar à vontade. - Sorri irônica. 

- Ah, me poupe Yerin. Ele nem sequer acreditou em você, ele acreditou na "piranha" aqui. Acha que vai durar muito? Por favor né, nem sei como ficaram juntos ainda. 

- Não vou perder meu tempo com você  - Bufei, esbarrando em seu ombro. Entretanto, ela colocou o braço na minha frente e me fez parar de andar. 

- Por que você não consegue enxergar de uma vez logo que você não é do nível do Baekhyun? Ele praticamente passou o rodo na cidade inteira, e você é só mais umazinha. Sabe, tipo uma boneca inflável? Ele vai te usar e usar, e depois vai te jogar fora como fez com todas as outras, e logo logo vai vir pra mim. 

- Eu não sou como as outras. 

- Deixa de atrapalhar a vida dele, Yerin. Você vai ver, logo ele vai te jogar fora e eu vou tá aqui esperando, pronta pra rebolar no colo dele e fazer ele gemer meu nome bem gostoso. 

- Sua puta...! - Não consegui mais me controlar e puxei seu cabelo com tanta, mas tanta força que deu para ouvir o barulho dos fios sendo arrancados junto a seus gritos. Ela agarrou a mão no meu cabelo também e tentou me empurrar mas eu fiz questão e empurrá-la mais forte, fazendo ela esbarrar em uma das mesas e cair no chão derrubando algumas coisas junto. 

- Ai, sua louca... - Ela resmungou, vendo um pouco de sangue escorrer por seu braço devido alguns cacos do vidro que quebrou quando ela caiu. 

A porta abriu no mesmo segundo e arregalei meus olhos, engolindo seco ao ver Baekhyun segurar a maçaneta e olhar para Jiyeon.

- Mas o que...?! 

- Oppa! - Jiyeon choramingou, fazendo um bico que dava vontade de vomitar. - Sua namorada é maluca, olha o que ela fez comigo! Eu só queria saber se ela tava bem, ai... 

- Não tô acreditando nisso... - Ri soprado. 

- Nem eu. - Baekhyun agachou ao lado de Jiyeon e o vi respirar fundo. Ele vai acreditar nela de novo?! - Vem, vou te levar pra enfermaria. E você Yerin, a gente conversa depois. 

Ele foi curto e seco, ajudando a levantar Jiyeon. Eu fiquei sem acreditar no que estava vendo. 

- Não, a gente vai conversar agora! - Fiquei indignada, olhando incrédula para seu rosto sério. 

- Deixa oppa, conversem, eu vou sozinha. - Jiyeon disse com dengo, saindo da sala e fechando a porta.

- Porra Yerin, eu pensei que você já tivesse superado essa criancice!

- O que...? Isso é sério? 

- Esse seu ciúmes exagerado tá demais, agora você machucou a garota de novo por besteira! 

- Você vai continuar defendendo e acreditando nessa cobra? É isso? Você não tem consciência?!

- O que você quer que eu faça então?! - Ele gritou, me fazendo recuar. -  Já é a segunda vez que eu vejo isso. Eu vi, Yerin! Quer que eu faça o quê? Como eu vou acreditar em você se eu vi com meus próprios olhos?!

Ri soprado, virando o rosto para o lado e segurando o choro que insistia em sair. 

- Só pode tá de brincadeira... - Murmurei.

- Não posso ficar passando a mão na sua cabeça pra sempre, isso tem que parar. Já ficou ridículo pra você. Dessa vez eu vou deixar passar se você pedir desculpas, não só pra mim mas pra Jiyeon. Ela não fez nada e não merece ser tratada desse jeito só por causa de ciúmes. 

- O que você disse? - Olhei incrédula. 

- Se você pedir desculpas à garota, eu vou deixar passar dessa vez. 

 - Inacreditável... Que relacionamento é esse que não existe confiança?! Isso é patético. Foda-se então, se você prefere acreditar nas outras ao invés de acreditar em mim o problema é seu agora, eu não vou pedir desculpas caralho nenhum! - Respirei fundo, segurando minhas lágrimas e fazendo a escolha mais difícil que já fiz na vida. - Se for pra continuar desse jeito... é melhor terminar logo. 

- Quer saber?! Concordo. - Ele ditou entredentes e saiu em passos pesados, batendo a porta com força, causando um estrondo em toda a sala.  

Uma lágrima deslizou por meu rosto e fechei meus punhos com força, sem reação alguma. Eu me sentia um lixo, me sentia realmente patética a ponto de achar que tudo daria certo. Não posso viver minha vida num relacionamento que não tem confiança... Talvez Jiyeon tenha razão, afinal... Talvez eu tenha sido só mais uma, talvez ele só estava me suportando para me usar e agora chegou no limite dele, por isso ele nem sequer olhou para trás. 

Me agachei ali mesmo onde estava e escondi o rosto entre as pernas, chorando e desejando que fosse tudo um pesadelo. Eu queria acordar daquilo tudo, queria sumir. Por que era tão difícil? Droga...

 

              POV Baekhyun 

 

Fechei a porta com minha maior força e encostei as costas na mesma, pendendo a cabeça para trás e cobrindo o rosto com o braço, chorando silenciosamente, ou pelo menos tentando.

Por que Yerin sempre tem que complicar tudo?! 

Então é isso... terminamos?

Fechei o punho e ameacei dar um soco na parede, puxando todo o ar com meus pulmões e expirando. Merda, por que doía tanto? É ainda pior do que quando eu tentava evitar ela... 

Funguei, passei o dorso da mão em minhas bochechas, e tentei engolir o choro, abrindo os olhos. Desci as escadas apressadamente, em passos pesados e largos; eu só queria sumir dali, desaparecer, queria que aquele dia fosse resetado e recomeçasse tudo de um jeito diferente. 

Eu realmente queria acreditar em Yerin, mas era impossível. O que eu podia fazer se tinha visto tudo?! Não podia somente deixar passar, já tinha ultrapassado todos os limites... Eu queria voltar lá e fingir que nada aconteceu, queria abraçá-la forte e fingir que nunca ouvi a palavra "terminar" hoje, mas...

- Finalmente Baekhyun! Aonde era que tu...

- Não me enche, Sehun. 

- Você... tá chorando? 

- Não, isso é suor masculino escorrendo pelos meus olhos. - Ditei entredentes, fungando e esbarrando em seu ombro, indo direto para a sala de aula. - Homem não chora. 

- Você chora até demais, principalmente quando o BB cream acaba. 

- Vai tomar no cu, Sehun. - Revirei os olhos, abrindo a porta da sala de aula e guardando todas as minhas coisas na mochila. Vi o bilhete amassado em cima da minha carteira e o xinguei mentalmente, o amassando mais e jogando no lixo de novo. - Droga...

- Onde você vai? - Sehun apareceu na porta, com o rosto preocupado. 

- Eu preciso esfriar minha cabeça. - Coloquei a mochila nas costas e passei por ele, andando apressado até o portão daquela maldita escola. 

- Baekhyun, me diz o que tá acon...

- Sehun, se você continuar me seguindo, eu juro que vou te atropelar. Agora me deixa em paz! - Aumentei o tom de voz, escutando os passos atrás de mim cessarem. Engoli seco e joguei a mochila no banco ao lado, me sentando e fechando a porta do carro, que fez um estalo alto. 

Dei um soco certeiro no volante, finalmente soltando o grito que estava me sufocando, seguido de outros vários socos até perder a força e sentir as lágrimas rolando de novo. Escondi o rosto no volante e fechei meus olhos, suspirando pesadamente. Só faltava chover ali para tudo piorar de vez, igual naquele dia que...

- Porcaria... - Bufei, ao ouvir as gotas d'água começarem a bater contra o vidro do carro, gradativamente. Levantei o rosto e dei a partida, ainda com a visão meio embaçada. 

Eu ainda não conseguia engolir toda aquela história, parecia um nó na minha garganta, e eu me sentia um idiota por dentro, talvez ter deixado aquilo acontecer tenha sido a maior besteira da minha vida, mas eu não podia mais voltar atrás, se eu já era um tolo agora, imagina depois... 

A primeira coisa que pensei foi em ir pegar todas as minhas coisas na casa de Yerin antes, para evitar ter que me encontrar com ela por lá, e voltar para minha casa. Assim eu fiz, coloquei quase tudo numa mala, porém, só quando cheguei em frente à minha casa lembrei do infeliz fato de que lá também era a casa do pai de Taehyung. 

- Nem fale comigo. - Ditei assim que ele abriu a porta. Taehyung franziu o cenho e fechou a porta, rindo soprado. 

- O que é isso? 

Dei de ombros e arrastei a mala pela escadaria, degrau por degrau.

- Não te interessa. 

- Vocês... terminaram? 

- Taehyung, vai se foder. 

- Não quero brigar hoje. 

- Mas eu quero brigar! - Interrompi meus passos e me virei para ele, que tinha as mãos nos bolsos da calça e me olhava com desdém. - A gente terminou sim, tá feliz agora?! Aposto que vai sair correndo daqui pra saber se ela tá bem, né? Dane-se, faça o que você quiser! Tô pouco me fodendo agora!

Que mentira, Baekhyun. 

- O que...? Se você tiver feito alguma coisa com ela, ou tiver feito ela chorar, eu juro que...

- Que o quê?! Qual é, Taehyung, nem seu pai liga pra você, por que eu vou ligar?! Me deixa em paz, minha vida não te interessa. 

- Interessa sim! Desde que você apareceu nessa casa aqui, me vida ficou um fiasco! Me poupe dos seus dramas e da sua babaquice, Baekhyun. Você ainda não se tocou de que você sempre destrói a vida das pessoas ao seu redor? 

Primeira facada.

-  Por sua causa, minha família ficou distante. Por sua causa e da sua madrinha, minha mãe definhou de desgosto! Graças à sua estupidez e idiotice, eu perdi tudo que eu tinha, perdi meus amigos, perdi meu pai, perdi minha privacidade, meu sossego, perdi a Yerin! Você é sempre um entojo na vida dos outros, assim como foi na vida da sua mãe e do seu irmão! 

Segunda facada. 

- Você acabou com minha vida, você acabou a vida dos meus amigos, acabou com a vida da sua mãe, do seu pai e do seu irmão, e agora quer acabar com a da Yerin também é?! Já não bastou pra você?!

K.O. 

Quem disse que palavras não machucam, mentiu feio. Já não era suficiente a dor que eu sentia por causa de Yerin, eu precisava mesmo ouvir tudo isso? E logo dele?

Abaixei a cabeça e fiz o maior esforço para segurar minhas lágrimas na frente dele, mas Taehyung tinha razão em tudo que disse. Sorri fraco, de lado, ironicamente. 

- Acabou? - Questionei, sarcástico. 

- Não. Por que você não vai naqueles clubes de novo? A Yuri com certeza tá morrendo de saudades de você. Aliás, por que não volta pra sua cidade e deixa todo mundo aqui em paz? 

Ri soprado, controlando minha raiva. 

- Yuri? - Repeti, num murmúrio, escutando a porta bater com força. Sentei sobre os degraus e levei as mãos até a cabeça, jogando meus cabelos para trás e fechando os olhos, soltando um suspiro pesado. -  Aish... 

Tirei o celular do bolso, observando a tela brilhar com um número desconhecido. 

Quer saber de uma coisa? Foda-se todo mundo, eu não vou ficar aqui sozinho o dia todo, não vou mesmo. 

    - Alô? Como conseguiu meu número...? Tudo bem, vou passar aí agora. 

 

                   POV Yerin

 

Encolhi meu corpo sobre a cama. Eu encarava o nada por horas, no cômodo escuro. Acho que nem haviam mais lágrimas para sair... Respirei fundo e me virei para o outro lado do sofá, abraçando meu corpo e me encolhendo ainda mais. 

Levantei o olhar para a porta ouvindo algumas batidas leves. Eu já estava ali há quantas horas, naquela mesma posição? 

- Yerin?!

- Tae...? - Sussurrei. 

- Yerin! Sou eu, abre a porta! 

As batidas aumentaram a força e eu me levantei imediatamente, quase tropeçando no carpete da sala que estava todo bagunçado sei lá o porquê. Passei o dorso das mãos em meus olhos, parei um pouco em frente a porta até que minha visão embaçada voltasse ao normal, e, assim que abri a mesma, vi Taehyung com um olhar preocupado que percorreu dos meus pés à cabeça, conferindo se eu estava bem. 

- Você tava chorando...? Tá tudo bem? 

- Tae... você deve ser a minha fada madrinha. - Sorri fraco. - Como você consegue sempre aparecer nas horas que eu mais preciso? 

- Você não sabia? - Ele riu baixo, formando seu sorriso quadrado. - Tenho um sensor no meu coração que apita quando você tá triste ou precisando de um abraço. 

- E qual das duas opções é agora? 

- As duas. - Ele deu um sorriso torto, me puxando pela mão e fazendo meu rosto se esconder em seu peitoral. Fechei meus olhos e envolvi os braços em sua cintura, sem conseguir conter meu choro. 

- Ele... Ele não a-acreditou em mim, aquele... babaca... E-Eu... Isso dói tanto...

- Sabe o que me dói mais? Te ver chorando por aquele otário. - Ele se afastou alguns centímetros e limpou minhas lágrimas com o polegar. - Eu realmente odeio te ver chorando. 

Fiquei cabisbaixa por um momento, pensando no quanto eu já tinha chorado esses dias. Jun Hee, Baekhyun...

- Desculpa...

- Que tal sair, hein? Você precisa esquecer aquele idiota e os outros problemas... Faz pouco tempo que você recebeu alta, a última coisa que você tem que fazer é ficar em casa triste. Vem!

Ele segurou minha mão e me puxou para onde seu carro estava. Sorri fraco e entrei no mesmo; eu estava precisando mesmo desopinar de tudo aquilo, me livrar dos sentimentos ruins... Precisava de algum jeito esquecer, mas, parece que a vida não quer que eu esqueça.

Aos poucos, a roda gigante ia ficando mais e mais visível, as luzes coloridas e as ruas familiares já deixavam tudo mais óbvio.

- Lotte Wolrd...? - Murmurei, olhando através da janela.

- Sim, sempre quis te trazer aqui! É realmente muito divertido, vai ser bom pra você. 

- Vai? - Suspirei, tocando com as pontas dos dedos sobre o vidro. 

 

" Tá ouvindo essa música, Yerin?

Eu estranhei, o que tinha a música? Prestei mais atenção e no som do parque tocava uma música, sua melodia era um meio termo entre o animado e o acústico, com instrumental de violão.

Era bastante agradável, a letra e a voz do cantor deixava um sentimento bom no ar. Baekhyun continuava na mesma posição, bem próximo.

- O nome dela é I Feel You, do Hong Dae Kwang, você nunca ouviu?

- Não, é a primeira vez...

- Ótimo. Essa vai ser nossa música então.

- Do que você tá falando?

- A nossa música.

- Que nossa música o qu...

Não tive tempo nem para tentar entender aquilo.

Num piscar de olhos ele segurou a minha mão e me puxou para perto. Eu podia sentir sua respiração descompassada e seus olhos estavam concentrados totalmente em mim, aquilo fez um arrepio percorrer meu corpo e sem dizer uma palavra sequer, ele me beijou, mas dessa vez nada de selinho. "

As lembranças daquele lugar simplesmente vinham à tona a cada passo que eu dava. Eu fazia o maior esforço para retribuir os sorrisos de Tae com os meus melhores sorrisos e aquilo era um enorme desafio.

Maldito dia em que eu não passei por cima do Baekhyun com um caminhão.

- Algodão doce! - Tae praticamente gritou, me acordando de meus pensamentos aleatórios. Ri baixo ao ver seu sorriso largo e sua animação ao ver o carrinho de algodão doce. Parecia uma criança, e uma criança muito fofa! 

- Aaaaah, quero apertar essas bochechas! - Ri, enchendo minha bochechas de ar e fazendo um bico. 

- Só se deixar eu apertar as suas. - Ele riu, ficando com as bochechas claramente vermelhas, como sempre. - Quer dividir comigo? Nos romances eles compram só um, pra dividir.

- É? Então eu quero. - Sorri, pegando um pedaço do açúcar rosado e pondo na boca. 

Enquanto andávamos, escolhendo qual brinquedo ir, senti algo tocar minha mão suavemente, até que ele tomou a coragem e segurou de vez minha mão, entrelaçando nossos dedos. 

- Yerin... Você... não pode me dar una segunda chance...? - Ele estava cabisbaixo, suas bochechas rosadas deixava evidente seu nervosismo. Parei meus passos e o fitei, vendo ele me olhar de volta, curioso. 

- Tae...

- Eu gosto de você, gosto muito, não é novidade...

- Eu... Sinto muito, Taehyung. Apesar de tudo, não posso negar que gosto do Baekhyun. Não seria justo eu ficar com alguém gostando de outro, não é justo com você. - Olhei em seus olhos e ele abaixou a cabeça. - Você me entende, né?

- Claro... - Ele assentiu. - Mas eu não me importo de te ter comigo mesmo sabendo que seu coração é de outro agora... Eu... vou esperar por você. Não quero desistir tão fácil, não posso.

- Eu não sei quando vou ficar pronta... 

- Não tem problema, vou esperar por esse dia. Vou esperar o dia que você vai poder me dar seu coração sem ser por pressão ou ao acaso. Eu quero cuidar de você o quanto eu puder.

- Eu mereço você? - Ri fraco, e ele fez o mesmo. 

- Merece mais. Prometo que vai ser diferente. Baekhyun... sempre foi assim e sempre vai ser, ele não tem noção das babaquices que faz e nem mede esforços quando é pra ser um completo idiota. 

- Eu devia ter acreditado quando você me disse pra ficar longe. Provavelmente ele deve tá com outra agora, sei lá...

- Eu prometo, Yerin, que eu nunca vou ser assim com você. Eu nunca teria coragem de ficar com outra pessoa ou olhar pra outra pessoa se eu estiver com você... - Seu olhar inocente sempre me acalmava, e eu não tinha o porquê duvidar dele.

- Obrigada, Tae... 

- Yerin? Oh my god... - Uma voz conhecida soou, fazendo eu me virar e dar de cara com quem eu menos queria.

Jiyeon e Baekhyun juntos? De mãos dadas...? Por favor, alguém me diz que estou vendo errado. 

Baekhyun se manteve sério mas empurrou a mão de Jiyeon, colocando a dele no bolso de sua calça jeans. Senti um pontada em meu coração e Tae apertou a minha mão contra a dele, fazendo questão de não soltar, e foi exatamente para nossas mãos juntas que Baek pairou o olhar, silencioso.

Não consegui pronunciar uma palavra, fiquei sem reação; apenas ri soprado e abaixei meu olhar. Eu sou única? Pff... Só se eu for unicamente trouxa. 

- Uau, você foi bem rápida... - Jiyeon riu abafado. - Eu disse, oppa. 

- "Oppa?" - Tae repetiu dando uma risada soprada, os olhando incrédulo.

- É... parece que outras pessoas também são bem rápidas - Ri soprado, me virando para Tae, que os encarava quase fumaçando de raiva. 

- Eu pensava que você era um imbecil, mas não esperava que fosse tanto. Não faz nem um dia direito e já tá com outra? - Tae revirou os olhos e deu passos para frente os quais foram impedidos de continuar por minha causa, que segurei sua mão com força.

- Vamos Tae... - Murmurei.

- Ué, e vocês dois? - Jiyeon cruzou os braços, nos encarando.

Taehyung bufou e em seguida me olhou, sorrindo fraco e assentindo, sussurrando um "vamos". Respirando fundo, segurei sua mão firmemente e passei quase esbarrando meu ombro em Baekhyun, que permaneceu calado enquanto eu chorava silenciosamente por dentro.

 

 

 


Notas Finais


Penúltimo capítulo, lalalaya :')
Gente, me desculpa mesmo pela demora, essa semana foi muito difícil pra mim, eu até faltei todos os dias do cursinho de tão que fiquei (não tanto fisicamente, mas emocionalmente), foi bem hard, e ainda quando terminei o capítulo enorme há uns dois dias atrás eu fui um GÊNIO SUPER INTELIGENTE e apaguei tudo sem querer, fiquei ainda mais frustrada do que já estava antes -q

Mas aqui, reescreve, não saiu tudo exatamente como antes e não sei se ficou tão bom mas o próximo vai ser, e vai ser o último!

Ah, e vou fazer um bônus ultra mega especial quando terminar, me amem agora u-u


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