Um, dois, três... Respira.. Vai!
Corro contando mentalmente, controlo minha respiração e tento me esquecer de tudo mais que completa o ambiente. O sol ainda não nasceu direito e meus pés aceleram pelo parque, sinto o cheiro de grama molhada. O silêncio das primeiras horas do dia se tornaram um remédio para a desordem que ainda existe em mim, a solidão proporcional me faz ver que ainda não entrei na insanidade, mesmo estando diante da porta, sentir a tranquilidade no balançar das árvores soa como um aprendizado, um dia ainda haverá a mesma calmaria em mim, a mesma calmaria que vinha das manhãs ao lado dela, depois de nossos corpos terem sido saciados temporariamente da loucura que sempre nos envolvia com a mais simples trocar de olhares.
Afasto as lembranças daqueles olhos verdes que por hora me parecem cruéis, sigo minha corrida silenciosa por mais meia hora e retorno para casa.
- Meg, cheguei... Meg?
- Você demorou querida.
- Eu sei, acabei me distraindo. Irei tomar um banho agora.
- Na verdade acho que isso terá de esperar. Você tem visita.
- Quem?
- Sentiu saudades? - A figura de cabelos negros me faz duvidar dos meus próprios olhos.
- Você?
****
Paramos diante de um elegante prédio, Callum sai do carro me deixando com sua atual sombra, um homem alto e silencioso.
- Venha, Adele. - saio e o sigo até o enorme edifício.
- Não acha arriscado andar por aí como se não estivesse fugindo da polícia?
- Sua preocupação é comovente, mas dispenso.
- Cuidado com o excesso de confiança, irmão.
- As vezes você parece se esquecer das regras básicas. Isso chega a me envergonhar. - entramos no elevador.
- Por que me trouxe aqui?
- Nós estamos muito próximos da etapa final do meu plano perfeito.
- E onde esse lugar se encaixa?
- Na parte mais importante. - O elevador se abre. Seguimos por um corredor, viramos a direita, paramos diante de uma porta vermelha, nela uma pequena placa. " Dr. J. C. Troy. "
Três batidas são dadas na porta, segundos depois ela é aberta, um homem baixo de óculos redondos e dourados surge. Seus cabelos são tingidos por um tom amarelado, um brinco de diamante reluz em sua orelha direita.
- Callum.
- Troy. - os dois se abraçam.
- Meu grande amigo. Por favor entrem e sentem-se. - Nós sentamos no sofá sofisticado e extremamente vermelho.
- Essa é minha irmã Adele.
- Olá Adele. - apenas balanço a cabeça.
- Uma mulher de poucas palavras, não?
- São as mais perigosas. - Callum diz e os dois caem na risada.
- Vejo que ela não compartilha do seu bom humor, Callum.
- Infelizmente. Bem, mas não estou aqui para uma avaliação familiar.
- Eu sei muito bem a razão que o trouxe aqui. Você conseguiu alcançar seus objetivos?
- Ainda falta uma última parte.
- Certo, a parte em que eu entro. Correto?
- Genial como sempre.- observo os dois homens conversarem como velhos conhecidos.
- A vingança é algo delicioso, não concorda Adele? - Troy indaga.
- Depende da temperatura do prato.
- Excelente resposta. - ele gargalha.
- E o que me diz da loucura?
- Não sou boa com psicologia.
- Foucault disse: "A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia." E para completar uma das minhas preferidas de Marguerite Yourcenar : "
Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino."
- Qual a razão de tudo isso? -pergunto.
- Sua irmã parece um tanto impaciente.
- Uma péssima característica.
- Não me interessa os jogos de vocês. Vou esperar lá embaixo. - Levanto e sigo para fora, mas Callum me impede.
- Fique!
- Não me interessa toda essa idiotice!
- Quando você vai abrir os olhos, Adele? Quando vai se permitir ver além das aparências? Sua mente é limitada, isso me enoja.
- Não vejo nada além de dois caras loucos.
- Essa é a questão minha cara. O que nos estamos fazendo aqui é exatamente isso.
- Isso o que? - pergunto impaciente.
- Fabricando loucura. - olho confusa para os dois.
- Será aqui que tornaremos loucos os chamados sãos.
*****
- Você é uma filha da mãe, Vause! - Nick me observada abobalhada.
- Também senti sua falta Nicols.
- O que aconteceu com você? Como sobreviveu ao acidente?
Contei tudo que havia acontecido, incluindo a suposta participação de Callum. Nick ouviu tudo atentamente, ela não tirava os olhos de mim talvez para ter certeza de que não estava tendo uma alucinação.
- Então você acha que Callum planejou seu acidente?
- Não sei muito bem o que pensar, mas ela acha isso. - Aponto para Abuelita.
- Quando o carro caiu no rio, vi um homem e quando Alex tinha pesadelos ela sempre falava o nome Callum.
-Faz sentido. Você se lembra de alguma coisa daquela noite?
- Não, apenas de ter saído de casa e chegado à festa. Depois tudo deixa de existir.
- Pesquisarei sobre Callum. Vocês podem ficar a vontade. Enquanto a voce Vause, pode até não estar morta, mas você cheira como uma.
-Muito engraçado. - Infelizmente eu tinha que concordar, já tive um cheiro melhor.
Na segurança da casa de Nick, finalmente consegui relaxar, deixei meu corpo abandonar o sinal de alerta constante e dormi me permitindo esperar algo bom no dia seguinte.
Quando o dia surgiu, eu estava de pé diante da janela. O sol estava radiante e o aroma de café tomava conta do ambiente. Abuelita fazia surgir da cozinha de Nick algo comestível, isso foi pode ser considerado um grande feito.
- Que barulho é esse? - Nick surge com uma verdadeira juba. - E o mais importante, que cheiro é esse?
- Se chama café da manhã. - Diego diz.
- O que é isso? - Nick aponta para o menino.
- Isso é um adolescente, Nicols.
- Ainda não me acostumei com você viva e sua trupe mexicana.
- Não somos uma trupe! - José diz recolhendo o saco de dormir.
- Oh.. Oh.. Você tá pelado?
- E claro que não estou pelado!- José fica vermelho. - Nick tira as mãos da frente dos olhos, notando que ele está apenas sem camisa.
- Vamos tomar café crianças. - Abuelita chama.
Uma mesa surge repleta de café, bolo, torradas e ovos mexidos.
- Tinha isso na minha geladeira?
- Sim, estava atrás das embalagens de doce.
-Diego!
- Eu não sei se consigo comer antes das 10hr da manhã, aliás eu nem sei porque estou de pé a essa hora.
- Nicols, só coma.
Após uma breve reclamação, coisa normal no humor matinal de Nick, conseguimos comer em paz, Abuelita era uma cozinheira talentosa e conseguia trazer harmonia para qualquer ambiente, mesmo um ambiente com uma Nicols de ressaca.
-Achei que não conseguisse comer tão cedo. - é o terceiro pedaço de bolo que Nick devora.
- Não enche Vau...
Nick é interrompida por batidas na porta.
Prendemos a respiração, as batidas param, mas algo pior acontecee, o som da chave na fechadura fez o pânico triplicar.
- Lorna! - Nick diz. - Escondam-se! Corro para a dispensa, com Abuelita e Diego.
Nick e José acabam se atrapalhando quando ele tenta passar por ela, vejo os corpos se chogarem e os dois caírem.
A porta se abre, vejo o rosto de Lorna pela pequena abertura da porta, ela olha chocada para a cena. Nick está sobre José, ele continua sem camisa. Essa vai ser difícil de explicar.
- O que está acontecendo aqui?
- Lorna, calma!
Meu coração acelerou como um louco, minhas mãos ficaram suadas e minha boca secou. O pedido de calma não foi feito por Nick ou qualquer outra pessoa. Era ela, era a voz dela. Surgindo atrás de Lorna, eu via seu perfil, sua mão segurando o ombro da amiga, os olhos azuis examinando a cena com cuidado.
- Piper. - deixo escapar em um fraco sussurro.
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