História Autoescola Fracassada - The Monkey's

Dia seguinte... 

 

Me encolhi na cama ao ouvir os sons da bateria ecoarem na minha cabeça, trazendo aos poucos a consciência. E quando digo consciência é de uma forma geral: Que história era aquela de dormir na casa de Yoongi que tecnicamente era de Taehyung? No quarto dele? Não vim pronta para ir ao trabalho ou a faculdade... As obrigações tentaram me empurrar para fora da cama, mas ao enfiar a cabeça no travesseiro tudo se silenciou.

O cheiro daquelas cobertas era um dos melhores do mundo. Eu estava completamente inebriada. Tudo era tão quente e gostoso que minha real vontade era jogar um "dane-se" para o ar e continuar ali pelo resto do dia... 

Mas tomei um susto ao ter três constatações: Nada era como eu queria; Taehyung ficava lindo com um pijama de bolinhas brancas e avental rosa; a batedeira que não era bateria preparou algo maravilhoso. 

E como de costume meu melhor amigo chegou jogando cobertas, escancarando a porta e acompanhado de um cheiro de bolo caseiro: 

- Bom dia! - Exclamou, pulando para dentro do quarto e arrancando meu edredom. - Levanta essa bunda daí e vem provar o melhor bolo da sua vida! 

Sorri preguiçosa, tentando esconder inutilmente minha juba debaixo do travesseiro. As duas proposta eram maravilhosas: Comer o bolo de Tae e continuar na cama de Min Yoongi. 

A cama de Yoongi... 

Yoongi. 

Sorri e por alguma razão quis muito vê-lo. De preferência, com o bom humor de ontem. 

- Aigoo. - Murmurou Tae, chamando minha atenção. - Não vai dizer que você é igual ao Yoongi? Acorda de mal humor e sem dizer uma palavra até às nove da manhã? 

Sorri e pulei da cama para seus braços. Tae se assustou, mas logo me ajeitou em seus braços como um filhote de coala. 

- Não estou de mal humor. E não vou falar muito se não você morre... 

Ele gargalhou enquanto descíamos a escada. O cheiro ficava cada vez melhor e meu dia também.

- Pode usar minha escova de dentes. - Ele parou no meio da escada e deu meia volta como se lembrasse de algo. - E coloca uma bermuda confortável! Não acredito que você dormiu de jeans! Isso é um pecado, sabia? 

Eu queria muito dizer o quanto queria aquela cueca box (já me conformei que eles nunca vão me oferecer uma bermuda) na noite anterior, mas me contive em trocar pela manhã. Dormir de jeans foi realmente um incomodo e várias vezes durante a noite pensei em tirar o short e dormir apenas de calcinha. Estava quase lá quando tive um mini sonho com Yoongi dando um "Antônio Nunes" bem na polpa da minha bunda. Foi o suficiente para me traumatizar pelo resto da madrugada e acordar com a virilha ardendo. 

Resolvi abusar um pouco mais da hospitalidade de Tae e vesti uma camisa leve e sem mangas de seu armário. Ao contrário de Yoongi, seu quarto era bem mais animado, variando em tons de amarelo e verde. Várias artes de Taenes decoravam as paredes (reconheceria aquele tamanho de mãos em qualquer lugar), desde pequenos riscos a rabiscos estrondosos. Fora a bagunça na cama, também havia muitas fotos dele com o sobrinho, quase em todo lugar. Gargalhei ao ver uma fotografia dele pequeno, as canelas magrelas e russas, junto com um bochechudo que com certeza era Namjoon e o mal humorado Min Yoongi. Dava para perceber que ele amava fotografia... 

Mas o que mais me surpreendeu foi encontrar uma foto minha ali, em cima de uma estante moribunda e gasta. Eu não lembrava daquela fotografia ou de quando havia sido tirada, mas era apenas meu perfil. Deu para perceber o efeito que ele colocou nos cachos como se quisesse que eles ficassem mais brilhantes. Eu sorria para algo. 

E estava linda. 

Mas, por alguma razão, aquilo me incomodou. 

E a questão que levantei tantas vezes voltou fazendo minhas mãos suarem: 

O que aquilo significava? O que Tae via naquela foto? 

O que Taehyung via quando olhava para mim? 

- Agnes! - Me sobressaltei ao ouvir logo sua voz grossa se aproximando da escada. Não demorou muito para que a porta fosse aberta e um Taehyung com a sobrancelha arqueada me encarasse. - Não vai me dizer que se perdeu na bagunça? 

Sorri nervosamente e torci para que ele não percebesse. Pensei em soltar aquela questão de uma vez, calar aquela vozinha no fundo da mente que insistia em me perturbar. 

Mas tudo que consegui fazer foi apontar para a blusa que vestia: 

- Estava abusando um pouquinho mais. 

Ele sorriu e me puxou para fora do quarto. 

- Vem! Está todo mundo na mesa! Só falta você! 

Arregalei os olhos, parecendo ter sido atingida por um balde de água fria. 

Todo mundo?! 

 

 

Quando eu digo que Jimin levou um susto ao me ver sair do banheiro não é metáfora ou modo de dizer: Mão no peito e gritinho de hiena. 

- Ai Agnes, perdão! Eu não esperava! - Aquele definitivamente era um carma que eu deveria carregar pelo resto da vida. - Desculpa, não que você seja feia... 

- Tudo bem Jimin! Daqui a pouco ele se acalma... - Apontei para a minha cabeça e ele finalmente sorriu relaxando. - Pode usar. 

Tudo que conseguia pensar era se Tae tinha câmeras e em quanto tempo eu poderia jogar aquilo no YouTube. Mas me surpreendi ao sentir alguém tocar meu braço. 

Dessa vez Jimin sorria sinceramente, segurando a porta. 

- E só pra constar, eu adoro seu cabelo. Você é linda. 

O.K. Esse dia está bem estranho. 

Cocei a nuca, completamente sem graça. Eu com certeza não esperava por aquilo. 

Mas, de alguma forma, ouvir de Jimin me fez melhor do que eu imaginei. 

Tudo que consegui dizer foi um: 

- Obrigada. - Trêmulo e sem graça, custando para sair. 

Ele meneou a cabeça e sorriu, antes de fechar a porta. Que bom porque quase que um "tenha uma boa mijada" saiu da minha boca. 

Me detive no corredor que dava para a cozinha, só para contar o tamanho da minha humilhação: Para minha sorte, Jungkook e Hoseok tinham ido embora na noite anterior. Quem se encontrava na mesa tomando café eram Nam, Yoongi e Tae. Provavelmente Jimin também... 

Ele sorriu e balançou a cabeça ao passar por mim encolhida no corredor espiando os amigos, mas não disse nada e se sentou a mesa com os outros. Eles conversavam banalidades e o que Tae disse era mesmo verdade: Yoongi apenas bebericava o café, o olhar distante e pensativo sem emitir um único som. 

O.K. Agnes. Olhe pelo lado bom: Ele não vai poder falar nada pelo fato de estar sonolento e mal humorado. Tae já me viu e não disse nada e Jimin já tomou o susto do dia... Só faltava o Nam, mas o máximo que aconteceria era uma risadinha tímida. 

Vamos lá! Peito estufado, cabelo bagunçado e boca fechada. 

Adentrei a sala com passos rápidos e todos os olhos se voltaram para mim. Como o único lugar vago era ao lado de Namjoon, tratei de me sentar ali. 

O que eu mais estranhei foi o silêncio que se seguiu com todas as atenções voltadas para mim. Todos os copos de café parados no meio do caminho... 

Eu me sentia um coelhinho indefeso sendo vigiado por abutres famintos (O.K. Isso está bem dramático). Olhei para a mesa que havia se tornado tão bonita com vontade de me afundar ali. 

Namjoon quebrou o silêncio: 

- Porque tem um papel agarrado na sua bunda, Agnes?

Arregalei os olhos ao mesmo tempo que soltava: 

- Quê?! 

Aquelas gargalhadas não deveriam ser permitidas antes das nove. Jimin chegou a se engasgar com o bolo e colocá-lo pelo nariz, fazendo Namjoon cair da cadeira tendo convulsões. 

O único que não sorria era Yoongi. Ele me fitava tão intensamente que de repente nenhuma das brincadeiras foi tão incomoda. Desviei o olhar ruborizada, me sentindo exposta e com o estômago agitado. Não era a lembrança do "Antônio Nunes" que me incomodava... 

Era aquele olhar sem vergonha, sem pudor e brilhante.

Meu coração deu um pulo desenfreado quando Yoongi fez um movimento quase imperceptível com a mão, me chamando para ir até ele. Naquele momento, eu tive medo daquele garoto e das personalidades diversas. Pelo visto hoje era o dia do "mal humorado, sombrio e sexy." 

Que sexy o que cérebro idiota! 

Mas eu não iria ceder. Com o pouco de dignidade que ainda me restava, levantei e contornei a mesa, indo até ele. Ele continuava a me fitar e bebericou um pouco do café. 

Os meninos ainda estavam distraídos, rindo da risada engasgada de esquilo de Jimin. 

E minhas pernas estavam bambas. Por alguma razão idiota, minhas pernas estavam bambas! 

Yoongi foi chegando perto. Perigosamente perto. Meu coração pulou, meu cérebro gritou e eu me afastei um pouco. Eu não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo e eram tantas vozes na cabeça que eu me sentia numa multidão. Eu não podia, queria ou ousei desviar os olhos dos seus. 

E sem mais nem menos Yoongi bocejou na minha cara. 

Café. 

Bafo. De. Café. 

- Bom dia. - Murmurou, antes de sair e levar as louças. 

Dessa vez nem precisei de um carro para assassinar o resto da minha dignidade. 

Pelo menos Jimin se afogou na pia do banheiro ao lavar o nariz. 

E eu não tive absolutamente nada a ver com isso... 

 

 

&

[...] Terça

 

Não tive muito tempo para pensar nos pulos que meu coração idiota deu por Min Yoongi: No dia seguinte ele já pulava por Seokjin quando atendi à porta. 

- Bom dia! - Saudou, e não pude deixar de sorrir pelo capacete engraçado que ele usava. Eu nunca me cansaria de dizer o quanto aquele garoto era lindo... - Não ria. Trouxe o seu. 

Era rosa e com a Valente estampada propositalmente na frente. Dava para ver que foi colado de última hora. 

Torci o nariz. 

Ele o apertou. Lembrei de Min Yoongi durante o milésimo de segundo que demorou até Seokjin me beijar com fervor. 

- Você vai para o trabalho de bicicleta hoje. 

Meu coração bateu forte pelo garoto que me perseguia e dizia para eu prestar atenção na rua e não nele e as pedaladas na bicicleta de Jungkook. 

Sua camisa rosa estava quente, assim como sua boca quando descemos na minha empresa. 

- Temos que fazer isso mais vezes... - Murmurou, tentando se afastar. 

Eu não deixei. Eu não queria. 

- Isso o que?

Não era mentira. Ele me deixava desarmada, sem nem saber o planeta onde me encontrava.

- Agnes... 

 

 

 

[...] Quarta

 

- No More Dream.

Sorri e tive que me equilibrar para pegar mais uma manga que Taehyung jogava da árvore. Tudo normal se não fosse pelo fato de estarmos num cemitério. 

Lição para a vida: Nunca diga a Kim Taehyung que está entediada e sem nada para fazer numa quarta à noite. 

Pelo menos Namjoon gostou de vestir uma fantasia de policial e estava inspirado para escrever. 

Taehyung estava com desejo de mangas. 

E eu ainda não sabia o que estava fazendo ali. 

Lancei um sorriso amarelo ao Nam. 

- Gostei do nome. 

Ele sorriu antes de murmurar: 

- É inspirado em você. Pelo menos a maior parte. 

Aquilo me surpreendeu. Mas também deixou feliz. Taehyung gritou antes de jogar mais uma manga:

- Olha o Michel Jackson! Vamos dançar thriller! 

- Como assim inspirado em mim? - Murmurei, tentando equilibrar tantas mangas na blusa. 

Namjoon sorriu daquela forma fofa que mostrava apenas as covinhas: 

- Gostamos de ter você aqui, baixinha. Gostamos de você exatamente do jeito que é. E eu gosto dessa garra, essa força e coragem que você tem para ir atrás dos seus sonhos. Quero que todos os jovens de Seul ouçam isso, quero que todos os jovens levantem e corram atrás dos seus sonhos! - Namjoon parou e tamborilou a caneta no pequeno caderninho branco. - Gosto dessa teimosia que você e Yoongi tem... 

Eu estava emocionada. 

Estava. Passado. 

- Ou levantem e vão ao cemitério pegar essas mangas maravilhosas! 

Namjoon bravo dava medo. Mas não consegui conter a gargalhada. 

Nos deitamos no capô do carro, observando o céu pouco estrelado e chupando mangas surpreendentemente doces. 

Eu não queria saber o porquê de elas serem tão gostosas. Não mesmo. 

Eu só queria saber o porquê de estar no mesmo verso que Yoongi; me deixou tão feliz... 

 

 

 

 

&

[...] Quinta

Jimin

 

Minha mãe me encarou incrédula. Nem eu mesmo tinha muita certeza do que acabei de dizer. 

Era a primeira vez que me sentia imprevisível. Ousado, até. Eu não sabia o que estava prestes a fazer, mas dessa vez as coisas não se resolveriam apenas com um sorriso fofo e um "sinto muito". 

Mamãe terminou de secar um dos pratos e fez questão de parar para me encarar. 

- Agnes não é aquela menina que matou a cachorra por sua causa? 

Eu senti a real frase por trás daquelas palavras: "Ficou louco?! Ela provavelmente vai matar você dessa vez". 

Cocei a nuca me sentindo um pouco mais nervoso e desencorajado. Eu não entendia e não sabia de nada. Só que quando toquei o volante para ir à casa do Namjoon, Agnes me veio a mente. 

Na verdade duas Agnes: de 6 anos atrás e a de agora. Renovada, linda e mais madura. 

Minha consciência decidiu pesar seis anos depois numa noite fria de quinta-feira. De repente, eu só pensava no quanto precisávamos ter uma conversa aberta. Colocar um ponto final naquilo de uma vez. 

Sorri para a minha mãe e voltei a pegar a chave em cima da mesa. 

- É essa mesma. - Mandei um beijo no caminho e ela continuava preocupada. - Vou ficar bem, omma. Agnes está incrível. Quase irreconhecível! 

"Um pouco mais louca em outros sentidos", tive vontade de dizer mas era bem provável que minha mãe me prendesse no quarto e pedisse um afastamento obrigatório na delegacia mais próxima. 

Ela meneou a cabeça e aceitei aquilo como uma despedida e permissão para sair. 

Me arrependi de não ter trago um casaco assim que desci do carro em frente à casa dela. A brisa fria fazia uma névoa densa sair da minha boca e tratei de esconder as mãos no bolso da calça. 

Nervoso. Eu estava nervoso. 

Meus dedos tremeram ao tocar a campainha, emitindo o som duas vezes. Agora eu estou nomeado um idiota oficialmente e principalmente por ela. 

Agnes abriu a porta de supetão. Estava linda e muito à vontade. 

Isso já estava ficando chato, mas Agnes estava mesmo linda. 

Ela segurou a porta temerosa antes de soltar incrédula: 

- Jimin? 

Não me pergunte o que eu estou fazendo aqui porque nem eu sei. 

- O que está fazendo aqui? 

Teimosa. Tinha esquecido disso... 

Idiota! Ela não lê pensamentos! 

Os dedos tão inquietos quanto a minha cabeça continuaram na calça. 

- Precisamos conversar. - Cocei a nuca e não pude deixar de sorrir com as palavras que soltei a seguir e o quanto aquilo tudo era surreal: - Espero que você releve um atraso de seis anos. 

Agnes soltou uma risadinha nervosa, mas logo abriu ainda mais a porta. Ela parecia tão confusa quanto eu. 

- Entra aí. 

Ela se sentou no sofá então deduzi que deveria fazer o mesmo. Por alguns minutos encaramos o tapete que se tornou tão interessante. 

Eu não sabia por onde começar. 

Então enrolaria um pouco: 

- Lembra de quando eu e Jungkook soltamos pipa na laje lá de casa e você chegou de repente? 

Ela não esperava que eu tocasse logo naquele assunto. Mas sorriu e cruzou as pernas. 

- Como eu posso me esquecer? Quase perdi os dedos com o tanto de cerol que vocês passaram de propósito. 

- A ideia foi do seu irmão! Eu era apenas um pau mandado! 

- Mas quem foi para trás da moita? - Agnes ficava ainda mais bonita com as sobrancelhas arqueadas. 

Não era por nada não. Mas eu queria beijar ela. 

Murmurei meio inerte: 

- Eu fui mijar. 

Não. Agnes gargalhando que era lindo. 

Na verdade, ela sempre foi bonita. Porque eu estou percebendo tudo isso agora? 

Não, eu definitivamente não estava me apaixonando por Jeon Agnes. Mas de repente, aquele momento e o acidente pareciam conectados. Eu havia tirado o controle de Agnes, prendendo uma parte dela que talvez nem a mesma soubesse. Eu havia guardado Agnes dentro de um porta-malas. 

Ela merecia três coisas: Um carro, um beijo e o controle. 

Lola também. 

Só percebi que estávamos nos encarando por tempo demais quando a mesma murmurou: 

- Você é muito marcha lenta. 

Então a beijei. 

Era como flutuar sem transporte algum. Agnes me fez derrapar ao dar uma mordida leve no canto da boca. 

Ela se jogou no sofá gargalhando. Gargalhei também. 

Essa garota era louca. 

- Lola merecia isso... - Murmurou. 

- Lola merecia isso e você também. 

Beijei sua testa antes de sair.

Eu tinha devolvido o controle à ela. 

Mas teimosa do jeito que era, eu tinha quase certeza absoluta de que Jeon Agnes continuaria na contra mão. 

Quase enlouqueci ao chegar em casa. 

O que foi que eu fiz?! 

 

 

 

&

[...] Sexta

 

Acordei com um Jungkook melancólico perambulando pela cozinha. Só faltavam as letras "Jane" em formatos garrafais piscantes na sua testa. 

Mas o que mais me surpreendeu foi a voz grave ao dizer: 

- Jane está com o Hoseok. 

Como ele sabia? Eu não faço a mínima ideia. E tinha certeza absoluta que minha amiga não seria tão cruel a esse ponto. 

Era estranho: Eles nunca tiveram nada oficialmente então não terminaram oficialmente. Ou sequer terminaram. 

Aquilo era mais complicado que as aulas de Cálculo. 

- O que você vai fazer? - Perguntei, bebericando um copo de leite. 

Jungkook pegou o paletó nas costas da cadeira: 

- Dar o máximo de mim amanhã. - Antes de sair ele parou na porta e murmurou com o olhar triste: - Hoseok é um cara legal. Vai cuidar dela... 

Eu não sabia que tipo de cara Hoseok era. Mas sabia que meu irmão nunca abriria mão de uma boa amizade. 

 

 

Antes de ir ao trabalho decidi passar na Autoescola tanto para tentar encontrar Taehyung que não respondia minhas mensagens, quanto para ver se os meninos precisavam de algo. Eu já imaginava a pilha de nervos em que eles deveriam se encontrar. Parecia que a semana tinha passado tão rápido! 

Mas me surpreendi ao ver um Namjoon risonho e completamente relaxado no balcão de atendimento. Ele e a acompanhante - nunca tinha visto na vida - pareciam estar muito entretidos numa conversa. 

Vasculhei o lugar com os olhos mas não vi sinal de nenhum dos garotos. Teria que atrapalhar a animação daqueles dois... 

- Nammie. 

Ele se surpreendeu ao me ver ali, mas fez sinal para que eu me aproximasse. A garota se virou. 

Era muito bonita, longos cabelos negros caindo pelos ombros. Pelo vestido justo mas nada indecente, percebi que ela deveria ser alguém importante apesar de aparentar ter um pouco menos da nossa idade. 

- Baixinha! - Revirei os olhos mas não pude negar seu abraço. Será que algum deles me chamaria pelo nome um dia? - Está procurando alguém? Yoongi transferiu a aula para hoje? 

- Não, eu estou procurando o Tae e vim ver se vocês estão precisando de alguma ajuda. - Pelo canto dos olhos percebi que a tal garota me observava atentamente. Uma sensação ruim me inundou. Pronto. Eu definitivamente não gostava dela. - Preparados para amanhã né? 

- Claro! Vamos ter ensaio daqui a pouco, inclusive. - Nam sorriu para mim e só depois pareceu lembrar da presença da menina ali. Ele se virou e saiu apressadamente de trás do balcão. - Olha a falta de educação! Agnes essa é uma amiga minha que inclusive vai ficar responsável por nos emprestar alguns instrumentos. Os do Yoongi estão meio enferrujados fora que vai dar um trabalhão para levar no dia... 

A garota pareceu sorrir sinceramente. Torci para que o meu estivesse tão convincente quanto e estendi a mão. 

- Prazer, Jeon Agnes. Sou uma amiga do grupo. - Ela apertou minha mão e logo depois fez uma breve reverência que correspondi. 

- E uma das nossas mais confiáveis fontes de inspiração! 

Aquele garoto sabia me deixar sem graça. 

- Para Nam... - Murmurei, completamente vermelha. 

Só então percebi que ela ainda não havia dito o nome. 

- Perdão, mas como você se chama? 

Ela sorriu sem graça e mais uma vez senti uma sensação estranha. 

Abriu um sorriso bonito ao dizer: 

- Desculpe, estou com a cabeça tão cheia ultimamente... Josu Inko. 

 

 

Para não me atrasar me despedi de Namjoon com a promessa de que talvez passasse lá mais tarde. Acabei encontrando Yoongi no caminho para a saída. 

Eu ia passar direto mas o abusado agarrou meu braço e me voltou para si. Não pude deixar de sorrir. 

Yoongi era um belo filho da... Mãe. Fofo e insuportável. 

- Ei. 

Encarei seus olhos escuros. 

- O que? 

- Não vai falar comigo mais não? 

- Sou obrigada? 

Minha pele se arrepiou por dois fatores: Seus dedos estavam gelados e sua mão desceu, segurando a minha. 

Maior que a minha. 

E depois de ter dormido em sua cama meu nariz parecia ter ficado mais sensível ao seu perfume. 

- É. 

Tentei inutilmente soltar a mão. Nós dois sorríamos como idiotas. 

- Me larga! 

- Vem. - Murmurou, me puxando para a saída. - Te levo na faculdade. 

Eu nunca negaria uma carona gratuita. E percebi que não negaria a companhia de Min Yoongi...

Não mais. 

 

 

 

&

[...] Sábado

 

- Aiii Jin, é sério! Agora está queimando mesmo! 

A cera endurecia nossas mãos entrelaçadas. E Seokjin me amolecia apenas com um sorriso. 

De repente tudo estava quente: Meu corpo, a cera e principalmente nossas mãos. 

Percebi que estava completamente perdida em relação aquele garoto por acordar às nove da manhã para fazer esculturas de cera das nossas mãos, apenas porque "acabou de abrir e precisamos inaugurar!". Apesar do pequeno incomodo e achar a ideia um tanto peculiar, no momento presente me vi ansiosa pelo resultado. 

A assistente guiou nossas mãos para o recipiente fervente mais uma vez. Tentei retirar a minha mas Jin a segurou ainda mais forte. 

- Aigoo! Você disse que já estava acabando! - Reclamei com um bico enorme. 

Que Seokjin beijou de muito bom grado. 

- E está. 

Dessa vez era mesmo verdade: Depois de verificar a consistência, a mulher finalmente nos tirou daquela coisa quente. Me surpreendi ao sentir a massa endurecer e ganhar o formato dos nossos dedos entrelaçados. Jin riu soprado da minha careta de admiração. 

A mulher retirou a cera já pronta antes de nos perguntar: 

- Vão querer pintar de qual cor? 

Automático: 

- Rosa! 

- Azul! 

Gargalhei junto com Jin antes de deitar a cabeça em seu peito. No fim ele murmurou: 

- Pinte a dela de rosa e a minha de azul. 

Não achei que ficaria tão lindo: Seus dedinhos tortos envolvendo minhas "mãos de princesa." 

Lógico que ele não deixou passar: 

- Viu? Ficou perfeito, princesa! 

- Cala a boca! - Dei um selinho rápido em seus lábios e o puxei para a primeira barraca de pipocas que encontramos no caminho. - E compra uma pipoca pra mim! 

Ao pegar a carteira ele murmurou: 

- Nem namoramos e você já torra meu dinheiro! 

Peguei o primeiro pacotinho. 

- Agora seria um bom momento. 

- Bom momento? - Não arqueie a sobrancelha seu lindo. 

Eu estava bem próxima de um ataque cardíaco ao dizer: 

- Pra você me pedir em namoro. 

Silêncio. 

Pagamos a pipoca e caminhamos. De repente, pelo menos para mim, o clima havia se tornado mais pesado. 

Eu esperava tudo de Seokjin: Um sorriso, um "com certeza" ou apenas um "sim". Mas não recebi nada disso.

Eu não iria chorar mas ele com certeza havia acabado com o meu dia. Já estava começando a formular uma desculpa e entrar no primeiro banheiro público para tirar o cisco do meu olho quando algo me puxou com força. 

Algo não. 

Kim Seokjin. 

Ele me envolveu como uma boneca, deixando claro o que eu seria dali para frente: 

- Jeon Agnes, você aceita ser acima de tudo minha e depois namorada? 

Ainda bem que eu não estava comendo a pipoca porque com certeza teria me engasgado. Parecia que o sol resolveu nascer bem ali, dentro do meu peito. 

Eu iria explodir. Então apenas pedi aos céus que ele não fugisse quando dei pulinhos em seus braços como uma louca: 

- Sim, sim, sim! 

- Dava para ouvir seus pensamentos daqui... - Ele soltou aquela gargalhada gostosa de foca. - Não xingue sua sogra, Agnes. 

Não paramos de nos beijar até chegar a minha casa. 

Minha ficha parecia não cair... 

Meu Deus, eu era a namorada de Kim Seokjin! 

 

 

 

[...]

O.K. Esse sábado está bem mais agitado do que o ano passado inteiro! 

Além de namorada de Kim Seokjin acabei virando a "personal style" dos The Monkey's de última hora. 

A casa de Namjoon era uma zona só: Meninos nervosos falando para todos os lados, garrafas de vinho sendo tomadas numa velocidade absurda e uma... 

Parei de pentear o cabelo de Hoseok e abaixei meus óculos sem grau apenas para fazer a personagem a altura. 

Caixa de cigarros?! 

- Quem está fumando aqui?! - Berrei, sendo a única com o poder de calar os seis ao mesmo tempo. 

Semicerrei os olhos ao ver Taehyung esconder algo atrás das costas. Estava lindo com aquele terninho quadriculado e os cabelos rebeldes que combinavam perfeitamente com ele. Bendito aluguel de ternos! Todos eles estavam lindos! 

Estendo a mão para Tae. 

- Me dá o cigarro. 

- Eu preciso de algo para relaxar, Ag... - Disse em tom baixo e me lançou um olhar sugestivo. 

Todos os outros gargalharam. Será que eu tinha algum respeito ali? 

- Você com certeza vai relaxar numa cama de hospital e com câncer no pulmão! - Peguei a bituca quando ele estava distraído. - E não se fala mais nisso. 

Sim, homens não sabem amarrar uma gravata decentemente. Yoongi estava sendo o quinto. 

O olhar sem vergonha estava presente mais uma vez. Era a primeira vez que eu me sentia no meio de homens e não de macacos ou garotos. 

- Para de me olhar. 

- Não sou cego. 

- Yoongi... 

- Blusa legal. 

Me levantei e tratei de ajeitar aquela maldita blusa larga mais uma vez. Então o ditado é mesmo verdadeiro: Quando se começa a namorar aparece gente até do esgoto a fim de você. 

Não que eu acreditasse que Min Yoongi estava a fim de mim. Era impossível! 

Mas aquilo me incomodava. De um jeito bom e vontade de rir. 

- Está rindo de que? - Murmurou enquanto eu terminava de abotoar seu paletó. 

Droga Agnes. Tem que aprender a conter melhor suas emoções!

- Me respeita. - Apertei sua gola de propósito mais involuntariamente ele chegou mais perto. - Sou... Uma mulher comprometida. 

- Não parece muito certa disso. 

O que está acontecendo aqui?! 

Empurrei Yoongi que caiu no sofá com um sorriso sapeca. Eu não queria saber mais de garotos nesse resto de fim de semana. 

- Todo mundo pronto? - Olhei para cada um dos meninos e sorri. - Eu fiz um ótimo trabalho, modéstia parte! 

- Menos algo para eu comer. - Murmurou Taehyung ao se levantar com a cara amarrada. 

Dei um tapa na testa. Então esse era o significado do olhar sugestivo?! 

Eles se juntaram e deram um grito de guerra que ficou marcado na minha memória: Um abraço apertado, sorrisos no rosto. Nada de ruim entraria naquela roda ou naquelas amizades. 

O que viria, viria para acrescentar. 

Lembrei de Seokjin. 

- THE MONKEY'S! 

 

 

Eu fui a primeira a descer da van, apenas para confirmar que todos os fios de cabelo estavam no lugar e todos os ternos impecáveis. Jimin achou graça. Era tão bom me sentir leve na presença dele... 

- Preciso de um apelido para você! - Murmurou quando ajeitei seu terno pela quinta vez assim como todos os outros. 

Abri a boca mas Yoongi me interrompeu: 

- Cachorra, temos que ir! 

Adentramos o prédio gargalhando e Yoongi deu um jeito de me levar em suas costas. Não adiantou dizer que aquilo era anti ético; logo encontramos um banco para sentar. 

O nervosismo era sentido no ar. E o fato de a sala de espera ser completamente branca não ajudava em nada. 

Mas até aí tudo estava bem, principalmente com minhas mãos entrelaçadas a de Tae que batia a perna nervosamente... 

Até Namjoon receber uma ligação logo após sermos avisados que eles seriam chamados em 10 minutos. 

- O QUÊ? 

Fechei os olhos e só por aquele grito soube que alguma coisa estava errada. 

Todos os meninos se levantaram quando Namjoon desligou o celular com violência. 

- Os instrumentos... Os instrumentos só chegam daqui a meia hora. 

Merda. 

Mas o que me surpreendeu foi ouvir Hoseok se manifestar: 

- Como assim?! Eu já tinha marcado com a Lia a dois dias e acertamos o horário! Ela disse que estaria aqui! 

Eu e Namjoon nos sobressaltamos. 

Lia? 

Mas o nome dela não era Inko? 

- Então você me deu o telefone errado! A pessoa errada! - Dava para perceber o quanto Namjoon se esforçava para não perder a cabeça, bagunçando o penteado que eu tive esforço para fazer. - Eu falei com uma tal de Inko, Hoseok! Inko! 

Tudo aconteceu rápido demais. 

Lembrei que era o aniversário de Nam. 

Hoseok xingou um palavrão e saiu correndo porta à fora no momento que uma chuva forte começou a cair. 

Uma mulher apareceu no corredor: 

- The Monkey's? Podem entrar. É a vez de vocês.