História Autoescola Fracassada - Ele existe?

- ... Você entendeu?

Pisquei algumas vezes tentando desviar minha atenção do gato super fofo e pretinho no canto da sala, brincando com um dos cabos de um computador. 

- Desculpa... Poderia repetir? - Fitei Yoongi, que me encarava com puro tédio. Para ser sincera ele parecia estar com tédio e sono a todo e qualquer momento.

O que eu poderia fazer se tinha um gato super fofo no local? Eu AMO praticamente qualquer tipos de animais! 

Suga passou as mãos no rosto, antes de voltar a me olhar. 

- Dá pra tirar os olhos do Matematíca?

Comecei a gargalhar, mas logo parei abruptamente. Espera... Qual era o nome?

- Que? Qual o nome dele? - Eu só podia ter ouvido errado. 

- Matematíca. - Disse ele, antes de abrir seu costumeiro sorriso. 

Gargalhei até meu corpo se curvar na cadeira e minha barriga doer, enquanto Yoongi sorria de olhos fechados. Céus! Como assim alguém fez isso com o pobre gatinho?

- Ai... Meu Deus, quem torturou o bichinho dessa forma? - Perguntei limpando as lágrimas, e Yoongi me olhou fingindo se irritar. 

- Primeiro, é um nome super original e legal. Segundo, esse gato é meu. Respect! - Voltei a gargalhar enquanto ele se debruçava sobre mim para mexer no computador. - Garota, faz um favor. Cala a boca e presta atenção aqui. Se Namjoon pegar a gente conversando sobre outras coisas, a coisa não vai ficar legal pra mim!

- O.K. Vou me concentrar. - Voltei meus olhos para a tela. Uma aba sobre as propriedades do carro e tudo mais estava aberta, mas minha mente ainda estava no nome estranho que Suga deu para o gatinho. - Só uma coisa! Porque "matematíca" e não "matemática"?

Ele olhou para mim como um pai que já havia dado sermão no filho, mas dois minutos depois o mesmo voltou a fazer merda. Suga suspirou antes de responder.

- Como você não percebeu porque não me conhece, odeio matemática. - Ele sorriu e olhou para o gatinho. - Eu adoro gatos e quando adotei o Matematíca resolvi fazer essa ironia com ele: Ele não é ruim como a matemática. Ele conseguiu superar ela num "nível de coisa boa matematíca"! - Ao dizer a última parte ele levantou os braços como se dissesse algo incrível. 

O olhei completamente confusa. O Namjoon com certeza tem um manicômio escondido por aqui.

- Não quero nem saber se você entendeu ou não. Vamos, olhos na tela! - Dessa vez prestei atenção ao que Yoongi dizia. Freio de mão, marchas, freio, embreagem... 

Mas no fundo, eu ainda estava intrigada com o nome do Matematíca.

&

Confesso que desanimei um pouco ao saber que o primeiro mês de aula iria ser somente com aulas teóricas. Eu nem sabia o porque de ter desanimado. Seria realmente um milagre se eu finalmente me livrasse do trauma no volante... 

Pra um primeiro dia até que superou bastante as minhas expectativas. Achei que meu professor iria ser um cara de 52 anos, frustado e que falaria mais da vida pessoal do que da própria aula. Confesso que estou curiosa quanto a idade de Suga... Com aquela cara de bebê duvido muito que ele seja mais velho que eu. 

Depois de algumas explicações simples sobre as propriedades do carro, a aula terminou. Yoongi foi embora o mais rápido possível me fazendo pensar se ele já não gostava do trabalho e minha chegada ali só deixou tudo mais insuportável. 

Peguei minha bolsa e já ia saindo da sala, quando Taehyung surgi na porta. 

- Oie Ag! - Franzi as sobrancelhas. Ag? Sorri. Mal cheguei e ele já me colocou um apelido. - Como foi o primeiro dia?

Me apoiei na mesa e Tae fez o mesmo ao meu lado. 

- Bom, foi melhor do que eu imaginei. Yoongi é meio estranho, mas acho que dá pra aguentar. - Ele riu ao ouvir minhas palavras. 

- Olha... - Taehyung olhou para a porta e foi até lá para se certificar de que estávamos sozinho. Fiquei um pouco receosa. O que precisava de tanto sigilo? Ele me olhou nos olhos antes de continuar. - Vou te contar uma coisa... Mas a menos que o Suga venha pedir, você não pode falar que eu te contei entendeu?

Fiquei um pouco nervosa. Ai meu Deus! Será que ele realmente tinha algum problema psicológico e eu estava zoando? Me perdoe Senhor!

- O-O.K. - Me odiei por ter gaguejado, mas Tae continuou mesmo assim. 

- Sabe... A gente conhece o Suga desde sempre. Eu, ele e Nam somos praticamente irmãos. E isso inclui ajudar um ao outro sempre... - Ele sorriu, parecendo se lembrar de travessuras antigas. - Logo que o pai do Nam morreu, deixou essa Autoescola pra ele. Não teve muito problema porque o Nam é filho único e... 

- Tae isso não vai ter problema? - Senti que tinha necessidade de perguntar. Ele estava me contando praticamente a história toda daquele lugar. 

- Não, não! Não tem nada de "avassalador" na história! - Ainda me sentia um pouco incomodada e Taehyung pareceu perceber. - Ei, Ag! Está tudo bem! É só pra você não ficar cheia de perguntas na cabeça. 

Realmente... Seria bom saber um pouco mais sobre aquilo tudo. 

- Tá bom. Continue. 

- O.K. Bom, hã... Ah lembrei! Resumindo, O Namjoon é o dono disso aqui. Ele não é milionário, mas o dinheiro daqui ajuda bastante. - Apoiei a cabeça no punho. Era legal conversar com Taehyung. - Bom, cada um de nós tem uma vida né? Nam terminou a faculdade, eu ainda estudo mas consegui um trabalho no restaurante do meu tio. O Suga... Como você pode ver ele trabalha aqui. Mas as coisas não vão muito bem para o lado dele... 

Fiquei um pouco curiosa. O que houve?

- Bom, como posso dizer... O Suga não vive. Ele vegeta. - Não pude segurar uma gargalhada e Tae me acompanhou, prosseguindo em seguida. - Chega atrasado quase sempre, e muitas vezes não dá justificativa. Ele é meio bipolar, o que já fez uns 3 clientes pedirem para trocar de professor ou até mesmo largar as aulas no meio do caminho. E o mais absurdo de tudo: Ás vezes ele dorme durante as aulas!

Arregalei um pouco os olhos, um tanto surpresa com aquilo. Tá, Yoongi não aparentou ser um professor super experiente e responsável... Mas ele era assim?!

- Como Namjoon ainda não demitiu ele?

Tae abriu um sorriso fofo e enrolou um dos meus cachos no dedo. 

- É aí que você entra, amor. Você é a última chance do Suga de se redimir com o Nam. Ele prometeu ao hyung que vai fazer você virar uma piloto. 

Sorri, achando graça de tudo. Então meu professor além de maluco estava com a corda no pescoço? Que sorte a minha!

Olhei para Tae que ainda brincava com o meu cabelo. Por incrível que parecesse, Taehyung não mostrava maldade em nenhum de seus atos. Parecia mais uma criança que cresceu rápido demais. 

- Obrigada por me explicar isso tudo, Tae. Você tirou boas dúvidas da minha cabeça... - Rapidamente lembrei de algo. Eu tinha que saber disso! - Lembrei! Você sabe o porque desse nome estranho? "Autoescola Fracassada"? 

Tae teve um crise de risos quase que imediatamente, o que me fez levar um susto mas logo rir com ele. Esse garoto não era desse mundo!

- Desculpa... É que eu fico tão feliz quando alguém pergunta! - Ele sorriu e pegou minha mão. - Vem comigo!

Saí da sala sendo puxada por um Tae completamente alegre. 

Coloquei a mão na cabeça, enquanto Taehyung batia palmas com o final do episódio. 

- Cara, não é maravilhoso? - Senti que ele me olhava, mas tudo que eu fiz foi começar a rir. Tae me chutou do sofá. - Responde garota! Você precisa gostar!

Chorei de rir me embrulhando no tapete da sala. Então essa era a história da Autoescola?

- Meu Deus... Eu não estou acreditando. - Tentei inutilmente parar de rir, e ele me encarava com um sorriso de canto. - Me diz que isso não é verdade, por favor.

- Sim querida, é verdade! - Ri mais ainda quando o vi subir no sofá e gritar a plenos pulmões: - AUTOESCOLA FRACASSADA É UM NOME EM HOMENAGEM AO EPISÓDIO 138 DO PICA PAU QUE EU AMO!!!

Finalmente parei de rir e voltei a me sentar no sofá. Ainda estava um pouco tensa de estar na casa do Namjoon sem ele saber.  

- Mas o nome do episódio é "Auto Estrada Fracassada"... 

Tae arregalou os olhos e pareceu refletir por longos minutos. 

- Autoescola fica mais legal! Fora que o nome que o pai do Nam colocou era horrível... "Autoescola Kim". - Ele tremeu só de lembrar. - O meu é muito mais original e legal. Beijo sociedade e beijo pai do Namjoon! Descansa aí! Apesar do Namjoon não concordar muito com esse nome... 

Tentei voltar a não rir. Eu já disse que esse garoto não é desse mundo?

&

Jungkook mal notou minha presença, sua atenção totalmente voltada ao celular enquanto o mesmo estava estirado no sofá. 

- Boa noite pra você também. - Disse, antes de jogar minha bolsa na mesa de centro e ir direto para a cozinha. 

Minha voz pareceu ter sido um alarme e logo vi meu irmão pular do sofá e vir atrás de mim. 

- Como foi? Matou o RapMon? - Seus olhos continuavam grudados no celular. Eu já ia xingá-lo, mas logo me perguntei quem era RapMon.

- RapMon? Quem é esse?

- O cachorro do Nam. Ele não voou em cima de você não? - Finalmente seus olhos me fitaram. 

Sorri. Só faltava o Tae ter um bichinho agora e eu não me surpreenderia se fosse um ornitorrinco. 

- Não. Eu nem sabia desse cachorro. - Peguei um copo de leite na geladeira. - Achei que só tinha o tal Matematíca... 

Até Jungkook riu ao ouvir o nome do pobre gatinho. 

- Então você pegou o maluco do Suga... - O fitei assustada. 

- Em que sentido?

Jugkook passou a língua nos lábios de modo sexy, antes de correr para a sala. 

- Pela demora lá na Autoescola, todos. 

Pena que não tinha nada para eu jogar nele perto de mim. 

Fui para a sala e contei todos os detalhes do meu dia a Jungkook, enquanto o mesmo fazia um cafuné gostoso. Ele gargalhou ao ouvir a parte sobre o Tae.

Fazíamos isso quase todos os dias, desde sempre. Apesar de na maioria das vezes Jungkook ser super chato, eu amava aquela família mais que tudo. Como um todo. Mamãe costuma dizer que mesmo que eu não estivesse sido adotada, e nascido dela, eu teria nascido da mesma forma em todos os sentidos. 

- Saudades dela, né? - Perguntou Jungkook, depois de um longo silêncio entre nós. Ele estava cansado... Abri um sorriso triste o que já o fez entender. - Calma... Um dia eles voltam. Pelo menos a gente sabe que eles estão ajudando outras pessoas a sobreviver... 

Nossos pais haviam viajado para a África a dois anos, ajudando as pessoas de lá. Ao mesmo tempo que eu sentia falta deles, meu coração relaxava ao saber que pessoas estavam vivas graças a Deus e meus pais. 

Era uma dor reconfortante...

&  

Dia seguinte...

Apesar de eu amar o tempo nublado e o frio, eles não ajudaram muito na hora de levantar da cama para ir a Autoescola. Domingo e sábado eram os únicos dias que eu tinham que eram livres, e agora não tenho mais. 

Aquilo já foi o suficiente para me fazer levantar da cama com um humor não muito bom. Jungkook já me conhecia, e não ousou entrar na minha frente quando passei voando pela sala sem nem ao menos tomar café. 

A chuva não estava tão forte, mas o vento frio conseguia penetrar meu casaco. Quase que eu não consigo sentir meu telefone tremer com a chegada de uma mensagem. 

Estava pensando em como seria me esquentar com certas pessoas nesse frio. Sim, eu cansei de enrolar pelo simples fato de você não sair da minha cabeça. 

Preciso te ver, Agnes. 

J

Juro que quase senti minha mandíbula quebrar pelo tamanho do sorriso que abri. De repente o frio já não incomodava tanto, e o dia não parecia ser tão ruim. Eu não ia mandar aquilo, mas ele não faz ideia do quanto eu também tenho sonhado em beijar aquela boca de coração...

Parei de baixo do telhado de um café para digitar a resposta. 

Hum... Deixa eu pensar... Jungkook vai estar livre hoje à noite. Ele é bem quentinho. 

Sorri e esperei a resposta que veio no minuto seguinte.

Diz para aquela coisa linda e gostosa que a noite é nossa!

Gargalhei e senti uma mão no meu ombro. Era uma senhora com um sorriso doce. 

- Boa tarde... Poderia me informar as horas? - Sua voz também era super doce. 

Sorri e olhei o relógio. 

Arregalei os olhos, praticamente tendo um infarto. 

Saí correndo e gritei 14:30. 

Namjoon arregalou os olhos, não sabendo se ria da minha situação ou se trazia uma toalha. 

- Nossa... - Foi tudo que ele disse, antes de entrar naquele bendito corredor. 

Eu não queria cometer o pecado de me olhar no espelho, mas a careta que Namjoon fez me deu "coragem". Quase deixei meu celular cair no chão: Uma parte do meu cabelo estava colada na testa e a outra continuava naturalmente cacheada. Digamos que a chuva me sacaneou no caminho...

- Boa tarde coisa linda.

A última coisa que eu queria era a voz irônica de Suga. Levantei a cabeça vendo o mesmo não fazendo a miníma questão de segurar o riso. 

- Sua toalha, linda. - Aquele "linda" estava realmente me irritando. 

Peguei a toalha e fui direto para o corredor. Espero que a noite compense esse domingo desastroso.