História Autoescola Fracassada - Submerso

Jungkook 

Olhei o relógio mais uma vez, tentando convencer a mim mesmo de que não estava tão ansioso. Balancei a cabeça pensando seriamente em como aquela situação parecia ridícula e se não parecia mais sábio ir embora enquanto podia. Ela com certeza vai fazer piadinhas... 
Quem diria que eu iria ceder primeiro né Jane? 
Jane é amiga da Agnes desde que eu me conheço por gente. Por ser tão nova quanto a minha irmã na época, nunca prestei muita atenção nela. Mas quem diria: A garota cresceu. E junto com ela coisas bem interessantes... Os olhos verdes e alegres, e o cabelo extremamente negro é o que mais me encanta nela. Além da personalidade divertida e irônica, que combina muito bem comigo. 
Sorri ao saborear as lembranças da nossa primeira vez...

FlashBack On - (Casa de Praia - Busan/Haeundae) 
4 Meses antes...

Sempre gostei de praia. Isso não era novidade para ninguém. Mas toda vez que eu me sentava aqui nas pedras e via as águas batendo nelas, levando e trazendo a areia... Toda aquela imensidão azul parecia me renovar. O estresse da rotina era levado junto com as ondas... 
Nessas horas eu até entendia um pouco da paixão louca por azul da Agnes. Mas só um pouco... Ainda acho estranho.
- Jungkook! 
Viro para trás e vejo minha irmã apoiada na batente de madeira da varanda, acenando para que eu vá até ela. Sorrio, e não posso deixar de reparar o quanto aquela tábua que era seu corpo finalmente ganhou belas formas. Biquíni azul? Porque eu não me surpreendo... 
Deixo as água calmas da praia e caminho até Agnes, apressando os passos ao perceber o quanto a areia está quente. Minha irmã começa a gargalhar ao me ver disparar em sua direção, com claras caretas de dor. 
Eu tinha esquecido o quanto o calor é exagerado por aqui. Cheguei na varanda esgotado. Aposto que meu rosto está tão vermelho quanto um pimentão. 
- Que tomate lindo...- Disse minha irmã, apertando minhas bochechas. Palhaça. Bati em sua mão para afastá-la.- Vem, a comida está pronta. 
Nem esperei que ela entrasse e corri para minha tão amada comida. 

Agora sim eu agradeço a Agnes por ter trago a amiga: A garota cozinha muito! Quase desanimei de viajar apenas eu e ela, pelo fato de minha irmã ser um desastre na cozinha. Mas depois desse almoço divino... Fazia tempo que eu não comia camarões tão deliciosos... Se depender de mim Jane vem em todas as nossas viagens! 
A lombeira começava a bater, e se não fosse aquele sofá extremamente duro eu já estaria dormindo a anos. Fiz uma careta de desgosto ao tentar sem sucesso encontrar uma posição confortável. Quem diria que o sofá iria me decepcionar? O resto do hotel era muito bom... 
Desisti daquele pedaço de pedra e quase que me arrastando me dirigi ao segundo andar. Pela primeira vez não gostei daquelas escadas... 
Estava quase chegando ao meu quarto quando sussurros vindos do quarto ao lado me fazem parar. Sussurros não... Começo de uma histeria silenciosa. 
Jane e Agnes. 
- Aish garota, porque não avisou que eles cresceram?- Escutei minha irmã dizer e involuntariamente encosto minha orelha ainda mais a porta. Alguma coisa parece estar sendo... Ou tentando ser amarrada.- Ah! Precisava ter tomado bomba logo agora? 
- Bomba?! Eu não sou você não taubinha!- Tapei a boca com as mais tentando não rir. Que peninha da Agnes... Depois dessa eu iria até nadar.- Eles cresceram do nada! Como eu iria adivinhar? 
- Também não precisa humilhar tá?- Dessa vez deu mesmo pena da minha irmã ao ouvir seu tom choroso.- Os meus podem não ser tão grandes, mas são alguma coisa... 
- Tá, você sabe que eu estava só brincando. Eu daria tudo para ter esses cachinhos lindos que você tem... 
- Tá, parou a palhaçada! 
As duas riem e voltam a conversar sobre coisas aleatórias. Vai entender essas garotas... Jogam a verdade na cara da outra com um "brincadeirinha" e depois fingem que não foi nada. E o pior é que elas parecem se amar mesmo... 
Vai entender. Duas malucas. 
Reviro os olhos e me preparo para voltar ao meu quarto quando a porta é aberta de supetão. 
Quase caio da escada com o susto. Não pela abertura da porta: O grito estridente que Jane soltou quase estourou meus tímpanos. 
Eu não consigo ver nada mas ela logo pegou uma toalha, cobrindo os seios. Seus olhos se fecham quase desaparecendo do rosto e Agnes me encara da mesma forma, com os braços cruzados. 
Sabe... Não parece muito seguro estar preso em uma casa de praia meio grande com duas garotas não muito normais. Engulo em seco com esse pensamento e tento disfarçar com uma expressão de indiferença. 
Como era de se esperar, minha irmã quebra o silêncio constrangedor. 
- Jungkook...- A encaro já aguardando o sermão, mas ela me surpreende com um sorriso de canto.- Pelo visto não vou precisar te chamar... 
Espera, o que? Ela ia me chamar? 
- Como assim?- Jane abaixa a cabeça, parecendo envergonhada. Ela fica bem fofa corada.- Vocês iam me chamar? 
A garota abre a boca para responder, mas Agnes levanta a mão fazendo a mesma se calar. 
- Sim. Digamos que ocorreu um probleminha com o biquíni da Jane...- Encaro Jane que quase se joga pela janela de tanta vergonha. Bem que eu estava estranhando a Agnes não ter se vingado... Mordi os lábios na tentativa de não rir.- E eu precisava de uma ajuda. Pode ver se consegue fechar? 
Voltei meus olhos para Jane, analisando a garota. Uau... Ela tinha realmente crescido. Eu não conseguia (e não queria... Mesmo! Não agora!) ver seus seios, mas suas pernas branquinhas e na medida certa me fizeram abrir um pequeno sorriso. Sua pele parecia sensível e macia... Do jeito que eu gostava. 
Seus olhos verdes se cravaram nos meus, e senti um leve arrepio percorrer meu corpo. Eu poderia ficar admirando aquelas esmeraldas o dia todo... 
- Já vi que não vou precisar ter tanto trabalho.- Ouvi Agnes murmurar, mas nem eu e nem Jane desviamos o olhar.- Bom, entra lá. 
Antes que eu pudesse responder, minha irmã me empurrou para dentro do quarto. A encarei incrédulo assim como Jane. 
- Que foi?- Ela disse, apenas a cabeça para dentro do quarto. Estreitei os olhos e ela abriu um sorriso sapeca para a amiga.- Jane... Amassa! 
A porta foi trancada e nenhum de nós dois conseguimos impedir. Estávamos ocupados rindo do quanto minha irmã era ridícula.
O riso foi morrendo e no lugar dele se instalando um silêncio constrangedor. Agora que parei pra pensar... Porque essa maluca fez isso? 
Encarei Jane. Eu ainda não tinha me acostumado com o quanto seus olhos eram bonitos. 
- Bom...- Resolvi me pronunciar primeiro. Ela apertava com força a toalha nos seios e isso me fez rir.- Olha... Não estou dizendo que você tem que tirar, mas não é como se eu fosse arrancar e fazer alguma coisa. 
Para minha surpresa ela abriu um sorriso despreocupado, se sentando sobre a enorme cama de casal. Só hoje fui descobrir que ela e Agnes além de dividirem o mesmo quarto, dividem a mesma cama... 
Garotas... 
- Olha Jungkook, eu não sou de enrolar então vamos ao ponto.- Não que eu não tenha me surpreendido com as suas palavras, mas elas me relaxaram de alguma forma. Coloquei as mãos nos bolsos e Jane passeou os dedos pelas coxas branquinhas... Pigarreei.- Estou de olho em você a algum tempo... A pergunta é: Você ficaria comigo? 
Eu não sabia como, mas só agora me dei conta de uma coisa. 
Sempre que Jane aparecia na minha casa era para ver a Agnes, e na maioria das vezes ela vinha direto da aula de ginástica. Aquelas leggs... Oh meu Deus, aquelas leggs e cropetes me matavam. Mas eu me sentia completamente culpado por só ser atraído pelo corpo dela... Todas as garotas com quem eu ficava tinham algo a mais. O cabelo, o jeito de andar, até mesmo a maneira de levar a conversa... 
Mas agora eu vejo o que faltava... De alguma maneira aqueles olhos convidativos e raros escondiam muito mais que uma noite inesquecível de amor... 
Eu queria viajar por cada curva do seu corpo e da sua personalidade.
- Me deixa ver esses olhos mais de perto?- Pergunto, depois de alguns minutos em silêncio. 
Um sorriso se abre lentamente em seu rosto. É tão bonito quanto seus olhos... 
Mergulho naquele mar de pedras verdes. 

- Jungkook?!
A única voz que poderia me despertar desses devaneios ecoa ao meu lado, me fazendo virar a cabeça em sua direção. 
Um sorriso vai se abrindo em meu rosto lentamente, primeiro pelo seu tom surpreso e segundo pela sua roupa. Adoro quando ela usa saia justa e blusas de manga larga. 
Jane também sorri e lentamente se aproxima de mim. Me desencosto do muro e caminho em sua direção. 
- Olha só...- Murmura, assim que estamos pertos o suficiente. Seu perfume doce me faz dar um leve beijo em seu pescoço. Ela sente cócegas e tenta me afastar.- Jeon Jungkook! Ainda estou no meu local de trabalho! 
Me afasto com um sorriso sacana. 
- É mesmo? O mundo antes disso...- Paro e aponto para tudo a nossa volta.- O mundo depois disso! 
Depois de alguns minutos que ela vai entender e cai na gargalhada. Reviro os olhos. Linda porém lerda. 
Seus olhos se recaem sobre a minha gravata, enquanto os meus caem nos seus lábios pintados de vermelho. Preciso beijar essa boca... Faz o que, uma semana sem ver ela?
- Mas então senhor Jungkook.- Ela volta a olhar para mim com um sorriso divertido.- A que devo a honra da sua presença... Em pleno horário de trabalho? 
- Não estamos em horário de trabalho... Agora é a pausa do almoço. 
- Não me diga?- Murmura enquanto brinca com a minha gravata. 
Aproveito que ela está distraída e deslizo os dedos lentamente pelo lateral da sua saia. É a vez de Jane pular me fazendo rir. 
- Safado!- Exclama, ajeitando o cabelo três vezes. Toda vez que ela está envergonhada ou com raiva faz isso. 
Sorrio e a puxo para mim novamente. Dou uma leve mordida em sua orelha o que a faz se arrepiar e uma parte do meu corpo despertar. 
- Safado não... Sedento.- Sei que ela gosta quando faço minha voz rouca. E adoro vê-la corar, principalmente em público.- Está me esquecendo Jane? 
Ela pigarreia e novamente se afasta de mim. Solto um suspiro claramente irritado. 
- Esquecendo de você?- Sua risada irônica de alguma maneira me incomoda. Ela se aproxima novamente mas agora mantendo uma distância segura entre nós.- Não é você que está cobrando atenção demais Jungkook?- Ela se aproxima ainda mais. Seus olhos não me deixam desviar o olhar, apesar de eu querer.- Só faz... Uma semana. Quer rever algo, Kookie? Dizer alguma coisa? 
Engulo em seco, tentando não demonstrar o quanto aquelas palavras me afetaram. 
Dizer o que? Que tenho pensado nela mais que o necessário? Que tudo me lembra ela? Que combinamos que tudo não passaria de "ficar", mas eu não consigo ficar com mais ninguém além dela? 
Que eu realmente quero ela? 
Nunca! Eu não nasci para namoro e muito menos casamento!
Me recomponho rapidamente e finalmente desvio o olhar, abrindo um sorriso de canto. Aquelas órbes verdes me matam! 
- Eu? Dizer algo?- Volto meus olhos para ela, que me encara inexpressiva.- Você sabe melhor do que ninguém que eu não sou um homem de palavras, Jane, e sim de atos. Mas e quanto a você...- Seus olhos quase saltam para fora o que me faz ficar ainda mais curioso.- Quer dizer algo? 
Ela finge tirar uma linha da roupa e volta com seu sorriso irônico. 
- Claro que não. Eu? Dizer algo? 
- Então tá bom... 
- O.K. 
Sei que ela tem algo a dizer. Mas também sei que ela só irá fazê-lo se eu fizer primeiro. Não! Eu definitivamente não vou dar uma de romântico! 
Um silêncio constrangedor se instala entre nós. Eu estou com saudades... Ela também... 
Aish! Porque fui arranjar uma garota tão orgulhosa quanto eu? Alguém aplique a lei do "os opostos se atraem" por favor? Não está dando não! 
Só reparo que ainda estamos em frente à empresa quando um amigo de Jane sai de lá. Seu cabelo loiro e ondulante ao vento me lembram os comercias da Lorea'l Paris.
Meu humor começa a ir para o lado negro quando o cara sorri e vem na direção dela. 
- Aí está você!- Ele diz, e Jane corresponde com um sorriso enorme. Maior que o necessário. Para segurança dela e do cara.- Pensei que não fosse te encontrar a tempo... Deixaram isso aqui na sua mesa, logo depois que você saiu. 
Um pequeno buquê de rosas é estendido pelo cara, com um bilhete cravado em uma das flores. Arregalo os olhos e dou dois passos a frente, ficando bem visível para os dois. 
Ele acha que eu sou tão besta assim?!
- Ei, idiota!- Jane se assusta e logo depois me fuzila com os olhos. O cara apenas se assusta e me encara.- Porque não vai cuidar mais desse cabelo lindo e esvoaçante em vez de ficar inventando desculpas, e mandando cartinhas para a mulher dos outros? 
Ele tenta abrir a boca para falar, mas eu sou mais rápido. Ou minha raiva é mais rápida. 
- Desculpinha mais idiota... Rala daqui antes que eu mande flores para você no hospital! 
O Lorea'l Paris apenas me encara como se eu fosse o cara mais louco do mundo e sai andando logo depois de entregar as flores rapidamente a Jane. Observo até ver Cinderela virar a esquina. 
Volto meus olhos para ela, que parece prestes a voar na minha garganta. 
- O que? Eu estou errado?- Ela continua me encarando, sem dizer nada.- Ele não parecia confiável! Tinha cara de transportador de drogas alemão! E...
- Ele é gay. 
O ar some dos meus pulmões, substituído pela vergonha que começa a nascer. Então...
O cara era legal. E não gostava de dar flores a mulher. 
E provavelmente está me denunciando por homofobia. 
Jane cai na gargalhada, enquanto eu tomo um susto e fico ainda mais confuso. Ela está de brincadeira? Fico ainda mais envergonhado ao perceber que todo nosso show está sendo feito no meio da rua. Em frente ao nosso trabalho. 
Ela pôs a mão no meu ombro enquanto tentava parar de rir. 
- Ah... Você é ridículo, Jeon Jungkook.- Ao dizer isso ela volta a rir. 
Reviro os olhos. Jane vai me lembrar disso pelo resto da vida. 
- Chega maluca. Eu peço desculpas a ele depois...- Suspiro, pensando com que cara eu vou falar com o homem amanhã. Ou hoje. 
Não sei porque, mas Jane ri ainda mais. Nessas horas eu entendo porque ela e Agnes se dão tão bem. Duas retardadas. 
Aos poucos, mas finalmente ela para de rir. Ela se apoia em meu ombro e seus lábios roçam minha orelha, me fazendo estremecer. 
- Não tem nada a ver com o Finn...- Seu rosto se aproxima do meu e um leve beijo é depositado no canto da minha boca.- Você é a graça... Eu não sou sua mulher, bebê. E nem de ninguém. 
Pela primeira vez na história da humanidade, Jane conseguiu mesmo me deixar com raiva. A única a ganhar esse mérito até hoje era Agnes. 
O que mais me irritava era ela se deliciando ao saber que eu não podia disfarçar. Ela mordeu os lábios antes de abrir o tal bilhete no buquê. 
Jane sabia que era desnecessário, tanto quanto eu prestar atenção aquilo. Mas leu em voz alta. 
- "Sempre que vejo esses seus olhos pelo corredor, me pergunto se algum dia irá me notar...- Ela sorri e estou prestes a arrancar aquilo de sua mão. Desgraçado, filho da...- Espero algum dia ser o céu que faça essas estrelas brilharem. Com amor, um admirador secretário!" 
Ela caí na gargalhada com a última frase e até mesmo eu não posso deixar de sorrir. Nossa! Esse cara acabou de estragar a coisa toda! "Admirador secretário"... Nossa... 
Jane tira os olhos do papel e me encara, mordendo os lábios. Eu odeio quando ela faz isso. Só aumenta ainda mais minha vontade de beijá-la.
- Então, Jeon Jungkook...- Nos encaramos com um sorriso sacana. Eu não quero fazer isso no meio da rua, mas...- Vou andando. 
- Não... Você vai correr sua vagabunda. 
Ela ri mais uma vez e faz o que eu mando. Já estamos passando vergonha a um bom tempo, o que tem passar mais um pouco? 
- Eu sou muito melhor que esse babaca senhorita Li Jane!- Grito enquanto corro atrás dela.
Não, eu nunca vou namorar Li Jane. Não, não parecemos dois adolescentes de 15 anos fugindo da Polícia... 
E não. Eu nunca vou dizer o que sinto de verdade. 

Seul - Bairro Hongdae

Meus pais me adotaram quando eu tinha 6 anos. Não me lembro de muita coisa do Brasil, mas lembro vagamente de algumas coisas como as artes de rua, vários vendedores sentados nas calçadas, praças lotadas de crianças... Pelo contrário do que muitas pessoas pensam, meu orfanato era realmente bom. Tínhamos vários passeios, sempre ao ar livre, e tudo que nos lembrasse o porque de estarmos ali (mesmo que, assim como eu, muitas crianças nem saibam o porque) era totalmente esquecido com um punhado de doces deliciosos. 
Eu não evito as lembranças e os pensamentos... Eles vem todos os dias quando passo pelas ruas do meu bairro. 
Aqui tem tudo que via lá. As danças de rua, vendedores de várias personalidades e gostos, jovens e crianças... Um bairro extremamente tranquilo e com um pouco de tudo. 
Ouso dizer que tem um pouco de Brasil aqui. 
Sorrio e finalmente chego a minha casa. Percebo que Jungkook está aí pelo fato do pequeno portão que vem antes da nossa porta estar destrancado. 
Abro a porta e quase caio para trás ao ver a cena a minha frente. 
Taehyung está completamente esparramado no meu sofá, enquanto meu irmão desce calmamente as escadas. Eu não sei se começo a rir ou me assustar. Esse menino deve saber até meu tipo sanguíneo agora! 
Ao me ver, Tae abre seu enorme sorriso costumeiro e vem em minha direção com braços abertos. 
- Ag!- Exclama, antes de me levantar do chão em um abraço de urso matador. Acho que... Quebrei algumas costelas.- Que bom que você chegou! Já estava pensando em ir lá no seu trabalho te trazer pelos cabelos! 
Queria muito responder, mas meus pulmões ameaçam explodir a qualquer momento. Tae vê que eu estou começando a ficar vermelha e finalmente me solta. 
Como eu amo o ar Senhor! 
Depois de me recuperar, finalmente consigo falar. Ele murmura milhões de "desculpa, Ag!". 
- Tudo bem...- Me sento no sofá meio esgotada.- Está tomando bomba meu filho? Que força em! 
- Você não viu nada, baby...- Ele dá uma piscadela maliciosa.- Vou te mostrar muito mais hoje lá em casa! 
Eu e ele caímos na gargalhada e Jungkook volta da cozinha com uma cara de que vai matar alguém. 
- Nossa!- Digo e ele se joga no sofá bufando.- Fala sério, você conhece o Tae. 
- Não é você não, centro do Universo.- Reviro os olhos e Tae dá uma risadinha, também se sentando.- É a... Ah, deixa pra lá. Fecha a porta quando sair... 
Dizendo apenas isso, meu irmão voltou a subir para o quarto. 
Jane. Sorri, sabendo que eles terminariam assim. O problema é que os dois lados são o orgulho em pessoa... 
- O que ouve?- Perguntou Taehyung, se levantando novamente. 
- Jungkook não costuma se chatear com qualquer coisa...- Murmuro e pego minha bolsa.- Isso aí está com cara de sintomas de paixão aguda. 
- Eita. Então a coisa está feia. 
Rimos e Tae praticamente me empurra para fora de casa. Não vou me surpreender se ele me contar um jeito totalmente estranho que achou meu endereço...

Quando se conhece alguém como Kim Taehyung nós esperamos tudo... 
Menos ser deixada na sala enquanto o mesmo apenas desaparece pelos fundos da casa.
Eu não gostava de reparar nas coisas perto das pessoas, então aproveitei que Kim se foi e comecei a andar pela casa. 
Era tudo muito simples, mas não deixava de ser confortável e bonito. As paredes eram pintadas de verde claro e o sofá era marrom. Vários quadros (onde pude reconhecer Tae, Namjoon, Suga e até mesmo meu irmão em algumas) estavam espalhados pelas paredes. Peguei uma fotografia de Taehyung em cima da mesa de centro com quem parecia ser sua avó... Assim como eu ela parecia estar quase morrendo com o abraço do neto, que além disso beijava com todo amor a bochecha da avó. Que fofo!
- A gente dá aula pra pessoa e ela já vai achando que pode invadir sua casa. 
Dei um pulo de susto que quase levou o porta-retrato ao chão. Meu Deus! Acho que Tae nunca me perdoaria se isso quebrasse. 
Volto meus olhos para Yoongi, que me encara com um sorriso divertido nos lábios. Que vontade de quebrar essa carinha de porcelana.
- Mais um motivo para eu achar que você é o Edward ou um fantasma: Pessoas fazem barulho quando caminham.- Ele revirou os olhos e tratei de colocar a foto no lugar. Parece ser bem importante, é melhor não arriscar...
- Mais um motivo para eu ter certeza que você é uma traficante maluca: Se enfiar na casa das pessoas sem permissão.- Yoongi se jogou no sofá e voltou a me encarar com seu sorriso irônico. 
Eu admiro muito esse dom que somente ele tem de me irritar tão fácil. Mas não pude deixar de dar um sorriso de canto. 
- Preconceito é crime, sabia senhor Yoongi?- O sorriso dele se alargou mais, junto com o meu. 
- Eu sei. Por isso adoro garotas que não são completamente daqui. 
Aquela afirmação me pegou realmente de surpresa. Eu jurava que Suga gostava das brancas esqueléticas daqui... 
- Surpresa né?- Ele perguntou e não pude deixar de assentir.- Pois é... Essa é a verdade. Quem curte as daqui é o Namjoon. 
Comecei a rir junto com Yoongi. Que coisa... 
Meu sorriso desapareceu e soltei um grito assustado ao sentir um corpo quase que encharcado me agarrar por trás. 
- Ag! Desculpa a demora!- Exclamou Tae no meu ouvido, e logo depois me soltou no chão mas não antes de me sacudir pelos ombros com um olhar cheio de alegria.- Anda, a água da piscina está maravilhosa! No ponto certo! 
Gente... Esses meninos ainda me matam do coração um dia desses. Um trio de espiões? Acho bem provável que sim. Nenhum deles faz nenhum ruído enquanto caminha, enquanto eu pareço uma escola de samba!
Era melhor eu me acostumar ou ia morrer de ataque cardíaco um dia desses.
- Tae... Avisa quando estiver chegando, sim?- Sentei no sofá para me recuperar. Yoongi apenas observava tudo com um olhar divertido. Dei um tapa em sua perna o fazendo me encarar com um olhar de tédio.- Você viu ele vindo, né filho da mãe? 
- Claro. Nunca vou perder a chance de te zoar.- Estreitei os olhos e me voltei para Taehyung, que inundava a sala de estar. 
Essa mania de reparar em tudo... Inclusive o peito perfeitamente esculpido de Kim Taehyung. Ele não era bombado, mas dava para ver aqueles gominhos bem em forma... Nossa... 
- Vai ficar me secando ou vem tomar banho comigo, Ag? 
Pisquei voltando ao mundo real. Abaixo a cabeça completamente envergonhada. Que mico, Jeon Agnes! 
- D-desculpe... 
- Eu sei que sou gostoso, não precisa se desculpar.- Sorri e Tae me puxou do sofá, me colocando de pé.- Anda, vem pra piscina! 
Dentro do escritório o ar era tão forte que quase não se sentia o calor que fazia nos verões de Seul. Mas logo que eu deixava o trabalho quase morria... Os verões daqui são realmente quentes! 
E eu nunca negaria um bom banho de piscina ou de mar. Mas eu não trouxe roupa... 
- Quero muito Tae... Mas e a roupa? Eu não trouxe nenhuma!- Olhei para a bermuda leve que eu tinha colocado junto com a regata.- Eu até poderia tomar com isso aqui, mas... Vou embora como? 
Ele abriu um enorme sorriso, como se esperasse pela minha pergunta. 
- Suga vai te ajudar com isso. Sobe lá no quarto dele... 

Somente a caminho do quarto me dei conta de uma coisa: Yoongi e Taehyung moram juntos. Pelo visto os dois são mesmo muito amigos, apesar do Namjoon ter dito que Taehyung era seu melhor amigo... A casa não era enorme, e parecia perfeita para dois homens solteiros. 
Fiquei meia envergonhada com o que Tae disse e por um momento achei que Suga fosse simplesmente me dar um fora, e me mandar buscar roupas em casa. Mas a bipolaridade dele veio ao meu favor, e o mesmo não disse nada. Apenas levantou e fez sinal para que eu o seguisse. 
Subimos as escadas em silêncio e percebi que um deles era fã de fotografia e artes: Vários quadros estavam espalhados pela paredes, assim como na sala. O lugar era bem organizado... 
De tanto reparar nas coisas, nem percebi que Yoongi já havia entrado no quarto. 
- Ei! Você vem ou não?- Perguntou, apoiado na batente da porta.
Disfarcei a minha mania tosca de reparar as coisas e adentrei o local. 
A primeira coisa que reparei foi o cheiro onipresente de lavanda. Céus! Era um dos meus cheiros favoritos. Apesar de não ser muito arrumado (a cama de lençóis brancos ainda estava desarrumada e algumas roupas jogadas no chão), parecia ser um local aconchegante. Um armário de madeira estava apoiado na parede oposta a cama e fora isso, apenas uma escrivaninha e a mesa do computador. As paredes eram brancas, o que me decepcionou um pouco. 
Enquanto ele vasculhava algo no armário, fui até a parte do quarto que me chamou mais atenção: Uma enorme janela de vidro. 
Estava fechada, mas logo abri deixando que um vento gostoso entrasse no quarto. Me debrucei sobre ela, observando as vários movimentações lá em baixo. Tinha um pequeno parque público onde várias crianças brincavam... E um casal namorava. 
- Gostou da vista?- Suga se debruça ao meu lado. 
Sorrio. Claro! Eu adoro crianças. 
- Sim... Muito boa escolha colocar ela aqui.- Digo e o casal decide ir embora.- Gosta de crianças? 
Ele meneia a cabeça o que me faz rir. 
- Mais ou menos...- O sol bate em seu cabelo negro deixando-o ainda mais bonito. Ele estende as roupas que pegou para mim.- Toma. Acho que vai servir... 
Pego a roupa e a analiso: Uma blusa branca sem mangas (esse garoto ama branco) que parece ser dele e... 
Arregalo os olhos. 
Uma cueca box preta. UMA CUECA BOX PRETA!!! 
- Ficou maluco?! Isso aqui é uma cueca!- Exclamo, quase jogando a peça em cima dele. 
Yoongi tira os olhos da janela e me encara com a mesma expressão de tédio cotidiana. 
- O que você achou garota? Que eu tivesse um shortinho rosa choque que coubesse perfeitamente em você?- Reviro os olhos e ele sai da janela, se dirigindo a porta.- Desculpa, o gay mora no outro quarto. 
- Mas...- Tento achar um argumento válido. Ele me encara sério.- É uma cueca! Sua! 
- Não tenho nenhuma doença transmissível. Ou isso ou vá para casa. Fará um grande favor a humanidade e principalmente a mim. 
Reviro os olhos já me dirigindo derrotada ao banheiro. Porque comigo Senhor?!?!
Antes de entrar lembro de uma última coisa.
- Você já usou ela? 
Mas Yoongi já tinha saído do quarto. 

Taehyung estava completamente certo: A água estava mesmo uma delícia. Antes de vestir a roupa pensei várias vezes na possibilidade de não vestir. Mas o grito animado dos garotos acabou me convencendo. A blusa ia até a metade das minhas coxas e a cueca... Odiei ter que admitir que não vestia uma roupa íntima tão confortável quanto àquela. 
Me surpreendi ao ver que Namjoon também estava lá. Na verdade, pelas palavras de Tae ele foi o "fundador da festa só para os mais chegados". Já estava começando a desanimar ao pensar que logo aquilo ali viraria uma verdadeira festa enorme, mas eles não chamaram mais ninguém. 
Era só eu e mais três garotos super legais que eram completamente diferentes entre si. 
Apesar de Tae ter quase me afogado duas vezes na piscina e ter soltado vários peidos, adorei passar a tarde com eles. Nadamos até os músculos pedirem socorro... 
E continuamos a nadar quando a noite chegou e o céu se encheu de estrelas. Yoongi foi o único que não quis entrar na água, desviando das várias tentativas de Taehyung de molhá-lo. 
- Anda Suga, entra aí!- Tentou Namjoon, mas o mesmo apenas negou continuando a bebericar seu vinho.- Anti-Social... 
Porque sempre tão fechado? Por alguma razão tosca aquilo realmente me incomodou.
Ah. Agora eu estava decidida a trazê-lo para dentro da água. Nem que fosse a força. 
Juro que vou dissipar um pouco da névoa desse garoto... 
- Sabe porque ele não quer entrar?- Me pronunciei e todos olharam para mim. Inclusive ele.- Ele não me vence em uma batalha de... Música. 
Namjoon arregalou os olhos, parecendo se lembrar da mesma coisa que eu: O caderno. Tae permanecia apenas com os olhos para fora da água. 
Se tudo desse certo, Yoongi cairia direitinho no meu plano. E eu saberia um pouco mais sobre ele. 
O mesmo me encarou completamente sério por alguns minutos, até um pequeno sorriso se abrir lentamente em seu rosto. 
- Música?- Sorri, assentindo.- Não. Prefiro rap. 
Então era isso... Ele não escrevia músicas...
Eram raps. Isso era mais legal do que eu imaginei. 
Ele riu mais ainda e Namjoon suspirou parecendo aliviado. 
- É... Você não leu o caderno.- Mal pude negar. Estava estampado na minha cara que eu não havia lido. Mas para minha surpresa, Yoongi largou o copo em que bebia e se levantou, atirando-se na água com tudo.- Um minuto. 
Eu definitivamente não nasci para isso. Yoongi me dava um banho (literalmente) com seus raps incríveis, enquanto eu pedia a ajuda de Tae e Namjoon para rimar algo. Ele era muito bom!
- Bom... Limão rima com... Feijão!- Todos nós gargalhamos com a fala de Taehyung, o melhor rap que você respeita.- Tenta derrotar ele falando de comida, Ag! Comida é a solução de quase todas as coisas! 
Não conseguimos terminar a batalha: Uma crise de risos que parecia ter sido transmitida pelo ar se apoderou de todos nós. 
Yoongi saiu da piscina e voltou a deitar sobre a esteira. A luz da lua, ele ficava realmente bonito... Não. Só reparei agora, mas Min Yoongi era um garoto realmente lindo. 
Principalmente pelos seus cabelos negros. E o sorriso fofo que mostrava a gengiva. 
Desviei o olhar quando o mesmo me pegou o observando. Ele sorriu, mas dessa vez sem mostrar os dentes. 
- Você é muito bom, Yoongi. Muito mesmo.- Quando percebi as palavras já tinham saído. 
Ah, mas o que tem? Só falei verdades. Quer dizer... Eu nunca vou dizer, mas pelo fato de ter a língua presa Suga cantando fica extremamente sexy. 
Mas me arrependi de ter elogiado o mesmo um segundo depois. 
Ele me encarou  com uma expressão inexpressível e logo depois se levantou e foi embora murmurando um quase e inaudível "boa noite". 
Namjoon e Taehyung que estavam boiando e conversando, ficaram de pé e me encararam como se eu tivesse feito algo errado. 
Mas... Eu não fiz algo bom? 
- Eu... Disse algo errado?- Perguntei. A piscina já não parecia tão confortável. 
Taehyung desviou o olhar e Namjoon me encarou com um sorriso triste. 
- Não Ag.- Murmurou Namjoon, saindo da piscina.- É só um peso que ele ainda tem que levar... Mas ele vai se libertar um dia. 
Todos saíram da piscina, mas eu decidi boiar mais um pouco. 
Eu estava realmente curiosa sobre quem era Min Yoongi. Ou quem ele queria ser... 

&

Dia seguinte... 

Acordei com o despertador berrando como de costume e por um momento não reconheci onde estava. Mas logo as lembranças do dia anterior invadiram minha mente, me fazendo suspirar. 
Taehyung ofereceu sua casa para eu dormir, mas deu para ver no rosto dele que o mesmo sabia que eu não iria aceitar. Eu não sabia nem ao menos o porque de Suga estar chateado comigo... Eu não queria topar com ele naquela casa sem nem ao menos saber o que dizer. 
Por alguma razão esquisita, lembrei de Jin. 
Depois da nossa tarde na varanda, ele não falou mais nada por mensagem. Isso me decepcionou um pouco, mas... Assim como o pensamento veio, tratei de tirá-lo da cabeça o mais rápido possível. Não queria me preocupar com coisas "desnecessárias". 
Pulei da cama e olhei o calendário. 
Em alguns dias eu não teria tempo de nem ao menos respirar.