História Autophobia - S e v e n t e e n

– S E V E N T E E N–

– Ashton Fletcher Irwin –

H A V A Í

Os dias pareciam um tédio total e o arrependimento, bem, ele era mais do que presente na minha semana tediosa. Na minha semana tediosa no Havaí, e eu me pergunto todos os dias, quem é que vai para o Havaí e acaba ficando com tédio? Eu mesmo, porque eu fiquei, desde que Hortense saiu do meu quarto para ir para um próprio, tudo parecia um incrível show de tedio aos meus olhos e aquilo só me fazia ficar ainda mais estressado com ela.

Não que eu não gostasse dela. Hortense era um show. Um show de bipolaridade e mistério, mas um show, acima de tudo. E eu gostava muito daquela garota, mas ela era tão misteriosa que fazia com que os meus sentimentos se tornassem uma bola.

Hortense viveu sua vida inteira presa, e agora, ela estava descobrindo o mundo, mas enquanto ela queria descobrir novas coisas, novas sensações, eu estava gostando dela, verdadeiramente gostando dela, e quando eu finalmente consegui – com a ajuda extra de bebida alcoólica – me esquecer um pouco dela, Hortense mandou Chantal interferir no meu flerte. Com álcool e uva.

E, embora eu não soubesse como, onde ou quando, eu queria muito poder me redimir com Hortense, porque nada do que eu disse aquele dia para ela fazia sentido. Eu não tinha direito de sentir raiva dela, muito menos dizer que ela estava atrapalhando a minha vida, porque ela não estava atrapalhando nada além da minha mente. Mas, aparentemente, assim como o mais sensível da banda, eu também servia para ser o menos corajoso dela.

Acontece que, eu não sabia o que ela estava sentindo, porque Hortense parecia um misto de incógnitas, ela nunca parecia algo fácil de ler e era impossível entender suas expressões, além das típicas expressões de deboche e superioridade. Então, depois da nossa briga, me parecia uma boa ideia dar uma de turista e andar por todos os pontos interessantes do Havaí. Talvez eu quisesse apenas esquecer Hortense, mas ninguém precisava saber disso realmente.

Nós sempre nos esbarrávamos e eu sempre queria me jogar por baixo de um caminhão em movimento depois dos nossos encontrões pelos corredores do hotel ou elevador.

Diversos eram os motivos para isso, mas dois estavam em destaque: Eu queria falar com ela e não conseguia, porque eu sou um idiota e ela estava sempre linda demais pra ser verdade.

Mas naquele dia, em especial, eu não estava me sentindo muito disposto a sair do meu quarto de hotel, e o motivo obvio disso era a minha ressaca que estava parecendo estar maior que a minha vergonha na cara. Eu acabei acordando cedo, por culpa da dor de cabeça, e depois disso não consegui mais dormir em paz.

Então me joguei no sofá, sobre efeitos de remédios para dor de cabeça, e liguei a netflix pelo meu notebook, no intuito de assistir alguma coisa interessante, isso se a campainha não me atrapalhasse e me irritasse, soando pelo quarto.

Eu levantei a contragosto, mas logo a ideia de que pudesse ser Hortense me veio a mente, pois ninguém ali além da administração e Hortense sabiam que era o baterista da 5sos que estava hospedado naquele quarto e naquele hotel, então imediatamente eu me pus a correr para ir e atender a porta, sem se quer perguntar quem era, mas então, um balde de agua fria caiu sobre a minha animação, quando do outro lado da porta, eu vi Chantal, com uma expressão fechada e irritada e os braços cruzados.

– Ah, é você. – Foi à única coisa que eu quis dizer e ela imediatamente esbanjou um sorriso debochado em minha direção, com a pose desleixada e desgostosa que ela parecia sempre carregar consigo mesma.

– É, sou eu, estava esperando quem, garoto? – Debilmente debochou da minha inocência, entrando no apartamento sem ser convidada e jogando a própria mochila em cima do meu sofá – O presidente dos Estados Unidos ou Hortense? – Despejou veneno, novamente e eu fechei a porta, revirando os olhos.

– O que é que você está fazendo aqui, hein? Não sei se você sabe-

– Mas Hortense não está mais no mesmo quarto que você, eu sei disso, babaca. – Ela cortou a minha fala prontamente, não pensando duas vezes antes de me ofender e eu abri a boca, com incredulidade para a sua falta de educação. – Eu vim falar com você mesmo, loirinho.

– O que é? – Perguntei irritado, franzindo o cenho. Eu realmente odiava toda aquela pode de “sou foda” que Chantal carregava pra todo lado, como se soubesse de tudo.

– Você desligou o celular e nem se ligou no que seus amigos te mandaram por mensagem, mas o outro loirinho da banda esta aqui, e eu não estou falando do que pinta o cabelo. – Contou no tom mais despreocupado possível e me assustei ao perceber que ela estava falando de Luke.

– Luke está aqui? No Havaí? – Perguntei surpreso e me encarou, deixando de olhar as próprias unhas, e sorrindo de uma forma que eu quase me arrependi de ter perguntado alguma coisa.

– É, aqui no Havaí, passeando com a garota que você gosta, nesse momento, pra ser mais do que especifica, eles estão na editora. – Ela contou, com o sorriso estampado no rosto e eu me recompus rapidamente, me negando a ser fraco por Hortense, como sempre.

– Tá, e o que eu tenho a ver com isso? – Perguntei com falso desinteresse e me assustei ao que ela pareceu irritada, se levantando de abrupto do sofá e caminhando em passos duros até mim depois de pegar sua mochila de volta.

– Pare de ser idiota, Ashton. – Me repreendeu. – Eu sei que você gosta de Hortense, e desde o primeiro dia que conheci vocês, soube que ela gosta de você, então apenas pare de ser ridículo e corra atrás da sua garota. – Apontou o dedo para a mim, irritada. – A vida é só uma e ela não deve estar nem um pouco disposta a esperar seu drama de garotinha terminar, sacou?

– Olha aqui, você veio aqui pra me ofender ou-

– Eu vim aqui pra ter alertar antes que seja tarde, cara. Não estou dizendo que seu amiguinho loiro vai pegar sua mina, só estou dizendo o que é óbvio: pessoas não esperam umas as outras para sempre, entendeu? Então corra atrás enquanto o interesse dela é você. – Ela continuou, duramente, após cortar minha fala, como sempre costuma fazer.

– Você fala como se entendesse muito sobre o assunto. – Eu tentei afeta-la, novamente e ela riu em um misto de pura ironia e sarcasmo, caminhando até a porta e abrindo com força, me olhando por cima do ombro antes de sair.

– Eu fui noiva há um tempo, Ashton. – Ela contou, sem se abalar. – E, embora eu tenha sido uma idiota presa em um relacionamento abusivo, e corna, eu não me arrependo de nada que vivi, porque se algum dia eu fui feliz, o que eu fui, é porque valeu a pena, apenas faça valer a pena também, antes que nem isso seja possível, seu idiota. – E então ela saiu, batendo a porta.

Eu mordi meus lábios quase que instintivamente, me lembrando de suas primeiras palavras de quando chegou ao apartamento: “eles estão na editora”. Foi isso o que ela disse, e a ideia que eu tive podia ser horrível, mas eu a faria, porque eu não queria me arrepender de nada depois.

Eu tentaria fazer valer a pena, o que quer que fosse que tivéssemos independente das minhas fãs, independente de contrato, e independente de Luke. Então eu corri rapidamente até o meu quarto, colocando uma blusa qualquer, uma calça jeans qualquer e um tênis qualquer, aquilo realmente não era importante no momento.

Desci o prédio de elevador e chamei rapidamente o motorista e meus seguranças, que logo se disponibilizaram a me acompanhar até a editora. Quando cheguei lá pude perceber que o não tinham mais tantos paparazzi’s como no primeiro dia, apenas dois, conversando, do outro lado da rua, pareciam estar negociando algo, mas nada importava.

Quando entrei, se quer conversei com a recepcionista e fui logo caminhando até o elevador, estranhando ao ouvir risadas altas, que logo reconheci de quem fossem, não tão longe da caixa metálica, Luke estava por cima Hortense, ambos gargalhando e um sentimento angustiante se fez presente dentro de mim, fazendo as palavras escorregarem da minha boca.

– Atrapalho? – Foi o que eu consegui formular e logo Luke e Hortense tinham a atenção em mim, o meu amigo loiro se pôs a ficar de pé, ainda me encarando, enquanto ajudava Hortense a se levantar também.

– Ashton, o que faz na editora? – Hortense me perguntou, confusa.

– Tentando furar um olho que não é. – Alfinetei Luke que cerrou os olhos em minha direção.

– Não fale assim com ele. – Hortense interviu, parecendo irritada.

– Oh, já estão no nível em que se defendem assim? – Minha língua afiada realmente não queria me deixar em paz tão cedo.

– Como assim “nível” de se-

– CALEM A BOCA! – Luke pareceu explodir irritadiço e eu e Hortense nos calamos, passando a encara-lo, e então, antes que eu pudesse dizer algo, ou outro alguém, ou até mesmo Luke, os passos de alguém próximo se fez presente e todos nós nos viramos minimamente para ter a visão completa de Chantal sorrindo irônica ao passar por nós.

– Concordo com o loirinho. – Foi o que ela deixou escapar, de forma debochada, antes de entrar no elevador e voltar toda a atenção para o próprio celular.

– Quem era a garota? – Luke perguntou confuso, mas logo balançou a cabeça, como se não importasse no momento, voltando a nos olhar. – Vou ser bem direto no que vou dizer, e eu odeio dar conselhos, então absorvam minhas palavras e não façam minha saliva gasta ter sido atoa, entenderam? Então vamos lá, Hortense gosta de Ashton e Ashton gosta de Hortense, mas Ashton é um idiota total, o que não é novidade, e Hortense é estranha pra caralho, o que não é novidade também, mas parem de drama, que isso já está virando um clichê irritante, sacaram? – Ele se disparou a falar. – Agora, nesse exato momento, eu estou abandonando o barco e indo atrás da minha garota, Arzaylea. Então, eu espero que vocês percebam que o que vocês querem está bem na frente um do outro, porque vocês são o que vocês precisam. Um para o outro, deu pra entender? Apenas se acertem, porque eu estou indo me acertar.

Quando Luke disse a ultima frase, ele já estava correndo para fora do prédio, sorrindo para ele mesmo e chamando a atenção de um taxi e dos paparazzi’s que logo deram a atenção para ele, juntamente as suas câmeras. E eu me virei para Hortense, mordendo o lábio inferior, perdido com o que fazer a partir daquele momento.

– Chantal disse que estaríamos aqui? – Ela quebrou o silencio entre nós dois e eu ri anasalado.

– De uma forma estranha, ela disse sim. – Respondi debilmente. – Você quer voltar para o nosso quarto de hotel, Hortense? – Perguntei, enfiando as mãos no bolso da calça e ela me encarou irônica, embora parecesse hesitante em dizer algo.

– Eu não, obrigado. – Negou logo alfinetando. – Não quero atrapalhar a sua vida. – E então, ela logo parecia andar para fora do prédio, mas eu a seguia de perto, desesperado internamente.

– Hortense, pare de andar. – Eu pedi, mas ela não parecia disposta a se quer olhar para trás, então eu corri um pouco para pegar em seu braço e vira-la para mim, segurando seu rosto dos dois lados. – Você pode me ouvir um pouco, por favor? Eu só estava irritado com tudo o que venho sentindo, eu juro. Você não atrapalha a minha vida, Hortense. Você não atrapalha.

A ultima frase foi apenas um sussurro porque logo eu pude sentir, pela segunda vez, a textura delicada dos lábios de Hortense, que eram macios e quentes como o inferno, mas eu a adorava muito. E durante o nosso beijo, eu sorri, porque eu queria tanto que nós nos acertássemos, eu queria tanto que não houvesse mais arrependimentos na minha mente.

– Uh. – Ouvimos um resmungo alto e nos viramos juntos para ver de que se tratava, acabando por entrelaçar nossas mãos no caminho e vendo Chantal, com braços cruzados, ao lado dos seguranças que vieram na viagem comigo e Hortense. – Super clichê. – Concluiu desgostosa, arrancando risadas de todos nós, mas eu estava disposto a ser clichê com Hortense sempre que ela quisesse, e eu esperava que ela soubesse disso quando apertei sua mão mais forte.