Uma cor que eu não gosto é o azul. Uma cor tão triste, tão desanimada. Essa era a minha vida até te conhecer, naquela tarde de outono, naquele banco em frente ao lago.
- O que um lugar como você faz em uma garota frio como esse? -E pensar que essas foram suas primeiras palavras dirigidas a mim.
- Por favor, não. -Respondi, fria e seca. Assim como o outono.
- O.k., comecei errado. Sou Amethyst, e aliás esse livro tem um final ruim. -Você estendeu sua mão direita, coberta pela luva.
- Pearl. Eu sei que tem, eu já li. -Respondi, apertando sua mão.
- Reler um livro é meio chato, não acha? -Você disse, encarando as folhas no chão e mexendo nervosamente seus pés.
- Não. Ao reler, você nota algo que não percebeu antes. -Revendo toda a nossa história, eu vejo o quanto essa frase se encaixa.
- Mas qual a graça se você já sabe do final? Não é melhor pular para outro livro? -Essa frase me fez sorrir. Novamente, eu vejo como ela se encaixa nesta história.
(…)
- Frappuccino nesse frio? -Ri da sua escolha.
- Sim. Gostos peculiares. Pode deixar que eu pago. -Mesmo que eu tentasse te impedir, você sempre pagava a conta, não importando o quão cara fosse… Isso me irritava um pouco.- Como está o cappuccino?
- O melhor. -Falei, de olhos fechados, degustando o calor do líquido.
Você estendeu seu braço para que eu o segurasse, como nenhum garoto ou garota jamais fizera, você fez-me sentir especial.
(…)
- O que você achou? -Perguntou, mesmo sabendo o que eu achei por minha expressão.
- Eu… Eu o amei! -Falei, quase gritei, segurando o pequeno cachorro em meu colo.- Ele vai ser… Pumpkin!
- Esse é um nome engraçado. -Você riu e acariciou a cabeça do filhote, que reagiu com um latido.
- Sempre quis ter um… Muito obrigada, Amy! -Exclamei e beijei-lhe a bochecha, em um impulso, e logo repreendi-me mentalmente ao ver seu sorriso sumir e seu rosto ficar em um tom avermelhado. A cor da paixão.
Pumpkin, aproveitando nossa distração, pulou de meu colo e correu pelas folhas no chão, latindo, como se nos chamasse.
- Pumpkin! -Saiu correndo atrás do cachorrinho, como se temesse que e fugisse de mim. Como todos fizeram.
- Ei, espera! -Eu segui vocês, observando-te meio atrapalhada com seus passos.
Em um momento, você se desequilibrou e caiu de cara nas folhas, não pude evitar rir alto, mas ao fechar os olhos -como sempre faço quando rio- eu não sabia que iria cair também.
- Ai! -Você reclamou ao sentir meu corpo bater no seu.
- Desculpe, te machuquei? -Perguntei, desesperadamente levantando o tronco para lhe encarar.
- Não, está tudo bem, sou feita de ametistas. -Você brincou com a situação constrangedora, como sempre faz.
Rimos, acho que até nos esquecemos de Pumpkin. Por um momento, encaramo-nos, ainda sorrindo, testa a testa, as bochechas vermelhas pelo frio e pela situação.
-Amy… Promete que nunca vai me deixar? -Perguntei.
- Não preciso nem prometer. Você sabe que eu nunca irei. -Disse, sorrindo para o meu pálido rosto, começando a ficar mais avermelhado.
- Eu acho que meu sistema nervoso central te ama. -Falei, olhando no fundo de suas íris roxas.
- Não sei o que quis dizer, mas acho que sei… Eu acho que o meu sistema nervoso central enloqueceu por você no dia em que te vi naquele banco, naquela tarde. -Você disse e então eu finalmente fiz, eu te beijei, e por fim, o azul se foi, dando espaço ao vermelho, ao laranja, ao amarelo, as cores alegres, as cores quentes.
De longe, escutei o latido de Pumpkin, parece que ele tinha planejado aquilo, entendi o porquê de o chamarem de "melhor amigo do homem".
- Pumpkin! Não faça isso de novo! -Repreendi o cachorro, que aconchegou-se no espaço entre eu e você.
- Que cachorro levado, não me disseram isso quando o adotei. -Você acaraciou os pêlos do pequeno animal, que lambia minha mão.
Sorri para aquela cena, não me sentia mais tão azul, o vermelho do outono e da paixão me prenchia… Nos preenchia.
Todos os dias eu agradeço a Deus por ter te conhecido, por estar naquela tarde de outono, naquele banco em frente ao lago e naquele exato momento ali.
Porque quando eu estou com você o azul se torna vermelho.
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