História Autumn Leaves - Sowon painted me

– Jungkook, você precisa se acalmar, tudo bem? – Taehyung sussurrou enquanto trancava a porta – Se continuar andando de um lado para o outro, vai fazer um buraco no chão. – franziu o cenho, seguindo o mais novo com o olhar. 

– Taehy, você entende o que aconteceu, certo? – segurou os braços do outro arregalando os olhos – Alguém viu a gente, e por mais que eu tenha dito que ter pessoas nos observando enquanto você me come me deixe excitado, a única coisa que eu sinto nesse momento é vontade de vomitar todo o queijo que eu comi. 

– Uh, nojento. – o Kim riu baixo e puxou o outro pela mão até a cama. – Escuta, talvez isso seja só algum idiota querendo brincar com a gente. 

Jungkook sentou-se de frente ao mais velho e suspirou. 

– Quem faria algo do tipo, Taetae? – pensou alto. 

– Não tenho ideia, Guk, mas tenho certeza que quem quer que seja, queria deixar a gente nervoso. 

– Conseguiu. – engoliu em seco 

– Olha, tenta não pensar muito sobre isso, ok? – suspirou e abraçou o mais novo. – Vamos dormir um pouco e amanhã a gente se preocupa. 

Taehyung se deitou e observou o moreno que parecia estar em outro mundo. 

O cabelo ruivo sedoso de Sowon parecia cada vez mais brilhante, o corpo cada vez mais em forma e bonito. Diferente dos outros seis integrantes do grupo que estavam quase terminando a escola, Jeon ainda estava no Ensino Fundamental e isso lhe deixava inseguro, afinal, um dia todos os garotos estariam na faculdade e ele ficaria preso naquela escola pelo resto de seus dias, e é claro, Jeon Sowon fazia questão de relembrá-lo disso. 

– Imagine quando finalmente estivermos na faculdade, – A garota disse com sua voz doce – nós vamos para todas as festas do campus. 

– E quem disse que seremos convidados para todas elas? – Hoseok murmurou, ajeitando os óculos escuro em seu nariz 

– É claro que vamos. – a ruiva riu como se fosse uma piada – Não existe um evento para o qual eu não seja convidada. E é obvio que para onde eu for vocês vão comigo. – Olhou para os outros – Menos você, Kookie, os veteranos sentiriam seu cheiro de leite de longe. 

Jungkook se encolheu e desviou o olhar para a piscina de sua casa, poderia ter retrucado, afinal estava sendo insultado dentro de sua própria casa, mas escolheu manter sua boca fechada. Era assim que funcionava com Sowon, fique calado ou algo pior acontecerá. Além disso, talvez se agradasse a mais velha, ela considerasse em levá-lo para, pelo menos, uma festa. 

– Não fale assim com ele, Sowon. – Taehyung acariciou o cabelo do mais novo. – Em dois anos nosso Jungkook será finalmente um adolescente como nós. 

– Você o mima demais, Kim Taehyung. – Sowon disse séria, encarando Jeon, os olhos focados nos seus, frios como gelo. – É por isso que ele é um fracote. 

Jungkook estremeceu com a lembrança e se sentou na beirada da cama, abriu a gaveta do criado-mudo e pegou um álbum de recordações, na página da falecida irmã, observou as várias fotos de Sowon e alguns bilhetes que havia recebido da mais velha, muitos deles, a garota esnobava do mais novo. Suspirou e guardou tudo na gaveta, indo se deitar ao lado do melhor amigo. 

– Dorme, Guk. – O Kim sussurrou. – Amanhã é outro dia. 

Jeongguk abriu os olhos assustado, olhou ao seu redor e percebeu que não estava em seu quarto mais, sentou-se e tentou registrar ao máximo o que via, o ambiente era escuro, apenas um feixe de luz entrava pelo que parecia ser uma porta entreaberta, abaixo de si havia uma cama simples de solteiro, com estrutura de ferro e aparência velha, recordou Jeongguk de sua cama na casa de seus avós. A frente da cama, o único outro objeto do local se erguia chamando atenção: um cavalete. Nele, um autorretrato do Jeon. Franziu o cenho e se levantou, percebendo que vestia apenas uma camisa de botão e um short, arrepiou-se com o frio, mas, mesmo assim, se dirigiu ao cavalete. 

– Lindo, não é? – ouviu uma voz alta e se virou em direção, chocando-se quando viu a irmã encostada em um canto do local. – Eu pintei pro seu aniversário de dezesseis anos, Guk. Uma pena que nunca consegui entregá-lo. – Sowon sorriu pequeno. 

Jungkook tentou falar, abriu a boca, mas nada saiu. Tentou correr em direção a irmã, mas seu corpo se manteve estagnado. 

– Poupe o seu esforço, irmãozinho. – a garota se aproximou. – Eu sou a única que tenho livre arbítrio aqui. Desculpa, mas eu não posso explicar agora. Eu só queria te ver um pouco, ainda sou muito fraca pra ficar muito tempo. Eu preciso da sua ajuda. – Olhou nos olhos do mais novo, seu rosto sem um resquício de expressão, Jungkook não se lembrava de já ter visto a garota tão séria um dia. – Vá ao porão, Jungkook. – Sowon sussurrou e então olhou para a tela. Virando-se sem dizer mais nada, rumou em direção a porta entreaberta e saiu. 

Jungkook finalmente foi capaz de se mover, correu em direção a porta por onde a garota saíra, se jogando na luz intensa. 

O pulo que o moreno deu em sua cama acordou o garoto ao seu lado, que quase caiu no chão. Olhando confuso para Jeongguk, Taehyung colocou a mão no coração que batia rápido como as asas de um beija-flor. 

– Você tá tentando me matar, é isso? – Perguntou enquanto se ajeitava novamente na cama de casal. 

– Desculpa, Tae. – respondeu, ainda desnorteado. 

– Tudo bem. O que aconteceu? 

– Eu tive um sonho. – Encarou o mais velho. – Com a Sowon... Pareceu tão real que ainda dói respirar. 

O acinzentado sentou-se mais perto do mais novo e passou os braços ao redor de seu ombro, abraçando-o. Jeongguk fechou os olhos e encostou-se nos ombros do mais velho, concentrando-se em lembrar qual era sua realidade. “Vá ao porão, Jungkook”. Podia ouvir a voz de Sowon ecoar dentro de sua cabeça, não lhe deixando pensar. 

– Preciso fazer uma coisa. – Disse, levantando-se rápido e quase derrubando o outro novamente. 

– Caralho, você quer mesmo me matar. – O Kim sorriu. 

– Desculpa, de novo. – Jeongguk colocou uma calça e saiu do quarto correndo. 

Taehyung suspirou e levantou-se, indo atrás do mais novo. A casa de Jeongguk era enorme, cheia de corredores, escadas e quartos vazios que nunca fizeram sentido na cabeça de Taehyung, já que apenas três pessoas moravam ali, além de outros quatro empregados, que dormiam em uma casinha nos fundos. Segundo Jeongguk, sua mãe gostava do luxo de uma mansão e seu pai usava os quartos extras pra trepar com outras pessoas. Definitivamente um núcleo familiar saudável, pensava o Kim. Após passar por vários corredores exatamente iguais e descer uns cinquenta degraus, finalmente os dois encontravam-se parados em frente a porta do porão. Estremeceu, olhando para o mais novo que tomava coragem para entrar. 

O porão era grande e vazio, aparentemente gente rica não era muito adepta a guardar tralhas, ficou parado na porta enquanto Jeongguk andava de caixa a caixa, procurando por algo que o Kim não sabia e depois de meia hora, finalmente parou, tossindo por conta da poeira, parecia de alguma forma confuso e decepcionado. 

– Vai me contar agora o que estava procurando? – Ergueu uma sobrancelha para o mais novo. 

– Ah... – Jeongguk sorriu. – Era uma coisa que apareceu no meu sonho, um quadro, eu tinha certeza que estaria aqui. 

– Como foi seu sonho, Jeongguk? 

– A Sowon, ela me contava que tinha pintado um retrato meu e que estava no porão. Eu lembro que eu estava na minha cama da casa dos meus avós e parecia tão real, eu... – começou a falar rápido. 

– Respira. – O Kim sorriu. – Foi só um sonho. 

– Eu sei, mas eu precisava pelo menos tentar. – O mais novo falou, triste. 

– Bom, a casa da sua avó tem porão? – Taehyung perguntou, tirando-o outro do cômodo empoeirado e fechando a porta atrás de si. Jeongguk estacou, encarando-o com realização. 

– Kim Taehyung, você é um gênio. 

– Eu sei. 

A casa dos avós de Jeongguk ficava do outro lado da cidade, então o mais novo teve que convencer sua mãe a levar os dois, e depois de um tempo implorando, a mais velha finalmente aceitou. Fazia um tempo que a mulher não visitava os próprios pais. Enquanto a mansão dos Jeons ficava na área de Gangnam, seus avós moravam em um bairro muito mais calmo e afastado, os mais velhos preferiram enfrentar os últimos anos de suas vidas cuidando de umas plantinhas em uma casinha pequena, diferente da vida que sua filha e seus netos levavam. 

Chegando lá, foram recebidos pela avó de Jeongguk, que os levou para a cozinha, onde fez questão de arrumar uma mesa cheia de doces e sucos, como sempre fazia quando o mais novo aparecia por ali. Logo sua mãe já havia sumido pela casa com o celular na orelha, enquanto o moreno e Taehyung conversavam com a idosa. 

– Vó, eu tenho uma pergunta. – disse cautelosamente, olhando para a outra. 

– Sim? – sorriu. 

– Antes da Sowon morrer, – observou a mais velha parar de respirar por um momento. – ela deixou alguma coisa guardada aqui? 

Pode vê-la parando e pensando por um momento, com as sobrancelhas falhas e acinzentadas franzidas, Taehyung ao seu lado mexeu-se desconfortável. 

– Eu não tenho certeza. – Deixou seus ombros caírem assim que ouviu a resposta da mais velha. – Mas seu vô colocou tudo que pertencia a sua irmã no porão, se quiser, pode dar uma olhada. – E então seus olhos acenderam como fogo. Agradeceu e puxou o Kim em direção ao porão, sentindo ansioso, quase em pânico. Nem foi preciso muito esforço, assim que entraram no porão, em um canto perto de um sofá velho, o cavalete de Sowon coberto por um pano branco e poeira. Não tinha coragem de tocá-lo, então o Kim o fez por si, retirando o pano e revelando uma tela. Um retrato perfeito do mais novo, com muita tinta colorida respingada, ainda assim perfeito, como tudo que Sowon fazia. Jungkook prendeu a respiração sem perceber. 

– É isso, Taetae. – Falou baixo. 

– Então, o que isso significa? O sonho e tal. – O outro perguntou, igualmente baixo, olhando o quadro. 

– Não sei, mas tenho medo de descobrir.