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História Avante Invocadora! - Uma taverna que serve água e um idiota nas cartas.


Escrita por: Himle

Notas do Autor


Esse capitulo foi um dos que eu mais gostei de reler. Aqui eu dou um passo em direção ao romance e também construo um pouco mais dos personagens. De todo coração, espero que vocês se divirtam com o Graves, porque ele vai se divertir horrores nesse capitulo!

Capítulo 7 - Uma taverna que serve água e um idiota nas cartas.


Fanfic / Fanfiction Avante Invocadora! - Uma taverna que serve água e um idiota nas cartas.

Sara nunca havia visto um lugar tão interessante quanto aquele porto. Haviam pessoas de todos os tipos, vários itens diferentes sendo comercializados e uma infinidade de línguas sendo faladas. Pessoas gritavam para anunciar os seus produtos, enquanto que guardas andavam de um lado para o outro, tocando um sonoro sino para indicar sua presença. Haviam artistas de rua tocando musica por alguns trocados, pintores fazendo retratos, feiticeiros criando pequenas ilusões para entreter quem quisesse ver e dançarinos se apresentando. Sara olhava tudo encantada, enquanto Graves abria caminho pela multidão.

Eles não ficariam ali por muito tempo, então a jovem queria ver o máximo de coisas possível. Twisted Fate havia chegado no porto primeiro e já havia arrumado lugar para eles em uma caravela mercante, então era para as docas que eles iam. Rapidamente, Graves encontrou o navio e para a tristeza dele, eles iam ficar mais um dia atracados. Sara sabia que quanto mais demorassem a chegar a Piltovel, mas tempo demoraria para Graves voltar a ter uma arma de fogo. Ele sentia que faltava um pedaço de si mesmo sem a Destino, mas Sara não podia fazer nada para ajudar. Por outro lado, ia ser ótimo poder ter mais tempo para explorar o porto. Talvez ela poderia até conseguir animar o pai um pouquinho.

- Vamos procurar alguma taverna? – Sara chamou.

Ela colocou a mão nos ombros do pai, que suspirou decepcionado. Beber alguma coisa ia ajuda-lo a se sentir melhor. Aceitando o convite da filha, Graves voltou a se virar para a multidão. Sara o seguiu, segurando no braço dele para não se perder sem querer no meio de tanta gente. Pelo visto ele já tinha um lugar em mente. Quando chegaram em um beco sujo, repleto de pessoas desmaiadas de bêbadas, ela teve certeza de que Graves já havia estado ali. Aquele lugar não parecia nem um pouco atrativo, mas ela confiava no pai. O atirador atravessou o beco e bateu em uma porta de madeira surrada. Um homem grande abriu, saiu de lá e cruzou os braços, bloqueando o caminho.

- Esse é um estabelecimento particular.  – Ele anunciou.

Sara puxou o braço do pai, pronta para se virar para voltar ao porto, mas em vez de ir andando com ela, Graves atirou o que restava do charuto no chão e ascendeu um novo logo em seguida. Ele encaixou o charuto entre os dentes calmamente e quando ele deu uma longa tragada, mantendo as mãos livres, Sara o soltou e deu um passo para trás. Ele tinha feito a mesma coisa na taverna em que eles ficaram na noite seguinte a saída do acampamento noxiano. A garota olhou com pena para o brutamontes barrando a porta. Você realmente não quer se meter com Graves, ainda mais quando ele estava precisando descontar o mal humor em alguma coisa.

- Sara, minha filha. – Graves falou. – Um pouco mais para trás.

Sara deu mais alguns passos de distancia, levantando a barra do vestido. Repentinamente, Graves desferiu um gancho certeiro no queixo do brutamontes, o deixando atordoado. Aquele armário de músculos até tentou partir para cima do atirador, mas esse simplesmente deu um passo para o lado, desviando do ataque. O homem desconhecido acabou caindo no chão logo a frente de Sara, batendo a cabeça com força.

- Vamos. – Graves chamou.

A garota sussurrou um “desculpe” para o homem desacordado no chão enquanto passava por cima dele. Naquele beco ele parecia ser só mais um dos bêbados desacordados. Graves esperou ela passar, para depois entrar e a fechar atrás de si. Eles desceram uma escada em caracol, para depois chegar em outra porta. Dessa vez, ninguém estava ali para barrar, eles entraram sem problemas.

Atrás daquela porta estava um salão com um forte cheiro de essências de fumo perfumado. O lugar era muito bem decorado, tendo estofados de veludo vermelho ao redor das paredes e mesas com lindos entalhes em alto relevo. Os clientes eram bem mal encarados, o que contrastava muito com as lindas mulheres que serviam as mesas e  os divertiam. Era fácil entender para qual publico aquele estabelecimento “particular” era voltado.

- Se alguém olhar para você, me avise. – Graves pediu. – Vou ficar muito feliz em ter um motivo para quebrar a cara de alguém.

Graves seguiu para uma mesa pequena em um dos cantos. Sara se sentou no grande sofá junto da parede e se sentiu afundar. Aquele lugar era mais confortável do que as camas em que ela havia dormido desde que havia chegado em Runeterra.

- Graves! – Uma mulher cumprimentou. – Que bom que você voltou! Achei que tivesse se esquecido de mim.

Ela era uma linda mulher com traços orientais e longos cabelos negros. As roupas dela pareciam ser de seda com bordados de flores, tendo uma leve e longa saia esvoaçante. Os cabelos dela estavam presos em uma trança elaborada e enfeitada com pequenas pedras preciosas de varias cores diferentes.

- Só traga as bebidas. – Graves cortou a conversa pela raiz.

A mulher analisou cada centímetro do rosto e corpo de Sara, para depois se sentar ao lado de Graves e passar os braços pelo pescoço dele. Sara por sua vez revirou os olhos e se pôs a olhar melhor aquele lugar. Ela conhecia uma cortesã quando via uma e sabia muito bem que se Graves havia a levado ali, a ultima coisa que ele queria era trocar a companhia da filha por a daquela mulher.

- Vai me negar por causa de uma garotinha com rosto bonito? – A mulher falou, se fingindo de magoada.

- No momento eu só quero uma bebida forte. – Graves respondeu. – Vai trazer, ou eu vou ter que chamar outra pessoa?

Com um sorriso malicioso, a mulher soltou o atirador e se levantou.

- Você só vem aqui para beber. – A mulher o implicou. – Se eu não soubesse, diria que não tem dinheiro suficiente para os outros serviços. E a essa bela jovem ao seu lado? O que vai beber?

- Água. – Sara respondeu.

A mulher riu, divertidamente.

- Onde você a encontrou Graves? – Ela falou. – Uma donzela vem a uma taverna como essa e pede por água? Que taverna serve água?

- Uma boa o suficiente para não ter medo de não vender bebidas se oferecer água. – Sara rebateu.

Graves se deixou rir debochadamente com a resposta da filha. Ela havia tirado qualquer possibilidade de resposta da cortesã. Falar que não servia água depois daquilo era a mesma coisa que falar que aquele lugar tinha bebidas tão ruins que água seria uma pedida melhor.

- Traga o melhor néctar de frutas que tiver para a minha menina. – Graves ordenou.

A mulher piscou para Sara com um dos olhos e se afastou da mesa. Pelo visto ela havia gostado da garota.

- Cheguei a pensar que você ficaria desconfortável aqui. – Graves comentou, quando a mulher se afastou.

- Estaria, se estivesse sozinha. Sei que meu pai não me levaria em um lugar inapropriado para mim.

Graves sorria para a filha, orgulhoso, mas logo fechou a cara. Confusa, Sara se virou para trás, acompanhando o olhar do pai. Um homem rodeado de mulheres vestidas como a que os atendeu olhava para Sara, sem pudor algum.

- Você não esta pensando no que eu acho que está pensando, né? – Sara falou, sem se virar para o pai.

Tarde de mais. Graves tirou uma faca da bota e atirou na direção do homem. A faca ficou cravada há milímetros acima da cabeça dele, o que fez ele voltar a olhar para a própria mesa rapidamente. Pelo menos, Graves não havia começado uma briga. Ainda.

- Um dia eu vou me apaixonar. – Sara avisou.

- Não se eu matar o infeliz primeiro. – Graves respondeu, com casualidade.

Sara balançou a cabeça negativamente, mas sorriu. Ela sentia que nunca teria o coração partido com Graves por perto. Quem teria coragem de agir de má fé com um sogro como aquele?

Logo, as bebidas chegaram. A mulher deixou duas garrafas e se retirou para atender outros clientes. Graves nem mesmo se incomodou em servir a própria bebida no copo. Ele destampou a garrafa com os dentes, cuspindo a rolha longe para beber no bico mesmo. Sara por sua vez serviu uma taça generosa de néctar de pêssego para si mesma, recolocando a rolha na garrafa logo em seguida. Fazia tempo que ela não tomava algo doce e não alcoólico. Ela havia se esquecido de como gostava de suco de frutas. Depois de mais de uma semana naquele mundo, ela achava que nem mais se lembrava de como era comer alguma comida devidamente salgada.

Graves era uma ótima companhia, então mesmo viajando a pé, o tempo que ela havia passado ali não foi ruim. Twisted Fate também era legal, quando ele queria. Na maior parte do tempo o mago nem mesmo se dava ao trabalho de ouvir o que Sara dizia, mas ela não se importava. A única pessoa de quem ela queria atenção só tinha olhos para ela e essa pessoa era seu pai. Quando eles paravam para descansar em alguma estalagem, TF costumava tentar explicar as regras dos jogos de carta mais comuns naquele mundo, mas ainda era complicado de mais para ela. Na maioria das vezes ele só era legal quando Graves não estava por perto, o que Sara tinha certeza que ele fazia para irrita-lo. Os dois eram amigos, mas constantemente se desentendiam ou faziam algo para irritar um ao outro. Sara se divertia com as brigas, ainda mais quando eles partiam para a violência. Graves não colocava toda a força nos punhos e TF nem mesmo ameaçava puxar as cartas das mangas, o que fazia com que não fossem brigas de verdade. A garota costumava ficar torcendo pelo pai, de uma distância segura, ainda mais se a briga tivesse começado porque TF falou que ela não era filha de verdade de Graves. Mesmo eles tendo a incrível habilidade de se enfiar em confusão por onde passavam, era bom viajar com eles. Ela não poderia ter escolhido companhia melhor em toda Runeterra.

Sara tirou o tempo que passaram bebendo para implicar o pai com a possibilidade de ela arrumar um namorado. Graves também se divertia, detalhando milimetricamente como o homem que se interessasse por ela morreria antes mesmo de poder falar alguma coisa com a filha dele. Ele também reclamou bastante de ter que esperar até a manhã seguinte para começar a viajem e Sara deu o seu melhor para tentar anima-lo. Funcionou, não tanto quanto ela gostaria, mas funcionou. Talvez fosse só as duas garrafas daquela bebida fortíssima que ele bebia fazendo efeito. Ela realmente queria fazer mais alguma coisa, mas não sabia o que. No momento que Graves terminou a segunda garrafa, ela teve uma ideia.

- Sabe onde está o TF? – Ela perguntou, se esforçando ao máximo para soar casual. – Talvez ele consiga conversar com o capitão da caravela para sairmos hoje ainda.

- Duvido muito que ele queira. – Graves respondeu, sem notar o que Sara escondia por trás da pergunta. – Ele deve estar jogando cartas, na sala ao lado.

- Tudo bem eu ir falar com ele?

Graves deu de ombros e levantou a garrafa vazia, pedindo outra para qualquer cortesã que estivesse vendo. A jovem pegou a própria taça e se levantou da mesa. Ela olhou para os lados procurando onde era a porta para a sala ao lado. Encontrando, ela seguiu para lá com a taça na mão. Naquela sala haviam grandes mesas redondas forradas com veludo preto. As cadeiras eram mais elaboradas e sofisticadas, a luz mais baixa e o ar tinha o mesmo cheiro de essência de fumo perfumado. Haviam varias pessoas jogando, mas ela estava procurando uma mesa em específico.

Sara passou por entre as mesas, até encontrar um grupo de homens muito bem vestidos com pilhas de moedas de ouro a frente de cada um. Do lado de cada um deles, haviam pelo menos uma das lindas mulheres que trabalhavam ali, servindo bebidas ou acariciando seus ombros. Twisted Fate, por sua vez, estava acompanhado de duas, uma de cada lado, e ambas dividiam o trabalho de manter o copo dele cheio, enquanto que manhosamente enrolavam os dedos nos cabelos dele. Aquilo era tão a cara dele que Sara achou que se pelo menos um dos detalhes fosse diferente, iria estranhar.

O trapaceiro percebeu a aproximação dela, olhando rapidamente para ela por debaixo da aba do chapéu. Ela se aproximou mais, dando a volta na mesa, mas além da rápida olhada, ele agiu como se ela não estivesse ali. Sara se sentou no lugar vago ao lado do jogador que estava a direita de TF. Ela sorriu para ele, com o seu sorriso mais charmoso. O Mestre das Cartas bateu os dedos na mesa. Ele ainda não havia entendido o que ela estava fazendo ali.

- Posso ficar? – Sara pediu, ao homem ruivo ao seu lado. – Eu não sei jogar, mas gosto de assistir.

- O que uma donzela como você faz aqui? – O homem perguntou, em tom de flerte.

Sara deu de ombros, mantendo o sorriso no rosto. Naquele momento, era só esperar.

- Vai ficar conversando com a moça ou vai jogar? – TF perguntou.

- Está com pressa de perder tudo Twisted Fate? – Um outro jogador falou.

O ruivo sorriu, obviamente se sentindo confiante por ter Sara do lado, e fez sua jogada. Metade da mesa jogou as cartas fora, em tom de protesto. Sara se sentiu inquieta. A qualquer momento aconteceria.

- Eu cubro. – TF anunciou.

Ele colocou um saco de moedas sobre a mesa, fazendo mais alguns desistirem do jogo. Sara olhou para a porta, por cima das pessoas que jogavam. Nada ainda. Ela olhou para o homem ruivo, e dessa vez, falou em tom de flerte:

- Acho que é melhor terminar o jogo.

O homem ruivo, jogou os longos cabelos para trás, e com um sorriso galante passou um dos braços pelos ombros de Sara. Apenas com uma mão, ele jogou as cartas que restaram sobre a mesa. Ela não entendia como aquele jogo funcionava, mas poderia apostar que aquele ruivo havia acabado de revelar um conjunto de cartas que muito dificilmente seria derrotado.

- Eu deveria ter adivinhado. – TF falou, decepcionado.

Finalmente, ele havia entendido. O mago colocou na mesa uma a uma as cartas que estavam em sua mão. Com um movimento rápido, TF virou as cartas, mostrando sua mão perfeita. Pelo visto ainda haviam mais alguma rodadas, mas não havia como ganhar dele. Todos da mesa, incluindo o ruivo ficaram P da vida. TF olhou para Sara por debaixo da aba do chapéu de novo, com o sorriso zombeteiro no rosto.

- O jogo acabou. – Ele anunciou.

Finalmente, Graves entrou pela porta e a primeira coisa que ele viu foi a filha sendo envolvida pelos ombros por um apostador qualquer. Pulando todos os obstáculos no caminho, Graves chegou rapidamente até onde Sara estava. Aquele homem realmente tinha mais energia do que os cabelos grisalhos deixavam transparecer. Sara rapidamente se levantou, deixando o ruivo sem entender o que acontecia. Twisted Fate começou a recolher as moedas que havia acabado de ganhar, despreocupado. Graves sorriu sadicamente com o charuto entre os dentes e partiu para cima do homem ruivo. O trabalho de Sara estava feito.

- Minha filha não é para o seu bico. – Foi a única coisa que Graves conseguiu falar, antes que os seguranças que o ruivo tinha pulassem sobre ele em uma tentativa falha de conte-lo.

Pronto. Em efeito dominó, socos e garrafadas começaram a tomar conta do salão. Sara, que estava colada na parede quando a confusão tomou conta do lugar, conseguiu facilmente desviar das pessoas brigando para ir embora.

- Se divirta pai! – Ela gritou, quando passou por ele.

- Não fique fora até tarde. – Graves aconselhou, sem parar o que estava fazendo.(que era socar um dos seguranças do ruivo)

Depois de uma semana, ver Graves em brigas de bar se tornou algo comum. Ele sempre conseguia sair ileso, ou quase se você contasse alguns arranhões e roxos. Se a coisa ficasse feia, TF salvaria o amigo, ou se ficasse feio de verdade, Sara só precisava inflamar as faíscas de poder magico dentro dela. A mera presença da Invocadora era o suficiente para que ninguém se atrevesse a ir contra o que ela dizia. Felizmente, em nenhuma das vezes foi necessário Sara, ou mesmo Twisted Fate, interferir. Graves dava conta do recado.

Já do lado de fora da taverna, Sara viu o brutamontes que cuidava da porta começar a acordar. Ela o ajudou a se levantar, e deu o ombro como apoio para ele alcançar e se sentar em uma cadeira que estava colocada atrás da porta que ele deveria vigiar. Vendo que ele estava “seguro”, Sara se apressou a sair daquele beco imundo. Ela tinha até o final do dia para explorar o porto. Pacientemente, Sara encontrou seu caminho de volta para as docas.

Ela se demorou conversando com os vendedores ambulantes, de quem sempre acabava comprando pelo menos uma coisa. A jovem perguntava para eles sobre os navios e sobre as pessoas, sempre ficando muito feliz quando descobria algo novo. Um deles foi gentil o suficiente para explicar de onde eram varias das línguas diferentes que ela ouvia e até em explicar o valor de cambio dos diferentes tipos de dinheiro.

Sara comprou um retrato próprio de um desenhista, ouviu maravilhada uma banda tocar instrumentos que ela nunca havia visto antes e deu uma gorda gorjeta a um grupo de dançarinas que a ensinaram a dançar ao som de tambores. Ela até mesmo encontrou um comerciante de tabaco shuriname que jurava ter os melhores charutos do mundo e com toda certeza ela acabou comprando uma caixa dos mais caros para dar de presente a Graves. Já quando o mercado do porto começava a esvaziar, ela viu alguns homens de cabelo preto fazendo truques com cartas em troca de gorjetas. Curiosa, ela se aproximou de um deles e assistiu concentrada. Ela já havia visto aqueles truques mesmo que não se lembrasse onde, mas ainda era divertido. Com alegria, ela aplaudia ao fim de cada truque, para então ser surpreendida com o próximo. Infelizmente, o ilusionista que se apresentava para ela acabou errando o ultimo truque e ficou envergonhado de mais para continuar.

Agradecida, Sara deu algumas moedas de prata para ele, para pagar pelo entretenimento.

- Foi muito divertido. Pode por favor tentar o ultimo truque de novo?   

O homem pegou o dinheiro, igualmente agradecido e tentou o ultimo truque de novo. Mesmo não tendo conseguido faze-lo mais uma vez, Sara o aplaudiu pelo simples esforço. Não era como se ele fosse um mestre das cartas.

- Você é muito gentil. – Uma senhora agradeceu. – Meu filho é bom em muitas coisas, menos com as cartas.

A mulher tinha cabelos pretos, porem grisalhos e varias rugas de expressão. Ela sorria, como todos que Sara havia visto naquela pequena área do porto. Não era muito difícil perceber que todos eles eram de um único grupo já que estavam todos juntos e se vestiam de forma parecida. A senhora de sorriso simpático tirou o baralho das mãos do filho e com paciência o embaralhou. Ela ofereceu o baralho para Sara e sorrindo pediu:

- Escolha uma carta.

Sara, pensando ser o começo de mais um truque, puxou a carta mais ao fundo. Ela estava curiosa para o que aconteceria em seguida e se sentia acolhida pelo sorriso daquela senhora. A mulher puxou a mão de Sara e aumentou mais o sorriso ao ver a carta.

- Olhe só! Você é uma dama de paus. – A mulher falou em deleite. – Quer jantar conosco? Posso ler o seu futuro enquanto comemos.

Sara ainda tinha que jantar, então não custava nada aceitar o convite. Também seria bom fazer mais amigos. Aquelas pessoas eram muito simpáticas e ela definitivamente queria conhecer mais sobre eles. De todos as pessoas com quem ela havia conversado naquele dia aquela mulher parecia ser a mais sincera, mesmo não estando pedindo nenhuma quantia em troca do jantar.

-  Minha mãe é boa nisso. – O rapaz acrescentou quase de forma tímida.

- Aposto que sim. – Uma voz pronunciou atrás de Sara.

Ela olhou por cima do ombro, para ver Twisted Fate praticamente do lado dela.

- Olha! Eu sou uma dama de paus!- Sara anunciou alegre.

Ela mostrou a carta na própria mão para o amigo, animada com a reação que ele poderia ter. O olhar neutro que ele retribuiu, fez com que Sara se sentisse envergonhada. Ela estava agindo como uma criança eufórica e só havia percebido naquele momento.

- Se nos dão licença. – TF falou, segurando a aba do chapéu. – Não sou bem vindo aqui após o entardecer.

 Ele colocou algumas moedas de ouro no recipiente de gorjetas e deu as costas a senhora. Sara confusa, olhou o Mestre das Cartas dar alguns passos para longe. Ela entregou a carta que ainda estava em suas mãos para a senhora de sorriso simpático, que nem mesmo percebeu a ação dela. Ela olhava para Twisted Fate como se visse um fantasma, assim como seu filho que até pouco tempo fazia os truques. Sara tinha achado eles familiares, mas só havia descoberto o porque naquele momento. Eles eram ciganos. Nômades que viviam de porto em porto. Os barcos deles estavam atracados por ali, todos juntos. Era obvio que os truques de carta eram familiares, assim como os traços do rosto e os cabelos negros. Eles eram Serpentinos.

Sara deixou mãe e filho parados no mesmo lugar, se apressando para alcançar Twisted Fate. Tudo que ela havia comprado naquele dia a atrasava, mas ela alcançou o mago alguns metros dali. Ele estava indo para onde a caravela mercante estava atracada.

- TF!- Sara chamou.

Ele parou de andar, mas não se virou para trás. A garota parou do lado dele, aproveitando a pausa para recuperar o folego. TF pegou um dos pacotes de coisa que Sara havia comprado, para ajudar a garota a acompanhar seu ritmo de caminhada.

- Obrigada.  Realmente estava pesado. – A garota agradeceu. – Você está bem?

- Por que eu não estaria?

Ele voltou a andar, como se nada tivesse acontecido. Sara pensou em falar que se ele não estivesse legal estava tudo bem se abrir, que ele não deveria se sentir culpado pelo que aconteceu e também dizer que sentia muito, mas ele nunca havia dado intimidade para que ela falasse tal coisa.

- Eu só me preocupo com você. – Ela se obrigou a responder.

- Não preciso que se preocupem comigo.

Sara revirou os olhos, mas não falou mais nada. Os dois andaram em silencio até chegar na caravela mercante. Um dos tripulantes checou quem eles eram para depois dar permissão para subirem abordo. Sara iria ficar com uma cabine tão apertada que mal cabia a cama e um baú. Pelo menos ela teria alguma privacidade. Aquele era o único quarto que não era compartilhado em todo o navio.

Twisted Fate colocou o que ele levava sobre a cama da garota e saiu andando para fora, sem falar nada. Ele estava escondendo muito bem, mas Sara sabia que ele estava mal. Não era algo místico, como quando ela sabia que estavam tentando passa-la para trás, era só que ela realmente se importava o suficiente para perceber.

- Você estava só tentando protege-los. – Sara falou, antes que ele saísse.

O mago parou na porta e olhou para a garota, como se esperasse que ela falasse mais alguma coisa ou fingisse que não havia dito nada. Sara se sentou na cama, mas não quebrou o contato visual. A iniciativa deveria ser dele. Ela só estava ali para ouvir e o consolar, se ele quisesse. TF voltou para dentro da pequena cabine depois de um momento, fechando a porta atrás de si. Ainda bem que Graves não estava a bordo. Não ia acontecer nada dentro daquele quarto além de uma conversa, mas já seria o suficiente para ele jogar o mago para fora do navio.

- Tudo bem sentir saudades. – Sara acrescentou. – Não precisa esconder isso de mim.

- Eles nem mesmo olharam para trás. – TF compartilhou, quase que para si mesmo.

Ela sentiu o peito apertar ao ouvi-lo. Sara estava há pouco tempo longe de casa, mas sentia como se faltasse um pedaço de si por ainda não saber como voltar. O pior era que por ser nômade, Twisted Fate só havia conhecido o interior de um barco serpentino como lar. Não havia nenhuma paisagem que pudesse dar um pouco de conforto para ele, e não importava o que acontecesse, ele nunca poderia voltar. Aquilo deveria causar um enorme vazio na alma e ela não sabia o que dizer para consola-lo. Ela nem mesmo conseguia imaginar como era o que ele estava sentido naquele momento.

O mago se sentou nos pês da cama, tirando o baralho favorito do bolso. Ele começou a mover as cartas de uma mão para a outra, quase como se conversasse com elas.

- Aquela era minha mãe. – TF falou, ainda parecendo pensar alto.

Sara sentiu o coração se partir e um enorme impulso de o abraçar, para que ele não se sentisse sozinho, mas se manteve imóvel. Aqueles não eram apenas serpentinos, e por isso o faziam se lembrar do lar para o qual nunca mais poderia voltar, eram a família dele. A família que o exilou e deixou para trás quando ele ainda era só um garoto.

- Tão diferente de como eu me lembrava, mas era ela. Meu irmão continua sendo o mesmo idiota nas cartas. Isso explica muito bem porque ele ainda está solteiro.

- Eu fico aliviada em saber.

O mago levantou o olhar das cartas e fitou os olhos de Sara, confuso.

- De acordo com Graves, aquele ensopado horrível que você faz é receita da sua mãe e eu, inocente, estava prestes a aceitar o convite dela para jantar.

O mago se deixou rir mesmo que tristemente, deixando mais leve o coração de Sara. Ela não se lembrava quando, mas eles haviam se tornado amigos. Saber que podia aliviar nem que fosse um pouquinho a dor dele, já era o suficiente. Ela não poderia fazer com que os serpentinos o aceitassem de volta, nem com que ele conseguisse um novo lar, mas podia ser uma fonte de consolo sempre que ele precisasse. Tudo que ela queria realmente, tanto para TF quanto para ela, era voltar para casa.

O mago pareceu perceber alguma coisa. Com um verdadeiro flash, ele segurou com força o pulso de Sara. Ele tentou puxa-la para onde estava mas era tarde demais. Os dois sentiram o corpo perder o peso. A bolinha mágica, que estava dentro da bolsinha que Sara levava pendurada na cintura, começou a brilhar.

- O que está acontecendo? – O mago perguntou.

- Se prepare para cair. – Sara avisou.

O brilho descomunal da bolinha engoliu tudo ao redor deles, mas ela conseguia sentir o mago segurar seu pulso. Por um momento, ela deixou de sentir a cama em baixo de si, como se flutuasse, mas logo em seguida sentiu o corpo ser puxado pela gravidade. Com força, ela sentiu o corpo bater contra o chão. Dessa vez não havia nada para amortecer a queda. Ela tateou o chão onde havia caído, enquanto ouvia Twisted Fate se levantar. Aquilo era azulejo e ela conhecia muito bem aquela textura. Depois de esperar a visão voltar, Sara se colocou de pé e olhou em volta. Twisted Fate estava frente a ela, olhando tudo com extrema atenção, se demorando no gatinho preto que devorava sua comida ali perto. O toque de uma chamada para áudio conferencia preencheu o ar, assim como o cheiro de queijo derretido.

- Que lugar é esse? – O mago perguntou.

- Bom... Essa é a minha casa.


Notas Finais


Não sei se consegui passar bem o que o TF estava sentindo ou o que estava acontecendo com ele. De todo jeito fiquei feliz como o capitulo ficou e finalmente(!) vou começar a construir esse romance. Até a proxima :)


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