Ivie POV on
Acordo com os primeiros raios de sol perturbando meus olhos. Já era de manhã por sinal. Mas antes que pudesse abri-los, concentrei-me em me espreguiçar, tocando nos lençois e na cama. Percebo que estou sozinha nela.
Ivie- Rogue deve ter ido pro quarto dele assim que eu dormi.. - fiquei pensando
Estou me sentindo pesada, cansada e meus olhos doem. Reviro-me na cama, procurando uma posição melhor nela. Estou tão esgotada, mas por que será? Reflito um pouco e lembro-me que faz dias que não durmo bem pois tenho tido muitos pesadelos, e parecem sempre ser os mesmos.
Quando abro os olhos afim de encarar a realidade, percebo que tem algo meio estranho. Levanto-me e noto que realmente minhas suspeitas não eram infundadas. Eu não estava no quarto da mansão dos meninos Sakamaki. Não era nenhum dos quartos da casa, pois a aparência era completamente diferente e nostálgica. Estranhamente nostálgica.
Começo analisando o quarto onde estou. Há uma porta de vidro parcialmente coberta por uma cortina cor creme do lado direito, aparentemente ela dava para uma varanda iluminada pelo sol que havia me acordado, ao lado dela, encostada na parede está uma cômoda de madeira clara envernizada; no centro está a cama onde estou sentada, com lençois verdes musgo- muito espalhafatoso pro meu gosto, do lado esquerdo há um guarda roupa embutido da mesma cor que a cômoda ao lado da porta de vidro e uma poltroninha fofa quase ao lado da porta.
É tudo muito nostálgico, a sensação é que eu conheço esse lugar mas inutilmente tento me lembrar de onde. Ao me virar para descer da cama, meus olhos avistam algo que eu não tinha notado, um pequeno criado mudo do lado direito da cama, onde em cima repousa um porta retrato.
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Meu coração aperta na hora. Meus olhos não podem estar vendo isso direito. Pego o retrato com as mãos trêmulas e toco no rosto das pessoas da foto.
Ivie- Mãe... Pai... - sussurro
Abraço o objeto e sinto meu coração acelerar dolorosamente.
De repente escuto barulho de panelas. É fora do meu quarto. Hesito em olhar, mas novamente o barulho é ouvido e minha curiosidade torna-se maior. Deixo o porta retrato na cama e desço completamente dela. Saio do quarto e noto o corredor que aparece em minha frente, ele é iluminado e no fim dele parece haver uma escadaria pro que penso ser o andar de baixo.
Finalmente chego no tal andar e observo uma sala de estar simples, pequena e charmosa. O lustre é inteiro de vidro e grande. Fico maravilhada. Volto a escutar o barulho de panelas e sigo o som, até chegar na cozinha. Tem alguém de costas para mim, mexendo no fogão. Essa pessoa se vira e eu sinto ficar branca.
Ivie- Co-cor-nélio??- meu estômago embrulha e eu já me coloco em posição defensiva
Cornélio- Bom dia Ivie, já acordada? - ele sorri simpaticamente
Ivie- O que está acontecendo aqui? E... como está sem a cadeira de rodas?? - indaguei completamente confusa
Cornélio- Tudo ao seu tempo querida- ele sorri, colocando em um prato na mesa central, uma perfumada omelete
Ivie-Não sou sua querida e quero saber o que está have---
Sou interrompida por um pãozinho empurrado em minha boca. Fico desnorteada e mastigo o tal pãozinho. Era delicioso. Olho para o lado e dou de cara com um garoto em seus catorze anos. Um garoto estranho que eu sinto já ter visto em algum lugar.
- Está gostoso?
Ivie- Hmm.. Sim.. - tento dizer com a boca cheia
-Que bom! Pode tirar a outra fornada pra ela Cornélio! - anuncia o menino, feliz
Ivie- Que? - engulo o delicioso pãozinho- Não, espera, não--
-Está gostoso? - o menino está a centímetros de mim. Como ele chegou tão perto assim? E... por que ele está perguntando de novo?
Ivie- O que...? - sussurro
O menino tem uma cara assustadoramente feliz e curiosa. Ele fez a pergunta de novo.
De repente a porta da sala é aberta e uma voz feminina diz
-Voltamos!!
Duas pessoas entram na cozinha e meu coração para.
Minha voz para.
Na minha frente, uma mulher de cabelos negros estilo corte masculino, vestida com uma calça caque e uma camisa folgada branca; um homem com cabelos castanhos tão claros que parecem loiros, olhos verdes intensos e apaixonados dirigidos à mulher ao seu lado, e um sorriso espetacular. Eles chegaram com o que pareciam ser as compras do mês e com a ajuda de Cornélio e do garoto estranho, guardavam tudo. Eles riam, conversavam e sorriam um para o outro.
Eu quero gritar, eu quero andar, eu quero fazer QUALQUER COISA.
Ivie pensamento- Por favor corpo, se mexe, obedece por favor. Eu não sei quanto tempo vou ter ainda para olhar uma vez mais para ambos. Por favor..
Dizem que quando você não pode falar, seu corpo e coração falam por si próprios.
Dos meus olhos grossas lágrimas brotaram de uma vez e logo um rio caía deles. Minhas pernas perderam a única força que tinham e teria ido ao chão, não fosse um ombro que segurou meu braço e me deu apoio. Uma voz doce e calma me perguntou
-Heey, calma.. - disse serena
Foi nesse momento que todos olharam para mim. O casal me viu, sorriu serenamente e disse
-Oi meu amor, quanto tempo..
-Campeã, como você cresceu! Está linda igual sua mãe- me dirigiu o olhar que tinha dirigido a ela anteriormente
Ivie- Mãe... Pai... - sussurrei
Eles foram ao meu encontro e me abraçaram. Meu coração implodiu. Minha garganta doía tamanho o choro desesperado que saía dela. Meus olhos mal ficavam abertos, lágrimas saíam sem controle... Eu os apertava tanto... Só queria ficar mais um pouco assim. Sentindo eles me abraçando e os abraçando. Tendo o tempo com eles que me foi tirado.
Sentia que se os soltasse nunca mais teria a chance de tocá-los ou vê-los. Eu fiquei tanto tempo longe deles que havia me esquecido daqueles pequenos detalhes de suas feições, que sempre estiveram em minhas memórias, mas eu havia esquecido. Eu queria prolongar o tempo, aproveitá-lo, eternizar.
Minha mãe afagava meus cabelos e meu pai sussurrava no meu ouvido coisas como: "Você realmente ficou com os lindos cabelos da sua mãe...", "Minha pequena campeã", "Sempre tão forte".. Ficava cada vez mais dificil de soltá-los.
Ivie- Eu senti tanto a falta de vocês... Tanto..
Mãe- Eu sei meu amor.. E sei que você foi muito forte.
Pai- Precisamos que continue sendo forte desse jeitinho campeã. - beijou o topo dos meus cabelos
Eu soluçava.
Mãe- Que tal tomarmos um café da manhã juntos?
Eles se afastaram. Eu os agarrei, foi instintivo e bruto. Fiquei assustada quando notei o que havia feito e olhei para baixo.
Mãe- Nós não vamos embora meu amor.. - pegou minha mãe e segurou entre as suas
O toque dela era mais macio do que eu me lembrava. Ela soltou-as e andou até a mesa. Todos se sentaram, menos eu.
Ivie- É um sonho... não é? - indaguei sorrindo dolorosamente
Pai- E isso importa?
Apenas percebi que realmente não importava e que eu queria estar ali com eles. Só isso. A presença bizarra do menino e de Cornélio nem faziam mais diferença para mim.
Foi o café da manhã mais feliz da minha vida. Contei como estavam Amanda, Jorge, meus novos amigos, a minha formatura, minha profissão, viagens.. Tudo. Eles debateram essas diversas aventuras comigo. Eu me senti tão viva. Tão feliz... Foi o momento mais gratificante do mundo... Um ultimo suspiro que não pude ter com eles.
Mas não durou muito.
O menino que até agora estava quieto e sério, cuidadosamente pegou um pano e me estendeu.
Ivie-? Ah, obrigada.. - disse sem entender
Eu peguei o pano e notei que estava sujo.. De vermelho carmim..
Ivie- Sangue? - sussurrei
O menino mostrou as mãos e foi aí que eu vi. Ele estava apertando um pedaço de arame farpado. Ele sorriu macabramente para mim e eu levantei-me bruscamente.
-Sente- se querida Ivie..
Ivie- Você tem problema???
-Problema? HAHAHAHAH
Mãe- Querida, acalme-se por favor..
-Calada! - rugiu o menino
Fiquei indignada e o sangue me ferveu. Agarrei a gola do menino e o levantei da cadeira.
Ivie- Perdeu a noção da educação pirralho? - rosnei com raiva
-Ora.. Vejam quem está forte.. hahahaha Interessante. Você não era assim antigamente... Mas por favor.. - ele pegou na minha mão e apertou o arame. A dor me fez soltá-lo- Você vem me falar de educação, sério? Curioso... Você não lembra de mim.. E ainda me pergunta de educação.
Ivie- Lembrar?
Eu olhei-o nos olhos e ele sorriu.
Como se um filme passasse na minha cabeça, eu lembrei de uma vida passada, na minha realidade natal, lembrei de sentir medo, lembrei dos meus pesadelos...
Ivie- Adam...
Adam- Olá Ivie-chan - ele sorriu diabolicamente
Meus pais olharam para baixo, tristes. Cornélio manteve-se quieto, olhando para o prato vazio a sua frente. Adam pegou minha mão e me puxou para a cadeira, sem antes sentar nela ele mesmo e me fazer sentar-se em seu colo. Não, eu não precisava me movimentar muito para sentir o volume em que me sentei. Estava desagradável. Eu queria levantar, socá-lo, cuspir-lhe palavras rudes e xingamentos.
Adam- Mas você não vai conseguir..
Gelei por dentro. Vagarosamente virei minha cabeça e o olhei.
Ivie- Adam.. Você tinha morrido.. - disse num fio de voz
Adam- Bom, me parece que não - olhou para si mesmo
Pai- Ela continua sendo minha filha! Solte ela!
Adam- eu mandei vocês dois ficarem quietos!! - berrou
A mão que me segurava afrouxou e eu consegui me levantar. Adam me olhou com raiva, sorrindo nervosamente
Adam- Você sempre será minha Ivie, lembre-se, nascemos um para o outro!
Minha mãe surgiu do meu lado e pegou meu braço.
Eu só pude ver meu pai sendo segurado por Cornélio que chorava, impedindo meu pai de nos acompanhar. Minha mãe me puxava com sutileza.
Adam- Vocês duas! Voltem já aqui!
Pai- Corre filha, corre minha campeã! - ele disse
Olhei pra minha mãe, ela não estava mais lá.
Eu estava sozinha. Estava tudo escuro. Senti que flutuava.
Eu estava imersa em escuridão. Um negro sem fim. E parecia cair, mergulhada no nada.
Ouvi vozes.
Ivie- Lucy... - reconheci uma das vozes- Natsu- e outra..- Yui...
-Ivie...
Eu abri meus olhos e chamei
Ivie- Laito?
-Ivie!
Ivie- Rogue...
Mãe- Meu amor.. me escuta bem, eu tenho muito orgulho de você. Obrigada por ter sido uma filha tão boa.. - senti um beijo na testa- eu sei que você anda meio confusa, mas acredite em mim, tudo sempre tem um porquê.
Pai- Querida, as vezes as coisas ficam confusas, mas as peças vão se encaixar. Eu confio em você minha pequena campeã. Sempre confiei. - senti um abraço protetor
Eu não conseguia tocá-los, apenas sentir. Parecia estar num sono profundo.
Mãe- Você tem uma familia linda minha pequena.
Pai- Realmente muito linda.
-Lembre-se, estamos sempre com vocês! Nossos corações batem como um só..- uma voz agradável e próxima disse
A voz da pessoa que me segurou quando minhas pernas fraquejaram anteriormente, voltara. A voz que eu não encontrei em minhas memórias, mas sei que está por lá.
-E Ivie, por favor, dê lembranças minhas para minha irmã.. Fale que eu a amo muito e que sempre estou com ela.
Cabelos ruivos..
Ivie- FEL!!
Abro meus olhos.
Estava com a mão esticada para o teto.
Levantei num pulo e notei que havia voltado. Estava na cama da mansão dos meninos. Rogue estava sentado dormindo profundamente em uma cadeira ao lado da cama. Estava quase amanhecendo.
Ivie- Um sonho...
Toquei em meu rosto e percebi que estava completamente molhado.. de lágrimas.. meus olhos estavam inchados.
Ivie- Foi tão real.. - olhei para minhas mãos; meu coração apertou
Sinto um calor invadir meu peito e uma serenidade tomar conta de mim. Eu olhei pra cima e sorri entre novas lágrimas, quentes. Eu sabia que eles estavam conosco, sempre estiveram, e sempre estarão.
Ivie- Sim, tenho uma familia linda...
O dia nasceu.
Continua...
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