História Ayase Kira-Zonbi - Katana

- Já vou indo! - Respondi, logo depois me enrolei em uma toalha e fui em direção ao quarto. Após me secar me vesti e arrumei rapidamente duas bolsas, ambas com roupas e objetos de higiene pessoal.

Coloquei uma das mochilas nas costas e fui em direção a cozinha com a outra mochila nas mãos, me preparando psicologicamente para ver o corpo de Yomiyami-San podre novamente. 

- Ayato. - O chamei com a voz baixa. 

- Muito obrigada Ayase. - Ele me respondeu. - Deixa eu perguntar... Sabe empunhar um bastão de baseball? 

- Claro que sei! - Menti, mas no fundo eu realmente achava que era fácil sustentar aquilo com as mãos. 

- Então toma. - Ele me deu o bastão, era pesado e rígido, me arrependi de ter duvidado do peso de tal objeto. 

- O-Obrigada... 

Ele riu e mexeu nos cabelos, uma mania muito fofa por sinal. 

- Ayase-Chan, acha que seus conhecimentos sobre essas coisas vão nos ajudar?

- Olha, eu não prometo nada... Mas pelo que eu vi... ''Eles'' se guiam pelo som... 

- Ah... - Ele revirou os olhos enquanto ia desligar a TV da sala. - Isso explica... 

- Uh? 

- Eu tinha derrubado aquela frigideira... - Ayato apontou para o objeto sujo de sangue que agora estava largado na pia. - Alguns poucos minutos depois eu vi Yomiyama-San na porta dos fundos. - Nossa casa tinha uma saída pela cozinha, chamávamos de porta dos fundos porque.. Realmente ficava nos fundos da casa.  - E sabe que eu tenho o costume de deixar a porta da cozinha entreaberta em noites quentes.

- Ah sim... Mas.. Acho melhor sairmos daqui... Confesso que estou com um pouco de medo de ficarmos cercados por... Zumbis... 

- Mas não será mais arriscado?

- Eu tenho um bastão - Sorri. 

- Acho que terei de honrar meus ancestrais... - Ayato sorriu de canto e olhou para mim.

- Você não vai... 

- Sim, eu vou. 

Ayato foi as pressas em direção ao antigo quarto de nossos pais, eu já sabia o que ele ia fazer, acho que não era apenas eu que estava tendo o ''Surto do Herói''. 

Ele desceu cuidadosamente com a katana de nossos ancestrais nas mãos, não sabíamos a história daquele objeto e ele provavelmente deveria estar em péssimas condições para uso. 

- Todo protagonista inútil tem que ter um irmão foda? - Perguntei.

- Se julga protagonista dessa história? 

- Acho que sim... 

- Então aja como uma. - Ayato me estendeu a katana, senti minhas bochechas ruborizarem, mas aquilo provavelmente era mais leve que o bastão que eu segurava com certo esforço. 

- Certo. 

Trocamos os objetos, ele empunhava o bastão e eu a espada samurai, que dessa vez eu tinha certeza que eu a manejaria com melhor eficiência.

- Agora é só sair... - Ele disse, certamente preocupado, afinal, quem não estaria? 

Sinceramente, apenas faltava uma música dramática para que eu me sentisse em um anime Shounen. 

Para enrolarmos mais um pouco, saímos pela porta da frente e por fim...

Estávamos a um passo para encarar o mundo que estava beirando ao colapso. 

- Na cabeça, certo? - Ayato perguntou para sua certeza.

- Na cabeça. 

Estávamos em uma rua deserta e sombria, não parecia Tokyo, não tinha a ordem de Tokyo, o poste que iluminava a rua escura piscava, deixando o clima ainda mais sombrio, o silêncio chegava a ser constrangedor até mesmo para mim, o que me fez sentir um arrepio na espinha.

Começamos a caminhar, eu apertava o ornamento da katana com força, eu sabia que poderia me atrapalhar na hora de tirar a bainha da espada, mas eu tinha que tentar, estava segurando em minhas mãos anos de história da família Sakakibara.

E novamente escutei um grito.

Me virei para trás e vi uma moça correndo, arfando, ela parecia ter a mesma idade que eu e possuía uma estatura baixa, cabelos curtos e um rosto que emanava desespero.

- Me ajude! - Ela gritou, novamente eu senti um arrepio, definitivamente aquela garota não fez a coisa certa.

Ayato correu em direção dela, a moça desconhecida abraçou meu irmão, acho que poderia ser uma forma dela liberar o stress, vai-se lá saber o que a menina estava passando. 

- Não grita! - Ayato exclamou enquanto abraçava a garota, me aproximei dos dois com passos rápidos porem silenciosos. 

- Me desculpe... Me desculpe... - A garota pedia perdão entre soluços. - Eles estavam atrás de mim... 

- Calma moça. - Disse enquanto me aproximava. - Primeiro me diz... Qual o seu nome? 

Meu irmão deixou de abraçar a moça, que começou a limpar as lágrimas, logo ela respirou fundo e respondeu minha pergunta. 

- Yuko... Murasame Yuko. - Ela se curvou em referencia. 

- Sakakibara Ayato. - O menino também se curvou. 

- Sasakibara Ayase, - Me curvei por último. 

- M-Muito prazer mas creio que não estamos em horas para formalidades... - Murasame-San disse, e ela estava certa.

- Não deveria ter gritado. - Eu disse ríspida.

- Mas... Mas... Eles eram horríveis... Eles... Queriam me devorar... 

- Murasame-San, eles se atraem pelo som! - Dessa vez eu gritei, outro erro terrível.

- Ayase! Não fale assim com ela! Nem nós sabemos se isso é verdade! - Ayato me repreendeu, sinceramente, o fato dele estar sempre no meio termo, sempre justo, era irritante.

- Ela vai... - Minha fala foi parada por alguns passos, eram lentos.

Felizmente já sabíamos o que era dessa vez.

- Eles estão chegando... - Murasame-San sussurrou.

- Ayase... Tire a bainha, dê para Murasame. - Ayato me disse, O.K., era o certo a se fazer para eu não ser devorada na hora da ''verdade'', mas não me suportava a ideia de dar a bainha da katana de minha família para alguém desconhecido.

- Certo. - Por mais que me contrariasse, assim fiz.

A espada samurai estava lá, reluzente e brilhante, como se tivesse sido usada a poucos dias, sorri. 

Não havia mais a preocupação da katana perder sua qualidade em minhas mãos.

Os andantes se aproximavam, empunhei fortemente o objeto arcaico e esperava o momento certo para ceifar a cabeça deles. 

- Ayase! - Ayato chamou-me enquanto corria na direção dos zumbis, já havia entendido o que era para fazer e manejei a espada com extrema facilidade. 

Murasame observava nossos movimentos com perplexidade, as vezes gritava um ou outro ''Ayato-Kun cuidado'', mas eu mal podia perceber o que estava acontecendo, apenas ceifava a cabeça daquelas criaturas e via o resto do corpo caindo ao chão como marionetes largadas.

- Incrível! Ayase-Chan! -  A moça baixinha vinha em minha direção após termos acabado com ''algumas-muitas'' criaturas. - Você maneja a katana como uma Samurai! 

- O-Obrigada... Y-Yuko-Chan... - Corei enquanto respondia. 

- Ayato-Kun, você também foi incrível!

A garota estava tão animada que parecia que estávamos em uma apresentação, mas de alguma forma a energia positiva dela amoleceu meu coração que estava um tanto fechado para Murasame Yuko.

- Ayase-Chan... - Meu irmão me chamou calmamente. - Há alimentos aqui, certo?

- Não. 

- Como assim?!

- Achei que saquearíamos algum lugar. 

- Isso aqui não é uma série americana Ayase! 

Ri, mas no fundo me deu o famoso frio na barriga, eu realmente não pretendia morrer de fome.