[S/N On]
Pouco depois da noite na formatura, Young-Bae desapareceu como se tivesse morrido, e considerando a quantidade de notícias sobre o BIGBANG na mídia, presumi que esse fora mesmo o caso.
Por mais de dois dias após a formatura, não voltei a ver ninguém do BIGBANG. Até que vi alguém.
Me levantei do sofá aonde estava e fui olhar pela janela. Estava esperando a entrega do restaurante, morta de fome após um dia difícil como médica particular de Ayano. Ela estava com intoxicação alimentar desde a festa de formatura, e passava metade de sua vida no banheiro. A outra metade passava estirada na cama ou no sofá, reclamando de seu destino cruel.
— O que eu fiz para merecer isso? — Choramingou Ayano. — Meu namorado nem ao menos está aqui comigo enquanto eu estou morrendo.
Alguém bateu na porta, e eu me virei de costas para a janela.
— Finalmente. — Disse, andando rapidamente até a porta. — Preciso de carne com brócolis antes de ouvir mais lamentações.
Abri a porta, fazendo um bico, e me vi diante de um homem segurando um pequeno buquê de flores. SeungRi.
— Ei... — Ele engoliu a seco e tentou sorrir.
O próprio SeungRi que todos agora estavam considerando um monstro à minha porta. Eu não conseguia nem ao menos encará-lo.
Diferente de mim, SeungRi me olhava fixamente. Parecia hipnotizado pelo meu pijama. Me senti verdadeiramente ofendida. Não tinha convidado nenhum ex-namorado que me meteu chifre para julgar meu guarda-roupa. Nenhum homem que já teve a sorte de me ver com roupas de dormir reclamou.
— Não me lembro de ter encomendado nenhum babaca. — Bufei. — Foi definitivamente carne com brócolis. E você, Ayano? Você pediu algum babaca?
Abri mais a porta para que Ayano pudesse ver quem estava ali. SeungRi respirou fundo.
— Vim te parabenizar. — Ele pigarreou. — Aliás, Daesung-hyung mandou isso aqui para Ayano.
Ele me entregou o buquê, e eu entreguei para Ayano, que estava com um sorriso enorme. Ela leu o cartão em voz alta.
"Jagi~ Parabéns pela formatura! Não pude estar lá para te ver T.T. Sinto muito sua falta!
- D-LITE."
Ayano fingiu que iria desmaiar, e eu me virei para SeungRi. Admito que fiquei chateada ao ver que ele não tinha nenhum presente para mim. Eu devia gostar de sofrer.
— Eu tenho algo pra você também. — Disse, e retirou um pequeno embrulho do bolso. Era um pequeno anel de solitário ouro branco cravejado de diamantes, com um maior culminando no centro na forma de uma rosa. Sem pensar, ergui minha mão e mostrei o anel que Young-Bae havia me dado. SeungRi não se abalou. — É pra você. Pegue.
Estendi a mão, e SeungRi deixou o embrulho com o anel ali. Ele sorriu.
— Eu... Eu posso entrar?
Apertei a porta até minhas articulações ficarem brancas.
— Deixe-me pensar. — Respondi. — Não.
Fechei a porta, mas ao contrário do que eu pensava, SeungRi não foi embora. Ele suspirou, e eu virei de costas para a parede.
— Você não quer me ver, não é...?
— Não. Suma daqui. — Disse, com a voz trêmula.
— S/N, eu... Você sabe que eu não fiz nada do que os posts estão dizendo... — SeungRi também estava com a voz falha. — Eu juro que estou mudando, eu...
— Isso não me importa! — O interrompi. Ayano se sentou no sofá, me fitando. — Eu não quero saber! Você acabou comigo, acabou com a minha vida, e eu quero mais que você se foda! Eu queria tanto não me importar com você, mas merda, SeungRi! Eu te amo!
Por um momento, houve apenas silêncio, sendo interrompido pelo meu choro. Ultimamente eu estava me odiando por estar chorando por tudo, mas com o que estava acontecendo, eu não conseguia fazer outra coisa.
— E isso está me destruindo... — Solucei, e Ayano se arrastou do sofá para me abraçar. Sinalizei para que não se aproximasse.
Novamente, silêncio. Eu nem ao menos sabia se SeungRi ainda estava ali, até ouvi-lo tocar na porta.
— Eu... E-Eu nem ao menos sei o que dizer...
— Vá embora daqui. — Sibilei. — Vai embora, e me deixa em paz!
Corri para o quarto sem lhe dar uma chance de resposta, trancando a porta. Não me importava com Ayano, ou com SeungRi, com ninguém. Tudo o que eu queria era chorar e ficar sozinha. E aos poucos o sono veio vindo, me deixando descansar daquele dia terrível.
[…]
Eu acordei umas duas horas depois, com o rosto inchado de tanto chorar e os olhos ardendo. Ayano havia ido para algum lugar, com a intenção de me deixar sozinha para refletir, mesmo aquela sendo a sua casa. Eu amava aquela garota.
O entregador de comida veio, e alguém lhe pagou o pedido. Eu esperava não ter sido SeungRi. Peguei a embalagem com a carne e os brócolis e comecei a comer, normalmente eu comia bastante quando estava chateada.
Alguém bateu na porta novamente, e eu bufei, irritada. Só queria me recolher com a minha dor sozinha, sem ninguém para me atrapalhar. Mas acabaram batendo na porta de novo, e de novo, e mais uma vez até que eu perdi a paciência e fui atender.
Assim que abri a porta, fui surpreendida por uma Ayano animada e determinada, que nem parecia mais doente. Ergui uma sobrancelha.
— Que tipo de bruxaria japonesa você faz pra ficar assim tão disposta? — Franzi o cenho.
— Você nunca saberá. — Ayano disse, orgulhosa, e sorriu. — Que tal um passeio para acalmar os nervos, amiga?
A ideia não parecia ruim, mas eu estava tão sem cabeça para aquele tipo de coisa que nem me animei. Ayano não se importou, e ainda convidou mais duas garotas para irem conosco: nossas antigas colegas de classe, Eun-So e Hyeok. Juntas, nós fomos a um McDonald's, mas mais parecia que havíamos saído separadas do que juntas.
— Você ouviu falar do maknae do BIGBANG, SeungRi-oppa? — Perguntou Eun-So para Hyeok, num murmúrio.
— Deve ter sido horrível para aquela menina ter convivido com um homem daqueles. — Respondeu Hyeok.
— Ele deve estar tendo sonhos eróticos com ela nesse momento. — Eun-So bufou, e eu cerrei os punhos. Ayano segurou minha mão ao mesmo tempo em que uma mulher se levantou bruscamente de onde estava sentada - ao nosso lado - e saiu, esquecendo sua bolsa que parecia bastante cara. Quando prestei mais atenção, descobri que aquela mulher era na verdade Hyorin.
— Ela parece ser do tipo de pessoa que mora em Gangnam. — Disse Eun-So, dando de ombros.
— Que vaca. — Hyeok disparou.
Me levantei rapidamente, pegando a bolsa em mãos. Saí andando a passos rápidos, e Ayano se levantou.
— Aonde você vai?!
— Eu já volto! — Respondi, e saí do estabelecimento. — Hyo-... Unnie!
Saí correndo atrás da mais velha, até que ela parou de andar. Ela se aproximou, e pegou a bolsa da minha mão bruscamente. Eu imediatamente me arrependi de tentar fazer uma boa ação com aquela vaca, coisa que eu nem sabia porquê estava fazendo.
— Você deveria me ignorar em situações assim. — Disse Hyorin. — Eu odiaria ser vista na rua com alguém como você.
E se virou para ir embora novamente. Bufei, irritada.
— Espere aí! Eu só vim aqui para te entregar isso!
— Eu não te pedi pra fazer isso. — Hyorin não se virou. Perdi minha paciência.
— Qual é o seu problema?! Eu só queria tentar te ajudar, sua vaca! — Gritei mesmo, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam pela rua. Hyorin riu baixo e se virou para mim, andando na minha direção.
— Sabe, eu ia me encontrar com Young-Bae agora. — Disse. — Mas agora que vi que está aqui, vou mudar o encontro para outro lugar.
Virou-se novamente. Franzi o cenho.
— O que...?
Hyorin bufou, irritada, e voltou a andar na minha direção com passos pesados. Ela se aproximou de modo que pensei que fosse me abraçar.
— Fique longe do Young-Bae, estrangeira. Quando você vai deixar de querer roubar meu namorado?! — Perguntou, e tudo fez sentido. Ela havia visto sobre minha formatura.
O olhar de Hyorin fora até meu colar de ametista, e ela o puxou com força, causando um leve corte no meu pescoço. Fiz uma careta de dor.
— Isso deveria ser meu. — Hyorin sibilou. — Mas não. Ele deu a você. Vadiazinha.
Eu não estava com cabeça para aquilo, não naquele momento, então não aceitei aquela agressão calada.
— Engraçado, mas não me lembro de Young-Bae ter me dito que vocês tinham voltado. — Ergui uma sobrancelha. Hyorin não se aguentou e acabou desferindo um tapa no meu rosto, e eu cambaleei para trás. Hyorin riu baixo e me segurou pelo cabelo, me arremessando ao chão. Ela subiu em cima de mim e me estapeou novamente, fazendo pressão no meu peito, me deixando sem ar. Tentei tirá-la de cima de mim, mas não conseguia.
Várias pessoas pararam para observar a briga, e apenas duas tentaram tirar Hyorin de cima de mim. Foi quando ouvi a voz de Young-Bae ao longe, e Hyorin parou de me bater.
— VOCÊ ENLOUQUECEU?! — Gritou, retirando Hyorin de cima de mim rapidamente. Ela saiu cambaleando e Young-Bae veio até mim, desesperado. — Ei, você está bem?
Imediatamente os murmurinhos começaram pela "plateia": "Aquela é a Hyorin?", "O que Young-Bae-oppa está fazendo? Ele conhece aquela garota?".
— Oppa... — Hyorin choramingou.
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA SAIR BATENDO NELA ASSIM?! VOCÊ PIROU DE VEZ?! — Young-Bae surtou. — VAI EMBORA DAQUI AGORA!
— Mas...
— VAI! — Young-Bae vociferou, e Hyorin pegou sua bolsa, andando rapidamente. Ele então se ajoelhou ao meu lado e me abraçou. — Você está bem?
— Não. Eu não estou nada bem, Young-Bae! — Respondi, sentindo meus olhos arderem. — Minha vida está simplesmente um inferno!
Talvez eu tenha sido grossa demais; Young-Bae parou subitamente quando terminei de falar. Respirei fundo.
— Young-Bae, me desculpa. É que... Eu só... — Suspirei. — Eu só estou cansada. Cansada de tudo isso.
Ele retirou seu casaco e colocou em mim, me erguendo do chão. As pessoas que antes assistiam ao espetáculo aos poucos foram se dissipando. Young-Bae me guiou até seu carro e nós ficamos ali por um tempo, sem falar nem uma palavra sequer.
— Hyorin mudou muito. — Young-Bae resolveu quebrar o silêncio. — Ela... Eu juro, ela não era louca desse jeito quando a conheci. Era doce, divertida e muito compreensiva.
— Desde que a conheci, ela não vai com a minha cara. — Suspirei. — Nem sei por que resolvi devolver a bolsa. Aquela vadia podre não me ajudaria nem se eu pedisse.
Young-Bae ergueu uma sobrancelha, e eu pigarreei. Só então notei o que havia dito.
— Desculpa.
— É compreensível. — Young-Bae riu baixo.
Novamente, um silêncio constrangedor. Respirei fundo.
— Você estava certo. — Desviei o olhar.
— Como?
— Sobre SeungRi. Você estava certo sobre ele. — Minha voz falhou. — Eu me sinto uma idiota por não acreditar em você.
Young-Bae ficou com uma expressão perdida, como acontece quando alguém descobre algo tão estranho que o mundo inteiro parece irreconhecível. Ele então se virou para mim e se aproximou, encostando sua testa na minha, de modo que nossas bocas quase se encontraram. Ele respirou fundo.
— Era algo que vinha de dentro de mim. — Sussurrou ele. — Desde que eu te vi naquele fanmeeting, eu... Eu senti que deveria te proteger. E eu vou fazer isso, não importa o que aconteça. Por isso estava na formatura. Por isso estou aqui agora.
Prendi a respiração. Young-Bae segurou meu rosto, e o acariciou devagar, como se esperasse aquele momento há muito tempo.
— Eu te amo... — Ele sussurrou, e meu coração parou. — E eu me importo o suficiente com você pra te alertar... Pra te pedir... O SeungRi não vai mudar. Tire-o da sua vida. Por favor... Ele não vai mudar.
Abaixei o olhar, e respirei fundo. SeungRi deixou meu mundo por um fio, mas Young-Bae parecia estar disposto a construir outro mundo, alegre e novo, só para mim. Senti minha garganta arder. Young-Bae era tão bom... Por que eu não pude me apaixonar por ele?
— Eu admito que errei a forma que o tratei no começo. — Young-Bae voltou a sussurrar. — Posso conviver com isso. Mas, por favor... Eu não consigo te ver sofrer por ele. Não consigo te ver sofrer pelo que está acontecendo. Quero que seja outra pessoa. Sem ser liderada ou levada para o sofrimento por alguém. Quero que seja mais corajosa do que eu fui, mais forte do que eu fui e que não permita que ninguém além de você mesma decida seu futuro.
Young-Bae empalideceu, mas não derramou nenhuma lágrima. Dong Young-Bae não era o tipo de homem que chorava, não era o tipo de homem que desabava na frente de outras pessoas, ou o mundo já teria o destruído muito antes.
Young-Bae hesitou um instante, me segurando firme em seus braços, até que lenta e relutantemente, com movimentos quase desajeitados, se inclinou para frente num impulso descontrolado. Eu poderia tê-lo afastado, considerando tudo o que estava me assombrando naquela noite, mas não o fiz. Eu o beijei. E pegou fogo, como se Young-Bae estivesse há anos esperando por aquele momento.
— Bae... — Interrompi. — Não se envolva mais nisso. Por favor.
Young-Bae me encarou, confuso. Continuei.
— Eu te adoro demais para te ver se envolver mais nessa confusão. Saia enquanto há tempo. Eu... — Engoli a seco. — Eu não quero te ver afundar por minha causa ou por causa do SeungRi. Não quero te ver machucado. Me recuso a machucar seu coração.
Ele sorriu, um sorriso lento e alegre, e sussurrou:
— Pode machucar meu coração. Mil vezes, se desejar. — E então se aproximou. — Ele sempre foi seu para machucar como quiser.
[…]
Assim que chegamos no meu provisório apartamento, que eu estava dividindo com Ayano, eu balancei cabeça indicando para que Young-Bae entrasse. Ele negou com a cabeça.
— Então... — Ele disse. — Agora você já é formada. O que vai ser agora?
— Não sei. — Respondi com sinceridade. — Há tanto que eu posso fazer. Conseguir um emprego... E talvez voltar para casa.
Young-Bae parou e passou a mão pelos dreads, inquieto, mas sem deixar o sorriso sumir. Ele me fitou.
— Vai voltar, então?
— Provavelmente. — Dei de ombros. — Eu consertei o que fiz. Fiz o que tinha que fazer. Vi que nem tudo é um mar de rosas como imaginei que seria. Agora está na hora de ir.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.