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História Back 2 U (AM 01:27) - Capítulo 11 - Mad City


Escrita por: sichlng

Notas do Autor


oie!! nesse cap eu foquei bastante no pov. do youngho, assim dá pra entender melhor oq ele passou, eu deixei isso bem misterioso durante um tempinho mas vou agora revelar umas coisas xp boa leitura!!

Capítulo 11 - Capítulo 11 - Mad City


[POV. YOUNGHO]


Apesar do susto do dia anterior, eu e Ten havíamos conseguido arrumar uma maneira dele se acalmar pela cena horrível que havia presenciado. Eu, assim como ele, estava com medo do que a mãe estava passando. Nunca tinha conhecido uma sogra amável como ela, e meu medo de perdê-la, seja pra qualquer coisa, estava assim como o de Ten. Porém, priorizei o bem-estar dele, colocando-o a frente do meu e ignorando a mim mesmo, era uma forma de me distrair daquela coisa ruim e ao mesmo tempo, fazê-lo feliz. Por isso decidi, durante a manhã, não deixá-lo se esforçar muito. Preparei o café com amor, do jeito que a minha mãe costumava fazer nos Estados Unidos, repassando aquele carinho para começar o dia bem, e pareceu resolver, apesar do leve mau-humor que Chittaphon costumava ter durante a manhã. Mas continuava sendo adorável a forma em como ele insistia em tentar parecer bravo, mas era como um filhote de cachorro tentando morder. Isso me deixava feliz e calmo, ter um pequeno grande bebê como ele pra tomar conta, com certeza, era a pessoa na qual eu mais me importava durante a vida. Ainda que minha família costumasse ver certo problema naquele relacionamento, eu era capaz de enfrentá-los, ainda mais depois dos três anos que eu sumi. Me perguntava quando seria a hora de contar tudo que havia realmente acontecido para Ten, mas talvez esse momento certeiro demorasse a chegar, o que era ótimo, já que eu não queria vê-lo, de forma alguma, sofrer por minha causa. Enquanto estive sozinho, a única cena que se passava na minha cabeça foi a selvageria na qual ele tentava fechar a porta de sua casa, na minha cara, com o rosto totalmente vermelho de lágrimas. Ah, mas foi tanta melancolia pra mim... 


Chittaphon era na verdade, a única pessoa que eu tinha, desde que meus amigos também possuíam seus companheiros para lhes ajudar, então, estava sozinho. Ele havia me salvado da cúpula de horrores que me envolvia durante tanto tempo, e reconstruído o meu escudo, aguentando meu pai, a solidão, e a pressão de várias outras coisas. Apenas sentia vontade de protegê-lo nem que isso custasse a minha própria vida e com certeza eu faria isso. Seu sorriso era como o Sol pra mim, e seu olhar como a Lua. 


Voltando aquela manhã, início de mais um dia que não sabíamos a continuação, resolvi o colocar para lavar a louça, já que havia me sugerido que estava bem o bastante para fazer isso. Depois de uma provocação minha, nós acabamos guerreando com água e sabão e terminamos tudo em um banho quente juntos, que me levou aos céus. Ten costumava ser um garoto inocente, aliás, sempre foi, seu rosto se avermelhava com facilidade e tinha um jeito calmo, agradável. Sentir sua pele era maravilhoso, e não precisava de toques um pouco mais profundos para provar isso. Apesar de, como ele costumava dizer, eu ser um "tarado", ter seu sorriso na minha frente era incomparável aos seus gemidos afobados chamando pelo meu nome. Com certeza era. 


Talvez a festa de Mark tenha o feito tirar do fundo do baú algumas lembranças ruins, mas depois daquele dia, logo após chorar e vomitar muito por causa da bebida excessiva, fiz uma promessa comigo mesmo que poderia custar-me até a vida. Eu apenas não queria mais o ver sofrer tanto por um erro estúpido que eu fiz, já que foi como uma faca rasgando meu coração. Tomei cuidado para meus gestos, haviam muitas garotas e eu conhecia bem Mark, já que ele havia chamado amigas para tentar arrumar alguém para aquele amigo chinês do Jaehyun, e mesmo que os outros discordassem de mim, ainda pensava que aquela boca sorrindo timidamente  não estava interessada em beijar outros lábios femininos. Tinha certeza que pensavam como eu, mas só tinham talvez um pouco de receio em afirmar, já que o garoto havia voltado há pouco tempo pra Coreia e ninguém queria parecer indelicado como Taeyong. Infelizmente, indiretas não são comigo, e aquele chinês está só esperando aparecer alguém que o faça sair do armário. Se até comigo mesmo foi assim, com ele também poderia, até lhe passei meu número se precisasse de alguma ajuda.


Peguei um drink de blue-ice no open bar e reconheci de cara o homem que estava lá.


– Você... Não é aquele amigo do Ten...? Taeyang... Taeyeon... Qual era seu nome... – Falei pensativo depois de pedir o drink.


– Taeil. Sim, sou eu. 


– Waah, como você muda de emprego rápido. -ll Ele riu, me entregando o copo e colocando um canudo. Agradeci formalmente e voltei à roda de amigos, pegando as pernas de Ten e colocando sobre as minhas, já que eu amava encostar nelas, eram um dos detalhes que eu mais amava naquele tailandês.


Conversa vai e conversa vem, nós estávamos relembrando histórias e revelando podres meus para Chittaphon, já que ele era novato naquele grupo e meus amigos queriam me constranger na frente do meu "namorado". Mas eu apenas ria, não fazia mal ele conhecer um pouquinho mais de mim. As coisas piores, só eu sabia, para meu bem. Ainda no meio das risadas meu celular vibrou e eu recebi uma chamada inesperada do pai de Ten. Aquilo era um pouco estranho, e assim que atendi pude ouvir sua voz desesperada apenas implorando que eu voltasse pra casa para ajudar a mãe, que estava passando muito, muito, muito mal. Me levantei rapidamente sem dar alguma explicação plausível e corri em direção ao estacionamento. Mesmo que Ten insistisse que eu o levasse não tinha tempo, e fora um pedido do seu próprio pai. Pedi que o tailandês apenas esperasse ali perto, logo eu voltaria para buscá-lo.


"Youngho! Youngho!! Por favor, me ajude, o meu carro está sem gasolina e minha mulher está em estado crítico. Nos leve ao hospital!!"


Aquela fora uma das únicas vezes em que eu corri tanto, provavelmente tinha levado algumas boas multas, mas aquilo não importava naquela hora desesperadora. Chegando na casa simples da família de Ten ajudei o pai a levar a mulher até o carro e fui em direção ao hospital, mas o trânsito estava muito horrível e eu suando frio, contando o pouco tempo que nos restavam para salvar a vida daquela pessoa. Ela não poderia morrer em hipótese alguma, mas não havia saída aquela hora e aquilo fazia meu coração querer sair pela boca. Ainda que eu gritasse do lado de fora da janela, os motoristas pareciam ser surdos. As cores morreram, e percebi que a mãe havia parado de agonizar, o silêncio surgiu e pude ver o pai calado, chorando em silêncio colocando seu rosto sobre o peito da mulher e confirmando aquela coisa horrível. O trânsito abriu, para a infelicidade, já era tarde demais, e eu não pude conter centenas de lágrimas rolarem pelo meu rosto enquanto dirigia até o maldito hospiral. Ainda que meu orgulho impedisse-me de chorar muito, naquela situação era impossível daquilo não acontecer. Era muito triste, eu podia sentir a aura negativa ao nosso redor, apenas queria ter tido mais tempo e aberto todo aquele trânsito, talvez eu tivesse conseguido evitar. Me senti culpado, acima de tudo, a culpa era minha. Enquanto via alguns funcionários do hospital ajudarem o pai a tirar o corpo já não vivo da mãe, encostei a cabeça no banco do motorista e me permiti chorar alto, implorar aos deuses que aquilo não estivesse acontecido de verdade. Meu corpo doía, e eu pensava em como diria aquilo ao Ten, desesperava internamente por não saber que conjunto de palavras usar, a delicadeza que eu não tinha. Era tudo tão horrível e complicado. 


Permaneci durante dez minutos parado apenas me lamentando e certifiquei que meu rosto estivesse normal. Até peguei uma base líquida que tinha no carro, um pouco de corretivo, para tampar quaisquer vestígios que pudessem denunciar meus prantos. Saí dali calmamente, tentando ouvir alguma música, mas simplesmente não me acalmava. Mas, por Ten, segurei a mim mesmo por muito tempo. 


Chegando na rua da chácara eu vi um pequeno corpo caído na calçada. Me aproximei e logo concluí, era Chittaphon. Eu quis, de novo, chorar, mas por ele, prendi com todas as forças tudo o que quisesse soltar, saí rapidamente e o ajudei a se sentar no banco da frente. Seu nariz sangrava um pouco e as roupas estavam um pouco desfiadas, segundo ele, alguém havia tentado as tirar à força, tentado o estuprar de alguma forma. Acariciei seu rosto e ouvi do outro lado da rua algumas vozes bem familiares que fizeram meu rosto ferver. Muito.


Depois de ouvir as provocações fui andando calmamente até aquela gangue de rebeldes tão miserável e desgraçada, com sangue nos olhos e muito ódio. 


– Parece que você tá bem, não é? – Disse um deles. Fiquei calado, convencido de que não merecessem ouvir qualquer palavra vinda da minha boca. Mas não consegui.


– E o dinheiro, seu arrombado? Tá devendo fazem aaanos... - Disse o líder. Seu nome era Jiyong, um idiota qualquer viciado em roubar grana de qualquer pessoa, ele apenas queria sair bem dos seus calotes, mas nunca conseguiu comigo, já que sempre desconfiei do seu comportamento. – Um milhão de dólares... Não acha que isso é coisa demais pra acumular e enrolar tanto?


– Meu dinheiro nunca vai cair nas suas mãos, seu lixo. – Respondi ríspido e seco. Ele riu, enquanto ajeitava os cabelos alaranjados e vinha até mim.


– Ou o dinheiro, ou a vida do seu namorado tailandês. – Cruzou os braços. Olhei pra trás para olhar Ten, dentro do carro, tentando se confortar. – Te garanto que meus capangas não são uma barra fácil de segurar.


– A vida de Chittaphon, nunca... – Dei um passo mais à frente e encarei seu rosto mais de perto. – Acho que você quis dizer, ou o dinheiro, ou a MINHA vida... – Jinyoung riu debochado, estourando o chiclete que mascava.


– Vamos resolver isso agora, então. - Os capangas começaram a entrar em um amontado de árvores logo ao nosso lado. Me senti um pouco receoso por entrar ali e acabar me vendo em uma emboscada, mas em suma eu tinha certa noção do que fazer no meio de tantos homens, provavelmente armados com armas brancas. Com certeza, estava um nível acima daquele conhecimento amador de qualquer gangue de beco. E logo nós estávamos em um círculo, com pelo menos seis caras apontando suas facas Butterfly para mim. Cruzei os braços.


– Vocês não estão meio ultrapassados? – E saquei uma revólver prateada. – Deviam atualizar seus conceitos.


– Esqueça. Nós estamos em mais quantidade. – Disse um deles.


– Beleza. Venham. – Continuei calmo e assim que os seis avançaram pra cima pude detê-los com alguns golpes de luta e coronhadas com a arma. Apenas sobrava Jiyoung, que continuou quieto, sorrindo sarcástico e aplaudindo. Chutei alguns caras que estavam no meu caminho até o líder e apontei para ele também. – Basta.


– Pfff... Óbvio que basta. Uma pena seu namorado não saber o quanto você deve. E o motivo...


– Cala essa boca. Bandido de merda.


– Seu antigo colega...


– Não quero ter que te matar... Song Jiyoung. 


– A morte vai julgar quem ganha... – Graças ao meu reflexo rápido consegui desviar da investida que ele tentava dar para me atingir. Houve outrora em que um corte grande foi aberto na minha barriga, apesar de não ser profundo a ponto de me imobilizar, estava sangrando e doendo. Consegui tirar a arma de sua mão e prendê-lo ao chão, com a revólver apontada diretamente para seu rosto. Eu estava ofegante, mas qualquer momento de desconcentração poderia ser fatal para mim.


– Um movimento e eu te mato. – Falei, concentrando meu olhar para ele, que sorria tão debochado.


– Aperta o gatilho. Vai conseguir conviver com seu namorado sabendo que matou uma pessoa, sem ele saber...? Não só uma mas várias.


–Cala boca. Não fala mais nada! Vou atirar! – Senti os olhos afogarem em lágrimas relembrando o passado que Jiyoung especulava. Era difícil de todas as formas segurar aquele peso dentro de mim, das vidas que precisei acabar pra voltar e poder viver normalmente. – Seu desgraçado dos infernos...


– É difícil né? Aqueles colegas que você criou intimidade, os irmãos deles... Até mesmo o seu... –Atirei. Terminei com aquilo. Jiyoung agora não passava de um peso morto, para minha vitória, ou derrota. Já que havia jurado que nunca mais mataria alguém. Levantei do chão, o silenciador da arma e a distância que estávamos da rua fora suficiente pra que não chamasse muita atenção. Meu corte doía, e sujei a manga da blusa quando coloquei a mão sobre a ferida, mas não havia notado a mancha. Apenas peguei uma camisa de qualquer inconsciente ali, vesti e reoloquei a blusa de frio por cima. Guardei minha revólver em algum lugar discreto dentro da roupa e voltei para o carro.


– Youngho hyung... – Ten começou enquanto me organizava para sair. – Você é o meu herói. – Sorri pouco e lhe passei a mão nos cabelos. Era gratificante ouvir aquelas palavras depois do esforço enorme que havia feito apenas para salvar sua vida. Eu não sentia meu coração, já que ele estava inteiramente despedaçado, eu só queria chegar em casa para poder falar logo tudo o que tinha de falar, chorar bastante e liberar todas aquelas mágoas que consumiam a minha alma aos poucos. Era horrível ter de forçar alguma coisa ainda que por dentro, estivsse morto.


– Não fale essas coisas... Vamos pra casa. – Falei, encaixando a chave para ligar o carro. Ten se virou para mim e deu uma rápida olhada na minha blusa, pareceu notar algo.


– O que é isso? – Ele apontou para uma mancha avermelhada na manga, me lembrei rapidamente do machucado que estava escondendo e empurrei sua mão. Chittaphon não poderia de forma alguma descobrir o que havia acontecido.


– Ah, não é nada. Devo ter derrubado alguma bebida.


Chegando em casa, deixei uma água fervendo na cozinha enquanto subia rapidamente para o banheiro dos pais de Ten, ciente de que havia uma caixa de primeiros socorros ali e fiz um curativo com pressa. Coloquei a roupa que estava usando para lavar e vesti alguma outra coisa mais confortável.  Chittaphon estava na sala, encolhido. A água estava no ponto, então fiz um chá que pudesse o acalmar. Ele iria precisar.


Ainda que eu tentasse cuspir as palavras da minha boca de uma vez eu não consegui. Sentimentos de culpa, arrependimento, tristeza vinham à tona e me embolavam, comecei a querer engasgar no próprio choro e apenas desejava falar o que tinha rápido. A medida que as palavras saíam Ten parecia entender ainda mais o recado, eu o vi daquela forma dolorosa de novo, o vi sofrer e a culpa era minha, de novo. Sentia como se estivesse levando tiros no peito à cada lágrima dele que caía em cima da minha mão, que aconchegava as suas. Era horrível, meu maior sonho naquela hora se tornou poder trazer os momentos felizes de volta. Daria a minha vida para ver o sorriso de Ten, mas naquela hora era impossível o fazer feliz, nem que eu lhe entregasse meu coração em mãos. O puxei para meus braços, na tentativa de afobar seu sofrimento, puxar tudo aquilo de ruim pra dentro de mim, tirar a energia negativa de sua cúpula. Se eu pudesse, tomaria tudo aquilo que estava sentindo agora, apenas para o ver feliz de novo.


A noite caía. O pai do Ten não voltaria pra casa e éramos apenas eu e o pequeno tailandês. Arrumei a cama de seus pais para que ele dormisse enquanto tomava um banho na banheira, que também preparei. Depois de terminar, fui desci até a cozinha e peguei qualquer cartela de remédio para poder pegar no sono. Subi as escadas e no quarto, Chittaphon estava sentado balançando as pernas e olhando a janela, ele havia arrumado essa mania de admirar o céu e acredito que agora tenha mais motivos pra isso.


Cheguei devagar e o abracei por trás suavemente, lhe dando um beijo carinhoso na bochecha. Mas ele continuava expressando a melancolia, aquilo me contaminava. Senti o coração acender um pouco quando Ten se virou para mim, ele sorriu um pouco e fez carinho no meu cabelo.


– Não force sorrisos. Isso dói. – Indaguei sem o tirar dos meus braços.


– Não estou forçando... Você me faz feliz até nas piores horas...


– Bom saber disso. Não se esforce muito, TenTen... – Suspirei. – Vou estar aqui independente do que aconteça. – Chittaphon se virou para mim e continuou direcionando seus olhos brilhantes ao meu rosto. Aquilo, de alguma forma, me fez ficar vermelho. Era como se fosse anos atrás, porém ao contrário. Estava vulnerável.


– Eu sei disso... Aliás, você é o meu herói. – Sorri tímido e escondi meu rosto entre sua cabeça. 


- Aish... Essas palavras mexem comigo, não as diga assim.


- Cada dia mais eu descubro como te deixar envergonhado... Isso é bom. - Levantei a cabeça e lhe beijei os lábios.  Me sentia sonolento por conta da medicação. Ten pareceu entender, me acomodou dentro de um monte de travesseiros e cobertores, mas me recusei a pegar no sono até que eu pudesse o ter dentro dos meus braços para garantir que dormiria confortável. 


...


Não tinha ideia de quanto tempo havia passado, apenas me lamentei pela porcaria do remédio não ter sido eficaz e procurei por Ten, mas a cama estava vazia. Levantei rapidamente e procurei por todos os cantos da casa, até ver a porta aberta. Eu estava apenas usando uma camiseta e uma bermuda finas e o frio estava horrível, mas aquilo realmente não importava agora, já que havia mil e uma besteiras que Chittaphon poderia estar fazendo agora. Apanhei as chaves do meu carro sobre a mesa e saí correndo por toda Seul.


{POV. TEN}


O vento estava soprando forte e meu cabelo voando na mesma direção. Aos poucos sentia meus braços ficarem fracos e meus dedos soltarem das barras. Meus olhos fechavam devagar. Pensei que iria cair naquela água profunda e vazia mas senti braços segurando meu corpo pesado. Suspirei... Olhei para aquelas mãos, reconhecíveis.


– Youngho... Eu preciso ir. – Falei baixo, sem me interessar muito em deixar as palavras saírem da boca. Isso só o fez me apertar ainda mais e mesmo que insistisse, fui obrigado a sair de onde estava. Youngho chorava e implorava que não fizesse aquilo, mas, literalmente, não havia sido uma escola, apenas tive uns devaneios e fui parar ali. Mas minha mente perturbada fez-me pensar que fosse melhor, quase me levando pra vala. Segurei seu rosto vermelho pelos prantos e beijei seus lábios de modo suave. 


– Quantas vezes vou precisar dizer... Que você é o meu herói? – Perguntei. Youngho limpou seu rosro, e eu percebi que ele não vestia agasalhos, o obriguei a ir para o carro e ligar o aquecedor.


– Ten... Eu sei que as coisas não acabaram bem. – Johnny começou a falar com o pulso apoiado no volante. – Mas... Acredite, tudo está pior pra mim. Eu não quero menosprezar o seu sentimento, porém... Sem você eu não tenho razão pra continuar. 


– Me desculpa se te preocupei... 


– Você quase me matou do coração. - Ele riu, mas no fundo nós dois sabíamos que o susto que havia levado com certeza não tinha sido agradável. Me senti horrível por ter feito isso com ele e deixado minha mente me levar mais longe do que eu pensei. Continuamos em silêncio no carro, lá fora estava vazio, já que a madrugada espantava as pessoas de saírem na rua. 


– Obrigado por ter se preocupado, Johnny.


– Vamos pra casa agora. – E lá fomos nós. As luzes da residência estavam todas acesas, ele deve ter saído com tanta pressa que mal preocupou em desligar. Fiquei com um pouco de pena... Devagar, apagava uma por uma, até subir as escadas de novo e ir para o quarto. Chegando lá, Youngho havia capotado sobre o colchão, parecia exausto. Engatinhei na superfície macia e me sentei no seu colo, deitando sobre seu corpo e entrelaçando nossos dedos das mãos.


{POV. YOUNGHO}


Depois da madugada amedrontadora, consegui salvar Ten de um poço sem fundo. Pra falar a verdade, enquanto dirigia aquele maldito carro tentava criar em minha mente imagens da minha vida sem ele, não consegui. Meu coração até bateu mais devagar quando pudemos dormir juntos de novo.


Dia seguinte, Mark me ligou durante o almoço para tentar entender o que havia acontecido. Doeu um pouco para lhe explicar tudo, mas no fim meu amigo pareceu mais aliviado. 


Mas minha mente continuava perturbada. Havia largado aquele revólver debaixo da cama de Ten e estava sem um lugar para colocá-la. As palavras de Jiyoung se estampavam em qualquer lugar e passei a me tornar, aos poucos, uma pessoa fechada e com medo. Durante a tarde o tailandês retornou para casa e eu estava vendo um programa qualquer na TV, ele veio até mim, deixou seu casaco sobre o outro sofá e me deu um beijo. Continuava abalado, ainda que não parecesse muito, era fácil encontrá-lo deprimido em períodos pequenos de tempo. Uma criança que estava sob meus cuidados agora, enquanto Doyoung não retornava de viagem logo, eu era o responsável por manter Ten saudável. Um rapaz bom, alegre e que se preocupa com os outros, mas que sofre tanto... Penso se em parte sou culpado por isso. Talvez seja. Mas se ele está comigo até hoje, devo o fazer mais feliz do que triste.


– J-Johnny... – Ele me cutucou e chamou minha atenção. Chittaphon estava vestindo uma blusa branca bem grande, nada mais, apenas sua roupa de baixo. Parecia assustado. – Vem aqui comigo. – Apanhou minha mão e subimos até o quarto. Sobre a cama, uma revólver prateada. Era a minha, e senti o sangue gelar com aquilo. Passei a mão sobre a nuca nervoso, enquanto Ten me encarava ainda com medo.


– Não sei... Onde posso guardar isso? – Perguntei pegando aquela arma de fogo, ainda suja de sangue e ele se encolheu ainda mais aterrorizado. – Não vou atirar em você, besta.


– Seria mais fácil se levasse isso a alguma delegacia...? – De forma alguma. Suspirei profundo e coloquei em uma gaveta, bem no fundo, por baixo das roupas.


– Não mexa nisso. Eu levo embora depois. – Falei e virei as costas, preparado pra sair do quarto.


– Johnny... Essa arma... É sua? – Ten perguntou baixo. Voltei a olhá-lo, estava intimidado. Fui até seu encontro e acariciei seu rosto, segurei suas mãos, até então trêmulas.


– Ainda que seja... Não vou a usar contra você em momento algum. 


– Mas você a usou contra alguém! Está suja. Não acredito que seja esse tipo de pessoa. – Sua respiração perdia o controle. Sabia disso pois Ten estava arfando. Tentei o acalmar.


– Talvez tenha sido justo se esse alguém estava ameaçando as nossas vidas, Ten.

  

– Mas ainda sim eram vidas... – Pareceu perceber que insistir muito não me faria mudar de ideia, muito menos reviver aquelas pessoas. Ainda imóvel, completou. – Apenas prometa que não irá usar isso. – Lhe beijei a testa e prometi, cruzando nossos dedos mindinhos. Chittaphon sorriu pouco, mas não senti sinceridade. Ainda sim, era melhor que o ver assustado por minha causa. – Onde conseguiu isso, aliás?


– É uma longa história. Talvez um dia eu te conte. Não é algo pra se falar agora.

– Você disse a mesma coisa quando surgiu de novo e até hoje não sei de nada. Não me faça esperar de novo... – Respirei fundo.


– No dia do acidente...


...


– Ei, você está bem? – Perguntou um garotinho loiro à minha frente. Eu estava dentro de uma cabana, no meio de um campo. 


– Mas... Que merda...


– Ele xingou!! – Disse o loiro e bateram na minha cabeça com um jornal. Era outro menino, os dois pequenos, fiquei encarando ambos confuso.


– Quem são vocês...?


– Meu nome é Jisung e esse é meu irmão Chenle... Na verdade nem tanto, ele é chinês. – O outro me cumprimentou, parecia tímido. Eram fofos, mas logo depois descobri que estava na verdade em um campo de treinamento, aleatoriamente. – O sunbae tem que saber que o... Ah...


– Youngho...


– Que o Youngho acordou. Vá, Chenle. – Jisung ordenou o outro a ir e ficamos apenas eu e o jovem lá. – Bem-vindo à base.


– Que...?


– Ah eu te achei caído por aí e te trouxe. Estávamos precisando de alguns recrutas. Eles costumam treinar para combate à gangues de beco. – Assenti com a cabeça. Era interessante. 


– Você mexe com armas aqui, Jisung?


– Ah, não. – O garotinho sorriu. – Mas é que os sunbaes nos adotaram. Eu e Chenle fomos abandonados pelos nossos pais e... 


– Sinto muito... – Um homem de estatura alta e bom físico adentrou a cabana em que estávamos. Jisung lhe fez uma reverência formal e eu também, desde que parecia alguém importante naquele lugar. Recebi do chinês algumas mudas de roupa e encarei estranho o líder.


– Você será um de nós agora. – Disse sério.


– Mas e se eu não estiver interessado? – Retruquei.


– Então simplesmente saia deste fim do mundo sem nada, passe fome, frio, e tudo de pior sozinho. Nós não ligamos. – Suspirei e peguei as vestimentas das mãos pequenas de Chenle, procurei algum lugar pra me trocar. Eu estava machucado, só não pior pois com certeza havia recebido cuidados dos garotos. Também tive de ouvir instruções.


Não havia realmente uma forma eficaz de tentar sair dali, já que eu não fazia ideia de onde estava e seria melhor receber todos esses cuidados até que um dia pudesse estar ciente de como me mandaria dali. Fora muito, muito tempo treinando, arriscando-me durante algumas intrigas. Mas em suma era algo que passei a aprender a gostar, mesmo que inicialmente não tivesse interesse nesse tipo de coisa, minha justiça, que antes era no tribunal, agora se tornava apenas matar criminosos que causassem problemas. Com o tempo, passei a esquecer minha antiga vida, como se tivesse começado tudo do zero, me acostumar com aquele ambiente diferente. 


Houve um dia em que as coisas estavam piores. Meu posicionamento estava ótimo e eu era um atirador de precisão, sempre chamado para os casos mais pesados, recebido com honra. Em uma manhã calma, que eu ensinava algumas coisas sobre a natureza à Jisung e Chenle, alguns disparos puderam ser ouvidos do nosso campo. Aquilo não era normal, tendo em vista que estávamos isolados e camuflados das cidades maiores, tentei me aproximar, mas sempre protegendo os dois mais novos atrás de mim, indefesos por não terem um treinamento até então. De longe, via uma pessoa familiar, o cabelo alaranjado totalmente indiscreto e o olhar afiado daquele desgraçado. Uma breve troca de tiros depois, aquela gangue se rendeu, mas eu tinha certeza que se não fosse a falta de balas nas armas, aquilo poderia durar o dia todo. Como um dos principais líderes e representantes do nosso campo, fui até a frente junto do sargento Mike, aquele mesmo que me recebeu no primeiro dia de estadia ali. Jiyoung sorriu pela minha presença.


– Youngho... Não esperava te encontrar aqui. – Disse.


– Mete o pé, Jiyoung. – Respondi ríspido. –  Ou a gente vai fazer isso por você.


– Você não tem coragem sequer de fazer mal a uma mosca... – Ele o palito de madeira de sua boca. – Não sei como sobrevive aqui. Mas veja, nós temos um acordo... - Um de seus capangas me entregou uma carta. Dizia-se, em negrito e tamanho aumentado.


''Sacrifício pela paz.''


– Até parece... – Ri debochado. – Não aceitamos.

– Vá. – Disse o líder, me empurrando. Por alguns minutos pensei que ele estivesse fazendo brincadeiras fora de hora. Mas era sério, estava sacrificando seu melhor atirador para um homem que nunca havia conhecido. Eu sabia as intenções de Jiyoung melhor do que qualquer um, e ainda sim tive de ver todos os outros concordarem com sua opinião. Com exceção de Jisung e Chenle, que estavam chorando por minha ''partida''. Abaixei para falar com os dois por um instante.


"Esperem por mim, quando eu me livrar disso, tiro vocês daqui e compro quanto doce vocês quiserem."


Sorriram, ainda que estivessem tristes. Abracei forte ambos, era como um pai se despedindo dos filhos para servir ao exército.


Cheguei à frente de Jiyoung, eu sabia suas intenções. Com certeza ele não veio aqui simplesmente para "pregar paz", mas sim, queria me pegar. Esse desgraçado era ligado nas coisas, e sempre conseguia o que queria.


Ao chegar no galpão sujo, me prenderam em uma corrente sem nexo algum. Já esperava aquela armadilha, apenas não queria crer que havia sido traído pelo meu superior tão estupidamente. Vieram alguns capangas de Jiyoung para me agredir de maneira covarde, a ponto de me fazer cuspir sangue no chão enquanto jogavam baldes de água fria na cara. Uma tortura durante muito tempo, fui deixado com mais alguns caras dentro de uma cela, compartilhando histórias. Havia um cara que ficava tomando conta dos reféns, por um descuido conseguimos sair dali e fugir. Usei o que havia aprendido no meu campo durante uma chuva de tiros e sangue, ainda que um de meus colegas tivesse perdido a vida, e matar tantos caras inocentes e novatos naquilo, manipulados por Jiyoung à procura de um rumo. Tentei poupar alguns, mas não fora possível, e saí daquele lugar com lágrimas nos olhos e o coração nas mãos. 


Eu já sabia o que acontecia ali, aliás, era uma das coisas que mais conhecia. Aquela gangue havia sido minha família quando eu era jovem, uma coisa boba de adolescentes de treze à dezessete anos, pegar o dinheiro de nerds deslocados e espiar o vestuário feminino, mas Jiyoung pareceu nunca aceitar minha saída, desde que éramos melhores amigos. Nunca entrou na sua cabeça que eu havia não só me tornado um rapaz justo e de direito, influenciado pelo meu pai, como também já não me interessava mais em espiar garotas semi-nuas com ele. Eu gostava de Taeyong. Depois disso, eu arrumei uma forma de voltar ao meu antigo ao chegar lá não pareci ter sido muito bem recebido. Tive de matar meu antigo líder, mas resgatei Jisung e Chenle, e assim pude arrumar uma maneira de voltar para Seul, saqueando alguns caras e pegamos um ônibus até aqui. Eu não podia cuidar dos dois sozinho, deixei ambos com Taeyong e Jaehyun. Me sentia ansioso, já que quanto mais me aproximava da liberdade, me lembrava do Ten. Todas as noites perguntava como meu namorado estava, mesmo que provavelmente, me odiando. 


Foi assim então que eu voltei, e foi um caminho tão sofrido, que basicamente foi como se eu tivesse voltado da morte, de verdade...







Notas Finais


peço desculpas por qualquer errinho, já que terminei de escrever e postei morrendo de sono, então pode acontecer de ter algum probleminha. Por favor, me avisem se sim!! Obrigada pela leitura ♡


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