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História BACK TO BACK: About A Girl - Fire meet Gasoline


Escrita por: FinnSkada

Notas do Autor


Oi gente, tudo bem com vocês?
A música desse capítulo é
Black Sheep - Metric

Boa leitura!

Capítulo 2 - Fire meet Gasoline


Fanfic / Fanfiction BACK TO BACK: About A Girl - Fire meet Gasoline

 

-É, Michael Wheeler... – Senti como se ele tivesse lido meus pensamentos, mas ele não deu muita importância para isso e deu uma garfada funda na marmita de alumínio.

-Mas Mike... Mike não é seu amigo?

Dustin interrompeu seu mastigar dedicado para me olhar com olhos arregalados e incrédulos. Eu não sei por que aquilo saiu da minha boca, mas saiu certo, como se eu tivesse vivenciado isso, eu quase podia sentir a sensação escapando pelos dedos, como areia fina em meio ao vento.

-Como você sabe?

-Eu só...

-Bom, é uma longa história... Mas já vi que você gosta de histórias – Ele piscou pra mim – Mike, eu e outros dois garotos éramos amigos... Nós éramos zoados pelo idiota do Troy e outros garotos, porque não éramos... – Ele pareceu procurar uma boa palavra, mas acho que ele não encontrou.

-Entendo o que quer dizer... – Raspei a borda da tigela de mingau, não queria olhar nos olhos dele.

-Enfim, tudo era legal, fora isso. Sempre ganhávamos prêmios nas feiras de ciências, íamos juntos ao cinema e todas essas coisas... Mas um dia, Mike completou treze anos...

Não sei como definir a expressão que se formou no rosto de Dustin... Algo como uma sombra, como se ele tivesse um enorme fardo nos ombros, não sei. Na minha humilde concepção, cada um que morava em Hawkins tinha um pouco disso, um pesar esquisito, como um luto silencioso. Um luto sem rosto. Um monstro sem face.

-Mike completou treze anos, e? – Forcei.

-Ele ficou estranho, muito estranho... Acho que ouvia algo como vozes, uma coisa assim... Ele dizia que tinha alguma coisa faltando, uma coisa acontecendo, parecia que tinha enlouquecido totalmente... Ele entrou em depressão, teve uns surtos... Isso foi perto do fim. Mike ficou louco e se isolou de todos nós. Aí ele saiu da cidade, um colégio interno, uma ala psiquiátrica, não sei... Não sei pra onde ele foi...

-E o fim?  

-Bem – Ele deu um sorriso triste – Ele voltou mais esquisito ainda. Queria procurar por uma coisa, que nem ele mesmo sabia o que era... Nós tentamos ajudar, mas não sabíamos o que estava se passando na cabeça dele. – Ele respirou fundo – Hoje tenho dezoito anos. Devia estar na faculdade... Você tem dezesseis né?

-Eu sou adiantada – Respondi, sem graça – Mas porque vocês ainda estão aqui?

Dustin pareceu aproveitar que eu comecei a falar para enfiar uma garfada gordurosa na boca. Ele fez sinal que eu esperasse ele esperar de mastigar, e eu assenti ansiosa.

-Mike iria reprovar. Então nós três, eu, Lucas e Will – Eu não os conhecia, mas era como se eu soubesse que tinham sido eles o tempo todo, Dustin não precisaria ter me dito – Tentamos burlar a segurança e mudar os boletins, fomos pegos...

-E Mike?

-Ele ia reprovar de qualquer forma... Achamos que ele não poderia ficar mais distante de nós, ele estava louco mesmo. Mas ele ficou, mesmo reprovando todos juntos, ele ficou. Um dia cheguei a escola e ele estava usando jaquetas rasgadas e andando com Troy, basicamente foi isso...

-E agora ele implica com você? – Arrisquei.

-Não... – Ele pareceu pensar um pouco, os cantos da boca sujos de molho de tomate – Na verdade, eu preferia que ele implicasse... Mas ele não interfere quando Troy ou James falam algo. Ele se afasta, vai ficar jogado no degraus do pátio, gazeando aula ou coisas assim.

Fiz que sim com a cabeça e deixei o mingau frio de lado. Dustin continuou a comer, mas permanecemos em silêncio. Eu fiquei meio pensativa com as coisas que ele disse, porque por um momento me senti tão próxima daquela história como nunca eu havia me sentido em relação a nada. E era confuso estar ali, cercada daquelas histórias que eram como fantasmas agarrados em meus tornozelos magros. Senti um arrepio esquisito percorrer meu corpo por completo e a última vez que me senti assim, foi um dia antes de me mudar para Hawkins.

Eu estava deitada em minha cama de solteiro, de estrutura de madeira, tão velha como as árvores do parque público da cidade, um colchão fedido coberto por uma colcha de ursinhos que já havia sido remendada no mínimo umas cinco vezes, e em algumas partes os ursinhos eram tão desbotados que alguns já não tinham nem olhos ou focinho. Olhei pro teto, pequenas rachaduras finas, como se fossem as veias de um braço frágil iam se emaranhando até chegar de encontro a uma infiltração feia como uma ferida coberta de pus. Pingava uma água escura, de aparência nojenta, eu imaginei ser um fluído de esgoto ou poeira acumulada misturada com água empossada. Aquele pinga-pinga contínuo foi me saturando, até eu lembrar que tinha uma bexiga. Uma bexiga cheia de urina prestes a explodir.

Levantei da cama, uma sensação esquisita dentro do peito, um coração batendo furioso, quase abrindo caminho em meio a pele para sair. Eu estava com medo, muito medo, mas não sabia exatamente de quê, e isso me apavorava ainda mais. O chão frio, uma brisa lenta levantou o cheiro do desinfetante barato que minha tia passava pela casa uma vez por semana. A maçaneta gelada como uma bola maciça de gelo. Eu cheguei no banheiro, e acendi a luz amarelada... Meu rosto apareceu no espelho sujo e cheio de marcas de uso. Lá estava eu, dezesseis anos, nariz arrebitado, boca naturalmente rosada, olhos temerosos, arregalados e redondos como pneus carecas. Eu me sentia ofegante, quase que como estivesse morrendo. O cabelo fino descia em pontas irregulares passando até um pouco depois dos meus seios, em torno do meu rosto, uma moldura confusa. Uma Monalisa provinciana.

Abri o armarinho e lá estava, uma tesoura cega, ao lado de uma embalagem vencida de valium. Ela estava um pouco enferrujada, talvez minha tia não tivesse tido coragem de jogá-la no lixo, ela guardava caixas e caixas de coisas assim.

Minha mão foi de encontro a tesoura, e eu a segurei, um pouco trêmula. Ela veio junto a mim, cada vez mais próxima, como uma amiga íntima, ou como um familiar conhecido que você gosta de abraçar. Quando vi, dentro da pia haviam mechas e mais mechas de cabelo. Eu não percebi como aconteceu, nem ao menos senti. Só depois vi marcas da tesoura em meus dedos, devido ao esforço que devo ter feito pra cortar. Mas foi simplesmente isso. Assim que eu cortei meu cabelo. Eu não conseguiria entrar em Hawkins com o cabelo daquele tamanho e não sabia porque... Eu tinha até medo de saber. Mas não foi isso o que eu disse pra minha mãe no dia seguinte...

-Planeta terra chamando Jane... – Dustin balançava a mão na minha frente.

-Quê?

Reparei que o refeitório estava quase vazio.

-Já acabou o intervalo. Vamos.

E nós fomos pelo corredor apertado que as mesas de mármore formavam, uma ao lado das outras cobertas de resíduos que seria chamado de lixo orgânico depois algumas horas.

A aula passou rápido, quase um estalar de dedos. Fui em outro mundo mesmo, como Dustin disse anteriormente. Eu estava muito obcecada em relação a Michael Wheeler. "Eu conheço ele, eu sei que conheço!"... Gostava de pensar como ele parecia com James Dean, em rebelde sem causa, a expressão relutante e o rosto  levemente inclinado para trás em sinal de afronta... Era como um rosto conhecido da tevê e eu estava gostando de fantasiar sobre ele, e como seria sair com ele numa noite de sábado, ou sei lá, uma matinê? "Talvez mais do que isso". O sinal tocou.

-Onde você mora? Posso te acompanhar até em casa – Dustin estava de pé ao meu lado, mochila nas costas.

-Mapple Street – Eu fechava a mochila, pouco entusiasmada.

Eu e Dustin nos afastamos do prédio da escola, descemos a rua conversando bobagens, desde a saída até a porta da minha casa. Ele disse “Te vejo amanhã” e eu assenti. Procurei minhas chaves no bolso esquerdo da mochila, estavam lá. Não sei por que, mas sempre tive um imenso pavor de perder as chaves e passar o resto do dia do lado de fora. Achei o molho de chave pouco tempo depois. Encaixei a chave na fechadura e abri a porta, e como eu já sabia, ninguém em casa. Tudo escuro e silencioso, calmo demais, até pra uma garota do interior.

Joguei a mochila no chão, antes mesmo de fechar a porta. Depois de trancá-la, deixei a chave desamparada no sofá e desamarrei o par tênis, sem nenhuma pressa. Puxei as meias pelas pontas, e elas foram saindo com um pouco dificuldade, como um filho que não quer soltar a mãe. Subi as escadas em passos lentos, quase arrastados só pra sentir a maciez daquele carpete. Meu quarto ainda era só uma pilha de caixas de papelão e uma cama de armação tubular branca com a colcha azul pendendo para o lado esquerdo.

Fui ao banheiro e me olhei no espelho, rosto magro, altamente esguia, minha mãe dizia que eu podia facilmente ser uma modelo da Levi’s, aparecer em catálogos e outdoors usando aquelas calças de cintura alta com alguma blusa de listras, e as mãos nos cós, como se estivesse desafiando alguém. Ri desse pensamento e fui tirando as peças de roupa e as despejando num cesto ao lado da pia, por um momento fantasiei que seria um incinerador e ri ainda mais.

Entrei debaixo da água fria e constante do chuveiro, e ela desceu como uma cascata louca sobre mim, alguém na vizinhança ouvia um disco dos The Smiths. “The Queen is dead”, pensei.

Fechei os olhos e dancei, a água sobre meus olhos, a música fraca e fina, quase sopro em meus ouvidos, os cabelos caindo em mechas molhadas sobre o rosto, eu me senti estranhamente feliz. Tão feliz que eu não podia mais ficar ali, dentro daquele box, caixa úmida e limitada.

Puxei uma toalha e me enrolei nela, os cabelos pingavam nos azulejos brancos do chão, mas eu não me importei. Fui deixando pegadas molhadas no carpete, como se ele fosse feito areia de praia. Raios de sol atravessavam a cortina do meu quarto suavemente, como se pedissem permissão pra entrar. Abri as cortinas, as separando e deixando um vão largo entre elas, como se minha janela de vidro precisasse respirar. Uma caixa próxima a minha cama, semi aberta deixando amostra uma pilha de roupas engomadas que ainda não haviam ido pro guarda roupa. Tirei de dentro dela uma saia xadrez em preto e verde, que batia aproximadamente no meio das minhas coxas e uma blusa também preta, de gola alta e manga longa. As olhei por um tempo e acabei as vestindo, eu nunca tinha usado as duas juntas e agora pareciam ser um conjunto.

Procurei meias em outra caixa menor, para usá-las com um mocassim preto de couro que eu havia ganhado de natal. Achei as meias lisas e pretas que iam até o meio da canela. Penteei o cabelo de lado, e olhei no espelho, “Realmente uma garotinha”... Um frasco de perfume delicado, quadrado de uma forma diferente, me olhou de dentro de uma caixa ao pé da porta. Uma borrifada leve de cada lado do pescoço e eu desci as escadas, decidida.

O que eu faria em casa? Por tanto tempo? Senti vontade de sair, comprar alguma coisa ou fazer um cartão na biblioteca e alugar “A hora do Lobisomem”, ou quem sabe ver as crianças burguesas(acho que eu também era uma agora) correrem descalças naquela grama verde, quase fluorescente que cobria os jardins. Era um cutucão involuntário, como desses que os amigos te dão na costela durante uma piada, foi o que eu senti quando subi as meias e os elásticos abraçaram minha canela, quase como uma cobra de boca escancarada, engolindo o máximo que podia obter.

Minha saia não tinha bolsos, então acabei despejando o conteúdo(livros e um caderno de capa preta) da mochila no sofá, e coloquei dentro novamente apenas a jaqueta e o dinheiro. Peguei a chave no sofá e abri a porta, The Smiths ainda tocava pela vizinhança, uma corrente de vento dançante. Tranquei a porta atrás de mim e guardei a chave no bolso esquerdo da mochila.

Uma alça da mochila em cada ombro, e vi minha "purple schwinn" me chamando presa, próxima a porta, quase como um sussurro: “Ei garota, suba nessa cela e vamos desfiar essas meias...”. Eu era péssima sob as duas rodas, sempre preferi andar de carona, mesmo nunca tendo andado. Nem sei porque pedi uma bicicleta de aniversário se eu nem ao menos gostava de andar nela. Eu só sentia prazer em vê-la acorrentada, próxima de mim, uma nostalgia na qual ela era obrigada a se manter junta de mim constantemente.

Abri o bolso esquerdo da mochila, um zíper azul, e tirei o pequeno molho de chaves de dentro. Lá estava a chave que soltaria as correntes da bicicleta, enfiei a menor chave daquelas no cadeado junto as correntes, e o cadeado cedeu, se abrindo automaticamente. Peguei a corrente, as chaves e o cadeado e os coloquei todos juntos no bolso esquerdo novamente. Minhas mãos trêmulas segurando o guidão até a rua asfaltada, nós duas, lado a lado. “Meu Deus, não me deixe cair”, eu disse a mim mesma, enquanto erguia uma das pernas sobre ela e me acomodando na cela emborrachada. Meus pés se posicionaram e eu comecei a pedalar, inicialmente, com um pouco de dificuldade, parando aqui e ali com as pontas dos mocassins, mas logo eu consegui me equilibrar em cima dela, com uma facilidade repentina e duvidosa.

“Meu Deus! Estou pedalando, estou pedalando... Tenho medo de pensar que estou pedalando e esquecer de pedalar... Vou me esborrachar toda no chão se não tomar cuidado... Calma, Jane! Calma... Meu Deus, onde fica essa droga de biblioteca mesmo?”

Foi por causa desses pensamentos que não vi ele se aproximar de mim, mas ele não se aproximava da "forma certa". Ele se aproximou de mim da pior forma possível, como um demônio envolvido em couro sintético, em cima de uma Harley, que parecia uma assassina cruel, ela tinha um brilho monstruoso, aqueles faróis acesos como se fossem brasas de fogo vindo na minha direção. Eu freei, ele freou. Caí pra trás, como se uma mão gigante tivesse me pegado pela gola e me arremessado pra longe, ele caiu de lado, pernas presas a moto, como se preferisse morrer a soltá-la, um polvo agindo com seus tentáculos.

Meus joelhos estavam detonados, arranhões grandes devido ao atrito violento no asfalto. Me sentei um pouco tonta, e olhando ao redor. Percebi que estava de pernas abertas e de saia curta, uma combinação não muito legal para se ficar a vontade na frente de um rapaz... Na verdade, na frente de ninguém. Ele veio até mim, passos relaxados e precisos, como se tivesse saído de um catálogo de moda, ou uma capa de revista e tivesse todo o tempo do mundo.

-Você quer morrer? – Ele já estava diante de mim, tirando o capacete.

Tentei formular uma resposta a altura, mas fiquei travada quando percebi que se tratava de Michael Wheeler.

-Hein? - Ele agachou do meu lado com o capacete em mãos – Você tá bem?

-Você não viu minha calcinha, né? – Falei sem pensar, e senti o rubor tomar contas das minhas bochechas quase que imediatamente.

-Ahn? Não! – Ele franziu a testa, também parecendo envergonhado – Droga, olha os seus joelhos... Você consegue andar? Quebrou alguma coisa, sei lá?

Ele estava muito próximo de mim, me possibilitando a ver suas sardas mais de perto, e sentir um hálito doce de chiclete. Uma das mãos pousou na minha perna, na altura em que a saia acabava, e eu senti uma espécie de choque, mesmo que ele só estivesse vendo o dano que a queda me fez.

-Tá tudo bem. – Me afastei irritada, e me levantei com dificuldade.

-Você é a novata né? – Ele também se levantou, e me apontou um banco – Senta ali que eu vou pegar sua bicicleta e a minha moto.

Eu não disse nada, apenas fui mancando até o banco e percebi que estava num parque, muito bonito, árvores altas, troncos grossos como se tivesse milhões de anos, e deviam ter mesmo. Me sentei no banco de madeira, acho que era de cedro, tinha pernas de ferro enfiadas no chão, como raízes. Estiquei as pernas pra frente e vi o próprio estrago estampado nos meus joelhos, soltei um gemido doloroso.

-Calma... – Mike se aproximava deixando minha bicicleta cuidadosamente caída aos meus pés. Ele deu meia volta para pegar a moto e eu pude vê-lo a trazendo ao seu lado, quase como se fosse alguém humano. Ou um cavalo de lata.

Michael era mesmo muito bonito, e pensar nisso me deixou mais vermelha do que antes. Ele usava  jaqueta de couro, camisa branca e calça jeans de lavagem clara. Botas timberland pretas como os pneus que rolavam ao lado de seus pés. O cabelo bagunçado pelo vento, pela queda ou pelo charme, não sei.

-E aí? – Ele pousou a moto ao lado da minha bicicleta e sentou do meu lado com as pernas abertas e as mãos sobre os próprios joelhos.

- E aí o quê? – Respondi imediatamente.

-Você é doida, né? Quase matou nós dois e agora fica agindo como se eu fosse um motorista bêbado que te atropelou, eu freei, você viu, droga!

-Não foi culpa sua... Eu nem sei andar de bicicleta...  – Passei as mãos pelo joelhos ardidos, tirando superficialmente uma camada fina de areia.

-Não sabe mesmo – Ele me olhou em negação, mas soltou um risinho abafado – Não faz mais isso, você pode morrer...

-Eu não fui tão ruim assim!

-Quê? Não foi tão ruim? – Ele colocou os dois braços pra frente, e fechou as mãos, como segurasse um guidão imaginário e olhou pro céu – Você estava assim, olhando pro céu, pras nuvens, pros passarinhos fazendo cocô, mas não estava olhando pra frente...

Revirei os olhos em sinal de deboche.

-Olha só, eu tenho que ir... – Ele pretendia se levantar – Tenho um bico pra fazer.

-Bico?

-É, como você acha que eu coloco gasolina nessa belezinha aqui? – Ele apontou para Harley preguiçosa sob o sol da tarde – Se bem que já devem ter te dito histórias maravilhosas sobre mim, mas baby, são todas mentiras, pode apostar.

-Não me contaram nada sobre você... – Menti.

-Nenhuma história? Isso é novo... Nem a das galinhas do senhor Gerald? Essa é muito boa, eu gostaria que tivessem te contado.

-Você pode contar agora, se quiser...

-Conto outro dia. Com certeza eu conto, agora eu tenho que ir...

Ele se pôs de pé a minha frente e erguia a moto aos poucos.

-Ei? – Eu falei, minhas mãos suavam, os olhos dele se ergueram em minha  direção.

-Quê? - Agora sua sobrancelhas também se erguiam por detrás de uma franja repicada.

-O que aconteceu quando você tinha treze anos?

Não sei por que perguntei isso, mas saiu da minha boca, talvez do meu plexo solar e foi fundo e reto como uma bala até Mike. Ele pareceu ser atingido por ela, bem no peito. Continuou de pé, a moto erguida em sua frente.

-Nenhuma história né? – Seu olhar tinha mudado – O que foi que te disseram? Que eu sou maluco como Michael...

-Myers... – Interrompi – Não, não disseram isso.

-Então disseram o quê? – Ele subiu na moto com facilidade, mas não a havia ligado.

-O que aconteceu quando você tinha treze anos? – Repeti.

-Me dá o capacete.

Não parecia o Mike de antes, a voz dele se tornou seca e fria, seu rosto se fechou numa expressão séria. Ele me apontava o capacete em cima do banco, e eu o peguei.

-Desculpa... – Mordi o lábio enquanto lhe estendia o capacete preto.

-Bom, eu fiz treze anos e vozes ficaram me seguindo por aí... – Ele pegou o capacete – Ficavam falando “Mike, Mike... Mike, Promete, promete, promete”... Sei lá, uma coisa estranha.

Senti a penugem fina do meu braço levantar. Eu sabia do que Mike estava falando. Eu ouvia as vozes, mas elas me diziam milhares de coisas. Elas ficavam gritando no meu ouvido, invadindo meus sonhos, meus pesadelos... Meus doze anos... “Raspe a cabeça, raspe a cabeça, raspe a cabeça”... Eu realmente sabia...

-Eu sei do que você está falando...

-Não, você não sabe...  – Ele pareceu ofendido -  Você não faz ideia do que eu tenho passado nos últimos anos...

-Acho que sei sim – Falei segura, mesmo sem saber do que ele estava falando – Mas Mike, porque você está se fazendo de burro?

Ele pareceu não entender.

-É um requisito para ser amigo do Troy? Ouvi falar que você é um gênio...

-Dustin. – Ele afirmou, dando um sorriso – Dustin, Dustin, Dustin...

-Isso é uma ofensa?

-Não, só não tô mais tão interessado nessas coisas. – Ele arrumava a fivela do capacete – Você fala como se eu devesse entrar pra uma competição estadual...

-Bem que podia – Dei uma risada nervosa – Ia ter uma jaqueta forrada, daquelas bem bonitas, com seu nome nas costas – Desenhei no ar – Michael Wheeler, e embaixo o número onze...

-Onze? – Ele colocou o capacete na cabeça, e o afivelou embaixo do queixo.

-É... é meu número da sorte...

Mike deu um “sorriso de gato”. Se você nunca viu um, ele é exatamente assim: Primeiro a boca e repuxa num sorriso largo, mas as pontas vão delicadamente para cima. Então a primeira arcada dentária fica amostra, mas só ela. As bochechas saltam, pois são espremidas entre os olhos e os cantos da boca. Por fim os olhos se fecham, como um acento circunflexo, no caso dois... Aí vem o nome, “sorriso de gato”.

-É o meu também... – Ele disse enquanto ligava a moto e desaparecia na curva asfaltada do fim da rua.


Notas Finais


Eu realmente espero que vocês tenham gostado
e nos vemos segunda!

Loboduro


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