História Back to the Past - My Only Hope

  - Mas o que...? - Jongin disse, ao acordar e ver Chanyeol e Sehun na mesma cama, dormindo juntos. Me sentei na cama, finalmente acordando. Era sábado, então hoje iríamos apenas explorar o campus e conhecer o pessoal da faculdade.

- Outra hora te explico o que vi. Por enquanto, apenas acorde eles. - respondi Jongin, que passava longe da cama em que os dois dormiam, mas logo se aproximou e chacoalhou ambos, um com cada mão. Logo os dois reclamaram de ser acordados, e sentaram na cama, olhando um ao outro com uma expressão de espanto.

- Bom, pelo menos eles estão de roupa, né. - disse, e foi até o banheiro, fechando a porta na minha cara.

Todos nós tomamos banho, nos trocamos, escovamos os dentes e descemos as escadas de mármore dos dormitórios. Acabamos descobrindo que havíamos acordado mais de dez horas da manhã, e mesmo assim, das pessoas que vieram da nossa faculdade para cá, fomos os primeiros a acordar.

O corredor principal da faculdade era largo, e as paredes eram pintadas de azul-claro, cheia de armários retangulares azul-marinho. Haviam alguns pequenos grupos de pessoas em uma sala de informática que havíamos passado em frente, mas ninguém que conhecíamos, e muito menos um funcionário para nos guiar pelo campus.

Fomos então até o refeitório, que estava um pouco mais cheio, pois Chanyeol estava com fome, assim como todos nós. Sehun explicou para a cozinheira que servia a comida que nós éramos os alunos do intercâmbio, e ela nos liberou para comer mesmo sem uma identificação. Assim, nós quatro sentamos em uma das mesas redondas marrom que havia no canto.

- Pelo jeito o professor Minseok veio também. - Sehun disse, apontando com seu hashi para uma mesa a duas fileiras de distância da nossa, onde o mesmo conversava com uma homem magro de cabelos negros que estava de costas para nós. - E acompanhado.

- De costas parece aquele cara que tava com ele na boate. - Chanyeol disse, forçando os olhos para tentar enxergar melhor o indivíduo. - Pera, se é o cara da boate, significa que ele veio da nossa cidade também. Se ele veio da nossa cidade e tá no programa de intercâmbio...

- Ele é professor da nossa faculdade também? - Jongin disse, e nós olhamos para a mesa em que ambos conversavam. Logo o cara alto e magro se levantou, e logo revelou sua face ao se virar para pegar mais comida.

- Jesus, o mundo é pequeno. - falei, para quebrar o gelo.

- Nossa, Kyungsoo. Você fala? - Chanyeol disse, se virando de olhos arregalados para mim. - Desde o começo da viagem você falou quase nada.

- Pois é, eu acho que sim. - respondi, e logo comecei a comer, e Chanyeol deu um sorrisinho ironico.

- Acho que alguém vai pegar mais comida. - Chanyeol disse, olhando para o homem que conversava com Minseok anteriormente. - Vou tentar descobrir alguma coisa.

- Jesus, você é tão inútil assim, Chanyeol? - Sehun disse, observando Chanyeol se levantar com sua bandeja e ir até a direção da bancada com as comidas, onde o homem de Minseok estava.

Ficamos observando ele pegar mais comida, e logo puxando assunto com o homem, que o olhou espantado, e logo soltou algumas palavras, se aproximando de Chanyeol, como se fosse segredo. Chany sorriu, e logo voltou para a mesa rindo.

- Que merda você fez? - Sehun perguntou, enquanto Chanyeol sentava novamente em seu lugar.

- Professor da nossa faculdade. Perguntei pra ele se ele gostava de boates e ele me encarou surpreso, daí falei que eu tava lá na boate também, ele pediu pra guardar segredo. Saí rindo da cara de desespero dele.

- Professor de que? - perguntei, curioso.

- Anatomia, da Enfermagem. Grande ironia. - respondeu, e começou a rir baixinho.

- Você não presta, meu Deus. - Sehun disse, rindo.

- Você me ama, vai. - Chanyeol disse, e Sehun o olhou por alguns segundos, e logo sorriu.

                           ***

 - É sério isso, Chany? - Sehun dizia, após ter acabado de se dar conta das palavras que o mais velho havia proferido em sua frente. Estava tão em choque que suas lágrimas nem haviam começado a nascer.

- S-sim... - respondeu, olhando seriamente para baixo.

- Quer dizer então... Que todo esse tempo que você saía comigo... Você nem tinha certeza se era gay? E por cima, descobriu com outra pessoa? - Sehun disse, e logo sentiu que seus olhos haviam começado a marejar lentamente.

O mais alto assentiu com a cabeça, e cruzou os braços, ainda olhando para baixo. Sehun virou as costas, e começou a descer as escadas do colégio, enquanto uma de suas mãos enxugava as lágrimas que rolavam pelo seu rosto. Sehun tinha apenas dezesseis anos, e não desejava nada daquilo.

- Sehun, espera! - Chanyeol dizia, e Sehun parou de correr, ficando entre um degrau e outro, de costas. - Me perdoa, sério.

- Chanyeol, o Jongin também é meu amigo. Se coloca no meu lugar, pra ver como eu tô me sentindo. - dizia, olhando o mais alto com uma mistura de sentimentos ruins, que tomavam conta de sua mente e de seu corpo.

- Foi automático, Sehun, não sei o que me deu. Eu tô me sentindo um lixo, é sério. Não quero te perder.

- Já perdeu, idiota. - Sehun disse, e voltou a correr, descendo as escadas, em direção a saída da escola. Havia ficado no período da tarde na escola achando que iria passar a tarde com Chanyeol, mas na realidade, havia recebido a notícia de que havia sido traído.

Chanyeol sentou no degrau em que estava em pé antes, e afundou a cabeça em suas pernas, e deixou que todas as lágrimas existentes em seu ser tomassem conta de seus olhos, tentando desabafar um sentimento de culpa inesgotável que transbordava dentro de seu ser.

                            ***

- Bom, de acordo com ele, esse é o saguão principal, onde podemos passar os intervalos. - Sehun dizia, traduzindo o que um inspetor chinês idoso da escola dizia para o grupo de pessoas que havia vindo de nossa escola. O homem baixo andava estressado, como se apresentar a faculdade para nós fosse um peso para ele. Logo falou mais algumas palavras e saiu andando, nos deixando para trás. Todos olharam para Sehun, que logo terminou de traduzir.

- Ele mandou a gente se virar pra conhecer o resto e disse que tem mais o que fazer. - disse, e foi possível ouvir alguns suspiros de cansaço ou raiva.

Algumas pessoas foram de volta para os seus dormitórios, outras decidiram sair da faculdade para conhecer algum ponto turístico da cidade, e outras foram comer alguma coisa.

- Tá, que merda a gente faz agora? - Chanyeol perguntou, olhando para Sehun, que andava de costas para nós três.

- Eu não sei vocês dois, mas tenho que ir em um lugar com o Chanyeol. - Sehun disse, e firmou sua mão esquerda no pulso de Chanyeol, o puxando enquanto corria. O mesmo começou a rir, mas correu junto com Sehun, nos deixando para trás.

- E você, o que quer fazer? Afinal, não temos aula hoje. - Jongin disse, e senti seus dedos se entrelaçando com os meus discretamente.

- Não sei, quer ir comer alguma coisa? - sugeri.

- Pode ser. - respondeu, e fomos de mãos dadas lentamente até a saída da faculdade. Ao contrário da nossa faculdade, a entrada possuía mais catracas e não era uma ladeira.

- Kyungsoo. - Jongin me chamou, quando estávamos passando em uma rua coberta por árvores floridas, que faziam um tapete branco espalhado no vasto chão. Parei de andar, e ele me virou para sua frente, colocando suas mãos em meus ombros.

- O que foi? - perguntei.

- Eu... V-você... - Jongin gaguejava, e olhava nos meus olhos como se tivesse algo extremamente importante para dizer, mas estava travando.

- Jongin, o que foi? - perguntei, olhando para a sua expressão de desespero.

- Com licença, vocês falam a minha língua? Se sim, poderiam me falar onde fica a faculdade desse bairro? Não estou lembrada do nome. - uma garota alta e magra, de cabelos loiros ondulados apareceu, cortando as palavras que Jongin estava prestes a dizer. O mesmo soltou um alto suspiro, e virou de costas para mim, colocando as mãos no quadril, e me deixando falar sozinho com a garota desconhecida.

- Sim, é só terminar de subir essa rua e virar á esquerda. - falei, e ela agradeceu, sorrindo para mim e em seguida olhando estranho para Jongin, que estava com as mãos na cabeça, limpando sua testa.

- Você tá suando? - perguntei, e ele se virou, e vi que estava vermelho. - Caralho, Jongin.

- Eu tô bem. Vamos comer alguma coisa. - respondeu, e continuamos a andar na rua vazia, onde o vento uivava fortemente em nossos ouvidos.

                           ***

- Não custa nada tentar, não é, Kyungsoo? - dizia para si mesmo, após uma beber garrafa de soju sozinho em seu quarto, no meio da madrugada. Seu irmão, Jung estava dormindo há tempos, mas Kyungsoo ficara acordado até tarde para beber sozinho, já que pretendia faltar na aula do dia seguinte.

Começou a digitar o nome do site, e logo a página rosa-claro com o símbolo da empresa, e todas as informações, notícias, artistas e grupos que lá haviam começado sua carreira e etc.

- "Inscrições para a audição" - falava, enquanto sua mão que segurava o mouse rolava até a tela carregar na página que havia um formulário para preencher. - "Categoria... Cantor".

Se inscreveu rapidamente, preenchendo todo o formulário, anteriormente em branco. Logo após terminar, levantou suas mãos em comemoração, com um largo sorriso bêbado, que logo foi à procura de mais soju na geladeira, no cômodo ao lado.

- Tudo... Certo. - disse, e se sentou no chão. Suas mãos corriam no escuro desfocado para procurar a nova garrafa de soju, porém logo as mesmas ficaram moles, e Kyungsoo fechou seus olhos, entrando em um sono profundo.

                           ***

Era o nosso antepenúltimo dia na China, e eu estava extremamente surpreso de como o tempo havia passado rápido. Não tivemos tempo para visitar quase nenhum poto turístico, pois assim que começaram as aulas, percebemos que iríamos estudar mais do que o normal. Nossa prova era ao amanhecer do dia seguinte, porém, estávamos mais concentrados no tempo que tínhamos no presente.

- Eu juro, não aguento mais ficar traduzindo os nomes das comidas pra vocês. - Sehun disse, fechando um cardápio vermelho do restaurante em que estávamos almoçando.

- Você não faz mais do que a sua obrigação. - Chanyeol disse, e Sehun ameaçou bater em sua cabeça com o cardápio.

O vento uivou alto mais uma vez do lado de fora do vidro do restaurante, deixando aquele dia seco e nublado cada vez mais frio e sombrio. As árvores secas do lado de fora exibiam seus galhos mórbidos sem presença alguma de folhas verdes, enquanto o céu ameaçava lançar cada vez mais rajadas frias de vento, e uma provável tempestade mais tarde.

- Me sinto em um filme de terror. - Chanyeol disse, e se aconchegou em seu casaco de couro.

- Ai... - Jongin disse, olhando para nós três lentamente, após percebermos que havia começado a pingar do lado de fora. - Ninguém trouxe guarda-chuva...

- A gente espera aqui dentro mesmo. - falei, e logo em seguida uma garçonete trouxe a entrada de nossos pedidos.

Comemos tranquilamente, e a a chuva continuou caindo bruscamente, até que decidimos sair correndo o mais rápido que conseguíamos.

                          ***

   - No três, ok? - disse, apoiando-se na porta de vidro da entrada da escola do filho. Sua outra mão foi rapidamente para a sua barriga, acareciando indiretamente o próximo filho que estava por vir. Kyungsoo sorria, assim como a mãe, que logo o puxou para fora, e ambos começaram a correr pela chuva, indo em direção ao seu carro, que estava estacionado dois quarteirões dali.

Ambos riam enquanto corriam, sentindo as gotas de chuva caindo em suas cabeças, e seus pequenos olhos se fechando mais ainda. O frio não era mais um problema, pois seus corpos já estavam quentes de tanto correr, transformando o que seriam apenas dois quarteirões em uma maratona.

A mãe puxa Kyungsoo, fechando sua mão delicada em torno do pulso infantil do filho, que gargalhava alto pelo simples fato de estar correndo na chuva. Eram simples as coisas que faziam entre mãe e filho, mas haviam marcado a vida de Kyungsoo como nunca.

                           ***

- Vocês terão três horas e vinte minutos para completar a prova aberta, e mais uma hora e meia para os testes, juntamente com o gabarito. Agora são duas da tarde. Espero que terminem a tempo. Estarão livre após saírem daqui, e relembro que o resultado sai amanhã de manhã, antes da partida de vocês. Desejo boa sorte à todos. - disse o professor, e logo o inspetor de alunos ao seu lado começou a distribuir nossas provas, para qual nós havíamos estudado tanto.

O tempo se corroía lentamente, e eu, pela primeira vez durante toda a viagem, me arrependia amargamente de ter ido. A prova estava fácil, porém, insuportavelmente entediante e trabalhosa. Acabei rasurando algumas partes, por simples nervoso, e errei o gabarito de algumas questões, mas nada que fosse abaixar minha nota ao extremo. Sentia que minha bunda estava se tornando um quadrado, de tanto tempo que estava ali, parado. Já minha boca, estava seca, pois eu havia sifo burro o suficiente para não levar uma garrafa de água.

- Jesus cristo, que desgraça de prova. - falei, ao me sentar na mesa da lanchonete em que nós quatro havíamos marcado como ponto de encontro.

- Aquele inspetor com cara de búfalo ficava me encarando, como se eu estivesse colando, não aguentava mais. - Chanyeol disse, e Sehun riu.

- E você tava colando? - perguntou, enquanto pegava seu lanche que havia acabado de chegar para comer, e Chanyeol deu uma risada descontraída, involuntariamente concordando com a cabeça.

Passamos o resto do dia arrumando nossas gigantescas malas, onde Chanyeol e Sehun acabaram dormindo no meio do processo.

- Ei. - Jongin me chamou, enquanto eu dobrava uma camiseta e a colocava em minha mala. - Eu sinto sua falta.

- Eu também. - falei, em um tom baixo, para que os oa dois não acordassem. Olhei para Jongin, que me fitava com seus olhos profundos, pedindo para que eu me aproximasse. Meus dedos da mão esquerda correram até o interuptor ao meu lado, apagando as luzes. Podia ver Jongin apenas pela luz fraca que entrava através da persiana não fechada por completo. Me aproximei rapidamente, e o abracei, encostando minha cabeça em seu largo ombro.

Senti suas mãos me apertarem, e logo uma delas subiu a minha cabeça, acareciando meus cabelos. Jongin beijou lentamente minha bochecha, e, com isso, levantei meu rosto em sua direção. Sentia que ele era tudo o que eu precisava, e tudo o que eu mais sentia falta naquele momento.

Me inclino em sua direção, e beijo seus lábios macios, lentamente. Sinto que Jongin realmente sentia minha falta, o que me deixa feliz por completo, uma sensação de felicidade nunca provada antes.

Nossos corpos se movem em direção a parede, em busca de apoio, onde Jongin me abraça cada vez mais forte.

- Jesus, que...? - Chanyeol diz, e eu e Jongin nos afastamos, assustados. Ao perceber o que estávamos fazendo, Chanyeol começa a rir estranhamente, com um rosto de que acabou de acordar. - Ai, senhor, desculpa.

Ainda sentado, Chanyeol olha para o seu lado, e vê Sehun dormindo, apoiado em sua grande mala aberta. Seu rosto relaxa, logo se transformando em um lindo sorriso. Automaticamente, seus dedos percorrem a superfície do rosto de Sehun, que em um movimento rápido, se senta.

- O que você ta fazendo? - pergunta, sério, segurando a mãe de Chanyeol, que estava com os olhos arregalados de surpresa.

- Hã.. Nada. - responde, e Sehun solta sua mão, se levantando e acendendo luz ao meu lado.

- Puta merda, já são nove da noite! Por que não me acordaram antes? Nem terminei minha mala! - Sehun resmungou, e começou a dobrar loucamente suas peças de roupa espalhadas pelo quarto, enquanto pegava o telefone do quarto para encomendar nossa comida, pois estávamos cansados para sair do quarto para comer.

                          ***

"8 chamadas perdidas de Park Chanyeol"

A tela do celular estava no brilho mínimo, mas mesmo assim Sehun pôde ver a notificação das ligações perdidas. Mesmo se tocasse novamente, iria ignorá-lo até o fim. Subiu na bicicleta em que estava segurando, e continuou seus exercícios naquela manhã nublada.

O vento batia em seu rosto, levantando seus cabelos castanhos, e o fazendo estreitar os olhos para que nenhuma poeira voasse para dentro dos mesmos. A cada pedalada que dava, colocava mais força em seus pés e pernas, aumentando a velocidade. Estava profundamente magoado pelo que acontecera com Chanyeol, e tentava descontar toda sua angústia em exercícios físicos e atividades que pudessem o distrair.

Acabou por parar no centro da cidade, onde, para as dez e vinte e três da manhã, estava bem lotado.

As pessoas se concentravam em diversos pontos, lojas, restaurantes e prédios de empresas, e um desses pontos, era o mais lotado.

Um prédio com as paredes de vidro, com uma fila gigantesca de pessoas agasalhadas para o frio que estava permanecendo na região. Olhou para as pessoas lentamente, que esperavam a fila andar. Percebeu que a maioria das pessoas eram jovens, arrumados e nervosos para algo que estava prestes a acontecer. A porta de entrada da empresa estava fechada, mas logo foi possível ver um funcionário de terno, provavelmente um segurança, abrindo-a na parte de dentro.

- ATENÇÃO! - falou em um volume alto, e todos os jovens e adultos da fila se viraram para o mesmo. - Quero que façam a fila aqui dentro. Logo serão atendidos. Relembrando que a inscrição é feita online, e aqui é apenas o agendamento para a audição. Obrigado pela atenção, podem entrar. - disse, e abriu a porta para que as pessoas logo começassem a entrar. Algumas estavam acompanhadas claramente por familiares, que sorriam ansiosos.

Sehun parou de andar na bicicleta, e parou no meio da rua, ainda em cima dela. Foi em direção á um garoto baixo, de cabelos escuros, assim como seus olhos, que estava no último lugar da fila. Os olhos de Sehun focaram no papel de inscrição impresso que o garoto estava segurando, onde estavam todas as suas informações.

- Hã... Do Kyungs... - começou a ler o nome impresso do garoto baixo, quando o mesmo finalmente percebeu a presença de Sehun, e pulou para trás assustado. - Ei, espera. Só estava querendo saber seu nome. Pra que é essa fila aqui?

- P-para uma audição. - respondeu timidamente o garoto de olhos grandes, abaixando a mão que segurava os seus papéis.

- Ah, entendo... Você parece nervoso. Vai fazer audição pra que? - Sehun perguntou, arrumando seus próprios cabelos.

- Canto. - respondeu, abaixando a cabeça.

- Uau, parabéns. Sou horrível com isso, eu acho. Boa sorte, Kyung-alguma-coisa. - disse, e se afastou lentamente, virando sua cabeça apenas pela última vez para olhar a empresa com um grande letreiro rosa-claro em uma fonte de letra cursiva.

- "SM". Nome curioso. - disse, e acelerou os pedais, e logo o vento frio voltou a fazer seus cabelos se esvoaçarem.

                          ***

- Puta que pariu, sai da frente! Gente lerda. - Sehun falava sem constrangimento algum, empurrando as pessoas para os lados na grande bagunça em que estavam. - Ok, deixa eu procurar meu nome.

- Me aproximei do quadro de avisos, quase sendo engolido pela multidão de alunos que também estavam ali para ver o resultado final doa exames, tanto os da nossa faculdade, quanto os chineses de lá.

Meus olhos percorreram a lista, e finalmente encontrei meu nome, vendo que havia obtido noventa por cento de cem na prova aberta, e oitenta e cinco nos testes. Me afastei, feliz que havia passado, e deixei que Chanyeol, que estava logo atrás de mim, visse sua nota.

- Nossa senhora. Por um fio. - Sehun disse, vendo que havia passado raspando. Jongin sorriu, vendo que havia obtido uma nota boa, e fomos para o fundo do corredor, esperando Chanyeol, que voltou com um sorriso safado no rosto.

- Cem por cento, quem diria. E eu nem colei em tudo. - Chanyeol disse, colocando as mãos nos bolsos de sua jaqueta.

- Você é um inútil mesmo. - Sehun resmungou, olhando feio para Chanyeol.

- Nossa, você tá de tpm desde ontem. O que aconteceu? - disse, tentando abraçar Sehun de lado, mas o mesmo se esquivou, terminando a conversa.

Fomos em silêncio para o nosso dormitório, quando vimos o homem do professor Minseok, com sua mala, indo em direção da portaria.

- Oi, professor. - disse Chanyeol, e me lembrei do dia que ele se levantou no refeitório para puxar assunto com esse cara.

- Olá... - disse o homem, parando para conversar com nós quatro.

- Qual era o seu nome mesmo? - Chanyeol perguntou, e o homem corou levemente.

- Kim Jongdae. Estão indo pegar suas malas? A maioria dos alunos já estão na portaria pra ir pro aeroporto.

- Sério? Tá vendo, sua culpa, Chanyeol! Você que ficou enrolando pra ver sua nota! - Sehun disse, e nós nos despedimos rapidamente do professor que ia para a portaria, e fomos ao nosso quarto pegar nossas malas.

Chegamos apressados no ônibus, e por pouco não conseguimos lugares próximos. Jongin se sentou ao meu lado, e dormiu o trajeto todo até o aeroporto.

O acordei delicadamente, e logo descemos todos juntos, pegamos nossas malas e entramos no aeroporto.

Eram sete e quarenta da manhã, e fomos comer algo em um restaurante japonês do aeroporto.

- Me sinto no ensino médio novamente. - Sehun dizia, enquanto se afundava em seu cachecol. - Com fome, frio e sono.

                         ***

- Aquele ali no canto... - dizia um garoto alto com um topete em seus cabelos pretos, apontando discretamente para Kyungsoo. - Claramente não vai passar. Com esse penteado lixo, esse corpo gordo, essa cara de quem acabou de acordar... Pelo amor de Deus. Tem gente que eu nem sei como tem coragem de tentar. É tão difícil assim entender que a SM é só pra quem presta?

O garoto do topete riu, juntamente com seus amigos, que formavam uma roda em torno do mesmo para observar e criticar Kyungsoo e outras pessoas no grande pátio da empresa.

Abaixara o olhar, fingindo que não havia escutado, porém, seus ouvidos haviam feito mais do que apenas ouvir. As palavras do garoto desconhecido se igualaram ao pensamento de Kyungsoo sobre sua imagem própria. Se achava um lixo. Não sabia de onde havia retirado tanta coragem para se inscrever, e muito mais para conseguir acordar e ir até lá. A opinião alheia não o afetava mais, pois seu auto-julgamento já o despedaçava por completo.

- Ok, atenção! Formem filas de acordo com a audição que irão fazer. Audições para atuação, na direita. Canto, ao lado. Modelos, ao lado... - dizia uma funcionária muito bem-vestida, indicando quais lugares que as pessoas deveriam ficar. Kyungsoo logo se pôs a frente e foi em direção à fila de quem iria fazer as audições de canto. Ao seu lado, havia a fila para modelos, onde o garoto do topete se encontrava, ajeitando sua gola da camisa social, olhando para um pequeno espelho de mão.

Ao perceber que estava o olhando, o garoto desconhecido riu com um tom sarcástico, como se estivesse debochando do mais baixo na fila ao lado.

- Sem noção... - dizia, e logo se voltou para Kyungsoo, que o olhou de lado para prestar atenção em suas palavras. - Sinceramente, não espero que você passe. Mas fique sabendo que é injustiça isso que você tá fazendo.

- Por quê? - perguntou o menor, cruzando os braços.

- Havia um limite de inscrições. Com certeza alguém bem melhor que você teria tomado o seu lugar. Em vez disso, temos você aqui, fazendo os juízes perder tempo á toa. Que decepção.

- Ok. - concordou, e voltou seu olhar para frente.

- Pelo menos você assume que é perdedor. - zombou o mais alto, finalizando a pequena discussão antes das audições começarem.

O coração de Kyungsoo batia forte e rápido.

Fazia aquilo por um mero impulso, como se estivesse completamente drogado ou bêbado, mesmo sem ter usado substância alguma.

Olhou para trás, observando a entrada da empresa, em busca de uma possível fuga de desistência, caso começasse a se desesperar ou a ter uma crise de ansiedade, porém, as grandes portas de vidro haviam sido fechadas pelos dois seguranças que a cobriam.

O tempo passou, e ficou observando como as pessoas estavam nervosas, como cada um se comportava ao deixar o palco, ou a sua própria passarela.

- Audição número 1751209, Do Kyungsoo. Por favor, suba e posicione-se no palco para que possa se apresentar corretamente. - ecoou uma voz por todo o ambiente, e diversos pares de olhos corriam pelo salão em busca do nome pronunciado em voz alta. Ao começar a subir os pequenos degrais cobertos por veludo bege, os mesmos olhares anteriormente perdidos agora se encontravam voltados para Kyungsoo, que subira rapidamente no palco, com o coração mais rápido que seus próprios passos.

- Muito bem. - dizia um dos juízes ao ajeitar algumas folhas sulfites impressas com documentos em seu lugar na mesa de jurados. - Qual é a sua modalidade, Do Kyungsoo?

- C-canto. - gaguejou, tornando o momento mais tenso do que antes. Não queria demonstrar que estava nervoso, e sim, que estava preparado e determinado a ganhar.

Sentia que aquele momento era como um sonho, mas não no sentido em que todos entendem. Não era no sentido de "sonho" como algo lindo e ilusionista, algo que nos faz suspirar e imaginar como nossa vida seria com isso. Era algo como se fosse algo nunca imaginado antes, algo que no fundo, trazia uma mistura de esperança e medo. Algo que ao mesmo tempo que Kyugsoo temia, era transformado em sua única esperança de ter algo melhor em sua vida, tornando-a um pouco menos sofrida.

- Qual música irá cantar? - perguntou o mesmo juíz, após anotar alguma coisa nos papéis em sua frente.

- Dust in the wind. Kansas. - disse, abreviando sua fala entre o nome da música e o nome da banda.

Logo após isso, um grande "bipe" tomou conta do salão, indicando que sua audição havia começado.

Como não era permitido o uso de instrumentos nas audições, sua voz era a única que ecoava pelo salão. Se alguém de fora visse essa cena, poderia julgar algo bem idiota ou estranho, até mesmo comum. Porém, através dos olhos fechados de Kyungsoo, as notas do violão ecoavam em sua mente, igualando sua voz a melodia que tomava conta de seu ser. Era como se estivesse cantando sozinho em sua casa. Colocava cada pontada de dor e nervoso de seu coração a cada palavra que cantava. Conhecia aquela música há tempos, e ela era muito mais do que apenas uma música qualquer para si.

                          ***

Realmente, é impossível controlar o tempo.

É impossível tentar imaginar a lógica de como ele funciona, e como tudo passa tão rápido quando nos ocupamos com algo, ou como o quão lento ele se arrasta ao ficarmos entediados.

Duas semanas e três dias haviam se passado desde a nossa volta do projeto de intercâmbio na China, e eu pensava cada vez mais que eu poderia ter aproveitado mais a viagem, mas usava o motivo de ter estudado muito como uma boa desculpa para eu não me chatear.

"Você vai hoje, né? Se não for, te mato. Te espero lá, idiota. :3"

Após ler a tal mensagem de Jongin, meus dedos correram rapidamente pelo celular e digitaram o seu número, decorado há muito tempo em minha mente.

- É óbvio que vou, trouxa. E por quê não me ligou? Não estou em aula hoje, é sábado!

- Ué, não sabia se você tava dormindo ou tava ocupado... Nunca se sabe. Que horas você vai? - dizia a voz de Jongin do outro lado da linha, em meio de pequenas risadinhas.

- Bom, o evento começa as duas da tarde... Vai até as... Bom, acho que não tem hora pra acabar. Pelo menos é o que o cartaz indica. Vou tentar chegar duas e pouco, sei lá. Era festival do que mesmo?

- Integração de calouros da faculdade... Alguma coisa assim, acho que é meio que um tipo de recepção dos veteranos com os mais novos. É de todos os cursos, e não me lembro muito bem, mas acho que vai ter até camiseta pra isso aí. Vou usar no dia, e no resto do ano vai virar pijama. - disse, e soltou uma risada alegre após a última frase que falara.

- Beleza... Agora é quase uma e dez, vou comer alguma coisa correndo e tomar um banho pra ir. Ah, tenho que deixar Jung na casa do amigo dele antes de ir também. Tem como você ligar pro Sehun e pro Chanyeol pra ver que hora eles vão? Não tive tempo direito pra ligar pra eles. - falei, indo em direção ao meu banheiro para tomar banho.

- Ok, depois te aviso. Me liga quando estiver chegando. Até! - disse, e encerrou a chamada.

Tomei banho mais rápido do que nunca, mas feliz em saber que iria ver Jongin e os meus melhores amigos. Quase não estávamos tendo tempo de sair juntos, já que a faculdade estava consumindo o meu ser de tanto estudar.

Deixei Jung na casa de seu melhor amigo, e agradeci rapidamente à mãe do garoto, que sempre acolhia meu irmão nessas horas precisas, e peguei o ônibus que ia mais rápido para a faculdade.

Minha primeira impressão sobre a portaria da faculdade é que não havia mudado nada, mas toda essa opinião formada foi completamente desconcretizada ao me deparar com a área aberta de eventos: era mais parecido com um festival de música indie com uma fusão de festa de aniversário infantil.

As pessoas corriam pelo gramado, algumas com a camiseta do evento, que por sinal, era branca, com o símbolo da faculdade no lado direito do peito, e detalhes brancos na borda da manga, mais parecidos com pequenas listras.

Sinto um par de mãos cobrindo os meus olhos repentinamente, e sorrio ao tocá-las e automaticamete identificar que era Jongin.

- Oi. - digo, ao me virar em sua direção. - Chegou agora?

- Sim. Sehun também já tá vindo, e não consegui ligar pro Chanyeol. Provavelmente os dois devem estar vindo juntos, sei lá. E ele sempre atrasa também, né. - disse, sorrindo e cobrindo o sol com uma de suas mãos.

- Ei, moços! Se vocês ainda não tem a camiseta do evento, podem ir naquela barraca ali no canto, é gratuita e tem de todos os tamanhos! Se divirtam! - falava uma garota morena, de rabo de cavalo e boné laranja, apontando para uma barraca lotada de pessoas, no fundo do campo.

Fomos até o lugar que a garota havia indicado, e pegamos nossas camisetas, nos trocando ligeiramente atrás da barraca. Guardei minha camiseta que havia tirado em minha pequena bolsa, e eu e Jongin fomos cumprimentar Sehun, que corria em nossa direção com um sorriso irônico.

- O casal já chegou, não é mesmo? - disse, olhando para mim e para Jongin, que corou levemente, ficando sem-graça.

- Ué, o Chanyeol não veio com você? - perguntei, tentando quebrar o gelo.

- Não, ele me ligou desesperado dizendo que ia atrasar... Como sempre. - disse, pegando uma camiseta com a senhora que estava na barraca onde estávamos.

- Aconteceu alguma coisa? - Jongin perguntou.

- Não, apenas Chanyeol sendo Chanyeol. Mas ele tá animado pro evento, parecia uma criança falando no telefone.

- ATENÇÃO! Vamos começar com as atividades de integração!

- Porra, o Chanyeol vai perder tudo! - Sehun disse, colocando sua mão direita no bolso de trás de sua calça e tirando seu celular e levando-o até suas orelhas, provavelmente ligando para Chanyeol.

- PORRA, ONDE VOCÊ TÁ? - Sehun gritou, e colocou a chamada no viva-voz.

- Já... Tô indo... Argh... - dizia a voz de Chanyeol, que aparentava estar cansada e ocupada.

- Que merda você tá arrumando? - perguntei, rindo da situação confusa.

- Perdi meu cartão do ônibus... E tô sem dinheiro. - dizia, com a respiração mais arfante do que nunca. Com certeza, ele estava correndo para a faculdade.

- Onde você tá agora? - Sehun perguntou, tentando elevar sua voz em meio ao barulho da multidão que nos cercava para ver o primeiro show de música que estava prestes a acontecer no palco principal da área aberta de eventos.

- Tô quase virando a esquina de uma conveniência perto da faculdade. O evento já começ.. - dizia, até a ligação ser cortada por completo, após um barulho que corroeu nossos ouvidos, e só não estourou nossos tímpanos por que a ligação estava no viva voz.

- Que porra foi essa? - Jongin perguntou, olhando para o celular que mostrava que a ligação havia sido encerrada.

- Ele deve ter guardado o celular pra atravessar a rua, eu acho. Ou simplesmente ficou sem créditos. Acho que a segunda opção é mais provável. - falei, olhando para Sehun, que tinha uma expressão de dúvida estampada em seu rosto.

- Vamos esperar um tempo, se ele atrasar mais a gente vai atrás dele. - Jongin disse, batendo levemente no ombro de Sehun, o tirando do transe de preocupação em que estava.

- Sei lá... - Sehun dizia, enquanto nós andávamos em sua frente. - O barulho do fim da chamada foi estranho. Vou tentar ligar de novo pra ele.

Esperamos Sehun parados perto de uma barraca de sucos de frutas, onde uma garota com os cabelos pintados de vermelho-escuro sorria para nós.

O celular de Chanyeol não atendia, mesmo após Sehun mandar mais de quinze mensagens e ligar nove vezes, o que o fez entrar em desespero.

- Ok, vocês me seguem se quiserem. Foda-se esse evento. - Sehun disse, indo até a portaria da faculdade, onde nós fomos correndo também.

- Jongin, qual é a conveniência mais próxima daqui? - perguntou, tentando ligar novamente para Chanyeol?

- Uns dois quarteirões daqui. Deixa que vou na frente, vocês me seguem. - respondeu, e tomou o lugar na frente da nossa corrida. - Não acha que tá exagerando, Sehun?

- Você faria o mesmo se fosse o Kyungsoo no lugar do Chanyeol? - Sehun disse, olhando para Jongin, que se calou no mesmo momento, me deixando internamente feliz por alguns segundos, pois eu estava ficando preocupado com Chanyeol também, talvez por influência de Sehun.

Nossos passos eram rápidos, e, para um horário em que o trânsito era congestionado devido ao horário de trabalho das pessoas, os dois quarteirões que percorremos estavam fria e misteriosamente parados o suficiente para que Sehun começasse a apressar Jongin a achar a conveniência. Os carros que, mesmo com espaço para andarem, estavam parados. Nossos olhos percorreram os cantos do quarteirão congestionado, e pousaram em um simples canto, um pequeno espaço, onde um pequeno aglomerado de pessoas se concentravam no meio da rua, em meio à esquina, como se algo tivesse acabado de acontecer.

Em meio á multidão de pessoas e um aglomerado de carros, em um canto de um ponto de minha visão, vi um par de pés caídos no chão, calçando tênis estranhamente familiares.

                          ***