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História Backstage - As Maiores Conquistas


Escrita por: biagw

Capítulo 26 - As Maiores Conquistas


~~Francine~~

         Reunião extraordinária com o setor de contratação.

         Nem precisavam dizer mais nada, eu sabia bem do que se tratava. Meu contrato havia acabado e eu podia dizer com certeza de que não o renovariam. Logo de manhã recebi o recado sobre a tal reunião que aconteceria depois do almoço – dessa vez não seria nem com os managers, nem com o dono da empresa, mas com o ‘setor de contratação’, alguém que até então eu não tive nenhum contato direto.

         Logo cedo saí de casa e fui pra BigHit, passei a manhã na sala de ensaios apenas gastando o tempo pra me distrair e pra treinar sozinha (coisa que não fazia havia um tempinho). Kwan havia me pedido pra lecionar com ele em alguns dias e me dei conta de que fazia muito tempo que eu não dedicava um ensaio a mim mesma. Eu também estava cheia de preocupações, a dança me ajudaria a pensar melhor.

         Passei as primeiras horas na sala de ensaios, encarnado o espelho e me desafiando, como fazia nos anos de academia. Treinei com a sapatilha de ponta nos pés até senti-los destruídos – era uma dor ‘boa’, me trazia lembranças dos dias de bailarina; dos meus sonhos de menina que em grande parte se realizaram; me mostrava os resultados do esforço. Notei que fiquei tão parada nos últimos meses que certos passos estavam mais difíceis. Por alguns instantes senti falta das salas de aula, dos ensaios rigorosos, da rotina de apresentações.

         Não sei o que vou fazer depois que sair da equipe do Bangtan. Não sei como os meninos reagiriam a minha saída, sequer comentei sobre isso com eles. Acabamos ficando tão próximos que temo que se sintam mais retraídos e presos se eu for embora. Jimin, Jungkook, Taehyung, Hoseok, Jin, Namjoon, Yoongi... Cada um deles se ligou a mim de uma forma diferente, me marcou de um jeito diferente. Todos especiais, a seu modo.

         Eu até tinha contratos previstos, esse não seria o problema. Um projeto enorme que poderia me render inclusive prêmios me aguardava nos últimos meses do ano – a proposta de assumir a coreografia de uma grande produção cinematográfica estava em minhas mãos. Mas não sei se quero continuar nos backstages após ver tudo que vi aqui, independente de ser no mundo da música, do teatro, do cinema, ou da televisão. Talvez eu precise de um tempo, talvez pudesse dar aulas ou parar por uns meses e me dedicar apenas a mim. Não sei.

Sei menos ainda agora que reencontrei Kwan e que quero ficar ao seu lado pelo máximo de tempo possível. Pode ser que não tenha sido uma boa escolha reatar o que tivemos assim tão rápido, mas seu reaparecimento em minha vida é uma das melhores coisas que aconteceu nos últimos dias. Eu poderia já ter surtado ou estar completamente infeliz se não tivéssemos nos reencontrado, se ele não estivesse me dando forças pra continuar lutando ao lado dos meninos.

         Com o fone de ouvidos me dando inúmeras opções de músicas a interpretar com meus movimentos, tentei me desligar do resto do mundo por pelo menos alguns minutos. E então eu dançava, sozinha, pela sala. Sem acompanhar o espelho, sem abrir os olhos, sem pensar em mais nada, sem me importar com as dores de sempre. Eu precisava daquela sensação de liberdade, de leveza e de paixão que só a dança poderia me proporcionar.

“Oh!” – tomei um pequeno susto ao ver alguém parado na porta da salinha, me observando – “Há quanto tempo está aí?”

“Faz alguns minutos” – respondeu, sorrindo – “Nunca tinha te visto dançando. Você é muito incrível!”

“Obrigada” – agradeci, sorrindo – “Assim me deixa sem graça” – continuei a sorrir, secando o suor do meu rosto com uma toalha e pedindo que Jin entrasse – “O que faz por aqui a essa hora?”

“Tive uma reunião” – respondeu, se sentando próximo ao espelho – “E você?”

“Tenho uma reunião” – retruquei, fazendo-o rir. Me sentei ao seu lado, tirando as sapatilhas e recuperando o fôlego

“Então vai estar ocupada a tarde?” – perguntou, me encarando

“Sim, durante esse tempinho” – retruquei, sem saber qual era sua ideia – “Por que?”

“Ia pedir uma ajudinha, mas não é nada urgente” – respondeu, sorrindo e brincando com a sapatilha que eu havia jogado ao seu lado

“Dependendo da ajuda posso fazer agora” – me levantei – “O que seria especificamente? Alguma das coreografias?” – Jin também se levantou, assentindo. O mais velho é sempre muito inseguro quanto a sua presença nas danças do grupo – “Não se preocupe muito, você está se saindo bem! Está melhorando”

“Eles não acham” – disse, num sussurro que provavelmente não era pra eu ter escutado

“Quem?” – perguntei, já imaginando a resposta – “        Essa equipe maluca que vocês têm? Te aconselho a não dar muito crédito ao que eles falam”

“Infelizmente, não tenho muita escolha” – retrucou, forçando um sorriso

         Jin e Namjoon sofrem muito da pressão da equipe, tanto por serem os líderes do grupo, quanto por suas dificuldades pessoais. É claro, toda pessoa tem suas restrições e elas podem ser vencidas e superadas com tempo e vontade. Ambos se esforçam muito pra conseguir acompanhar o ritmo dos outros garotos e o meu ritmo nas coreografias – e, no fim, eles sempre conseguem. Em pouco tempo eu já pude ver o quanto os dois melhoraram e cresceram nos ensaios. Fico chateada sabendo que ainda estão pegando no pé deles por essa razão boba.

“Okay, vamos aproveitar esse tempinho livre então” – o puxei pela mão até o centro da sala. Se ele queria minha ajuda, eu iria ajuda-lo.

         Passamos um bom tempo ensaiando juntos, apenas repassando pequenas partes de coreografias que ele já sabia. Eu não queria que ele se cansasse muito ou realmente achasse que estava sendo uma lástima no quesito dança (o que não era verdade), então me resumi em dar pequenas dicas e tentar levantar sua autoestima sobre a questão dançar. Conversamos bastante também, especialmente sobre a tal ‘reunião’ que ele teve – que foi, justamente, falar de suas ‘habilidades falhas’ com os managers, como se estes fossem experts no assunto.

Enfim, assim que Jin saiu da sala, juntei minhas coisas pra ir comer algo e depois aguentar a minha reunião extraordinária. Foi então que peguei meu celular e vi que haviam algumas chamadas perdidas. Eu sequer tinha escutado ele tocando, provavelmente pela música alta, e também não me lembrava de estar esperando a ligação de alguém. Li no visor que as ligações eram de Jimin e logo me preocupei pensando que algo poderia ter acontecido. Tentei retornar, mas ele não me atendeu. Só aí foi que me lembrei...

         A consulta do Jimin!

         Aish, eu prometi que iria acompanha-lo nesse retorno ao médico e me esqueci completamente que a consulta estava marcada pra hoje de manhã. Depois de todo aquele problema com Yang Hee e com as ideias malucas que ela passava, eu fiquei de observar tudo sobre sua alimentação e ir atrás dos resultados dos exames quando saíssem. Mas, pelo jeito, falhei miseravelmente. Parabéns, Francine, começando o dia da melhor maneira!

(...)

“Sis!” – Camille gritou, entrando no apartamento. Eu estava na cozinha, com a cabeça na lua – “Acho que fiz uma burrada, preciso de seus conselhos de irmã mais velha”

         Fui até a sala ao seu encontro, mas estava com problemas demais pra conseguir corresponder a sua felicidade. Primeiro eu havia esquecido de acompanhar o ChimChim, depois passei pela reunião. Já minha caçula tinha um sorriso tão grande no rosto que eu conseguia ter certeza de quem havia sido sua companhia durante a tarde. Infelizmente, eu tinha um assunto sério a tratar com ela primeiro.

“Preciso conversar com você” – quebrei o silêncio, ainda séria, deixando-a aflita

“Okay... Deixa os conselhos pra depois” – Mille fechou o sorriso e me encarou – “O que foi? É sobre a reunião?”

“Sim” – respondi, abraçando uma das almofadas

         Me encontrar com a ‘equipe de contratação’ não havia sido nada legal, mas apenas confirmou minhas suspeitas. Em menos de uma semana a papelada estaria pronta e eu estaria definitivamente desligada da equipe do BTS. Isso talvez significasse que eu teria que sair da Coreia outra vez e, o que mais me preocupava, significava me afastar dos meninos a quem tanto me apeguei.

“Vão renovar seu contrato?” – Camille me lançou um olhar esperançoso

“Não, não vão” – respondi, acabando com mais um sorriso – “Daqui há alguns dias volto a ser uma coreógrafa desempregada”

“E você vai embora?” – agora sua preocupação estava mais estampada – “Os meninos já sabem?”

“Ainda não tenho muitas certezas” – retruquei, suspirando. A verdade é que não queria ir, por mim nem deixaria esse emprego (por mais que seja tão difícil) – “E ainda não falei com os meninos”

“Quando vai contar pra eles?” – Camille me abraçou, como se entendesse que aquilo estava sendo mais doloroso pra mim do que eu deixava transparecer

“Não sei, não quero me precipitar” – respondi, forçando um sorriso e mexendo em seu cabelo

“Mas, tem maneiras de ficarmos aqui, não tem?” – ela voltou a me encarar. Eu sabia bem o que minha irmã estava pensando... Começara a se interessar de verdade por alguém e não queria partir. Adoraria poder dizer que com ela não aconteceria como foi comigo e Kwan, mas não tinha certezas para dar – “Quer dizer, você e eu podemos ficar mesmo se não estiver trabalhando, não é?”

“Não posso te garantir nada, Mi” – eu não queria decepcioná-la, mas também não queria criar expectativas demais. Estava tentando fazer isso até pra mim mesma – “Podemos ficar por pouco tempo como turistas, mas nada além disso”

Tanto eu quanto Camille sabíamos que seria quase improvável que renovassem meu contrato, mas estávamos nos obrigando a pensar que o dia final do meu trabalho demoraria a chegar. Passou mais rápido do que eu percebi. Chegou antes do que eu queria e agora eu não sabia como enfrentar a situação. Nunca foi tão difícil sair de um emprego como está sendo agora.

“Fran” – Mille me tirou do mundo da Lua – “A porta!”

         Eu estava tão concentrada que sequer havia escutado alguém batendo na porta. Sai do abraço da minha irmã e fui abrir, dando de cara com Jimin. Ele estava sorridente, apesar do grande furo que havia dado mais cedo.

“Jiminie, me desculpe por ter esquecido sua consulta hoje mais cedo” – já comecei me desculpando – “Fiquei com tanta coisa na cabeça que...”

“Não tem problema, só fiquei preocupado achando que tinha acontecido algo” – respondeu, um pouco envergonhado, mas sem deixar de sorrir – “Eu te trouxe os exames”

“E os resultados? Como foram?” – me forcei a não deixar transparecer pelo meu rosto as preocupações que estavam me atormentando e me esforcei pra parecer feliz pela visita.

“Pode conferir” – retrucou, me entregando o envelope que carregava

         Tirei os papeis de dentro do envelope e me sentei com Jimin ao lado de Camille – que, curiosa como só ela, já enfiou a cara na papelada querendo saber o que era (mesmo sabendo que não entenderia nada). Eu não entendo nada de medicina, mas esses exames não são tão difíceis de ler. Comparei os números, mas a própria cara do Jiminie já dedurava tudo; o sorrisinho feliz de quem conseguiu vencer no fim das contas.

“Ah, agora sim...” – respondi, agora sorrindo verdadeiramente por ver que tudo estava certo.  – “Fico feliz que esteja saudável outra vez, senhor Park Jimin! Não se descuide de novo, ok?”

         Ver que consegui, depois de tanta briga, colocar a saúde desse menino em primeiro plano outra vez já fazia valer a pena o tempo em que passei como parte da equipe. Era muito mais importante pra mim do que o sucesso da coreografia que eu havia feito. Jimin parecia tão contente com sua própria conquista, seus olhos brilhavam e até mesmo sua expressão parecia ser mais confiante. É, Fran, nem tudo desse tempo foi perdido; quando sair terá pelo menos essas conquistas.

“Obrigado” – Jimin me abraçou e naquela hora tive duas certezas. A primeira de que eu estava na profissão certa e com os ideais certos (ser coreógrafo não é apenas inventar e colocar uma coreografia em prática). A segunda... Não seria nada fácil me despedir.



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