Acordo preguiçosamente as onze da manhã, quase me esqueci que hoje era Domingo. Coloquei Letting Go do Day6 para tocar enquanto me levantava e ia preparar algo para comer. Puta depressão. Agora sei a sensação que todas as garotas têm com os crush da vida. Só tenho vontade de me enfiar em um casulo e desaparecer.
“Eu começo a pensar na gente sem nenhuma razão, dias que brincamos por aí e rimos
Memórias tão preciosas que me enchem, embora eu não as queira”
-Day6, Letting go
Pego um pote de sorvete de morango que normalmente guardo para ocasiões de tpm e vou para a sala e vejo meu reflexo na televisão. Cabelos bagunçados, olhos inchados de tanto chorar e um rosto triste. Se meus amigos me vissem assim, perguntariam se essa sou eu mesma. Nunca passei por algo parecido, ainda mais por culpa de um garoto. E pensando que a um tempo atrás eu nunca me imaginaria nessa situação.
Estava vendo Como eu era antes de você e chorando feito condenada quando a porta da minha casa é aberta com tamanha força que eu me assusto. Vejo Hyo entrando e me olhando com cara de brava, sendo seguida pela entrada de Sehun, Kris e May.
-Oi... – disse enfiando uma colher de sorvete na boca.
-Oi é o caralho! – esbravejou Hyo – Nunca pensei que te veria assim por causa de macho! Agora me conta tudo por que a May não me contou toda a história!
Olhei para a May que deu um sorriso tímido. Por mais que eu quisesse, não conseguia ficar brava com ela. Hyo se sentou do meu lado no sofá e antes que eu começasse a contar, já me encontrava a abraçando e chorando.
-Seja lá o que esse Suho fez, vai se ver comigo... – escutei Sehun brigando. Às vezes eu tenho medo do tom de voz dele.
Contei tudo a eles tentando cada vez segurar o choro cada vez que se aproximava do final. O triste final.
“Deixando ir, deixando ir, o futuro feliz eu vi uma vez com você
Eu sei, eu sei, eu não posso esperar um final feliz agora
Apenas como a terra endurece após a chuva
Se eu suporto essa dor no momento, você irá conhecer alguém ao invés de mim
Que pode te fazer sorrir, e eu tenho que dizer adeus agora”
-Day6, Letting Go
Termino de contar secando minhas lágrimas, mas uma pergunta vem a minha cabeça. O que May estava fazendo no hospital naquela hora? Só não iria perguntar isso no meio deles, vai que era algo pessoal?
-Eu não acredito... – resmungou Yifan.
-O quinteto anti-Suho foi formado! – disse Hyoyeon brava.
-Não é pra tanto... – eu disse tentando me recuperar do choro.
-Não é pra tanto?! Não vê o que esse idiota fez com você? – disse Sehun.
-Sabe o que podemos fazer? – disse May sorrindo – Amanhã, a ____ vai mostrar para ele o que ele perdeu, e é claro, vai ser o mais mal possível que ela puder!
-Gostei da ideia... – comentou Hyo – Você tem que ser letal e misteriosa, e não deve dar brechas para ele se aproximar!
Eles ficaram conversando sobre o tal plano infalível deles para acabar com o Suho e eu não pude deixar de dar um risinho. Esses quatro eram os melhores amigos que alguém poderia querer.
-Então faremos o seguinte – começou Hyo. Não preciso nem comentar que havia perdido a conversa toda por não prestar atenção – May vai ficar aqui hoje e vai tirar essa cara horrível da ____ e dar a ela um visual incrível. Nós três as esperaremos amanhã na escola e faremos a vida do Suho um inferno! – ela disse dando um sorriso maléfico.
Todos eles concordaram e se despediram de mim. Hyo deve ainda falar mais coisas com eles e só não quer que eu escute. Ela nunca vai embora cedo da minha casa, ainda mais em um momento como este.
-Então... vamos começar? – disse May sorrindo fofa.
-Eu quero comer primeiro. – disse a segurando pelo pulso e a levando para a cozinha onde peguei um pacote de cookies para nós duas. – Então, o que a senhorita fazia ontem no hospital?
May congelou quando a fiz essa pergunta e começou a tremer. Vi que em seus olhos formavam lágrimas, estas que ela segurava para não deixar cair.
-Está tudo bem? – perguntei preocupada para a pequena.
-Está sim... – ela respirou fundo para se acalmar.
-Se quiser, não precisa me contar...
-Não, não! Eu preciso de alguém para me ajudar a suportar tudo isso. – ela sorriu. Mas seu sorriso estava trêmulo. – Fui lá visitar meu irmão. Ele está em coma desde que eu tinha dez anos, e atualmente tenho dezessete... –seu sorriso desapareceu. Sete anos?! Ele já devia estar morto... –Ele me salvou de um acidente de carro, que a polícia diz não ter sido um acidente, e sim era alguém que queria me matar. – ela deixou uma lágrima cair e eu a sequei. – Desde aquele dia, tento ir pelo menos toda a semana vê-lo. Os médicos me perguntam se podem desligar a máquina e eu sempre nego. Ele está vivo, por mais que esteja em coma. E eu quero vê-lo sorrindo pelo menos uma última vez... – ela começou a chorar e eu a abracei forte.
Enquanto me acalmava, pensei nos meus problemas e nos de May. Os dela eram bem piores do que os meus e ela sempre estava sorrindo e com a cabeça erguida, e eu chorando por causa de um garoto. Isto está errado.
-May, vai ficar tudo bem... Ele vai acordar... E até isso acontecer, eu serei sua irmã mais velha e irei te proteger... Isso se seus pais deixarem... – normalmente os pais não gostam muito de mim, mas quando falei isso era começou a chorar mais.
-Eu não tenho mais pais... Eles também morreram.... – ela disse entre soluços.
A abracei mais forte. O passado dela me intrigava. O que aconteceu na família dela? Será que tem alguma relação com ela ter estado no Brasil? O que a Hyoyeon sabia sobre ela? Enfim, não vou encher a pequena de perguntas, e sim Hyoyeon.
-Quer começar a me arrumar? – perguntei e senti que ela parou de chorar e me olhou com o sorriso mais belo do mundo.
-Sim!!! – ela gritou feito uma criança e me puxou para o meu quarto.
O resto do dia seria longo.
*****
Já era o outro dia e acordamos uma hora antes do que eu estava acostumada para May me arrumar e si arrumar. Ontem quando havíamos testado tudo eu nunca havia me sentido perigosa com o uniforme da escola. Por mais que eu sempre ia maquiada, nunca havia ido desta maneira. Ela passou um delineador e um lápis bem marcado em meus olhos e deixou meu rosto mais limpo. Passou um batom marrom em meus lábios e como já havia deixado meus cabelos semi prontos, só os jogou para o lado e pôs um boné preto virado para trás.
A minha roupa foi o uniforme escolar mesmo, só que com uma meia calça preta toda rasgada, que sem querer falar, foi ela que rasgou.
Me olhei no espelho e não pude deixar de sorrir. Estava realmente perigosa.
-Falta só uma coisa. – ela sorriu me entregando uma pulseira grande com spikes e uma meia luva, já que ela não cobria os dedos. Nota mental: ela também tinha rasgado um pouco a luva – Sei que você gosta deles e ainda dá pra deixar o visual ainda melhor!
-Tu tem talento ein garota? Devia ser estilista! Mas é claro, como eu estou te dando a ideia, você não deve me cobrar. – eu e ela rimos.
May também tinha se vestido com algo do estilo, mas ela tinha deixado claro que queria o foco de todos em mim.
Saímos de casa e como o combinado, o trio de golfinhos estava nos esperando na porta. Hoje em especial, ninguém nos olhava. Se eu fosse um deles, pensaria que hoje iria dar muita merda.
-Ui, está gostosinha ein? – disse Hyo vindo em minha direção e eu soltei uma risada.
-Quando começamos? – perguntei.
-Essa maquiagem é mágica? Da autoestima? – disse Kris encantado com minha reação. – May, pelo amor de Deus, passa um pouco no Sehun pra ver se ele para de ficar com essa cara de porta!
Sehun o encarou de lado e jogou sua mochila nas costas de Kris, e todos nós rimos, menos os dois, que se encaravam como se fossem assassinar o outro, mas não demorou muito e eles riram também.
-Vamos entrando. – disse Sehun sorrindo.
Ao entrar na escola todos tinham seus olhares direcionados em nós, mais especificamente em mim. Não demorou muito e Suho veio na minha direção sorrindo. Com aquele sorriso que tanto me matava. Só não podia começar a chorar ali e agora.
-Oi ____! – ele disse e eu o ignorei, batendo meu ombro com força no seu, fazendo ele se desequilibrar um pouco. – Vai me tratar assim hoje? – ele me perguntou e eu parei e o olhei de lado, com o maior olhar de desdém que podia dar e comecei a rir, e fui seguida por meus amigos. Kris e Sehun foram atormentar a vida dele enquanto eu e as meninas íamos para a sala.
-Wow, que que foi aquilo ein? A maquiagem é mágica mesmo! – Hyo disse rindo enquanto se sentava.
-Eu juro que pensei que ia começar a chorar.
-Se começasse, a gente inventava algo. – May sorriu – Não iriamos te deixar parecer fraca!
Eu sorri e pus meus pés em cima da mesa. Passaria o resto das aulas assim. Aos poucos os alunos foram entrando e Kris e Sehun entraram rindo com um pequeno caderno nas mãos e Suho tentava desesperadamente pegar. O mesmo estava com o rosto um pouco sujo, mas ninguém estava aí.
-Joga aqui Kris! – gritou May e o mesmo a obedeceu. Se ela mandasse ele se jogar em um buraco ele se jogaria, não tenho dúvidas.
Ficamos jogando o caderninho dele enquanto ele ia atrás até que chegou em mim. Suho veio até mim com o rosto triste e eu fingi que iria ceder para ele e entregar o caderno, mas o joguei para Sehun no último momento.
-Achou mesmo que tinha me ganho? – perguntei em um tom tão calmo que até eu me assustaria.
Suho não conseguiu responder pois o professor de Geografia havia chegado e mandou todos calarem a boca e se sentarem.
Com certeza, hoje vai ser divertido para mim, e doloroso para quem estiver em meu caminho.
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