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História Bad Reputation. - Capítulo V


Escrita por: Nihiil

Notas do Autor


Oi oi!

Bom, esse capítulo é um dos meus preferidos da fic. Espero que gostem.
Boa leitura

Capítulo 5 - Capítulo V


“Prisioneira do corpo, a alma vive em
guerra com o carcereiro.”

 

Comecei a dirigir enquanto observava Niall de soslaio. O loiro havia colocado as pernas sobre o estofado e as abraçava, deixando o queixo encostado nos joelhos. Sua mente parecia longe, pensando em muitas coisas que eu sequer podia imaginar. Eu só podia me sentir aliviado por sua confiança, por ter entrado naquele carro sem fazer perguntas e me deixar contar minha história, me desculpar e principalmente mostrar o quão importante ele é para mim.

 

- Sei que talvez não queira falar sobre isso, mas eu peço desculpas por como te tratei na festa. Eu não deveria ter te forçado a sair, deveria ter perguntado. E se você falasse que queria ficar eu deveria ter ficado ali do seu lado, dançando, te divertindo e te fazendo esquecer o que aquele idiota falou. Mas sabe, eu não me arrependo nem um pouquinho de ter socado a cara dele. Ele achando que pode falar tudo aquilo pra você fez o meu sangue ferver e não importa o que você fale Niall, eu não achei uma brincadeira. Você é incrível e eu nunca permitia que alguém fale isso de um amigo meu - Soltei tudo de uma vez, vendo-o ainda abraçado as pernas, me olhando com calma.

 

- Eu… Eu fiquei com muita raiva na hora, mas depois eu comecei a pensar. Louis conversou comigo esses dias e me fez entender isso. Que não era uma brincadeira, que eu não poderia aceitar tudo calado. Depois eu pensei mais ainda, e sabe … eu fiquei feliz que você tenha socado a cara dele. - Niall confessou baixinho, como se as palavras machucassem - Eu achei que ele era meu amigo, que nossa relação era boa.

 

- As vezes a gente confia nas pessoas erradas, as vezes a gente confunde o que é amor, o que é abuso. O que faz bem e o que é tóxico. E falando assim até parece ridículo confundir coisas que parecem tão opostas, mas muitas vezes estão camufladas - Disse aproveitando um farol para afagar seus cabelos, Niall parecia realmente tristinho e meu coração se sentia pequeno com aquela cena.

 

- Eu senti falta de falar com você. Quanto mais eu pensava, mais confuso eu ficava, mais triste e com raiva e nervoso e frustrado. E eu simplesmente não podia atravessar a rua e conversar com você porque eu estava sendo bobo e infantil. - Senti o outro prender o ar e inspirar de forma forte, as narinas dilatando pelo ato - Eu não estou muito acostumado as pessoas me defendendo. Você chegou a tão pouco tempo e fez as coisas mudarem tanto que no primeiro momento eu senti raiva de você, por mexer onde não devia, por bagunçar o que estava em ordem. E agora eu sinto raiva de mim por perceber que nada estava em ordem e talvez você esteja mais organizando do que bagunçando as coisas.

 

-  Eu também senti. Eu queria sinceramente te abraçar e falar que vai ficar tudo bem. Porque eu sei que vai. Porque eu sei o quanto você é incrível e não tem palavras para descrever o quão é positivo e iluminada a sua relação com a sua avó. É incrível sabe? As pessoas enxergam uma pequena parte de você. Eu vejo um todo mundo maior e por isso me incomoda tanto o fato de te julgarem.

 

- Você se incomoda com isso? De eu ser “fácil”?  De ter ficado com tantas pessoas - E eu quase quis parar o carro e abraçar o loiro. Sua voz estava tão quebrada. Como se finalmente todas as vezes que foi chamado de puta ou condenado por sua liberdade sexual havia lhe atingido. Mas eu precisava chegar logo ao lugar.

 

- Me incomoda que esses idiotas falem isso de você. Me incomoda que eles tenham o poder de te afetar, de te ferir com palavras. Me incomoda que eu te veja sem aquele sorriso que ilumina seu rosto e faz com que os seus olhos pareçam dois pontinhos do céu em um dia de verão. Mas nunca vou me incomodar porque ou com quem você ficou, se isso tiver te dado prazer e um bom momento. Eu não vou me incomodar - Sorri para ele, ganhando um sorriso que quase chegava ao meu favorito. Ainda não era completo, ainda havia uma sombra de tristeza, mas já era o suficiente para começar a iluminar seu rosto.

 

- Você é muito bom com palavras Zy … Eu … Me sinto especial em ouvir isso - O outro confessava quase como se fosse errado se sentir especial com minhas palavras. Mal notando que havíamos saído da estrada principal e agora subia um morro por uma antiga estrada de acesso, ziguezagueando pelas curvas e se afastando a pulsante luz da cidade.

 

- Mas eu quero que se sinta especial, único, importante. Porque é exatamente isso que você é para mim. Não sou muito aberto com meus sentimentos Niall, mas quando demonstro eles, sou o mais transparente possível. Por isso loiro, se sinta especial. Porque você foi capaz de cavar minha pele, passar meus músculos, se infiltrar em meu coração e se embrenhar no meio das fibras do meu ser. Agora eu sei que existe um espacinho só seu dentro de mim - Eu não conseguia controlar minha língua e falava todas aquelas coisas de forma tão sincera que chegava a ser assustador. Niall corou e olhou para frente, tentando fugir do meu olhar e da intensidade das minhas palavras. Finalmente notando o caminho e me olhando preocupado.

 

- Para onde estamos indo Zy? Nunca vim pra cá - O loirinho parecia um pouco tenso, mas também não poderia julga-lo. O caminho era esquisito, escuro e no meio das árvores.

 

- Confia em mim e me dê cinco minutos que vai valer a pena. Eu queria te trazer no meu lugar favorito daqui. - Não demorei para fazer as curvas finais e chegar no local.

 

O antigo mirante de Bradford era um grande ponto turístico que acabou sendo abandonado por falta de manutenção e porque a polícia havia cansado de tirar os casais que vinham aqui pela noite. A estrada foi fechada e somente a de acesso fora mantida, já que era desconhecida para a maioria das pessoas. Aquilo me entristecia, o lugar era mágico e a cada hora do dia trazia uma visão diferente. Ver a cidade como pontinhos de luz se misturando com as estrelas era uma de minhas visões favoritas. Estar ali no alto, vendo tudo de outra perspectiva me mostrava um limiar muito mais singular do céu e da terra. Havia algum ponto que ambos se encontravam, nem que fosse no horizonte. Assim que estacionei me estiquei para pegar uma mochila no banco de trás, abrindo a porta e sorrindo para Niall.

 

- Wow. Onde estamos? - O loiro olhava para todas as direções. O farol do carro ainda iluminava um pouco o espaço, mas a escuridão era quase total, deixando que as estrelas e a lua fossem os protagonistas daquela cena.

 

- Em um antigo mirante da cidade - Comentei abrindo a mochila e tirando um cobertor e colocando-o no chão. Assim como uma garrafa térmica com o chocolate quente, um grande pacote com cookies de chocolates e outro com brownies - Achei que se tenho que falar de algo que não gosto, poderia tentar deixar menos pior. Falar tudo de ruim em um lugar bonito e que me traz boas lembranças.

 

Me sentei e estendi a mão para Niall que rapidamente se aproximou e se sentou ao meu lado, não fazendo cerimônia em se servir da bebida quente enquanto observava a vista fascinado. Seus olhos brilhavam enquanto não sabia se comentava algo ou se apenas se dedicava ao silêncio e a absorver tudo o que via ali. Peguei por fim o segundo cobertor  que havia trazido e cobri seu corpo, afinal o vento estava gelado e o loiro só havia saído com um moletom no momento que eu o “sequestrei”

 

- Sabe, nos últimos anos eu me tornei tantas pessoas diferentes que em certos momentos eu já não sei se existo de verdade ou se sou apenas uma consequência dos fatos. A psicologia e a filosofia dizem que aprendemos com os erros, mas meus erros são tão grotescos que eu me pergunto se eu realmente aprendi algo ou só destruí uma parte de mim ao ponto de não querer repetir o fato por simplesmente já não haver uma parte que considera o fato de meu interesse. Consegue entender? - Retirei a cartela de cigarros de meu bolso e mostrei para o loiro - Se importa se eu fumar?

 

- Acho que sim, mas é uma frase tão profunda e tão complexa que eu preciso pensar nela antes de saber se realmente entendi - Niall confessou de forma sincera, me fazendo rir - Quanto ao cigarro tudo bem.

 

- Minha mente é um lugar bem nebuloso Niall, eu não vou mentir para você. Não sou desse tipo - Me virei para ele e ajeitei melhor o coberto em seus ombros, abrindo o pacote de cookies e pegando um que julguei ter mais gotas de chocolate, entregando para o outro ao meu lado - Vim para cá tentando me curar de algumas feridas, mas as vezes parece que isso é uma mentira para mim mesmo. Eu vim para cá fugindo da culpa e da dor que me corria sempre que via a minha irmã - Peguei outro cookie, dessa vez não me preocupando se ele era o maior ou o melhor, dando uma mordida sem grandes pretensões. Mastigando sem realmente sentir o sabor

 

- Porque sua irmã? - O loiro bebericava o chocolate, mergulhando o cookie na bebida e dando uma mordida, repetindo o processo para levar o doce aos meus lábios. Comi sem reclamar, roçando minha boca na ponta de seus dedos.

 

- Você já conhece a história de que fui para a América e sofri racismo e xenofobia, que me envolvi com as pessoas erradas e vivi uma vida um tanto quanto intensa por algum tempo não? Álcool, drogas, festa, muito sexo. Essas coisas - O loiro apenas concordou - Pois bem, agora eu vou começar a te contar a segunda parte da história. Se isso fosse um capítulo ele se chamaria consequências. Entenda que um ato sempre possui três vertentes. A causa. A ação. E a consequência. Nessa história onde sou o protagonista você já conhece minha causa. Uma mudança conturbada seguida de uma má adaptação e uma inabilidade de diálogo entre mim e minha família. Entre mim e o mundo exterior. Entre uma cultura de homens brancos hipócritas com minha cultura de homens muçulmanos hipócritas. Você também conhece a ação, no caso uma força destrutiva o qual me joguei de cabeça e me deixei guiar de olhos fechados. Por fim que comece o terceiro ato, consequências - Traguei longamente o cigarro, deixando que a fumaça se expandisse em meus pulmões inflados e saísse lentamente como um suspiro.

 

Niall praticamente não piscava, tentando acompanhar tudo o que eu falava. Sabia que estava divagando e entrando em um universo muito mais metafórico do que teórico. Mas eu gostava daquilo. Havia um homem muito inteligente por trás da fachada desleixada e do gosto peculiar. Mas toda vez que eu mostrava as pessoas não pareciam gostar, acreditar ou mesmo se importar. Então havia passado a guardar essa versão de mim mesmo apenas para mim. Quando se fala menos, se escuta mais. E quando se escuta mais, você vê a vida de perspectivas diferentes. Perspectivas. O que poderia ser. O que seria. O que será. O que foi. Mil versões de um mesmo fato que nunca aconteceu ou acontecerá. Por minha causa.

 

- Eu estava na minha pior fase. Eu voltava para casa a cada dois ou três dias, o resto do tempo ficava na casa de “amigos”, ou emendava uma festa na outra. Dia e noite não tinham distensão. Eu poderia dormir a qualquer momento, mas porque dormir quando poderia estar chapado, bêbado e curtindo a vida? Nova York nunca dorme Niall, se você souber aonde frequentar as festas durarão 3 dias, você terá acesso a tudo e a todos. E o preço? O preço é só a sua vida - O loiro me olhava assustado, me fazendo tragar o cigarro novamente. Aquilo me ajudava a controlar a ansiedade e o desejo de me esconder daquilo - Eu nunca falei isso em voz alta … É difícil.

 

- Não precisa me contar se não estiver pronto. Eu vou entender - Niall afagou minha coxa e eu apenas neguei rapidamente com a cabeça.

 

- Eu preciso colocar para fora antes que me envenene ainda mais. Enfim. Eu estava em uma fase que vivia drogado, bêbado e fodendo alguém .Eu não me lembrava de rostos ou coisas do tipo, o mundo real e o mundo paralelo que estava por conta das drogas já haviam se fundido a muito tempo. Estávamos voltando de uma grande festa, eu havia ficado desaparecido de casa por dois dias, mas estava na hora de voltar e pegar mais dinheiro. Pareceu inteligente fazer um racha naquele momento, eram três da tarde e estávamos entrando em um bairro residencial. Eu ria com os gritos de incentivo da garota ao meu lado, meus “amigos” me provocando no carro ao lado. Eu finalmente era aceito, eu finalmente era legal. Tinha amigos. Meu melhor momento. Ah sim. Eu me sentia com o êxtase da glória - Ri de forma irônica, eu estava me afundando e nem notava - Eu acelerei, como um louco, como se nada mais importasse. Eu ria e desviada dos carros, passa faróis, xingava o outro carro e gritava conforme a batida alta da música que tocava no rádio. A vida está a 150 km/h e eu estava achando aquilo incrível. Até que eu bati em um carro que estava tentando estacionar. - O loiro mal piscava, a bebida esfriando em sua mão pelo momento dramático - O carro rodou conforme perdia velocidade. Tudo parecia tão rápido e tão lento ao mesmo tempo. Os gritos, o barulho ensurdecedor, o vidro se quebrando. A adrenalina pulsando tão forte que eu achava que meus tímpanos iriam estourar. O carro rodou e bateu em algo, em alguém, em um corpo. Quando me senti menos tonto eu acelerei novamente e sai dali, não querendo saber quem era. Não prestando socorro. Eu só pensava que não poderia ser pego, cada um com seus problemas. Sabe de quem era o corpo Niall? - O loiro negou com a cabeça - Da minha própria irmã.

 

- Ela … você .. O que? - Niall parecia em choque com o caminho que a história tomava, quanto a mim eu apenas tremia. Tentando controlar a dor, o choro, o arrependimento.

 

- Eu voltei pra casa umas duas horas depois de esconder o carro e tentar arranjar um álibi e uma boa história. Quando entrei em casa não havia ninguém, apenas uma nota na geladeira que estavam no hospital. Liguei só para saber o que havia acontecido e minha mãe aos prantos contou que um louco havia invadido a rua e atropelado Waliyha que estava na calçada. Corri para o hospital em um completo desespero. Minha irmazinha, minha pequena que não importasse o quão chapado eu estivesse ou de mal humor, me abraçava e falava que me amava. Minha princesa que sonhava em ser bailarina. Eu havia acertado ela - E em um rompante comecei a chorar, não tendo mais controle da dor que havia florescido dentro de mim - Eu poderia tê-la matado e por Allah que “nada” pior aconteceu. Chegando no hospital eu soube melhor da história. Havia batido em um carro com uma moça e seu pai já idoso, ambos estavam internados e o idoso tinha risco de morte, estava em um estado delicado. A mulher mais machucados e cortes pelo vidro, duas costelas quebradas assim como uma tíbia. Minha irmãzinha, com a perna faturada em três partes diferentes, uma concussão na cabeça, um pulso fraturado e parte do corpo esfolado pelo impacto.

 

- Você … contou a eles? - Niall afagava minha coxa com mais força e eu não tinha vergonha de chorar. Eu havia sido um monstro.

 

- Não a princípio. Estava tudo tão caótico e eu me sentia tão desesperado. Waliy ficou no hospital por 21 dias, sendo que 5 desses foram em coma induzido por conta da forma pancada que a cabeça deu no chão.  Eu fiquei com ela todos os dias. Eu só saia para tomar banho, de resto vivia naquele hospital. Eu me sentia tão culpado ao vê-la chorando com medo de não poder dançar mais, de não ser uma bailarina, de não poder dançar Tchaikovsky e não ser o cisne branco. Aquilo me destruiu, e se eu achava que estava no fundo do poço, eu mesmo cavei um novo fundo. A polícia passou a investigar o caso e no desespero contei a meus pais. Minha mãe chorava e se recusava a olhar em meu rosto, meu pai me deu um tapa que doeu em minha alma. Não pela força, mas pelo desprezo que sentia. Eles não me denunciaram, encobriram meu ato com medo de machucar ainda mais minhas irmãs com a bomba destrutiva que eu havia me tornado. Eu deveria ter sido preso, eu deveria ter sido castigado, mas meus pais se negaram - O loiro me olhou surpreso, como se não entendessem - Meu pai dizia que o peso da culpa que eu carregaria seria muito pior do que o peso de um castigo. A culpa me afundou, me deixou em depressão, me fez parar com as festas, as bebidas, tudo. O peso da culpa me transformou em um homem sem rumo.  Existe um provérbio em nossa cultura que diz que há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Pois eu havia lançado a flecha, pronunciado as palavras e perdido a oportunidade tudo de uma só vez.

 

- Como está a sua irmã? - Tentei limpar as lágrimas para responder à pergunta. Eu não sabia o que o outro estava pensando de mim - Eu não estou te julgando. Todos fazemos coisas errada Zayn, você mudou. Você não é mais assim.

 

- Ela está finalizando as sessões de fisioterapia. Ela já voltou a andar e não ficou com nenhuma lesão, mas é impossível que ela vire uma bailarina profissional. Pode dançar por hobby, mas eu destruí o sonho da minha princesa - Falei quase sem força, afundando meu rosto contra minhas mãos e tentando conter a dor que me tomava.  - Eu destruí seu sonho e quase a matei.

 

Me surpreendi quando o outro praticamente se jogou sobre mim, me abraçando apertado e afagando minhas costas, aumentando meu choro e meu desespero. O abracei apertado, finalmente sentindo um carinho após tanto tempo.

 

- Eu sou um monstro Niall, eu fugi de lá porque não aguentava mais a decepção de meus pais, o peso da culpa, o medo da polícia. Eu estou tentando me reencontrar, me reconstruir. Mas porquê? Eu nem deveria estar aqui. Eu deveria ter morrido para parar de ferir as pessoas

 

- Shiiu … Você é incrível Zayn, você cometeu um erro e está pagando por ele. Agora só nos resta supera-lo e se reencontrar. Seus pais vão reconsiderar isso e sua irmã está viva, bem, andando. Quem garante que ela ia querer ser bailarina mesmo? Nossos sonhos de criança mudam. Sendo a primeira bailarina da Broadway ou não eu sei que você terá orgulho dela. Então não se culpe tanto, você disse que existe uma causa, ação e consequência. Mas nós não controlamos tudo. Existe o acaso, a coincidência, a incidência. Você mal controlava sua vida, seus atos não vão controlar a da sua irmã também. Você me entende? - Concordei com a cabeça e suspirei num misto de dor e alívio. Depois de falar tudo aquilo, assumir em voz alta meu maior erro, mas não receber ódio e julgamento acalentava meu coração.

 

Niall arrumou o coberto em meus ombros de formas que dividíssemos, os ombros se roçando e a palma carinhosa do menor ainda em minha coxa, em um carinho inocente. Olhávamos o céu em silêncio, as estrelas compartilhando de meu segredo e do gesto de carinho que recebia.

 

- Obrigado por não me odiar - Suspirei quebrando aquele longo silêncio, ficando surpreso quando ganhei um selar em meus lábios. Doce e demorado, mas ao mesmo tempo inocente e acalentador- Porque? - Perguntei confuso com o gesto repentino. Meus lábios ainda sentindo a pressão macia e suave de segundos atrás.

 

- Eu nunca iria te odiar e eu fiz isso porque eu queria te fazer ficar melhor - Sorri com sua inocência, entrelaçando nossos dedos e sentindo sua cabeça descansar em meu ombro - Sabe, os pais erram Zayn. Mais do que a gente costuma perceber. Você teve sua parcela de culpa e eu não vou negar, mas eles também tiveram por conta da mudança, por não notar que não estava conseguindo se adaptar, por não terem intervindo no problema com as drogas. Eles foram negligentes. Acredite, a culpa não é toda sua. Existe muito mais coisas envolvidas - Novamente recebi um selar carinhoso em meus lábios e meus olhos voltaram a se encher de lágrimas, o abraçando apertado.

 

Ouvir aquilo fazia meu coração ter um pouco de esperança, de que um dia poderia deixar tudo aquilo para trás e ver que mudei, que melhorei. Ver minha irmã saudável e feliz. Eu estava tão quebrado por dentro e não deixava ver, e era irônico que a primeira pessoa a qual mostrei era tão quebrada quanto eu, talvez até de forma pior. Mas mesmo assim foi gentil o suficiente para me ceder um carinho e apoio.

 

- Sua avó me contou parte da sua história. Se um dia quiser desabafar sobre isso saiba que eu estarei aqui - Falei baixinho, sentindo-o ficar tenso em meus braços e soltar um suspiro cansado.

 

- Uma noite de muitos segredos não? - Niall sussurrou em um timbre triste.

 

- Eles estão seguros com as estrelas - Ergui seu queixo para o céu, mostrando que não havia mais nada além delas.

 

O loiro me abraçou apertado e permitiu chorar baixinho toda a dor que tinha de sua própria rejeição. Eu me permiti chorar por toda minha decadência e más lembranças que carregava. Nós dois ali abraçados e protegidos pela lua e pelo silêncio de Bradford. Pela primeira vez eu sentia que havia um bom futuro para mim e Niall parecia compartilhar do sentimento.

 


Notas Finais


Zayn errou? Com certeza. Mas existe uma infinidade de fatores nessa equação.
Entramos em uma certa fase da vida em que você se sente pressionado a fazer as coisas. Você precisa demonstrar que saiu ou está saindo da infância. É só uma bebida. É só um cigarro. É só um beijo. É sempre "só" alguma coisinha que você não quer fazer, mas que há uma pressão social para que faça. Para que não seja deslocado, que não seja esquisito, que não seja o diferente. Mas porque é tão ruim assim ser diferente? Porque lutamos por nossa individualidade no dia a dia para que quando estamos em grupo todos agirmos de forma igual?
É necessário coragem para se impor, para dizer que não quer, para ter confiança que uma negativa não te excluirá dos outros. Coragem para aguentar as "brincadeiras" (Que não são brincadeiras!), os comentários e as "zoações". É necessário confiar em si mesmo para passarmos por todos os momentos em que a pressão social te empurrará para sensações desconfortantes.

Nem entrarei no assunto de drogas porque é um tópico tão grande e tão abrangente que ficaria maior que o próprio capítulo.

Até semana que vem


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