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História Bad Romeo - Book 1 - Negação


Escrita por: EstrabaoJwregui

Capítulo 16 - Negação


Seis anos antes

Westchester, Nova York

Grove


 

— Cabello, só enfia na boca.

— Não me apresse. Nunca fiz isso antes.

— Bom, a melhor forma de aprender é fazendo.

— Não sei que droga estou fazendo!

— Para de desculpa. É só colocar os lábios em volta e chupar. Não é física quântica.

— Ai, meu Deus, Camila. — Zoe revira os olhos. — Vai logo ou passa adiante. Outras pessoas estão esperando, sabe?

 

Ela fecha a cara para mim quando eu olho o baseado aceso na minha mão. Estou tentada a passar adiante, mas não quero ser vista como a garotinha ingênua que na verdade sou, então coloco o cigarro entre os lábios e chupo com força. Termino inalando uma baforada intensa e abrasadora de fumaça.

Todo mundo ri quando tenho uma crise enorme de tosse. Jauregui dá tapinhas leves nas minhas costas.

— Deixa a boca um pouco aberta quando tragar — ela ensina, tentando não rir. — Assim você pega um pouco de ar com a fumaça, mas queima menos.

— Você não podia ter me dito isso antes? — chio enquanto ela me passa sua garrafa de água.

Ela dá de ombros e sorri.

— Onde estaria a diversão nisso?

Bato no braço dela quando bebo a água.

— Tente novamente. — Lucas acena para mim. — Faz como a Lauren disse e inspire mais ar, daí segure nos pulmões pelo máximo de tempo que der. É a melhor forma de ter um barato decente.

Faço tudo isso. A fumaça ainda queima, mas consigo segurar por uns dez segundos.

— Legal — Lucas me aprova, e todo mundo dá uma leve rodada de aplausos.

Jack pega o baseado.

— Vamos deixar você chapada como uma profissional antes do que pensa.

— Maravilha — respondo honestamente enquanto agarro a água da Jauregui de novo e tomo um longo gole.

— Ainda não consigo acreditar que essa é sua primeira vez — Zoe comenta com desdém. — Que americana que se respeita chega aos dezenove sem ter fumado pelo menos uma vez?

Dou de ombros.

— A filha do Pai Mais Rígido do Mundo?

Zoe torce a cara.

— Camila, isso não é desculpa. Não viu Footloose? A filha do pastor quase se prostituía depois dos cultos. Ter um pai hiperprotetor deveria ter deixado você mais louca, e não menos. Afe.

Por algum motivo, Jack e Lucas acham a declaração dela hilária e caem na gargalhada. Eu sorrio para eles. Zoe nota, e seu rosto faz uma dança bem estranha entre ficar puta ou feliz. Ficar feliz acaba ganhando. Ela sorri para mim e eu passo a ela o baseado.

Uau. Maconha tem um jeito mágico de fazer inimigos mortais gostarem um do outro? Por que mesmo não é legalizada?

Jauregui pega o baseado de Zoe e aperta os olhos enquanto traga. Seus longos dedos formam um funil que ela suga fazendo um bico.

Ao meu lado, Zoe geme.

 

— Puta merda, Lauren, você tem os melhores lábios.

Ela sorri para ela, com a boca fechada segurando a fumaça. Quase engasgo tentando não rir da cara de tesão que ela faz.

Ela está tão na dela. Sei como ela se sente.

— Jesus, Jauregui — Jack resmunga —, você tem de pegar todas as garotas? Que tal deixar umas aí pra gente?

 

Jauregui passa a ele o baseado e dá de ombros. Então se vira e se inclina para segurar minha cabeça. Inicialmente, fico chocada porque acho que ela vai me beijar. O que é esquisito porque nas últimas semanas fomos extremamente cuidadosas em não deixar transparecer nada na frente do pessoal. Mas, no último segundo, ela paira sobre minha boca e solta o ar. Aí me dou conta de que ela quer que eu inspire a fumaça.

Eu inspiro. Meu corpo todo se arrepia enquanto ela me observa e sorri, roçando o dedo superlentamente na minha bochecha.

Uau. Fogos de artifício incendiando minha pele. Me estremeço toda. Definitivamente, posso sentir que a maconha está fazendo efeito agora. O mundo fica em câmera lenta, ganhando um foco mais definido. Por um longo tempo, tudo o que posso ver é o rosto de Jauregui na minha frente. Ela pisca vagarosamente, e consigo ouvir seus cílios se chocando. Então ela lambe os lábios bem devagar, sua língua é rosada. O baixo pulsante de uma música de Barry White começa a tocar no meu cérebro.

— Beija ela! — Jack grita e imita sons atrevidos de beijo.

Jauregui pisca, mas, quando afasta o olhar, meu rosto está queimando e outras partes minhas mais lá embaixo estão ainda mais quentes.

— Então o que rola exatamente entre vocês duas, afinal? — Jack pergunta, sua voz apertada quando ele inspira. — Vocês estão mesmo trepando?

Jauregui lança a ele um olhar atravessado antes de pegar o baseado e passar para mim.

— Você é mal-educado pra cacete, Avery. Não, não estamos trepando.

— Então o que estão fazendo? Divida os detalhes sórdidos com a gente.

— Não estamos fazendo nada — Jauregui responde. — Muda a droga do assunto.

— Também quero saber — Zoe se manifesta. — Depois do Romeu e Julieta, todo mundo achou que vocês estavam transando, mas agora não temos certeza. Acabem com os boatos. Contem o que está rolando.

Jauregui suspira e balança a cabeça.

— Não tem nada rolando. Cabello e eu somos amigas. Nada além disso.

Mesmo sabendo que ela está mentindo, ouvi-la ainda me deixa desconfortável.

— Uma ova que são só amigas — Jack protesta e pega o baseado de mim. — Tenho uma vaga lembrança de vocês duas se pegando na minha cama na noite da estreia. Pelo menos, acho que eram vocês.

Jauregui ri antes de se encostar contra uma árvore grande e cruzar os braços sobre o peito.

— Avery, você estava bêbado e chapado pra caralho aquela noite. Por uma hora você falou com as pessoas só na língua dos Smurfs. Foi smurfirritante. Está imaginando coisas.

— Você fala muita merda, Jauregui — Jack retruca. — Camila? Você se importa de confirmar ou desmentir que está smurfando com a Jauregui pra valer?

Estou muito vermelha.

— Jack, posso dizer com a mais completa sinceridade que não estou smurfando com a Jauregui. Espera, smurfar significa transar, certo?

— Como diabos os Smurfs sabem o que estão falando na maior parte do tempo?

— Isso é um substantivo? É um verbo? Estou confusa.

— Sim, Cabello. Estamos falando de sexo.

— Bem, então não. Definitivamente não estamos fazendo isso.

Infelizmente, Smurfs infernais.

Suspiro e olho para Jauregui. Uma de suas mãos está no bolso enquanto ele toca a casca de uma árvore com a outra. Estou hipnotizada pela ponta dos dedos dela tocando a textura áspera. Nunca tive tanto ciúme de uma árvore na minha vida.

— Mas você gostaria, né? — Jack pergunta com um sorrisinho malandro. — Você gostaria de smurfar bonito com ela, hein? Smurfar longa e lentamente? Ou talvez rápido e pesado?

Jauregui olha feio para Jack, que cala a boca na mesma hora.

— Só sei que eu gostaria — Zoe murmura. — Adoraria smurfar com ela até a porra da cabeça dela explodir. — Ela parece estar chocada com o que acabou de falar. — Ai, merda. Vocês ouviram mesmo isso, né?

— Eu não — Jauregui responde, galantemente fingindo ignorância.

— Ai, é que eu disse que quero foder com você — Zoe explica, providencialmente cobrindo o rosto. — Ai, merda. Não tem como você não ouvir isso, tem?

Jauregui sorri e balança a cabeça.

— Temo que não.

— Zoe, pode montar em mim — Jack sugere, apontando para seu colo. — Sobe aí. Um pau decente, sem espera.

Zoe levanta a sobrancelha.

— Decente quanto?

— Vinte centímetros — Jack responde, orgulhoso.

Zoe assente.

— Legal. Vou te dizer, Jack, da próxima vez que eu estiver caindo de bêbada, me procura. Posso aguentar trepar com você se não me lembrar no dia seguinte.

— Rá, rá, rá — Jack devolve. — É você que sai perdendo. Eu podia te dar os melhores dois minutos e meio da sua vida, moça.

Todos morrem de rir com essa.

Nossa risada é alta no silêncio dos bosques, e olho para Jauregui. Ela está sorrindo, mas olha para mim de uma forma que faz um jorro de calor me invadir. Minha risada morre quando eu balanço os joelhos para tentar diminuir a dormência nas pernas.

Se eu soubesse que maconha me deixaria ainda mais excitada que o normal, eu teria dispensado.

— Cara, estou morto de fome — Jack comenta ao meu lado.

— Eu também — acrescento, falando com o volume saliente nas calças da Jauregui.

— Se sairmos agora, podemos passar na cantina a caminho da aula — Lucas sugere.

Ficamos todos de pé e saímos pelas árvores do lado oeste da escola, caminhando em direção ao prédio central. Os três caminham na frente e eu e Zoe, atrás. Quando percebo que ela está olhando para a bunda da Jauregui, não fico com ciúme nenhum. A bunda dela é incrível. Deve ser apreciada.

— Então, você nunca trepou mesmo com ela? — ela cochicha enquanto continua olhando para a bunda dela.

— Não.

 

Quero morder a bunda dela. Não forte. Só umas mordidinhas naquelas bandas durinhas. Realmente não tenho certeza se isso é coisa da maconha ou se é um fetiche esquisito meu de morder bundas. Talvez seja um pouco dos dois.

— Aposto que ela é incrível na cama — Zoe sussurra. — Imagina só: toda aquela intensidade e paixão que ela vem atuando.

Droga, Zoe, dá para parar? Como se eu já não tivesse problemas demais só por não estar trepando com ela. Pare de me fazer desejá-la mais ainda.

Afasto meus olhos para longe da bunda dela e observo meus pés em vez disso.

Uau. Olho para a grama. Tantas folhas. Tão lindo. Tão verde. Eu me pergunto qual seria o gosto do verde.

— Então, qual foi a melhor transa que você já teve?

Zoe faz a pergunta me dando uma cotovelada.

Bem, até agora? As coxas da Jauregui. E dedos...

— É...

— Tem alguém em Washington?

Não, a não ser que a minha bicicleta conte. Ela costumava se esfregar em mim de formas estranhas e não totalmente desprazerosas.

— Ah... é...

—Porque escutei que alguns desses caras do interior podem ser uns completos pervertidos.

Um garoto da minha escola fez um vídeo dele transando com uma melancia. E um pepino. Simultaneamente.

— Pois é...

— Então, quem foi?

Olho de volta para a bunda da Jauregui e tento imaginar o que dizer, porque aposto que, se eu olhar bem fixamente, os segredos do universo serão revelados para mim.

Eu conto e arrisco ser zoada por ela? Quero dizer, ela está sendo legal comigo agora, mas o que pode acontecer quando o barato passar?

— Vai, Camila — ela diz, me provocando. — Se me contar o seu, eu te conto o meu.

— Então... — Não, ninguém precisa saber. Apenas invente um nome. Qualquer nome. — O nome dele era...

Bob, Sam, Cletus, Zach, Jake, Joanne! Qualquer nome serve! Espera, Joanne não... Nem Cletus.

Zoe agarra meu braço e me para.

— Ai, meu Deus...

— Zoe.

— Não me diga que você é...

— Não, não fale a pala...

Ela se inclina e sussurra:

— Você nunca fez sexo, fez? — Ela usa o mesmo tom de solidariedade que usaria se tivesse descoberto que eu estava morrendo de câncer. Fico vermelha e puxo o braço para longe dela, para poder continuar andando.

— Ai, Camila, não fique irritada — ela diz, vindo atrás de mim. — Não vou contar para ninguém que você é virgem!

Os meninos à nossa frente param e se viram, e Jack e Lucas olham para mim incrédulos. Jauregui me olha nervosa antes de enfiar as mãos nos bolsos e baixar a cabeça.

— Merda — Zoe murmura atrás de mim. — Desculpa. Foi mal.

— Cabello — um sorriso largo se abre no rosto de Jack —, me diga que não. Ninguém plantou uma bandeira em seu território virgem ainda? Isso não está nada certo.

Lucas olha para mim genuinamente chocado.

— Isso é impossível. Como aconteceu? Você namorou cegos?

Coloco as mãos na cintura.

— Podem parar de me tratar como se eu tivesse uma doença rara e incurável? Não sou leprosa, pelo amor de Deus.

— Não, claro que não — Jack concorda, solidário, enquanto caminha e esfrega meus ombros. — Mas, Cabello, sério... que diabos você está esperando? É uma dessas meninas que só fazem depois do casamento? Porque, vou te dizer, minha mãe fez isso e foi uma péssima tática. Aparentemente, meu pai é meio devagar. Por isso sou filho único. Estou bem certo de que eles só transaram aquela vez.

Fico vermelha.

— Não estou me guardando, tá?

— Então por que você ainda é virgem? — Zoe quer saber.

— Porque... — começo, incapaz de não olhar para Jauregui — ... acho que não encontrei ainda um cara que queira dormir comigo.

Com essa declaração, ela perde todo o interesse nos sapatos e olha direto para mim, franzindo a testa mais que o normal.

— Tá, agora vou ter de falar que isso é uma bobagem. — Jack dá uma risada. — Porque bem sei que tem pelo menos uma dúzia de caras em Grove que dariam a bola direita para trepar com você, incluindo eu.

Como um raio, Jauregui bate no braço dele.

— Ai, cara! — Jack esfrega o braço e fecha a cara para Jauregui. — Por que essa porra?

— Tenha só um pouco de respeito, caralho. Pode ser?

— Deixa de merda. Eu respeito. Foi um elogio. Além do mais, quero que ela saiba que tem opções.

Parece que a cabeça de Jauregui está pronta para explodir.

— Trepar com você não é opção, seu puto neandertal. Seria um castigo cruel e bizarro.

Jack abre as mãos.

— Por que diabos todo mundo fica desprezando minhas habilidades sexuais? Por acaso sou um cara bem sensível e completo na cama. — Ele olha de volta para mim e cochicha: — Tô vendendo bem o meu peixe? Porque, se quiser matar a aula de semiótica esta tarde para eu te livrar do seu fardo de virgem, eu estaria mais do que disposto. Só estou dizendo...

Todo mundo ri, exceto Jauregui, que chia algo para si mesmo e parece que vai socar Jack de novo.

Eu me movo sutilmente entre os dois.

— Valeu pela oferta, mas eu passo.

Jack dá de ombros.

— Ah, tudo bem, mas estou aqui se precisar.

Eu arrisco uma olhadinha para Jauregui, e, a julgar pelo seu olhar, ela está imaginando todas as formas como poderia matar Jack e esconder as evidências.

— Na verdade, estou meio que saindo com uma pessoa, e espero que possa ser com ela.

— Uau. Não pretendia mesmo dizer isso. Ou pretendia?

Tá, o que vou fazer aqui será completamente brilhante ou incalculavelmente idiota. Por favor, Deus, permita que seja brilhante. Jauregui está me olhando com uma expressão de cautela.

— Espera, o quê? — Zoe está surpresa. — Está saindo com uma pessoa?

— Quem? Há quanto tempo? Como ele é? Jauregui, você sabia disso?

Os olhos de Jauregui se enchem de pânico por um segundo antes de lançarem um olhar duro.

— Sei, acho que ela falou alguma coisa sobre. Me parece um idiota, mas ao que tudo indica ela gosta. Estou surpresa de ela contar para vocês. Achei que ela ia manter segredo.

— Bom, não vejo muito por que eu não deveria falar sobre. Quer dizer, gosto dele e não acho que ele seja um idiota. Só é... complicado.

Jauregui pisca várias vezes e sua expressão suaviza.

— Acho que ele tem sorte de você enxergá-lo desse jeito.

—Tá, vamos lá — Lucas diz, inclinando a cabeça. — Conta quem é o sortudo?

Zoe dá um passo à frente, seus olhos brilhantes e vidrados.

— Isso, nós o conhecemos?

Tá, cérebro, sei que você está chapado, mas me ajude aqui. Me dê algo plausível.

— Eu o conheci quando fazíamos Romeu e Julieta.

Tá, bom. Não é exatamente mentira, mas é vago o suficiente para satisfazê-los. Bom trabalho, cérebro chapado.

Todo mundo troca olhares, e Zoe diz:

— Ah, um fã, hein? Ele te viu no palco e simplesmente teve que ficar com você?

Eu concordo.

— Hum, é... tipo isso.

— Então, conta mais — Jauregui sugere, e cruza o braço sobre o peito. — Você me disse outro dia que acha ele gostosão. Quão gostosão? Seja específica.

Um vermelho feroz ilumina meu rosto, porque ela sabe exatamente quão gostosa eu acho que ela é.

— Credo, Camila, olha só seu rosto! — Jack ri. — Esse cara misterioso deve saber como apertar todos os seus botõezinhos. Você está vermelha como a bunda de um babuíno. E ainda assim ele não faz sexo com você?

Eu respiro fundo e balanço a cabeça. Jack bufa.

— Que puta idiota.

— Talvez ele tenha suas razões. — Jauregui diz baixinho.

— Tá zoando? — Jack pergunta, descrente. — Você beijou a Cabello, cara. Você sabe como ela é gostosa. Que tipo de otário recusa isso? — Ele se vira para mim e cochicha: — Ah, espera. Ele é... você sabe... limitado? É um desses caras religiosos bizarros? Ui, ou ele tem disfunção erétil? Ele não fica de pau duro?

— Ele não tem nenhuma disfunção erétil. — Jauregui responde enfaticamente. — E ele não é limitado, pelo amor de Deus.

 

Todo mundo olha para ela. Ela dá de ombros.

— Estou supondo que Cabello não iria sair com alguém com essas deficiências, certo?

— É, eu não sei. Deve ter algo errado com ele. Como o Jack disse, que tipo de otário recusaria isso? — Eu rebolo e faço uma carinha sexy, e todo mundo ri, menos Jauregui.


 

Ela apenas me encara sem piscar e não consigo descobrir se ela está brava ou excitada. É meio perturbador o quão similares são essas expressões nela.

— Uma vez eu saí com um cara que não trepava comigo — Zoe comenta enquanto caminhamos novamente. — Ele disse que não queria que eu pensasse que sexo era tudo o que ele queria de mim. Disse que me achava especial, e que podíamos ter mesmo algo.

Sorrio para ela.

— Que fofo. O que aconteceu?

Ela dá de ombros.

— Dei um pé na bunda dele. Poxa, tenho necessidades, né? Se ele não vai me dar isso, então eu me arrumo com outro.

Jauregui faz um ruído depreciativo, mas não diz nada.

— O bizarro é que provavelmente foi o único cara com quem namorei que deu a mínima para mim — Zoe continua quando seguimos para a cantina. — Mas só percebi isso depois que ele estava bem longe. Talvez ele fosse um desses caras raros que não querem sexo sem amor.

Meu estômago revira. Será esse o problema da Lauren? Ela não me ama, então não dorme comigo? Faz sentido. Talvez ela não tenha sentimentos por mim além de puro tesão animal.

A ideia desliza por meu cérebro, se enrolando sinuosamente e deixando meu rosto quente de vergonha e raiva.

— Desisti de tentar entender os homens — Zoe completa, examinando a prateleira de chocolates. — São esquisitos.

 

Amém, irmã.

Ela pega três chocolates e vai ao caixa. Lucas e Jack estão com os braços cheios de batatinhas e chocolate, eu opto por um sorvetinho para ajudar a esfriar meu rosto em chamas.

Saio e me sento à mesa com os outros. Quando Jauregui se junta a nós, eu evito olhar para ela. Então, me concentro no sorvete, correndo a língua pelo canto do cone e sugando os pingos antes que possam ir muito longe. Fecho os olhos e engulo um pouco do creme, e quase posso ver o frio quando desliza pela minha garganta, com uma reluzente viscosidade azul, fazendo meu estômago e minha pele formigarem.

Sinto algo roçar meu pé de leve e levanto o olhar para ver que Jauregui está me encarando, observando minha boca enquanto tomo sorvete. Ela olha para os meus olhos, e o azul reluzente no meu corpo é imediatamente substituído por um calor laranja incandescente e fumegante, que arde em todos os lugares que quero que ela me toque. Então, conforme meu corpo se contorce e esquenta desconfortavelmente, me dou conta de que talvez isso seja tudo o que tenhamos: fogo. Que vai queimar nós duas até estarmos chamuscados e vazios. Napalm sexual que não combina com amizade ou intimidade.

Ela roça o meu pé novamente, a ponta de seu sapato passeando entre meu tornozelo e minha panturrilha, e é ridículo que eu sinta esse toque em cada célula do meu corpo.

Ah, vou queimar mesmo. Ela vai me incinerar de dentro para fora.

— Preciso ir — murmuro enquanto jogo o resto do sorvete no lixo e fico de pé. — Vejo vocês na aula.

— Cabello?

Jogo a bolsa no meu ombro e não olho para trás quando cruzo o pátio para o bloco de teatro.

Dez minutos depois, quando deixo o banheiro do primeiro andar, Jauregui está lá encostada contra a parede e franzindo o cenho.

— Ei. — Ela confere em volta antes de dar um passo à frente e tocar meu rosto. — Você está bem? Às vezes, na primeira vez fumando, pode te dar vontade de vomitar.


 

Ela me olha preocupada, jogando meu cabelo para trás dos meus ombros. Mas logo que escuta alguém descendo as escadas ela recua e pesa o corpo sobre uma perna, a imagem perfeita de indiferença.

Eu a observo enquanto ela oscila de um lado para o outro, desconfortável, esperando os alunos passarem. E me pergunto se imaginei o olhar de preocupação. Talvez todo esse não relacionamento nosso tenha sido apenas eu a pressionando ingenuamente, forçando-a a algo que ele não queira de verdade. Ou talvez algo que ela queira, mas não o suficiente.

— Cabello? — Ela se aproxima de novo. — Você não me respondeu. Está tudo bem?

Eu pisco e balanço a cabeça.

— Tudo bem, sim.
 

Caminhamos em direção à sala de leitura onde a turma de semiótica está. Há tensão entre nós, mas desta vez não me importo que fiquemos assim. Sempre fui a garota que vê as coisas ruins e tenta melhorá-las.

Não acho que eu possa melhorar isso.

— Jack está chamando um pessoal para comer pizza esta noite — Jauregui comenta quando subimos as escadas. — Quer ir?

Para eu poder fingir a noite toda que você é apenas minha “amiga”?

— Não, valeu.

Deus nos livre de você me pedir para sair de fato, para um lugar onde as pessoas possam ver a gente se tocando.

Jauregui bufa, frustrada, e agarra meu braço.

— Tá, Cabello, já deu. Você está quieta demais, e sem contestar nada. O que tá rolando?

Dou de ombros.

— Acho que não tenho nada a dizer.

— Isso é impossível.

— Temos aula.

— Então está me dizendo que está tudo bem?

— Faria diferença se não estivesse?

 

Ela franze a testa quando começamos a andar novamente. E sei que estou sendo passivo-agressiva, mas ela teve quase um mês para me mostrar que me quer em sua vida como mais do que uma simples distração sexual. Ainda assim ela está tão distante emocionalmente quanto sempre. Já chega.

Quando nos sentamos, eu afundo na cadeira e fecho os olhos. Há uma dor que me corta. Apesar de não ter notado antes, eu imagino que já esteja lá há um tempo. É a parte de mim que deseja algo especial; alguém que me queira o suficiente para ter coragem de assumir. Alguém que queira se envolver comigo a um ponto que fique impossível de saber onde começa um e termina o outro.

Alguém que achei que pudesse ser Jauregui, mas já não estou mais certa.

O restante da aula passa de maneira confusa, e mesmo que eu sinta Jauregui olhando para mim de tempos em tempos, eu a ignoro. Não sei por que hoje bateu essa percepção de que não estou mais satisfeita em ter apenas parte dela. Talvez a maconha tenha ajudado a clarear minha mente, que estava tão anuviada pelo tesão o tempo todo. Ela me disse que seria assim, e que eu ia querer mais do que ela estava disposto a dar, mas, por alguma razão, eu fui burra de achar que seria capaz de mudar isso.

Obviamente, não sou.

Quando a aula termina, eu murmuro algo sobre vê-la amanhã e sigo para fora da sala em direção ao pátio, não querendo nada além de um banho quente. O tempo aberto da hora do almoço deu lugar à chuva forte, e me protejo na marquise dos prédios pelo máximo tempo possível antes de sair no aguaceiro.

— Ei, Cabello, espere!

Em poucas passadas ela está ao meu lado, segurando sua mochila sobre a cabeça debaixo da chuva cada vez mais forte.

— Não quer fazer alguma coisa esta noite?

— Na verdade, não.

— Por que não?

— Só não quero. É crime querer ficar um tempo sozinha?

Um quê de mágoa cruza o rosto dela.

— Não, não é crime. É só que... geralmente passamos um tempo juntas nas noites de quarta e, a julgar pela forma com que você estava me olhando hoje, pensei...

— Pensou o quê?

— Ué, parecia que você queria me jogar no chão e montar na minha cara. Imaginei que você provavelmente queria ficar comigo ou sei lá.

Esse é o problema, Lauren. Você acha que a gente está só ficando.

— Não, hoje eu passo. Mas valeu pela oferta.

Meus sapatos se encharcam enquanto caminho mais rápido. A sensação ruim de pé molhado me deixa ainda mais irritada. Ela mantém o passo comigo e joga a mochila sobre o ombro, desistindo de evitar a tempestade.

— Camila, o que está rolando? Está puta comigo?

Bufo, frustrada.

— Não, estou puta comigo mesma. Não se preocupe. Saia da chuva.

Ela agarra meu braço e me puxa para eu encará-la.

— Não vou a lugar nenhum até você me dizer o que diabos está havendo.

Não quero ter essa conversa agora, e especialmente não quero ter nessa chuva fria, mas ela não me dá escolha.
 

— Lauren, só estou cansada dessa nossa dança. É sempre um passo à frente, dois passos atrás com a gente. E mesmo que você tenha me dito que seria assim, por algum motivo eu escolhi não acreditar em você. Só estou cansada de te pressionar a fazer as coisas que você não quer fazer. Então... é... é isso que está rolando. Te vejo amanhã.


 

Eu me viro e saio andando, tentando vencer a chuva, o que é inútil, e tentando superar os passos dela, o que é impossível.

— Espera! Camila, conversa comigo.

Ela me puxa para eu encará-la novamente, e seu cabelo está colado à cabeça fazendo a água escorrer pelo seu nariz.

— Não há nada para falar. Você é você, e eu sou eu. E você estava certa quando disse que não deveríamos começar uma história. Queremos coisas totalmente diferentes, e acho que por fim estou percebendo que não estou bem com isso.

— Que diabos? Isso é por causa do que Zoe e Jack disseram?

Resmungo, irritada, e resisto à vontade de bater forte no peito sem noção dela.

— Não, isso não tem nada a ver com Jack ou Zoe, ou ninguém mais! É a gente! Sou eu esperando coisas de você que eu não deveria! Eu querendo romance, namoro, intimidade, que vem de mais do que amassos e orgasmos. E eu querendo contar aos nossos amigos que a pessoa misteriosa com quem estou saindo, que me excita só com um olhar ou toque, é você. E, principalmente, sou eu puta comigo mesma por me apaixonar por uma pessoa que me disse descaradamente para não me apaixonar por ela! Essa que é a coisa! E agora é tarde demais e me sinto a pessoa mais idiota do mundo porque você nunca vai me dar o que eu preciso, e eu devia saber que não devia esperar isso de você.
 

Ela me encara por um segundo, piscando conforme a água corre por seus cílios.

— Achei que você queria que eu fizesse uma tentativa. É o que estou fazendo. O que mais você quer?

Tiro a água do meu rosto, odiando a sensação dela correndo por minhas bochechas.

— Deus, você é uma idiota sem noção às vezes! Quero mais. Tudo. Qualquer coisa. Alguma coisa, pelo amor de Deus! Isso é o que quero de você. Pode me dar isso?

Ela me encara, os músculos da mandíbula estão pesados. Ela não responde.

— Foi o que imaginei.

Tento me afastar, mas ela segura meu braço quando seu rosto fica tão tempestuoso quanto o céu.

— E daí? É assim? É tudo ou nada com você? Se eu não te entregar minhas bolas numa caixinha forrada de veludo não podemos ficar juntos? De onde vem toda essa merda? Achei que você curtisse ficar comigo. Que estava feliz com o jeito que as coisas estavam.

— É, mas não estou! Odeio ficar me escondendo como uma criminosa, agindo como se estivéssemos fazendo alguma coisa errada. Não tenho vergonha de gostar de você, Lauren, mas parece que você não pode dizer o mesmo. Só aceitei manter nossa história em segredo porque achei que você precisava de tempo para perceber que queria mais. Mas parece que eu estava errada. Você me dá o mínimo possível de você, esse tempo todo me fazendo te querer feito uma louca.
 

— Você acha que também não te quero? Caralho, Cabello, você está brincando comigo?

— Acho que você me quer, mas não o suficiente para admitir para todo mundo!

— Por que diabos os outros importam? Você sabe que gosto de você! Porque eu praticamente não consigo esconder o que você provoca em mim.

 

— Não estou falando sobre gostar sexualmente de mim, Lauren! Estou falando sobre querer estar comigo. Não tenho ideia do lugar que ocupo na sua vida. Não sei nem se você sente de fato alguma coisa por mim, ou se sou apenas um corpinho disponível. Conveniente, mas não tão necessário.

— Acha que é conveniente?! — Ela me encara por longos segundos, tão irritada que não consegue formar as frases. — Não é conveniente porra nenhuma! Conveniente seria não conhecer uma menina que me deixa louca pra caralho! Conveniente seria poder me concentrar no curso que levou três merdas de anos para eu entrar sem ficar pensando a cada minuto o quanto eu te desejo! Cabello, você é tudo, menos conveniente!

— Então o que eu sou, hein? Me diz de uma vez! Abra essa boca e diga algo que me faça entender o que você sente! Acho que fui bem honesta com você sobre o que eu quero, mas tudo o que ganho em troca é o que você não quer.

— Quer saber o que eu quero? — ela diz, jogando a mochila no chão. — Ótimo. Quero isso.

Ela agarra meu rosto e me puxa para ela. Me pega de surpresa colocando os braços ao redor de mim e me beijando como se estivesse se afogando, como se eu fosse oxigênio. Não há nada cuidadoso nesse beijo, nada remotamente vago ou desonesto. É apaixonado e sufocante, e seu desespero é quente, me queima apesar do frio e da chuva. Por longos minutos ela me beija tão vigorosamente que o mundo dá voltas e quando se realinha está girando de novo ao redor dela.

Ela beija meu pescoço, sua voz áspera e intensa.

— É isso o que quero, Cabello. Não consigo deixar mais claro. Nem tente negar que você não quer isso também. Por que você complica tanto as coisas?
 

Ela me beija novamente e tudo se torna uma confusão de línguas e lábios. Não é justo que essa seja sua explicação, porque não consigo discutir com isso. É grande demais para descrever ou intenso demais para negar. Apesar de não ajudar em nada a melhorar nossa situação, me faz querer esquecer todas as coisas que estão ruins.

Mas é o que ando fazendo o tempo todo. Deixando passar e aceitando, tão cega de desejo que não consigo dar atenção às minhas necessidades. Não posso mais fazer isso.

Ela grunhe e se afasta. E pelo olhar em seu rosto ela sabe que o que está oferecendo não é o suficiente.

Recuo. Nós olhamos uma para a outra, ambas estão sem fôlego e encharcadas.

— Não posso mais fingir que isso é o suficiente para mim — digo baixinho. — Não estou enganando ninguém. Nem você, nem nossos amigos, e especialmente não a mim mesma. Quando e se você estiver preparada para fazer isso acontecer de verdade, me avisa.

— Camila...

— Te vejo na aula, Lauren.


 

Eu me afasto com passos pesados como chumbo enquanto o fel revira no meu estômago. Quando pego o caminho do meu prédio, olho para trás.

Ela ainda está parada lá, onde eu a deixei. Suas mãos estão presas na nuca, pressionando sua cabeça para baixo. Tenho uma vontade doentia de correr de volta e dizer a ela para ignorar tudo o que acabei de falar. Que aceito qualquer parte dela que ela queira me dar.

Mas não posso fazer isso. Seria outra mentira.

Em vez disso, sigo para o meu apartamento sentindo calafrios, e destranco a porta com mãos trêmulas. Lá dentro, tiro a roupa e sigo para o banheiro, determinada a ficar sob uma ducha quente e esperar até que a compulsão de voltar para ela vá embora.

Para minha tristeza, quando a água esfria uma eternidade depois, eu ainda estou esperando.
 

Hoje

Nova York

 

Estou de pé na bancada do café do outro lado da rua do teatro quando sinto uma mão quente na minha cintura, eu me viro, esperando ver Jauregui, mas, em vez disso, vejo Marco sorrindo para mim com um olhar de compreensão.

— Srta. Cabello.

— Sr. Fiori.

— Divertiu-se na apresentação beneficente ontem?

Seu tom e sobrancelha levantada sugerem que ele viu o beijo.

Droga.

— Foi legal.

— Tenho certeza.

— Por favor, não faça grande caso disso.

— Do quê? Dos meus protagonistas se pegando num cantinho como adolescentes? Nem sonharia.

— Não foi nada.

— Minha querida, conheço o nada, e me deixe dizer que o que você e a srta. Jauregui estavam fazendo noite passada definitivamente não era isso. Achava que a forma como se beijavam nos ensaios era quente. Pelo que entendi, é bobagem perto da coisa real.

— Marco...

— Tudo bem. Não estou chateado. Para dizer o mínimo, estou empolgado. Pode imaginar a imprensa que vamos ter com isso?

Eu gemo quando a barista me passa o café.

— Sério? Acha que eles viram?

— Estou certo que sim. Nossa assessora de imprensa quer nos ver antes do ensaio. Acredito que cada website da Broadway e revistinha de fofoca esteja falando disso. Vocês duas são o assunto do dia.

— Ai, Deus.

Ele ri e dá uma batidinha reconfortante no meu ombro enquanto me guia para fora do café. Quando chegamos à sala de ensaio, tiro minha bolsa e me encaminho para o banheiro feminino, tentando afastar uma onda de náusea.

Depois que Jauregui e eu deixamos o evento, ela me acompanhou até em casa. Lá em cima, ela me deu um beijo de boa noite. Para ser honesta, foi mais que um beijo. Foi mais como um amasso vertical contra a porta do meu apartamento. Na verdade, se o sr. Lipman, que vive no final do corredor, não tivesse espirrado enquanto nos espiava feito um tarado nojento pelo olho mágico, é provável que tivéssemos chegado a um ato que é totalmente ilegal num corredor público.

Quando por fim me afastei, eu estava mais confusa do que um cara hétero num concurso de beleza de transgêneros. Prometi a mim mesma que eu iria devagar com a Lauren, de verdade. Mas, ainda assim, em uma noite, consegui beijá-la duas vezes, chegar à segunda base bem animada e segurar o taco de beisebol dela, totalmente excitada, por cima da calça mesmo.

No livro de regras desse jogo, isso não está nem no mesmo capítulo do ir devagar.

Retorno à sala de ensaios e Jauregui está lá. Seu rosto se ilumina quando me vê. Paro diante dela, e ela passa os braços em volta de mim e me puxa num abraço. Ela não pretende demonstrar intimidade comigo, mas demonstra.

Sinto sua respiração quente na minha orelha quando ela cochicha:

— Bom dia. Senti saudade. — Sua voz ecoa nosso momento juntos na noite passada, está cheia de tesão e um pouquinho de presunção.

— Oi. — A minha é propositadamente insípida. Nada encorajadora. Ela se afasta. Seu sorriso desaba e a luz se apaga em seus olhos.

— Camila?...

A sala está se enchendo de outras pessoas. Nossa assessora, Mary, entra como um tornado descabelado, com os braços cheios de papéis e iPads.

— Bem, vocês duas tiveram uma noite interessante. Tenho toda uma campanha de marketing organizada para fazer a cidade zumbir com esse espetáculo, mas vocês conseguiram nos deixar virais com uns amassos bem divulgados. Parabéns.

Ela coloca todos os materiais na mesa. Há várias fotos de mim e Lauren com os lábios bem coladinhos. Cada iPad está pronto para exibir um vídeo diferente do beijo. Droga, quantas pessoas estavam nos gravando?

— Esperem até ver este — Mary diz quando bate uma unha cheia de esmalte numa das telas. — Este aqui tem um zoom bem artístico que permite que vejamos de fato vislumbres de língua. Aqui!

Todo mundo ri. Eu quero vomitar.

— Assim — Mary continua —, já tenho uma dúzia de pedidos de entrevista esta manhã, então precisamos traçar uma estratégia. Obviamente, são todas para publicar esse troço de “ex-namoradas reunidas em nova peça sensação do momento”, porque isso vai vender ingressos. As pessoas adoram quando a paixão do palco é real. Se todos concordarmos, escrevo os releases de imprensa e os distribuo esta tarde mesmo.

Ela olha para mim, Marco e Lauren.

Previsivelmente, Marco e Lauren estão esperando por minha reação. Tão previsivelmente quanto, minha resposta é:

— De jeito nenhum.

Mary começa a argumentar. Não fico lá para ouvir.

— Preciso fumar. Volto num minuto.

Pego cigarros e isqueiro. Lauren encosta seus dedos nos meus braços, mas continuo o passo. Quando estou do lado de fora, tento acender o cigarro, mas meu infalível Zippo aproveita aquele momento para deixar de ser infalível. Tento sem parar, mas ele se recusa a acender.

— Porra!

Eu me jogo contra o muro e fecho os olhos. Então, escuto a porta se abrir, e sei que é ela sem nem ter de olhar.

— Camila? — Mantenho os olhos fechados. Não vê-la é mais fácil.

— Por favor, olhe para mim.

Não posso. Quero ser forte, e olhar para ela me torna a mulher mais fraca do planeta.

— Olhe para mim ou vou te beijar.

Isso funciona.

Abro os olhos e a vejo de testa franzida, os braços estão cruzados sobre o peito.

— Pode me dizer o que diabos está havendo?

Levo as mãos para o alto.

— Está em todo lugar. Fotos. Vídeos. Posts.

Ela olha para mim, confusa.

— E?

— E... as pessoas estão fofocando sobre estarmos juntas.

— Bom, como a Mary disse, é uma ótima publicidade.

A calma dela é irritante. Estou tensa e me afasto, mas ela pega meus ombros e me segura.

— Camila, pare. Por que isso a está fazendo surtar? Sem ofensa, mas você não parecia preocupada na noite passada, quando quase fomos flagrados no seu corredor.

— Para começar, o que fizemos no meu corredor foi entre mim e você...

— E o sr. Lipman.

— ... não está espalhado em cada jornal da cidade!

Empurro o peito dela e ela recua para me dar o espaço que preciso para respirar. Seu rosto ainda é irritantemente sereno. E odeio que ela não se junte a mim na revolta.

— Desde quando você se importa com o que as pessoas pensam? — ela questiona. — Não tem como esconder nossa química no palco. Quem dá a mínima se eles pensam que estamos transando fora do palco também? Porque, pra todos os efeitos, estou de fato trepando com você durante a cena de sexo.

Ela não entende, e é porque eu não estou me explicando com clareza. Explicar vai magoá-la. E ainda assim parte de mim está totalmente o.k. com isso.

— Lauren, para todos que nos conhecem... que conhecem nossa história... vou parecer a maior idiota do universo por deixá-la voltar, e o pior é que eles estão provavelmente certos. Eles sabem quão devastada eu estava quando você foi embora, e agora estou ficando com você de novo como se nada tivesse acontecido? Que idiota devo ser?

Isso a faz parar na mesma hora. Os músculos do seu rosto têm trabalho extra.

— Camila... tenho me esforçado muito para estar numa posição de pelo menos poder pensar em consertar as coisas com você. Se eu achasse por apenas um segundo que poderia magoá-la de novo, eu não estaria aqui. Você consegue confiar em mim?

Balanço a cabeça.

— Não. E esse é o problema. Não confio em você, e não sei se algum dia vou voltar a confiar. Na minha cabeça, eu sempre vou esperar pelo pior. Vou esperar você me lançar aquele olhar morto, distante, e sair correndo. Como podemos pensar em ficar juntas sabendo disso?

O olhar dela endurece.


 

— Sabendo o que a gente sente uma pela outra... o que sempre sentimos uma pela outra... como não podemos? Nem tente me dizer que você vai amar alguém tanto quanto me ama, porque é uma puta mentira, por mais arrogante que isso soe. E sinto o mesmo em relação a você. Todos os outros sempre vão ser a segunda opção para nós. Você não vê isso?

Respiro fundo, com a cabeça martelando.

Estamos avançando aqui como um foguete, e não tenho ideia se vamos terminar no paraíso ou esmagados numa árvore.

— Talvez devêssemos apenas... dar um passo para trás. Estrear a peça e aí... não sei. Reavaliar.

Ela dá uma risada curta e zombeteira.

— Reavaliar. Tá.

Ela passa a mão pelo cabelo.

— Lauren, os repórteres podem insinuar o que eles quiserem, mas, quando perguntarem se somos um casal, vou dizer a eles que “não”, e vai ser a verdade.

Vejo uma pontada de dor em seus olhos, mas ela ainda não está irritada. Quero gritar de frustração, porque essa declaração deveria tê-la mandado embora numa crise de raiva. Em vez disso, ela está me encarando com uma intensidade que faz até meus dedos do pé se contorcerem. Ela se move na minha direção e apoia a mão na parede ao lado da minha cabeça antes de se inclinar de modo que nossos narizes quase se tocam.

— Camila, termos concordado em dar um passo atrás é totalmente diferente de você me afastar, que é o que está rolando aqui. Deixe eu te poupar do esforço dizendo que você não pode se livrar de mim tão facilmente. Não posso viver sem você, e, mais importante, não quero. Então vá em frente e surte o quanto quiser. Ainda vou estar aqui quando você tiver acabado. Entendeu?


 

Ela me encara até eu demonstrar minha resposta assentindo. Então, ela me olha por outros segundos enlouquecedores e completa:

— Bom.

 

Com isso, ela se afasta e desaparece dentro do teatro. A porta se fecha atrás dela.

Mais tarde, naquele dia, damos uma série de entrevistas de imprensa nas quais ambos negamos estarmos envolvidas romanticamente.

Baseado nas reações dos entrevistadores, é claro que ninguém acredita em nós.

 


Notas Finais


No inicio do cap acharam que era safadeza né


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