História Bad Time - Capítulo 10

Quando ele me soltou, nos olhamos por um tempo. Estávamos... diferentes. O silêncio parecia durar horas, mas o que se diz após um beijo? Eu era a menos qualificada a responder essa pergunta.

- Mocinha, a polícia está aqui. Pode me acompanhar? - disse a senhora do outro lado do corredor. Caramba, tinha até esquecido daquilo.

Eu alternava o olhar entre Ezra e a enfermeira, sem reação.

- Não vou a lugar nenhum, Lily. Vai lá.

Eu dei um pequeno sorriso, meio amedrontado e fui ao encontro da mulher.

Após uma exaustiva hora de interrogatório e exame de corpo de delito, feito nos casos de estupro, me liberaram. Descobri que ele já tinha enfrentado outras 4 acusações do tipo em outros estados, mas as acusações eram sempre retiradas de última hora.

Segui para meu dormitório correndo, com o coração quase rasgando meu peito. Quando abro a porta, há música tocando. E eu reconheço a melodia. É uma das minhas músicas favoritas, um cover que twenty one pilots fez da música Can't Help Falling In Love, do Elvis. Ele estava sentado na cama e sorriu assim que me viu.

- Acertei? - ele disse, apontando para o rádio.

- Ezra, você não poderia ter escolhido melhor. Alguma razão especial para a escolha?

Ele se levantou, ainda com um pouco de dificuldade, e veio em minha direção.

- A letra é basicamente tudo que eu quero dizer agora, mas sairia muito estúpido ou enrolado ou...

Antes que ele termine, eu agarro seu rosto e o beijo. Depois, beijo as duas marcas causadas pelo eletrochoque na cabeça dele.

- Deixe que a música fale por si só.

Em resumo, aquela foi a melhor noite da minha vida, apesar de todos os eventos que antecederam aquele momento. E, antes que pudéssemos dormir, um pensamento me ocorreu de surpresa. Se aquilo não fosse amor, eu não sei o que mais era.

Não tinha jeito menos meloso de se dizer aquilo. Tudo que eu pensava em dizer quando ele acordasse era que eu estava apaixonada por ele. Mas queria que fosse especial, não algo saído de algum filme meloso de quinta categoria. Eu estava andando de uma ponta à outra do quarto, pensando em como fazer aquilo sem tornar tudo um constrangimento total. "Não sabia o que era amar até te conhecer"? Ah não, horrível. Ezra saberia o que dizer mas agora estava em minhas mãos, era algo que eu precisava desvendar sem a ajuda dele. Continuo andando, sem fazer a mínima ideia do que dizer.

- Já deve ter perdido 10 quilos andando por tanto tempo assim. - ele disse, ainda deitado e com os olhos fechados. Eu estava em dúvida se ele havia ou não acordado.

- Não, não falo dormindo, estou bem acordado. Só com preguiça de abrir os olhos.

Eu rio e sento ao lado dele.

- Está com preguiça de abrir os olhos há quanto tempo?

- Fica meio difícil calcular o tempo com os olhos fechados mas digamos, 30 minutos? - ele abre os olhos, devagar, e olha para mim.

- Eu sei que eu nunca perguntei isso mas você já gostou muito de alguém? - eu coro e volto o olhar para minhas mãos. Ele se senta e me observa antes de responder.

- Além de você? Ah não, da aparência talvez, mas da aparência e da personalidade, não.

Olhei para ele e sorri, um grande sorriso que parecia que iria rasgar meu rosto. Tentei parar mas não consegui. Ele gosta de mim. Então essa é a sensação que descrevem nos filmes? Hmm... posso me acostumar com isso.

- E quanto a você?

Olho para ele com o olhar do tipo "cara, você está falando sério?" e balancei minha cabeça negativamente.

- Você é o primeiro.

Ele se levantou e achei que tinha dito algo errado, mas ele abaixou o tronco como se estivesse fazendo uma reverência e abriu um sorriso largo, como o de uma criança.

- É uma honra, prometo não decepcioná-la.

Eu rio, me levanto e finjo uma reverência também.

- Estou confiando em você, Sr. Grey.

Ele vira a cabeça de um lado, como se não tivesse entendido nada.

- Grey?

- Como no livro, sabe? 50 tons de cinza? - fico esperando que ele perceba do que estou falando mas ele realmente não faz ideia. Sério? Meu Deus, preciso ensinar mais coisas a ele.

- Okay, falamos disso depois. Precisamos tomar café.

Abro a porta mas, assim que o faço, um homem de terno me interrompe. E eu o conheço. Era Jerry, o motorista do meu pai.

- O que diabos você está fazendo aqui? - Ezra coloca a mão no meu ombro e fica na defensiva, provavelmente achando que é outro homem com más intenções.

- Você vai sair mais cedo, Srta. Stephens. Os formulários já foram assinados. Só faça as malas e vou tirar você daqui.