História Bad Time - Capítulo 2

Lá para o meio dia eu ainda estava de pijama e nem tinha pensado em trocá-lo, só estava gastando o tempo que me restava naquela casa fazendo o que eu fazia de melhor, que era assistir minhas séries pelo Netflix. Eu também era ótima na arte de se fazer nada. E escrevendo, eu acho. Enquanto eu estava no meio de Friends, revendo pela centésima vez, eu ouvi a campainha no andar debaixo.

Ah droga, era a Sra. Ultra. Eu tinha esquecido completamente das aulas dela. Dei um pulo da cama e peguei qualquer coisa vestível, se é que essa palavra existe. Devo ter batido um recorde porque, antes mesmo dela ter passado pela porta da frente, eu já estava arrumada, de dentes escovados e cabelo penteado. Desci as escadas e me sentei, olhando para ela impassiva. Mais um dia pra normal. - Estou muito feliz em vê-la, Srta. Stephens. Aí está: o intensificador. "Muito". Eu não estou exagerando quando digo que há cada 10 frases dela, 15 tem um intensificador.

 - Se hoje não for sobre filosofia, pode sentar, ler seu livro e fingir que me deu aula. Eu não me importo. - Eu disse, enquanto pegava meu celular quase como um reflexo, mas sem motivo já que ninguém me mandava mensagens ou coisas do tipo. 

- Senhorita, creio que isso seja uma tremenda falta de ética minha, não acha? - Ela perguntou, acho que de forma retórica. Sou péssima com tons de voz. - Ah não mesmo, vai ser mais como um enorme alívio - Digo, levantando os olhos do celular. - Além do mais todos saem ganhando. Você é paga e eu não sofro.

Ela cruza os braços, ainda de pé, e bate os dedos contra o antebraço. Isso eu sabia ler. Ela estava ficando sem paciência. Quando acho que ela vai me enforcar, ela mexe em sua bolsa típica de professor e retira um livro de lá. Teorias de Sartre. 

- Vai gostar muito de hoje então. Queria algo especial em nossa última aula. Eu suspirei e fingi limpar uma lágrima caindo no meu rosto.

- Oh tão tocante. Ela ri, uma risada natural mesmo, o que me surpreende, e inicia a aula. Depois de uma hora e meia, eu acho, ela anuncia que a aula chegou ao fim.

 - Bom, foi um imenso prazer ter você como aluna. Espero que seja a próxima filósofa da nossa geração. Eu dou minha típica risada sarcástica de "você só pode estar  brincando". 

- Tenho muita preguiça para isso. Mas relaxa, penso em algo até lá. Ela dá um pequeno sorriso e aperta minha mão.

 - Pensar é seu forte. Então ela caminha pela porta e vai embora, deixando essa última frase que nem teve um intensificador.