Enfim, minha vida era chata. Chata de verdade.
Eram por volta de 7 ou 8 da noite e o jantar estava na mesa. Claro que não era minha mãe que fazia, ela quase colocou fogo na casa uma vez e desde então nunca mais tocou no fogão. Os jantares eram como uma sinfonia de talheres já que ninguém se habilitava a falar algo. Mas essa noite foi diferente.- Fez as malas? - disse meu pai, ainda mastigando o frango.
- Já, tenho pouca coisa mesmo. - eu disse, dando ombros.
- O carro sai às 8 então não vá dormir tarde.
Era o mesmo que dizer ao meu cabelo para parar de crescer. Eu não sei o que havia de tão bom nas madrugadas mas havia algo. Quando o relógio marcava 2 da manhã eu ficava mais enérgica, eufórica e criativa. Escrevia histórias. Tomava decisões, das boas. As ruins eu deixava de manhã, começando com: acordar.
- Claro, 1 da manhã é ideal.
Meu pai olhou para minha mãe à procura de algumas palavras. Nada. Ela nem tirava os olhos do prato. Ele parecia entender aquilo como ofensa ou algo assim, porque as lançadas de olhar que dava para minha mãe eram mortais. Imagino o que ele faria se tivesse visão de raio laser.
Eu me retiro da mesa, jogo a louça na pia e sigo direto para o meu quarto. Só agora eu tinha pensado que ficaria um ano fora e um nó se formou na minha garganta. E se for como no manicômio de American Horror Story? Naquele momento eu redescobri o significado de medo. Então balancei minha cabeça para esquecer daquela ideia. Que estupidez! Não é nem um manicômio mesmo. É um tipo de casa de tratamento, uma reabilitação. Mas do quê, eu pensava? Os pacientes lá, todos com suas doenças graves e então eu. Do que eu estava me tratando?
Então me dei conta. Estava me curando de mim mesma, como se ser eu fosse uma doença. Bom, para eles era.
E eu estava começando a achar que era para mim também.
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