- Não parece ter nada de errado... - ele pára por um instante, tentando achar o retângulo com meu nome. - ... Lily.
Ele abriu um sorriso torto com apenas um lado de sua boca. Um sorriso intrigante e divertido.
- Psicopatas escondem bem sua loucura, Ezra. - eu digo, tentando esconder um pequeno sorriso.
- Vou me lembrar disso. E se não se importa, vou andar com você de agora em diante. Deve ser bom ter uma psicopata pronta para matar quem cruzar meu caminho e não ser pega.
Dessa vez eu não consegui esconder minha risada e abaixei meu rosto enquanto ria. Eu odiava meu sorriso.
- Você é bem louco. E eu não sou psicopata. Só sou sincera demais. E isso agora é uma doença então cuidado, mocinho. - digo, ironizando um tom ameaçador. Ele ri.
- Dessa doença eu já sofro, Lily. Mas estou aqui por outro motivo.
- E qual seria?
Ele sorri de lado novamente.
- Vou deixar você adivinhar.
Eu estava prestes a pedir que ele só me dissesse logo de uma vez quando o sinal tocou. Droga, ele cronometrou aquilo?
Ele se levantou e logo já havia saído pela porta. E no meu primeiro dia eu não tinha nada além de perguntas sem nenhum indício de terem respostas.
Subi até meu quarto, tomei banho, me vesti e me deitei. À medida em que eu fechava os olhos, vinha uma imagem diferente em minha mente. Ezra socando uma parede com a raiva causada pela bipolaridade. Ou então com os pulsos ensanguentados por ser suicida. Cada ideia parecia se adequar mas o que eu poderia concluir? O garoto era feito de puro mistério, a não ser pelo nome. E deixou que eu adivinhasse o motivo dele estar ali. Eu, Lily, péssima em adivinhações. Escolheu a pessoa errada, cara.
Mal percebi que havia dormido até ser acordada por duas enfermeiras. Uma robusta e a outra magricela. Que dupla de desajustadas.
- Senhorita, está na hora do almoço. E logo depois há uma consulta agendada com nosso psicólogo. - disse a enfermeira magricela, que concluí que era a enfermeira legal. A outra devia ser a megera.
- Ah pare com isso, tenha fibra. - vibrou a enfermeira robusta e megera para a colega. - Levante logo, mocinha. Sem atrasos.
Eu me levantei logo e elas vieram em seguida, a robusta tentando dizer à magricela como ser mais firme.
Cheguei no refeitório e peguei pouca coisa, apenas uma porção de batas fritas e salada.
Procurei por Ezra e lá estava ele, aparentemente procurando por mim também. Quando ele me vê, acena indicando para que eu fosse me juntar a ele. Eu segui até lá e me sentei.
- Já sabe? - ele disse, roubando uma batata do meu prato.
- Seja mais específico, eu não leio mentes.
- O por quê de eu estar aqui? - ele abre os braços para abranger o ambiente.
- Hum... - parei por um segundo para pensar e mastigar minha comida. - Você era rebelde, bipolar talvez, seus pais se cansaram e te mandaram para cá.
Ele ri baixinho e logo volta seus olhos para mim.
- Puxa, achei que fosse mais criativa. Mas é, é verdade. Transtorno bipolar não é bem aceito em uma família que vive de história como a minha.
- História? Que tédio.
- Nem tanto. Batalhas épicas e blá blá blá. Sempre quando se cita isso as pessoas querem saber duas coisas: se eu sei tudo dessas guerras ou se já usei alguma arma.
Eu dou risada e olho para ele, que obviamente espera uma das duas perguntas.
- Seus pais devem ter te mandado para cá por medo, não vergonha. Imagine ter um garoto raivoso com acesso a armas?
Ele ri alto, segurando a barriga. Oh, parece que eu fiz uma piada?
- Você pode não ser a psicopata que eu achei que fosse mas ainda quero andar com você, Lily.
Sabe o medo que eu tive dele no começo? O garotinho que se revelou na minha frente certamente o mandou embora.
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