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História Baile de Máscaras - Doze


Escrita por: _naomiq

Notas do Autor


esse foi o meu recorde de tempo sem postar ave maria
nao vou dar nenhuma desculpa, pq apesar de eu estar estudando e trabalhando, esse capitulo tava pronto desde janeiro
pq eu nao postei entao?
nao faço a menor ideia
mesmo assim, aqui estou enfim

Capítulo 13 - Doze


 

Meu olhar continuava perdido enquanto jogávamos peças de roupa e tudo que fosse necessário dentro de uma grande mala vermelha, achada nas profundezas do meu armário. Na verdade, quem fazia tudo era Baekhyun, uma vez que eu não conseguia nem ao menos decidir o que iria levar. Meus dedos pareciam não trabalhar, meu coração dançava frenético em meu peito e meu cérebro continuava a ecoar as últimas palavras de Oh Sehun, indo e vindo num trajeto torturante.

A viagem até meu apartamento foi silenciosa; nenhum de nós dois parecia pronto para dizer qualquer coisa. E eu me senti grata por Baekhyun não me questionar nada — ele apenas envolveu minha perna esquerda com a mão, deixando ali carícias reconfortantes enquanto se concentrava no trânsito.

Estava me sentindo perdida, confusa. Traída. Minha família — que descobri ser mais real do que pensei — havia se tornado, ironicamente, mais distante que nunca. Eu não as conhecia. Quem eram aquelas pessoas com quem convivi por mais de dez anos? Eu só queria poder ouvir suas respostas quando eu perguntasse o porque daquilo tudo.

— Falta mais alguma coisa, Amor? — Ouvi a voz de Baekhyun ao longe, sobressaltando-me do sofá e me dando conta de quão distante minha mente vagava.

— N-Não. Não sei. — Esfreguei meus cabelos rapidamente, apoiando meus cotovelos em meus joelhos e mirando o chão. — Me desculpa, eu nem ajudei você a arrumar nada.

Ao ouvir minha voz fraca, quase como um apelo, percebi como eu estava irreconhecível. Aquela mulher sentada no sofá retrátil não era eu. Tudo estava desabando, e quase me deixei ser puxada maré a dentro, não fosse pelos braços que me circularam e me resgataram com delicadeza para mais perto da realidade.

Apoiei minha cabeça na perna de Baekhyun, que sentara ao meu lado, sentindo seus finos dedos adentrarem meus fios negros. Fechei os olhos em jubilo, aproveitando o momento para derramar algumas lágrimas recônditas. Junto a elas, a ardência em minha garganta também se foi.

— Você quer conversar sobre isso? — O aveludado em sua voz pareceu acariciar meus ouvidos e fazer o peso daquela pergunta desaparecer.

— E tem alguma coisa para conversar? — Percebendo a arrogância mascarada em minhas palavras, pigarreei de leve e amaldiçoei-me. — Quero dizer, eu nem sei mais o que está acontecendo. Num dia, minha família está gargalhando ao redor da mesa do almoço, e no outro eu descubro que elas nunca foram quem eu pensava que eram. Acho que nunca senti uma dor que se compare a essa — terminei, vendo pequenos desenhos feitos de lágrimas enfeitarem o jeans que Baekhyun usava.

Ouvi-o suspirar de forma demorada, alongando os segundos antes de dizer alguma coisa.

— Ainda há a possibilidade de tudo isso ser um mal entendido.

Deixei uma gargalhada carregada de desgosto escapar por meus lábios, sentindo o curativo em meu ventre queimar.

— Por Deus, me diga que você não acredita nas suas próprias palavras! — Assim que o maior retirou sua mão do meu cabelo, policiei-me novamente, trazendo-a de novo para onde estava. — Eu sei que você não quer me ver assim, mas mentiras não vão ajudar. E nem falsa esperança.

— Como eu disse, é uma possibilidade. Mínima, mas existe. Então por que não torcer para que seja verdade? — Disse, friccionando as pontas de seus dedos em meu couro cabeludo e fazendo-me arrepiar.

— Quanto mais alta é a subida, mais dolorida é a queda. Expectativas não servem para nada que não seja agravar o peso da verdade — respondi, pondo-me sentada enquanto murmurava alguns palavrões resultantes do corte em meu abdômen e secava os rastros deixados pelo choro silencioso.

Assim que já estava sentada, olhei o garoto em minha frente durante algum tempo. Ele parecia tão exausto quanto eu, e isso me fez sentir a culpa ainda mais intensamente. Lembrei do quanto o amava. Lembrei de tudo que ele já fizera por mim. Lembrei que, naquele momento e mais do que nunca, ele era tudo que eu tinha, e então beijei-o com todo o amor que restava em mim.

Imóvel e surpreso, senti o mais velho estremecer, mas relaxar aos poucos. As pontas de meus dedos traçavam linhas imaginárias em seu rosto e eu sorri quando sua língua pediu passagem. O tempo se tornou uma mera lembrança e ali, sentindo sua língua acariciando a minha, Baekhyun era a melhor parte de mim. 

O calor abraçou nossos corpos na medida em que nossas mãos dedilhavam o outro, distribuindo afagos cada vez mais prazerosos. Alguns gemidos passaram a ser audíveis, tanto do mais velho quanto meus, e não tardou para que seus beijos alcançassem a área livre do meu pescoço e me fizessem arfar. Trilhas de selos marcavam minha pele e eu já não conseguia manter meus olhos abertos. Eu apenas me deliciava com seus toques e me permitia esquecer as dores que me assolavam. Ou quase.

— A-Amor, me desculpa — disse eu, com a voz arrastada, quando suas mãos tentaram alçar-me e me colocar sentada sobre suas pernas. — Esses pontos estão doendo pra cacete!

Sua risada contra meu pescoço me arrepiou tanto quanto seus beijos. Quebrando o toque de nossas peles com um selo singelo em minha clavícula, Baekhyun ajeitou alguns fios rebeldes do meu cabelo enquanto trajava um sorriso fechado nos lábios.

— Eu termino de arrumar nossas coisas. Você consegue trocar esse curativo sozinha? — Perguntou, deixando uma última mecha atrás de minha orelha e segurando meu queixo com a ponta de seus dedos.

Balancei a cabeça positivamente, recebendo mais um beijo rápido do mais velho antes que o mesmo se levantasse e sumisse corredor a dentro. 

Após muitos gritos contidos e objetos sendo arremessados contra a parede, eu finalmente consegui trocar os panos que envolviam meu ferimento. Por baixo daquilo tudo — em minha pele —, o buraco formado pela bala que me perfurara havia sido fechado por oito pontos ligados por uma linha preta. A área em volta do machucado estava completamente vermelha, quase roxa, e por um momento eu considerei desistir de tudo e voltar ao hospital, mas a voz do garoto que namorava ressoou pelo 404 e tudo que fiz foi abaixar o tecido da blusa que vestia e ir de encontro ao mais alto.

Baekhyun depositara a grande mala vermelha de rodas ao lado da porta de entrada, na sala de estar, mas seu próprio corpo não estava lá. Tentei chamá-lo, mas a simples hipótese de aumentar meu tom de voz já me fazia contorcer de dor, então apenas recuperei todas as chaves da parede e guardei-as na bolsa de couro preto que carregava comigo.

Assim que abri a porta e fiz menção de arrastar a mala comigo para fora dali, ouvi passos exasperados contra o assoalho e me virei, tendo a imagem de Baekhyun com Hera nos braços. A beagle se remexia e tentava lambê-lo, mas o garoto era mais rápido e gargalhava a cada tentativa falha da cadela em lambuzar seu rosto de baba.

Quis correr até lá e dizer, com as melhores palavras que conseguisse achar, que os amava mais do que a mim mesma e que nunca deixaria nada acontecer a eles. Porém, como esperado, meus braços e pernas não se moveram e a única coisa que mudou em mim foram meus lábios, que se esticaram em um sorriso radiante. 

— Eu queria tanto levá-la com a gente — falou, ainda divertindo a beagle.

— Eu também. É uma pena que seu pai seja alérgico a cachorros — completei, finalmente indo até lá e afagando o espaço entre as orelhas caídas de Hera.

— Mas eu sei que Haekyu cuidará bem dela — terminou, ajeitando a pequena bolsa com os pertences de nossa cadela em seu ombro.

Concordei, sorrindo ao receber um rastro de baba pegajosa na mão.

— Nós temos que ir agora. Está escurecendo e deveríamos seguir as ordens da polícia de evitar andar pelas ruas durante a noite.

Quase ri de mim mesma ao perceber que quem falava sobre obedecer à polícia era a Mia, corredora de rua e vencedora de rachas. Baekhyun concordou comigo e me deu um beijo demorado, falando baixo logo depois:

— Nós só temos mais uma parada antes disso, tudo bem?
 

xxxx

 

— Eu achei que você tinha levado tudo quando se mudou para o meu apartamento. — Minha voz quase foi silenciada pelo baque das portas do Porsche, que se fecharam quando paramos em frente àquele quadrado de dois andares, castanho, de janelas baixas e telhado triangular. 

Os portões de ferro escuro que cercavam a casa davam a ela um ar de aconchego impressionante. Suas paredes, pintadas de um tom de marrom claro e brilhante, contrastavam com as janelas simples de vidro. O telhado alaranjado dava o toque final, criando com o jardim e seu caminho de pedras claras até a porta uma vista esplendorosa e, ao mesmo tempo, familiar.

Baekhyun me contara a história de como havia ido morar ali, em uma das muitas noites que passamos acordados, pensando sobre o nosso passado e idealizando nosso futuro juntos. Quando saiu de Incheon — da casa dos pais — após o Ensino Médio, para ir atrás do seu sonho de ser vocalista em uma banda, ele sabia que Seul era o destino certo. Uma cidade que nunca dorme era o lugar perfeito para cinco jovens que ansiavam pelo reconhecimento de sua música. Porém, somando todas as economias de cada um, perceberam que só conseguiriam alugar uma casa para todos. Ele também mencionou o fato de que, no fim, todos acabaram arranjando outros empregos — como ele, que se tornou ajudante em uma produtora musical e vocalista nas horas vagas — e mesmo assim, ainda viviam na mesma casa. Se aquilo era amizade ou loucura, eu nunca soube.

— Algumas coisas acabaram ficando para trás, então eu vou aproveitar minha visita à casa dos meus pais e levá-las para lá — respondeu, já abrindo o portão enferrujado e envolvendo minha mão com a sua.

Os cinco degraus de pedra fizeram-me reclamar, mas com a ajuda do garoto, logo já estávamos batendo à porta. Um coreano de pálpebra única e barba por fazer foi quem nos recebeu. O pijama quadriculado que cobria seu corpo estava desajeitado, assim como o seu cabelo. Ele e Baekhyun se abraçaram assim que se viram, ambos com sorrisos surpresos e muita saudade estampada nos rostos.

— Jinyoung, essa é a Mia, minha namorada. — Ouvir aquilo alto quase enrusbeceu minhas bochechas. — Mia, esse é o Jinyoung, o melhor baterista de toda a Ásia.

Apertei a mão de Jinyoung, sorrindo fechado. Eu sabia muito sobre todos os amigos de Baekhyun, mas nunca havia conhecido um deles pessoalmente. Em uma situação normal, eu provavelmente estaria nervosa, mas aquela não era uma situação normal. Meus pensamentos corriam de um lado pro outro, e eu nunca estive tão perdida. Cada tentativa em me concentrar na conversa que eles mantinham falhava miseravelmente, então eu apenas acenei com a cabeça e segui-os quando eles adentraram pela porta.

A casa parecia muito maior por dentro do que por fora. Assim que entrei, dei de cara com a sala de estar. O piso laminado era claro, e alguns tapetes escuros com marcas de desgaste enfeitavam o chão. Havia um sofá — muito mais de um, na verdade — e poltronas espaçosas, todos forrados de preto ou branco. Não precisava-se de um aviso prévio para saber que aquela casa era habitada por cinco homens nem um pouco preocupados com a decoração. Bom, agora eram apenas quatro.

Uma escada espiralada de madeira levava ao andar de cima, esse que provavelmente abrigava os tantos quartos necessários para uma família daquele tamanho. Vi Baekhyun subir, sendo acompanhado por Jinyoung, ambos absortos em uma conversa recheada de sorrisos, e permaneci imóvel sobre o sofá maior. Meus olhos varreram o local, procurando por sinais de vida. Nada. Onde estava o resto dos moradores?

— Mia, você não vem? — Os cabelos de Baekhyun se agitaram quando ele se pendurou na escada, procurando por mim com os olhos.

Maneei positivamente, encontrando forças que nem sabia que tinha quando tive que subir os degraus por conta própria. A dor parecia socar-me, chutar-me e quebrar meus ossos, mas eu consegui aguentar. Lá em cima, um corredor extenso e estreito levava-nos às portas, e foi pela segunda da direita que eu adentrei após Baekhyun.

Aquilo não era nada parecido com o que eu tinha imaginado, mas parecia perfeito quando relacionado a Baekhyun. Era como se o corpo dele houvesse se partido em dezenas de pedaços, e eles todos estavam em cada canto daquele quarto. Nos posteres nas paredes, no videogame largado de qualquer jeito no chão, no teclado ainda sobre seu apoio e nas partituras jogadas sobre o edredom em sua cama de solteiro. Eu sentia-o em cada pequeno detalhe e, quando vi-o gargalhando com Jinyoung sobre uma música que eles haviam escrito juntos, percebi o quão distante eu estava daquilo tudo. Percebi o quanto eu ainda tinha para descobrir sobre a pessoa que amo. Percebi a diferença de nossas realidades, e como eu queria me aventurar naquela que lhe pertencia. Pela primeira vez, eu não senti medo. Sem mais nada a perder, Baekhyun era a única coisa que me mantinha nos trilhos e me mostrava como a vida sempre pode ser melhor se você estiver disposto a entrar no jogo.

Deixei minha tristeza de lado — ela não traria nada de bom mesmo — e me uni a eles, perdendo a noção do tempo quando ambos me contavam, em versões imensamente diferentes e ironicamente convenientes a cada um, suas histórias enquanto ainda eram uma banda.

Quando começamos a falar sobre suas vidas amorosas e sobre seu relacionamento com as fãs, Baekhyun assumiu um vermelho em suas bochechas digno de umas boas gargalhadas. De acordo com Jinyoung, ele sempre fora o mais fechado, e eu não consegui imaginar meu namorado como a pessoa que seu amigo descrevia. Ele namorara apenas uma vez antes de mim, então quando apareceu dizendo que se mudaria para a casa de sua namorada, dois meses antes, todos souberam que era algo sério. Eu acho que sorri nessa hora, ainda amaldiçoando-me por sentir ciúmes de sua fatídica ex-namorada.

— Por que vocês se separaram? — Perguntei, recebendo um olhar aturdido do mais velho.

— Ela não gostava muito do seu trabalho, não é? — Disse Jinyoung, sorrindo para Baekhyun.

— Só por causa disso? — Indaguei, confusa.

Baekhyun esbugalhara os olhos, e parecia ainda mais perdido que eu. Será que ele se sentia tão mal assim falando de sua ex-namorada para mim? Nós havíamos conversado muitas vezes sobre meus antigos relacionamentos, e ele parecia confortável com aquilo.

— S-Sim, mas isso é passado. Jinyoung, você ainda tem aquele violão sem três cordas? Aquilo é quase uma relíquia!

Aceitei seu silêncio, ainda que estivesse confusa. Algum dia nós conversaríamos mais sobre aquilo, mas naquele momento, eu preferi esquecer e aproveitar as histórias que aquele violão sem três cordas poderia me proporcionar.

 

xxxx

 

— Você é exatamente como ele descreveu, Mia — disse o mais velho quando paramos na soleira da porta de entrada, apenas eu e ele, vendo Baekhyun ajeitar algumas caixas de papelão com seus pertences dentro no porta-malas. O Porsche não fora feito para levar bagagens, então o garoto parecia bem irritado tentando fechar — falhamente — o porta-malas.

Me surpreendi, levando minha atenção para Jinyoung, que olhava para Baekhyun com uma admiração impressionante.

— Ele falou muito sobre sua beleza — continuou, pigarreando algumas vezes. — Quero dizer, você é muito bonita, mas não era isso que fazia seus olhos brilharem ao contar de você. Ele sempre pareceu enfeitiçado ao falar do quanto você é forte, independente. Do quanto você irradia segurança a ele, e do quanto ele ama fazer você se sentir segura também.

Misturada à dor em meu ventre, uma ardência agonizante insistia em surgir em meus olhos. O bolo em minha garganta me fez engolir em seco, e eu tive que desviar o olhar para poder controlar minhas lágrimas.

Jinyoung sorriu, soltando uma rajada de ar pela boca em um suspiro satisfeito.

— Acho que não tem mais volta. — Ele me olhou, ainda mantendo um sorriso fechado em seus lábios. — Nós ficamos intrigados, tentando imaginar como seria a mulher que nos tirou Baekhyun, mas agora eu percebo que não haveria outro jeito. A maneira como ele te olha, eu juro pelo túmulo de minha mãe, é algo que nunca o vi fazendo. Obrigado por amá-lo tanto quanto ele te ama. Baekhyun é como nosso irmão mais novo, e isso nos faz zelar ainda mais por ele, mas eu sei que ninguém o faria melhor que você.

Fui envolvida por seus braços de supetão, encolhendo-me de dor quando o mais velho apertou-me forte. Mãos adentraram o pequeno espaço entre nós e nos separaram. As mãos de um Baekhyun suado, com o cenho franzido e a camisa completamente abarrotada.

— Então quer dizer que enquanto eu me mato para fechar aquela coisa, vocês estão aqui se abraçando? — Falou com um tom sério, não se contendo e começando a rir em seguida.

— Vão embora logo, antes que eu não os deixe mais sair. — Jinyoung nos empurrou até o portão, fechando-nos para fora à força e acenando. — Eu só quero que vocês voltem quando estiverem com alianças douradas nos dedos! — Gritou ao entrar em sua casa novamente.

Baekhyun e eu ficamos na calçada por alguns minutos, nos abraçando de lado enquanto o mais velho se despedia em silêncio da casa que o abrigara por tanto tempo. Aquele brilho que só seus olhos tinham tomou forma acima de um sorriso radiante. Ouvi-o sussurrar palavras de adeus e apertei-o ainda mais. Senti sua cabeça apoiando-se na minha e um selo ser deixado em minha testa.

— Você me promete uma coisa? — Disse em sussurro, acariciando minha cintura com leveza.

— Se eu não for presa por isso, sim — respondi, ouvindo-o conter uma risada.

— Quando voltarmos para casa e tudo isso tiver acabado, nós vamos viajar juntos. Só eu e você, para um lugar onde ninguém nos encontre.

Olhei-o de baixo, tendo seu perfil preenchendo minha visão. Era algo tão bobo — uma viagem em casal —, mas eu estava a ponto de chorar. Me senti envergonhada só de lembrar do quanto neguei meus sentimentos, afastando-os o máximo que podia, quando na verdade eu nunca conseguiria fugir deles. 

— Eu prometo. Onde você quiser ir, eu também vou. Para sempre.

Ele sorriu para mim, ajeitando meus cabelos. Abracei-o, apoiando minha cabeça em seu peitoral e suspirando. 

— Amo você. — As duas palavras saíram de meus lábios mais rápido do que pude contê-las, mas eu não me importava mais em dizê-las. Não havia nem uma gota de mentira em minha voz.

— Também amo você. — Tão simples, tão direto e, ainda assim, meu coração pulava como louco.

E então, quando me coloquei nas pontas dos pés para alcançar seus lábios, eu vi. Lá atrás, virando a esquina, um carro preto seguido por três motos ruidosas. O carro era familiar demais, e minha pulsação acelerou quando lembrei onde o tinha visto. 

Apertei o ferimento em minha barriga, tendo a dor escondida pelo medo. Baekhyun.

— Entra no carro agora! — Foi só o que consegui dizer antes de dar a volta no Porsche e fechar a porta com um baque oco.

Quando sentou-se no banco do carona, Baekhyun seguiu meu olhar no retrovisor e esbugalhou os olhos. O carro se aproximando de nós, com películas ainda mais escuras que a própria lataria, não revelava quem estava dentro de si. As motos, duplamente maiores que motos comuns, levavam homens de capacete reforçado e submetralhadoras silenciadas. Uma em cada mão.

— Como eles nos acharam? — Ouvi o mais velho perguntando enquanto eu girava a chave na ignição e abaixava a embreagem com uma força quase transcendental.

O motor roncou e o impulso da aceleração jogou-nos contra o banco de couro de uma só vez. Grunhi com a dor que retornava, mais forte que nunca, ignorando-a ao virar a esquina e deixar ali marcas de pneu bem visíveis.

— Coloca o cinto! — Disse, ainda revezando meu olhar entre o retrovisor superior e o lateral.

As motos estavam quase do nosso lado, e eu enrijeci todos os músculos do meu corpo quando um tiro silenciado acertou o vidro dianteiro, passando na linha exata que me separava de Baekhyun.

Tateei os bancos de trás com a mão livre, procurando por minha Taurus com urgência. Resmunguei, sentindo outra bala passar de raspão por meu ombro direito. Não tardou para que um filete de sangue se transformasse em uma pequena cachoeira vermelha. Eu nem fui capaz de sentir dor. Meu combustível era a necessidade de proteger Baekhyun e eu o faria, nem que aquilo custasse minha própria vida.

Baekhyun segurava na parte interna da porta, ainda em choque, e eu mandei-o abaixar o encosto do seu banco.

— M-Mia, o seu braço! — Seus dedos foram parar sobre meu machucado, fazendo-me contorcer de dor quando outra bala acertou o vidro traseiro, assustando-o e o fazendo encostar naquela área mais forte do que pretendia.

Lágrimas inevitáveis despencaram dos meus olhos, e o embaçamento quase me fez jogar o carro contra um muro baixo de cimento. Nós havíamos chegado à rodovia principal. Eu não sabia um caminho que poderia seguir, mas sabia que não deixaria aqueles homens se aproximarem da cidade.

Tiros e mais tiros atingiam o carro e, mesmo dando o meu máximo, sabia que não poderia resistir por muito tempo. Minha visão escurecia e retornava, como se estivesse cansada demais para fazer seu trabalho, e minhas forças para passar as marchas e pisar no acelerador oscilavam tanto quanto ela.

— Aí do seu lado... tem uma arma. — Apontei para a porta de Baekhyun, que me olhava com o cenho franzido. — Eu preciso que você atire.

— M-Mas eu-

— Eu sei que você não sabe atirar, mas terá que tentar. — Segurei sua mão, levando-a aos meus lábios no único gesto de afeto que eu poderia realizar naquele momento. — Sei que você consegue.

Um lampejo de indecisão preencheu seu rosto, mas o mais velho não demorou para ajeitar a arma em suas mãos. Com o canto dos olhos, percebi a habilidade com que Baekhyun arrumava as balas, cada uma em seu lugar, engatilhando a pistola mais rápido do que eu mesma fazia. Como ele fez aquilo não importava agora; o que importava era nossas vidas, e eu não ligava para o jeito com que as manteríamos.

O garoto deslizou o vidro fumê até o fim, deixando que o vento — tão rápido quanto o Porsche — chicoteasse meus cabelos. Sentou-se na janela, ainda mantendo um de seus braços para dentro. Naquele momento, eu agradeci pelo garoto ser canhoto, já que ele teria de atirar com a mão esquerda.

A aflição me tomava em cada célula viva, e eu me preocupava mais com a vida de Baekhyun do que com qualquer outra coisa. Girei o volante com um único movimento, segurando a mão do menino como se minha vida dependesse daquilo. E dependia mesmo.

No retrovisor, duas das motos haviam sido deixadas para trás, sendo o carro e a outra moto as únicas coisas que completavam o espelho. Baekhyun parecia ter talento na arte de atirar.

A estrada chegava ao fim — assim como a força que me mantinha dirigindo. Baekhyun entrou novamente no carro, e eu me senti aliviada quando não encontrei nenhum rastro de sangue em suas roupas. 

— Troca de lugar comigo. Você dirige, e quando chegarmos naquela bifurcação, você freia e gira o volante uma única vez, tudo bem? 

Nem esperei sua resposta e já estava em seu lugar, tomando o revólver de suas mãos e lutando para não deixá-lo cair em meio a tanto sangue. Meus pontos que fossem para o inferno; eles abriram e cuspiam mais sangue do que eu já havia visto em minha vida. Baekhyun até tentou pressionar o local para parar o sangramento, mas eu desviei de suas mãos e me sentei na janela, como ele havia feito antes.

— Mia, cuidado! — Ouvi sua voz ressoar, sendo levada pelo vento em seguida.

Atrás de nós só sobrara o carro de películas escuras — Baekhyun tinha feito um belo trabalho com as motos. Apontei a pequena pistola, apoiando meu braço na lataria superior do Porsche, mas no momento em que meu indicador daria um trajeto para a bala engatilhada, minha visão enegreceu e eu achei que cairia para trás. 

Imagens de Baekhyun passaram como um filme em minha cabeça. Seus olhos, sua franja, seus lábios. Suas mãos finas e compridas. Suas clavículas protuberantes. Cada um de seus detalhes, tão perfeitamente imperfeitos, formando a pessoa mais importante em minha vida.

Se existisse mesmo um Deus, eu lembraria de agradecê-lo mais tarde por devolver-me o dom da visão e me permitir descarregar o cartucho nos pneus de nossos perseguidores, mesmo utilizando a mão esquerda.

Assim que me sentei no banco de couro novamente, senti o calor da explosão chamuscar o pelo dos meus braços. O carro capotara atrás de nós, e eu encontrei tempo para sorrir.

Baekhyun fez como eu dissera: freiou com delicadeza, girante o volante apenas o suficiente para que o carro continuasse colado ao chão e girasse em seu próprio eixo, marcando o asfalto com os pneus em um barulho ensurdecedor. Nós estávamos vivos, no fim das contas.

Suados e exaustos, sustentamos o olhar um do outro antes que uma gargalhada reprimida saísse dos meus lábios. A adrenalina me tomara por completo, o que eu podia fazer?

— O que acabou de acontecer? — Perguntei, abrindo a porta do que uma vez fora um Porsche e ouvindo-a ranger alto. Ele voltaria para o conserto mais cedo do que eu planejara.

O mais alto continuava com a mão no volante, os olhos atônitos, segurando-o como se a qualquer momento aquela circunferência fosse escapar de suas mãos e fugir para bem longe. Ele não parecia ter achado aquilo tão engraçado quanto eu. Sua franja estava mais bagunçada que nunca, e eu tive que me policiar para não ajeitá-la da maneira que gostava. Não queria sujá-lo de sangue.

— Mia, você está sangrando muito. — Seu olhar preocupado viajou por meu corpo, se detendo em meu ventre, que manchara tanto minha blusa quanto meu jeans de sangue. — Nós temos que ir pro hospital.

— N-Não, por favor. — Meu último fio de voz saiu de modo débil, sussurrado. Eu estava fraca demais para aquilo. — Vamos para a casa dos seus pais.
 


Notas Finais


essa eh a parte que eu digo que vou tentar postar mais rapido daqui pra frente mesmo quando todos sabemos que essa eh uma grande mentira, entao...
ate a proxima galeros


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