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História Baile de Máscaras - Três


Escrita por: _naomiq

Notas do Autor


oi

Capítulo 4 - Três


 

- Calma, calma... é só ajeitar esse lado e... pronto!

Dei uma longa vislumbrada no cão e me senti orgulhosa de mim mesma. Os laços rosados nas orelhas de abano haviam me custado ao menos uma hora, mas tinha que admitir que Hera estava ainda mais fofa que o normal.

Impaciente, a beagle pulou de meu abraço e correu corredor à dentro, deixando-me sentada solitária no tapete branco da sala de estar. Apertando o botão "Home" de meu smartphone, vi que se tratava de dez e meia da noite e eu não havia feito nada desde que chegara da lanchonete, às seis horas. Deixei que meu pescoço relaxasse e apoiei minha cabeça no sofá revestido atrás de minhas costas. O tédio me consumia como nunca e eu estava prestes a surtar. Paciência nunca havia sido uma de minhas virtudes, ainda mais quando se tratava das corridas. 

Como quase toda madrugada, naquele dia eu e Jihyo íamos pras ruas ganhar mais algumas maletas recheadas de won's e também, é claro, o gosto de novas vitórias. Porém, os rachas só começavam à meia noite em ponto, e eu não gostava nem um pouco de esperar. Eu já havia dormido, preparado um lanche apetitoso que foi degustado por mim e por Hera enquanto assistíamos a um programa de perguntas e respostas na televisão, hidratado meus fios acinzentados e coberto minhas unhas compridas com um belo esmalte avermelhado. Não restava mais nada a ser feito senão esperar a troca do dia para só então buscar Jihyo em sua (ou nossa) casa.

Para melhorar minha situação, assim que meus pensamentos vagavam livremente, eles sempre acabavam retornando a Baekhyun. Primeiro, ele aparece em minha casa e quase implora para ser meu navegador. Eu nego seu pedido e de uma hora para outra, uma aura misteriosa se instala em seu ser e ele me encara profundamente com seus olhos amendoados, dizendo que "não havia desistido". E então, dois dias depois, reaparece em meu trabalho com uma expressão meiga no rosto alegando ter ido encontrar uns amigos nas redondezas. 

Talvez ele fosse apenas mais um maluco, mesmo que eu duvidasse muito disso. O jeito com que falava, os tons de sua voz, os gestos que fazia com as mãos. Algo não estava encaixando, e por mais que odiasse dizer, eu me sentia uma estúpida por não saber o que era. E nem o porquê. Eu sentia que ele era mais do que aquilo que mostrava. Provavelmente até mais do que eu imaginava, e mesmo que parecesse tão explícito, eu era incapaz de enxergar. Aquele rapaz era um enigma, e isso me fazia querer descobri-lo cada vez mais. Quem sabe se eu tivesse me esforçado um pouco mais...

Ouvi o interfone ressoar e o atendi em um único pulo. 

- Mia, é o Chanyeol! Posso subir? - Ouvi sua voz grossa através do aparelho e logo senti meus lábios se expandirem em um sorriso largo.

- Park, que surpresa! Claro que você pode subir. Irei deixar a porta destrancada, okay?

Dito isso, escutei o portão do edifício se abrir e posicionei o telefone mais uma vez no gancho. Fazia muito tempo desde que Chanyeol não me visitava, e ele não podia ter escolhido uma hora melhor para fazê-lo. 

Park sempre tinha sido meu amigo mais próximo nas madrugadas. Por ser mais velho e   envolvido nesse mundo há muito mais tempo, fora ele quem nos apresentara a todos os patrocinadores e corredores mais famosos. Ele também nos levara pela primeira vez ao RP, e então nunca mais paramos de ir. Sem qualquer aviso prévio, ele desaparecia durante algumas semanas ou até meses, então era impossível saber quando ia surgir de novo e apertar sua campainha às onze horas da noite. Não que isso me incomodasse. Na verdade, nunca gostei de pessoas previsíveis.

Estava ajeitando novamente os laços nas orelhas de Hera, que dormia tranquila em cima de minha cama, quando dois braços envolveram minha cintura por trás e comprimiram meus órgãos vitais ainda dentro de mim. Nenhum abraço poderia ser comparado ao de Park Chanyeol.

- Onde você estava, Park?! 

Me virei de frente para o rapaz, que tinha um sorriso branquíssimo estampado no rosto e era tão alto que me obrigava a entortar o pescoço para olhá-lo nos olhos. Chanyeol usava um conjunto completamente preto por baixo de um casaco comprido e bordô. "Nada mais característico do que isso", pensei.

- Sabe como é, quando o patrão manda, você obedece - o gigante de orelhas de abano continuava abraçado à minha cintura, assim como eu ainda segurava seus braços definidos por cima do tecido de lã.

- Talvez eu estivesse com muita saudade de você. Mas só "talvez" - confessei, recebendo mais um abraço de urso em resposta do maior.

- Mia, você tenta criar essa imagem de durona, mas não passa de uma criança carente! - Dei-lhe um soco leve no antebraço. - O que é? Sabe que é verdade.

Lhe mostrei minha melhor expressão de poucos amigos e acabei por receber uma apertada dolorida na bochecha esquerda.

- Faz dois meses que não vejo meu melhor amigo, será que eu posso aproveitar um tempo com ele sem ter que ficar ouvindo sermões? - Disse enquanto segurava meu rosto, que com certeza ficaria vermelho e latejando durante bons minutos.

 

xxxx

 

Haviam tantas pessoas na frente daquela construção de dois andares e janelas de vidro que eu me perguntei seriamente se seria possível atravessar aquele mar de seres humanos e adentrar realmente o RP. Quem o visse durante o dia, nunca imaginaria que aquele bar pudesse abrigar tantos corredores clandestinos e simpatizantes. 

Eu e Park paramos o Porsche do lado oposto ao RP. De dentro do carro, já era possível ouvir os rap's pesados que saíam das caixas de som do estabelecimento.  

- Lar doce lar... - o maior disse com um sorriso travesso, já desocupando o banco do carona e rumando para dentro do bar.

Fiz o mesmo que ele, checando meu visual mais uma última vez. Como não sabia que iríamos sair, não tivera tempo de fazer muito quanto à maquiagem. Estando base corretiva e pó devidamente passados, apenas cobri meus cílios com algumas camadas generosas de rímel e pintei meus lábios com meu batom roxo mais escuro. Vesti uma calça jeans preta e rasgada irregularmente, com um coturno nos pés e uma blusa de mangas da mesma cor do batom. Como estávamos no inverno, não pude deixar de me aquecer com uma jaqueta de couro preta, que fora previamente escolhida por meu amigo de cabelos avermelhados. 

Assim que senti a temperatura fora do carro, a música lá dentro pareceu aumentar duas vezes mais. Avistei Chanyeol acenando para mim na frente do local, onde uma fila se estendia até a esquina da rua e, quem sabe, até mais que isso. Abracei minha jaqueta de couro e andei até o rapaz, que apertava a mão dos seguranças de terno e falava com eles algo que era impossível de se escutar.

- Mia, vem! Vamos entrar, o pessoal já está todo aqui! - Park entrelaçou nossos dedos e me puxou porta à dentro, quase deixando-me tonta com a mudança de cenários.

Daquele ponto de vista, ainda mais pessoas pareciam ocupar o bar que tanto sentia falta. As paredes pintadas em um tom escuro de marrom eram ocupadas por casais que quase se engoliam ou bêbados que já não conseguiam mais se manterem de pé. As mesas dos cantos, em formato de "U" e com bancos revestidos em couro preto acomodavam os corredores mais experientes e que tinham certa fama no local. No balcão, à esquerda da entrada, alguns homens e mulheres em trajes que mostravam muito de suas peles preparavam drink's mixados e coloridos, e jogavam algumas garrafas pro ar, que rodopiavam e caíam direto em suas mãos novamente. Sempre tinha achado aquilo incrível.

Tirando a área do balcão, o lugar seria tomado pelo breu completo não fosse as luzes coloridas que passavam rapidamente pelos quatro cantos do local. Dei uma olhada rápida no telefone celular em minha mão, vendo que faltava pouco mais de meia hora para que eu tivesse que buscar Jihyo na esquina de nossa casa.

- Park! - Gritei por cima dos alto falantes, chamando a atenção do rapaz que me guiava em meio às pessoas direto ao balcão de bebidas. - Daqui a pouco tenho que buscar Jihyo em casa. Você espera a gente aqui?

- Eu posso ir com você, se quiser - ouvi sua voz com mais facilidade, já que havíamos chegado ao bar. - Dois uísques duplos, por favor - disse ao barman, que confirmou o pedido com uma piscadela e um sorriso quase reluzente.

Nos sentamos nos bancos altos na frente do balcão, virando-nos um de frente ao outro com nossos cotovelos apoiados na superfície.

Nossas bebidas não tardaram a chegar, assim como não tardaram a descer por nossas gargantas em um só gole e nós tardamos menos ainda para pedir uma segunda rodada. Com uma careta no rosto, notei que o mais velho olhava fixamente por cima de meus ombros, para algo atrás de nós.

- O que você tanto olha, Park? 

- Eu sei que você está deslumbrante e que todos aqui estão babando por você, mas tem um gato dois bancos à frente que não para de olhar pra cá.  

- O que? Quem? - Falei, afobada, e então um pensamento me veio à cabeça e senti um desânimo instantâneo. - Se for o Jongin, eu pego as chaves do meu carro e vou embora agora mes-

- Mia, tente não surtar, mas o cara está vindo na nossa direção. E com certeza não é o Jongin.

Eu até quis olhar na direção da tal pessoa, mas a fascinação nas expressões de Chanyeol só me fez ficar nervosa. Não que eu fosse tímida ou algo do tipo, é só que eu odiava surpresas. Ainda mais quando eu não estava sentindo a Taurus 44 contra meu quadril.

- Mia, é você? 

Senti um toque leve em meu ombro assim que a voz entrou em meus ouvidos. Ambos conhecidos por mim. Tudo que eu queria era ser capaz de esquecê-los.

- Você de novo - soltei uma risada visivelmente falsa antes mesmo de mirar a figura ao meu lado. Nem precisaria.

- Vocês se conhecem? - Foi a vez de Park se pronunciar, mantendo uma expressão confusa sob a cena que via, as orbes correndo entre mim e o rapaz que vestia uma jaqueta quase igual à que cobria meus braços.

- Parece que sim - preenchi toda a minha boca com o líquido do copo que havia sido deixado no balcão, reproduzindo a careta de anteriormente e segurando a mão do coreano em pé ao meu lado. - Vem, vamos conversar.

Saí dali em menos de um segundo, esbarrando em alguns homens que me olhavam da cabeça aos pés com os olhos famintos e em algumas mulheres que pareciam querer arrancar os lábios do garoto que eu arrastava para um canto mais silencioso com seus próprios lábios. Cheguei a ficar com medo por ele.

Assim que avistei um metro de parede livre perto da porta que levava ao segundo andar, me libertei do aperto da pista de dança e rumei até lá, ainda sem soltar a mão do rapaz que me seguia sem contestar. 

A luz não era capaz de chegar até ali, assim como o som, o que tornava o local perfeito para um acerto de contas. Soltei, após tanto tempo, a mão do mais velho e encostei um de meus ombros na parede, sendo seguida pelo mesmo.

- Tudo bem. Agora estou começando a ficar com medo. Por acaso você está me seguindo?

Consegui ver um sorriso brotar em seus lábios após alguns feixes coloridos transitarem por seu rosto. Céus, ele estava tão lindo. O cabelo bagunçado somado às roupas pretas davam-lhe um aspecto adulto e convidativo, e só então eu entendera porque todas aquelas mulheres o desejavam. Não era necessária nem a luz para que eu pudesse saber o quanto ele era atraente.

- Você é narcisista ou é impressão minha? - Baekhyun cruzou os braços em frente ao peitoral coberto pela jaqueta de couro sem tirar o sorriso do canto dos lábios. Por que tudo nele tinha que ser tão atrativo?

- Você é um stalker ou é impressão minha? - Devolvi, ainda mais ácida, porém aquilo não pareceu o abater, pois seu sorriso apenas se alargou mais e seu corpo parecia ainda mais próximo ao meu.

- Não encontrei a placa na frente do bar dizendo que ele é seu.

Ainda que ele fosse o homem mais bonito naquele lugar, seus joguinhos estavam me esgotando e eu só queria de uma vez por todas descobrir o que havia por trás de todo o mistério que o rondava.

- O que você quer de mim? - Indaguei, sentindo seu perfume muito próximo a mim quando uma de suas mãos espalmou a parede ao lado de minha orelha e seu corpo se inclinou em direção ao meu.

- Achei que já havia dito isso - suas linhas faciais estavam há poucos centímetros do meu rosto, e sua voz agora era grave e quase que um sussurro. - Quero ser seu navegador.

Eu estava sedenta por si, completamente entregue aos seus charmes, e eu me odiava por isso. Mas eu não podia ser tão fraca. Com o último fio de voz que encontrei, tentei pronunciar mais algumas palavras sob o olhar ávido do castanho em meus lábios arroxeados.

- Por que eu tenho a impressão de que você está mentindo? - Encarei seu sorriso no canto da boca assim que engoli em seco.

- Porque talvez eu esteja mentindo.

Foi só então que notei que minhas mãos já seguravam seu rosto fino e o rapaz fazia o mesmo comigo, só que com minha cintura. Já era impossível dividir nossas respirações, e seu hálito de menta era tão presente quanto seu próprio perfume. O encontro gélido da ponta de nossos narizes foi o suficiente para deixar meus pelos em pé, o que não foi diferente com o garoto. Estávamos inclinando lentamente nossas cabeças para lados opostos, seguindo um ritmo indefinido e deleitoso, que não exigia afoito ou pressa, quando um ruído alto veio do bolso de minha jaqueta e nos fez nos separar na mesma hora, parecendo acordar-nos de um transe.

Minha tela brilhava com a imagem de Jihyo, mamãe e eu no verão passado, sentadas na beira da praia com nossos óculos de sol nas mãos. Eu tive vontade de sorrir com aquela memória, mas não o fiz. Deslizei o círculo verde com o polegar e ajustei o smartphone em minha orelha.

- Oi Jihyo - disse desanimada, mirando o garoto em minha frente que estava parado com ambas as mãos no quadril e o olhar direcionado aos pés, visivelmente sem jeito. - Sim, já estou indo... Não, não estou no RP - Baekhyun agora olhava em meus olhos, parecendo tentar decifrar o que ocorria naquela ligação. - Essa é a música da rádio... Claro que toca esse tipo de música na rádio - revirei os olhos em frustração e notei que o menino se divertia vendo aquela cena. - E desde quando você escuta rádio para saber o estilo das músicas que eles tocam? Ah,tanto faz. Já estou indo. Te espero no lugar de sempre... - encolhi-me um pouco mais, tentando abafar o som que saía de meus lábios, sem sucesso. - Tudo bem, também te amo, até mais.

Retornei o aparelho ao bolso e correspondi o olhar carinhoso do mais alto. Não sei por quanto tempo exatamente ficamos assim, mas sei que daquele ângulo, ele parecia mais vulnerável do que nunca, e por um momento, senti que aquela era sua forma verdadeira. 

- Era seu namorado?

Sorri fraco com sua pergunta. Ele parecia realmente acreditar em suas palavras, e ainda por cima se preocupar com a veracidade das mesmas.

- Você é um péssimo stalker sabia? - Não pude deixar de gargalhar novamente. - Era a minha irmã. Eu tenho que ir, então...

Comecei a andar a passos lentos para fora dali. Eu sabia que tinha que ir, mas algo parecia me dizer para ficar. De certa forma, eu gostava das discussões que travávamos e de como sempre tínhamos uma resposta para o outro. Gostava de como ele me fazia ir de zero a cem em milésimos, e de como eu não conseguia desvendá-lo. De como com ele, tudo era imprevisível. Todas as conversas que tivemos em três dias haviam sido mais interessantes do que anos ao lado de falsos amigos e falsos namorados. Eu só não sabia como dizer isso para si.

- Espera... - sua mão envolveu delicadamente meu braço esquerdo assim que passei ao seu lado e minha atenção se voltou diretamente para suas orbes castanhas. - V-Você... está linda.

Ele estava... envergonhado? Olhando para suas bochechas levemente rosadas e seu maxilar trincado, quase não era possível lembrar do homem seguro de alguns segundos atrás. Baekhyun era realmente imprevisível.

- Eu sei - lancei-lhe um último sorriso sincero e lhe dei as costas, indo em direção ao Porsche do outro lado da rua e sussurrando para mim mesma em meio à multidão bêbada e alegre que dançava na pista de dança:

- Você também.
 


Notas Finais


adoraria que vocês comentassem :)
sei la, só pra saber como ta indo...
mesmo assim, obrigada pelos favoritos

beijos de luz <3


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