1. Spirit Fanfics >
  2. Baile de Máscaras >
  3. Seis

História Baile de Máscaras - Seis


Escrita por: _naomiq

Notas do Autor


eae galera
demorei um pouco, mas antes tarde do que nunca

Capítulo 7 - Seis


 

Observar sua face serena tão próxima havia oficialmente entrado para a minha lista das coisas que mais gosto de fazer. Após tanto tempo olhando-o e memorizando cada uma  das expressões que fazia enquanto dormia, chequei a hora em meu celular. A tela indicava ser quatro e dez da manhã. Nem me surpreendia mais acordar àquela hora. 

Permanecíamos abraçados sob o edredom pesado: eu com a cabeça sobre seu peito desnudo e ele envolvendo minha cintura. A televisão que fora esquecida ligada continuava a transmitir o filme que havíamos dado play na noite anterior, talvez pela quinta ou sexta vez seguida. Eu até a desligaria, porém não queria me mover nem um centímetro para longe do calor que emanava do rapaz.

Em suma, após ambos estarmos sedentos um pelo outro, já não suportando permanecer com as roupas no corpo, lembramos do grande e sólido gesso que envolvia minha perna. Conformados com o fato de que seria impossível fazer algo mais íntimo com a presença daquela coisa inconveniente, optamos por assistir um dos suspenses clássicos que compunham minha estante enquanto nos beijávamos várias e várias vezes. A noite não terminou exatamente como eu esperava, mas se dissesse que não gostei estaria mentindo.

Hera, que dormia na ponta da cama de casal, abriu seus olhos sonolentos assim que me levantei com cuidado. Tateei as cobertas em busca do controle remoto, desligando as trinta e duas polegadas assim que o encontrei. O breu tomou o lugar, me forçando a andar até o lado de fora e iluminar meu caminho com a lanterna de meu smartphone. Antes de fechar por completo a porta do quarto, dei uma última olhada em Baekhyun, que se envolvia mais ainda no edredom. Ele deveria estar exausto.  

O céu estava escuro, uma vez que a madrugada ainda se fazia presente. Sabendo que não conseguiria dormir novamente, depositei meus fones de ouvido em minhas orelhas e selecionei uma das músicas de pop coreano que gostava, rumando até a cozinha e separando os utensílios para preparar meu chá de camomila preferido. Havia se tornado um hábito bebê-lo assim que eu acordava, já que me ajudava a ficar calma após uma noite de pesadelos.

Com uma xícara esfumaçante em mãos e os fones nos ouvidos, dirigi-me até a sacada da sala de estar, onde a brisa da manhã encontrou minha pele e a arrepiou por completo. Me apoiei na grade de proteção com os cotovelos, bebericando o chá quente e esperando pelo alvorecer. Sempre achei que a melancolia daquela paisagem me convalescia. O céu, solitário em centenas de quilômetros, me fazia sentir que não era a única. Em um apartamento tão grande e com milhares de wons no banco, a sensação de vazio era ainda maior.  

Lembrei de Jihyo e de como eu queria tê-la visitado no hospital. Visto seu sorriso, seus fios loiros desajeitados e até mesmo suas brigas constantes com Suho. Apenas vê-la já era o suficiente. Entretanto, mamãe não me deixou chegar nem perto da garota. Eu a entendia, por mais que aquilo me machucasse mais que o próprio osso partido debaixo do gesso em minha perna. Descobrir que sua filha é corredora de rua quando a mesma sofre um acidente grave deve ser terrível. 

- Isso é maravilhoso - nem percebi quando Baekhyun imitara minha posição, refletindo o nascer do sol em seus próprios olhos, que miravam a paisagem encantados.

Sua franja caía desajeitada sobre as pálpebras quase fechadas, que davam-lhe o aspecto sonolento mais bonito que eu já vira. A vista de seu perfil era simetricamente bela, deixando para seu sorriso o toque final perfeito. Ele se apoiava da mesma forma que eu, há apenas alguns centímetros de mim, quase encostando nossos cotovelos nus.

- Nunca vi o nascer do dia desse modo - completou.

Analisei cada traço de seu rosto, cada músculo de seu braço e cada sarda em sua pele. Tentei encontrar algum defeito em si, falhando miseravelmente. A soma de suas partes resultava em algo tão deslumbrante que me assustava. Cheguei a pensar que talvez ele fosse esplêndido demais para ser real.

- Não acho que seja tão bonito assim, no fim das contas - repliquei, voltando-me para a imensidão alaranjada que despontava no horizonte. - Algo tão lindo acontecendo bem acima de nossas cabeças e nós insistimos em não enxergá-lo - sorri anasalado pras pessoas que corriam nas ruas abaixo de nós, levando suas pastas nos braços ou seus celulares nas orelhas - É triste.

- Nós estamos aqui, não estamos? - Olhei em direção ao garoto, que continuava atento a cada centímetro percorrido pelo sol da manhã. - Não importa quantas pessoas vêem o alvorejar. Se para aquelas que o notam - sejam elas duas ou duas mil - ele ainda for a coisa mais bela de seu dia, então está tudo bem. Sua beleza apenas existe. Cabe a nós contemplá-la o máximo que pudermos - mirou-me, sorrindo com os olhos.

Suas palavras me deixaram sem reação. Pensei em centenas de coisas para respondê-lo, mas acabei por não dizer nada. Vê-lo falar coisas como aquela enquanto o dia se punha era quase mágico.

- Você é tão bonito - as palavras escaparam por entre meus lábios antes eu que pudesse detê-las. Baekhyun encontrou meus olhos com os seus em meio ao grande feixe de luz que nos separava. Queria ser capaz de fazer algo que não fosse admirá-lo, salvando cada traço de sua face surpresa em minha memória com medo de um dia esquecer a forma majestosa em que a mesma era desposta.

Incapaz de fugir da hipnotizante dança de suas orbes castanhas, aproximei-me de si lentamente, ainda estranha à presença do garoto que me encarava. Meus músculos se moviam por conta própria, e eu não pude parar meus dedos quando os mesmos envolveram seu rosto. Selei nossos lábios com calma, tentando memorizar cada sensação a que era exposta quando em contato com sua pele lisa. Pude sentir sua mão deslizando por minha cintura, dedilhando a lateral de meu corpo até encontrar meu maxilar, depositando ali um afago tranquilo. O aroma de seu perfume estava tão presente como sempre, inebriando-me e deixando-me à mercê de seus encantos. Nenhum de nós aprofundou o beijo, mas não era necessário; apenas o contato de nossos lábios já era suficiente para transmitir o sentimento mais puro que senti em toda a minha vida: a paixão, tão arrebatadora quanto a sua fama alega. Estar ali, abraçando-o com todo o meu ser e beijando-o com toda a minha alma, provocava calafrios em meu estômago. 

Separei-me de si, ainda mantendo meus olhos fechados a fim de aproveitar o momento até o último segundo. Levei minha testa de encontro a seu peito assim que fui contornada por seus braços em um abraço carinhoso, que colou gentilmente nossos corpos. Senti-o apoiando seu queixo sobre meu couro cabeludo após depositar ali um beijo tímido.

- Vamos tomar café da manhã? - Perguntou o menino, quebrando o silêncio antes instaurado entre nós. Maneei a cabeça negativamente, sem separar-me de seu calor. Fiquei feliz pelo garoto não ser capaz de ver o enorme sorriso em meus lábios. 

- Espere um pouco. Quero ficar assim por mais alguns minutos, se não se importa - disse-lhe, sentindo sua risada anasalada contra meu cabelo.

- Por mim, está ótimo assim.

Foi minha vez de sorrir, apertando-o ainda mais forte e desejando que o tempo parasse ali mesmo.

 

xxxx

 

Após a terceira caçada dentro dos armários de minha cozinha, constatamos que realmente não havia nada comestível ali que não fosse rámen. O ponteiro das horas quase chegara ao nove quando decidimos comer em alguma padaria próxima. Baekhyun tomava banho enquanto eu dava o meu máximo para me vestir com a perna paralisada, ainda que não fosse o suficiente. Impaciente e furiosa, desisti de passar o short jeans por meus pés e joguei meu corpo sobre a cama bagunçada, encostando minhas costas no colchão.

Meus olhos miravam fixamente o teto esbranquiçado quando o ruído deslizante da porta do banheiro chegou aos meus ouvidos. De lá, em meio a uma grande leva de vapor quente, a figura do rapaz sendo protegido apenas por uma toalha enrolada em seu quadril pode ser visualizada. Sua pele ainda úmida mesclada aos seus fios ensopados e rebeldes quase conseguiram tirar-me um suspiro. Hera observava a cena tão atenta quanto eu.

- E então, pensou em algum lugar que você queira ir? - Creio que o garoto disse algo parecido a isso, mas não tenho completa certeza. Estava demasiada ocupada vislumbrando seu másculo corpo. - Se você não tiver nada em mente, nós podíamos ir àquela confeitaria que inaugurou semana passada. Ela fica um pouco longe, mas nós viemos com meu carro, então não haverá problema.

Fiz um movimento positivo com a cabeça, ainda que não tivesse prestado atenção a uma palavra sequer. Com leveza, pressionei minhas palmas contra meu rosto - que a propósito, estava em chamas - e forcei-me a regressar para minha expressão habitual. 

- Bem... - em forma de pigarro, chamei a atenção do menino que estava prestes a desfazer o único elo que mantinha seu corpo protegido - Acho que não conseguirei me vestir, então talvez seja melhor que eu permaneça em casa, no fim das contas. Você ficou comigo todo esse tempo, provavelmente deve estar querendo voltar para a sua família - Baekhyun permanecia atento à minha fala, esperando para que eu a concluísse. - Se você quiser ir embora, eu entenderei. 

O movimento de seus ombros fora quase imperceptível. Se não fosse tão atenta, provavelmente não teria visto o leve contrair de seu corpo. Os músculos de seu abdômen retraíram-se e seus olhos adquiriram uma suave surpresa.

- Mas eu achei que nós iríamos sair para tomar café... Você não quer ir?

- Não é isso! Eu só pensei que você deve estar cansado de ter que me ajudar, ainda mais quando não tem obrigação nenhuma de o fazer.

O rapaz se aproximou da ponta da cama onde eu permanecia sentada, ajoelhando-se em minha frente enquanto envolvia minhas mãos sobre meu colo. Sua aproximação repentina, ainda mais quando eu vestia apenas uma camisa larga e roupa íntima, deixou-me um pouco ansiosa. Senti-o pesar as palavras; selecioná-las com cautela. Seus olhos estavam fechados e aquilo apenas agregou minha ansiedade.

- Eu conheço você, Mia.

Demorei alguns segundos até recuperar a capacidade da fala.

- Como assim? É claro que você me conhece. Você entrou em meu apartamento por alguma razão ainda desconhecida, e agora está bem aqui, em minha frente.

- Não - seu toque se tornou ainda mais intenso, reduzindo os nós de meus dedos ao branco. - Eu conheço você, Mia, e não sabe o quanto fiquei feliz quando descobri que você estava aqui em Seul. Sua beleza só aumentou desde a última vez que vi você - ele sorriu anasalado, desviando seu olhar até o emaranhado de nossos dedos. - Eu sempre achei que em meio àquelas crianças órfãs, seus olhos redondos eram os mais cativantes.

Levantei-me em um só pulo, assustando tanto o garoto quanto o cão que dormia sobre o colchão. Ele estava falando de meu passado; a época da minha vida que eu sempre quis esquecer, sendo relembrada pelo desconhecido por quem eu estava atraída. Senti minha cabeça girar mil e uma vezes quando minha perna debilitada esbarrou contra a móvel que apoiava a televisão.

- D-D-Do que você e-está falando?! Baekhyun, como você sabe disso?! Ninguém sabe que eu fui adotada! Droga, droga, droga! - Esbravejei, prendendo o gesso em minhas mãos como se a dor fosse se esvair com aquele gesto.

- Mia, acalme-se, por favor! - Seus braços me ampararam, pondo-me sentada novamente sobre a cama. - Eu quero te explicar, mas primeiro você tem que ficar calma!

Aos poucos, meus batimentos iam desacelerando e eu podia sentir o ar mais uma vez em meus pulmões. Aquilo havia me surpreendido. A adoção nunca fora algo com o qual eu lidava bem. Havia tantos anos que tal palavra não saía por meus lábios, que quando ouvi o garoto citá-la foi como se uma chama houvesse sido acesa em minha cabeça, e o fogo ardente tomasse conta do meu ser.

- Está melhor? - Indagou, sentando-se ao meu lado e removendo de minha face os fios que desabavam de meu coque mal feito. Assenti, ainda mirando o laminado sob meus pés. - Eu não sabia qual seria sua reação, por isso optei por não contar a você de imediato. Bom, pelo visto, não ajudou em nada.

Sorrimos, apesar de eu não ter certeza se foram sorrisos sinceros.

- Não sabe o quanto procurei por você. Depois que você se foi daquele orfanato, eu já não tinha mais razão alguma para sair do quarto - percebi a inversão de seu olhar, a profundidade que o mesmo admitiu durante sua fala. - Lembro como se fosse ontem quando você chegou. Parecia tão perdida, infeliz. Nessa época, eu era jovem demais para notar o quanto você era diferente - suas orbes vagavam pelo cômodo, aparentando estarem em algum outro lugar, muito longe do 404 e até mesmo da capital. - Você não falava com ninguém, então foi muito difícil me aproximar. Os anos passaram, nós crescemos, e eu continuava a admirá-la de longe, criando coragem para abordá-la e me confessar - o maior sorriu com seu próprio comentário. - Eu sei, é estúpido, mas eu tinha dez anos de idade e estava apaixonado por uma garota que brincava sozinha nos fins de tarde. 

As lembranças daqueles dias me atingiram de uma só vez. Eu nunca havia sido confiante com a minha aparência ocidental, e é claro que as crianças não deixariam isso de lado. Não que eu me importasse; na verdade, nenhuma delas chamava a minha atenção. Exceto por um garoto. E então eu lembrei. Seus traços ovais e graciosos nunca se perderiam em minhas memórias. O castanho de seus olhos, mirando-me, lá longe, sempre fez com que eu não me sentisse sozinha. Era ele. 

-...e então eu me preparei para falar com você durante três dias, mas enquanto esperava-a sentado na grama rasteira do jardim dos fundos, pude vê-la pelo vidro da janela, adentrando  um carro cinza que levaria-a - eu descobri posteriormente - para muito longe dali.

As gotas já não rastejavam mais em seu peito, e sua franja secara sem que eu notasse. Seus braços mantinham-no sentado, apoiando-o atrás de suas costas. 

- Eu esperei você. Não sei ao certo quando desisti de aguardá-la, mas tenho certeza que essa foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. A vida em um orfanato foi muito pior sem a vista de seus fios lisos sendo bagunçados pela brisa do entardecer - e então ele olhou em meus olhos, sustentando-me com suas orbes e envolvendo-me com seu calor. - Contudo, quando avistei você dentro daquele Porsche, tão independente e ainda mais bela, algo em mim reviveu e eu sabia que não podia perdê-la novamente. Mesmo que não lembre de mim, suas feições nunca serão estranhas ao meu coração.

Seus dedos encontraram meu rosto, suaves e sedentos ao mesmo tempo. Aproveitei seu afago, deixando-me ser levada pela atração que emanava de seu corpo e envolvia-me por completo. Mais uma vez eu estava exposta, e mais uma vez eu não me importava com aquilo.

- Suas bochechas redondas continuam as mesmas - sussurrei contra seu pescoço assim que fui circulada por seus braços em um abraço apertado. Sorrimos juntos em um gesto de compreensão. Nenhuma palavra precisava ser dita para que nossos corpos relembrassem a sensação de estarem próximos.

O mais velho juntou nossos lábios de forma singela, acanhada. Acariciei seu pescoço, descendo por sua clavícula e dedilhando até o centro de seu tórax. Apreciei o arrepio que percorreu sua pele com um sorriso nos lábios, dando fim ao beijo que fora iniciado.

Assim que entreabri meus lábios, pronta para iniciar uma conversa com o garoto, senti meu celular se agitar ao meu lado. Em sua tela, o nome "Oh Sehun" brilhou e pude perceber o encontro sutil das sobrancelhas do menino que permanecia com as mãos sobre minhas pernas e cintura. Meus batimentos mais uma vez se descompassaram, porém dessa vez não foi por um bom motivo.

- Pode falar, estou ouvindo.

- "Será que você pode vir aqui? Eu tenho algumas notícias que talvez você queria saber."
 


Notas Finais


revelações


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...