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História Baile de Máscaras - Oito


Escrita por: _naomiq

Notas do Autor


jesus que capítulo gigante

Capítulo 9 - Oito


 

Não existe nada melhor do que poder vestir uma calça jeans novamente, ainda mais quando você odeia usar vestido, assim como eu. Durante aquela tarde eu havia - finalmente - retirado o gesso de minha perna. Jihyo, que não me deixou mais sozinha desde que recebera alta do hospital, fez questão de dirigir até o local da minha consulta e abrir sorrisos espontâneos junto comigo quando visualizamos minha perna novamente, depois de quase dois meses. Nunca valorizei tanto o fato de conseguir movimentar os dedos de meus pés.

Ficamos jogadas em minha cama naquele final de tarde, logo após voltarmos do médico e cozinharmos alguns cupcakes, deixando meus balcões cobertos de farinha. Jihyo pincelava suas unhas com um vermelho vivo quando deslizei a porta do banheiro; meus fios laçados pela toalha, assim como meu corpo, ainda escorriam e pingavam de modo irregular na madeira do assoalho. Nos preparávamos para correr. Ou melhor, para assistir às corridas. Jihyo me proibiu integralmente de dirigir a qualquer velocidade acima de 80km/h. Além, é claro, de que o Porsche que tanto amava estava pendurado nos fundos de uma oficina, sem data de egressão.

— Eu nem acredito que você e Suho estão morando juntos - chamei sua atenção, abrindo o guarda-roupas e retirando dali algumas peças, que seriam provadas e posteriormente arremessadas de volta. - Mamãe está bem com isso?

Sabia que a garota estava pesando suas palavras, mesmo sem vê-la. Nos dois meses que se passaram após o acidente, todo assunto que envolvesse nossa mãe e eu havia se tornado delicado. Meu medo de encontrá-la novamente e lhe contar tudo o que se passava em minha vida só aumentara, e eu também não cria muito que fosse a pessoa que ela mais quisesse ver naquela hora. Afinal de contas, mesmo que não tivéssemos sido pegas pela polícia, eu sabia que não seria tão fácil conseguir seu perdão. 

— Eu acho que sim. Digo, você sabe como ela é. Aquela cara de poucos amigos esconde muitos sentimentos, e eu sei que ela deve estar solitária, mesmo que nunca ouçamos tais palavras saírem de sua boca - sorrimos em concordância. - Quando Suho me convidou para morar em seu apartamento, logo depois que saí do hospital, o choque foi imenso. Eu nunca morei em outra casa que não fosse a nossa. Porém, creio que nunca estive tão feliz!  

Vê-la com aquele brilho jovial no olhar era reconfortante. Poucas pessoas a conheciam tão bem quanto eu, e mesmo há quilômetros de distância, eu ainda poderia afirmar que ela estava verdadeiramente alegre. Seu sorriso ia de orelha a orelha, sendo isso o suficiente para levar-me junto em uma gargalhada complacente.

— Eu a amo. Ela é minha mãe e minha amiga, a pessoa mais importante na minha vida, mas aquela casa não era mais grande o suficiente para mim. Eu tenho planos; nós temos planos. Desejos, sonhos. Você sabe, Mia, sei que me entende. 

E eu entendia, infelizmente. Entendia mais do que queria entender. Tudo se resumia àquilo. Ser alta demais para aquelas telhas; sonhadora demais para aquelas paredes. Nada nunca nos foi negado, nem passamos dificuldade em relação à parte financeira - muito pelo contrário, na verdade -, e mesmo assim, a hora de dar adeus àquela parte de nossa história havia chegado. 

— Sabe, por muito tempo, assim que saí de casa, eu culpei a mim mesma por todos os problemas que nossa mãe teve. O início de depressão, a bebida - sentindo meus olhos arderem,  tive que respirar algumas vezes até que tudo se estabilizasse. Eu não podia chorar. - Mas então eu percebi que seria infeliz se continuasse com a vida que levava. Jihyo, a mamãe é muito importante para nós, assim como nós somos para ela, e sua opinião é preciosa demais para que simplesmente não a consideremos. Porém, mesmo que isso soe egoísta, eu acredito que nossas vontades serão sempre as que devem permanecer. Não devemos ter medo de sentir, de fazer. De viver. Nós somos jovens, entende? Mamãe fez muito por nós, e agora devemos devolver a ela toda a nossa gratidão, mostrando que seus esforços para nos educar não foram em vão.

Ainda presa em meu monólogo, percebi que minha irmã secava algumas lágrimas com as costas das mãos. Revirando os olhos e sorrindo, envolvi a mais velha em meus braços, em um abraço apertado e demorado.

— As vezes parece que a irmã mais velha é você - reclamou, me apertando mais contra si e sorrindo em meio às lágrimas. - Sempre invejei o jeito que você tem com as palavras. Você seria uma boa anunciante, para ser sincera.

Deixando todo o clima carregado para trás, começamos a fazer piadas e imitações uma da outra. As corridas teriam que esperar; a interpretação de nosso avô na festa de natal não poderia passar despercebida.

 

xxxx

 

Céus, como eu adorava calçar meus sapatos de salto! Fazia tanto tempo desde a última vez que os usara. Desde que encontrara Baekhyun no RP. Oh, sim, Baekhyun. Rápido como chegou, ele se foi. Não estava morto, de fato. Apenas nas minhas memórias. 

A traseira de seu carro dobrando a esquina de minha rua foi a última imagem que vi relacionada a si. Telefonemas, mensagens de texto, até uma carta eu mandei! Ele sumiu, e eu me vi na obrigação de esquecê-lo. Foi tão difícil - estava sendo difícil -, mas eu sabia que não seria impossível. Meus relacionamentos amorosos nunca duraram muito; eu sempre acabava terminando. Quem sabe foi por isso que a sensação de ser deixada em segundo plano fora tão devastadora. Eu não estava acostumada com aquilo.

O primeiro estágio foi a negação. "Ele vai ligar, deve estar somente ocupado", pensava. O segundo foi a aceitação. Reencontrei meus amigos, saímos para beber e conversar sobre nossas vidas, e foi maravilhoso. Mesmo que eu soubesse que algo estava faltando. E o terceiro foi a raiva. Sei que a ordem dos fatos parece errônea, mas eu fiquei extremamente furiosa assim que parei pra pensar sobre isso. Eu havia sido claramente apenas um passatempo para ele, e odiava sentir que fora usada, como um objeto que, quando não queremos mais, atiramos em qualquer lata de lixo mais próxima. 

Ninguém sabia do nosso envolvimento, o que me livrou das típicas perguntas como "onde está aquele seu amigo gentil e engraçado da última vez?" e afins.

Balançando a cabeça com certa rapidez, deletei meus pensamentos ruins e terminei de pintar meus lábios com o batom avermelhado quase bordô que pegara de Jihyo. Meus fios, agora tingidos de azul safira, estavam livres e lisos sobre meus ombros e costas. O clima mudara, logo as madrugadas já não eram mais tão congelantes, permitindo que eu usasse apenas uma calça jeans preta e um cropped de mesma cor, coberto por um quimono que se assemelhava muito a meu batom e se extendia até a parte de trás de meus joelhos. Um cinto de couro prendia o tecido ainda mais a meu corpo, e meus sapatos se enroscavam em meus pés através de faixas diagonais que subiam até pouco acima do tornozelo. Banhando-me em meu perfume cítrico, segui Jihyo até o subsolo, onde meu carro esportivo aguardava por nós.

A mais velha entrajava um vestido curto e rodado, com flores arroxeadas por toda a sua extensão negra. Um casaco leve esquentava seus braços, deixando apenas seu colo à mostra. Meias altas e de lã preta cobriam suas pernas até o joelho, e nos pés, saltos pretos fechados davam o toque final. Ela parecia uma verdadeira boneca. Não fosse a maquiagem pesada em seu rosto, com muito delineador e um tom escuro nos lábios, poderiam facilmente pensar que a mais nova, na verdade, era ela.

Assim que saímos da garagem, o grande breu que vinha do céu nos encheu os olhos. Nem havia notado a hora passar. Algumas estrelas solitárias compunham a paisagem, e eu tive muita vontade de desenhá-las. Talvez mais tarde.

Como num piscar de olhos, Jihyo desacelerou o carro e nós já estávamos paradas em frente ao RP. Não contradizendo sua fama, o lugar continuava abarrotado de pessoas, que faziam metros de fila e provavelmente nem iriam conseguir entrar. De longe, pude ver Chanyeol e Jongin analisando nosso veículo, certificando-se de que sua visão estava correta, já que não avisamos para ninguém que iríamos sair naquela noite. Quando finalmente ativamos o alarme do Ford e caminhamos em passos lentos até o local, ambos os garotos vieram ao nosso encontro e nós trocamos abraços calorosos. Posso dizer que Jongin mudara muito desde a última vez que o vira.

— Mia, você parece ótima! Sua perna já está totalmente recuperada, então? - Park indagou, com os braços em minha cintura.

Assenti, dando uma volta em meu próprio eixo enquanto mantinha sua mão enroscada à minha acima da minha cabeça. Com a visão periférica, senti os olhos de Jongin sobre mim.

— Vamos entrar pessoal! Park, você vai na frente, assim abre caminho para o resto de nós - agarrando a mão do mais alto, Jihyo levou-o junto consigo para o meio de toda aquela multidão.

Ficamos eu e Jongin, parados e sozinhos. Vi-o coçando a nuca, sem jeito, e sabia que tinha que falar algo. Chamando sua atenção com uma tosse falsa, dei início à minha fala.

— Acho que lhe devo desculpas, sabe, pelo chute. Também gostaria que me perdoasse por ter desconfiado de você quanto à origem do acidente. Eu estava tão preocupada em ser a responsável por capotar o nosso carro que precisava jogar a culpa para cima de alguém. Me arrependo muito de tudo isso - dando-lhe uma reverência demorada, escutei o menino sorrindo anasalado e levantando-me de leve com um toque em meus ombros.

— Está tudo bem Mia. Você tinha milhares de motivos para acreditar que a culpa era minha, no fim das contas. Sei que você é uma ótima motorista, mesmo quando bebe, e deve haver uma explicação sensata para o acidente, então não fique se culpando por isso - e estava ali, exatamente na minha frente, o Kim Jongin com quem eu tinha namorado. Gentil, amável e mesmo assim, dono de um dos sorrisos mais bonitos que já vi.

Sorrimos um para o outro por muito tempo. Um momento de consentimento nos tomou, e só fui trazida de volta à vida quando o garoto segurou minha mão e me puxou porta adentro. A música tomou meus ouvidos como o cheiro de bebida tomou minhas narinas. Lá longe, em meio a corpos que se esfregavam em passos de dança desajeitados, Park, Jihyo e Suho seguravam copos vermelhos nas mãos e acenavam em nossa direção. Sem demora, penetramos a multidão e marchamos até eles, deixando que nossos membros sentissem as batidas que saíam das caixas de som. 

— Você está linda - Jongin se inclinou em minha direção, aumentando a voz para que pudesse escutá-lo. 

O agradeci, virando todo o conteúdo do copo que roubei de Suho de uma vez só em minha garganta. Um coro veio logo em seguida, junto a braços levantados e dezenas mãos chifradas. Gargalhei alto, mesmo que nada pudesse ser ouvido naquele mar de pessoas.
Sentia meu corpo esquentar pouco a pouco. Ainda que parecesse impossível, o RP encheu-se ainda mais. Homens e mulheres de todos os estilos, cores e nacionalidades preenchiam o local. Jihyo sumira com Suho, deixando-me sozinha com meu ex namorado e Chanyeol, que não tardou a enroscar sua língua à de um americano de olhos verdes.

A cada música que dava início, novos movimentos meus membros adquiriam e mais insuportável o calor ficava. Não sei ao certo quanto tempo eu continuei na pista de dança, mas quando a primeira gota de suor escorreu por meu rosto, decidi me refrescar um pouco. A saída estava interditada - o fluxo de pessoas era monstruoso -, então decidi ir até a área dos banheiros. O mesmo lugar onde, dois meses antes, encontrei Baekhyun pela terceira vez em três dias. Pensando nisso agora, aquilo era, de certa forma, muito estranho.

Encostando minhas costas na parede amadeirada, aproveitei o espaço vazio para checar minha maquiagem na tela de meu celular. Ajeitando alguns cílios rebeldes, vi alguém se apoiando ao meu lado, extremamente próximo a mim. O cheiro de vodca que vinha de si era fortíssimo, quase como se o homem houvesse se banhado na sua fragância. Olhei-o de relance; evidentemente estava bêbado. Seus cabelos se discrepavam do terno simetricamente ajustado: estavam uma bagunça só. Ele não era novo, mas também não era velho. Os traços fortes que compunham sua face transmitiam a personalidade de alguém que experimentou muita coisa durante seus anos de vida. Por um momento, senti inveja dele.

— Sua maquiagem está perfeita, não se preocupe - ouvi, logo percebendo que quem falava comigo era ele.

Sorri fechado, tentando não prolongar a conversa, mas foi exatamente o contrário o que consegui.

— Não precisa ficar tímida, princesa. Não sou tão mais velho que você - completou, sorrindo maliciosamente e se aproximando de mim.

Espalmei minha mão em seu peito, forçando-o de volta ao lugar que estava, porém ele era cem vezes mais forte, e meu ataque só serviu para que suas mãos segurassem meu pulso com força e me prensassem contra a parede. Olhando-nos de trás, com toda certeza, nem seria possível me ver, já que ele era muito mais alto que eu. Nessa hora, o pânico me atingiu. 

Eu queria gritar para que me soltasse, mas estava atônita demais para aquilo. Lutando contra suas algemas, eu me mexia avidamente, tentando fazer de tudo para que alguém percebesse o que ocorria, e isso só deixou-o ainda mais estressado e agressivo. Quando senti seu joelho forçando a abertura de minhas pernas, fechei meus olhos com força. Talvez se não visualizasse seu rosto diabólico tão perto de mim, não ficaria tão atordoada e tentaria gritar e lutar novamente. E eu ia fazer isso, mas logo toda a pressão que seu corpo lançava sobre mim virou cinzas e minhas pernas trêmulas não conseguiram me manter em pé. Estava aturdida, com medo e, ainda que estivesse muito calor lá dentro, o frio me tomara por completo.

Enquanto tirava meus fios da frente dos olhos, sentada no chão do jeito que fiquei quando caí, vi o tumulto que se formava no lugar. Pessoas correndo em minha direção ao passo que dois homens distribuiam socos violentos nos queixos um do outro e quebravam cadeiras e copos que apareciam em seu caminho. Minha visão estava embaçada pelas lágrimas que ameaçavam cair, mas eu sabia que conhecia aquela pessoa. Baekhyun

Assim que o menino marcou pela última vez o rosto do homem que há pouco segurava meus pulsos, Jongin e Suho entraram no meio dos dois e os seguraram. Baekhyun berrava com uma ferocidade que eu jamais vira, tentando se livrar dos braços de Jongin. Não escutava o que ele dizia, mas sabia que eram ameaças e ultrajes.

Em um último súbido de repugnância e fúria, forcei minhas pernas a se esticarem e me pus de pé, apoiando-me nas paredes ao meu redor. Todos os pares de olhos se colocaram em minha direção quando, com muita dificuldade, arrastei-me até o corpo do homem jogado ao chão e acertei-lhe nas costelas com a ponta de meu sapato. E esse foi o estopim para mais chutes, cada vez mais fortes, que distribuí em toda a extensão de seu tronco. Gritei os piores palavrões em sua direção, ameacei-o de mil e uma coisas e fiz questão de me agachar sobre si e levar meus punhos em seu rosto. 

Foi só quando braços me rodearam pela cintura e me levantaram que as lamúrias do homem cessaram e os seguranças o imobilizaram. A música continuava em segundo plano, mas as pessoas prestavam atenção em nós. Imóveis, com os lábios entreabertos, lentamente os espectadores retornaram aos seus lugares, ainda que mantivessem expressões de horror em suas faces. Meu peito subia e descia incessantemente - novamente o calor me atingira -, porém não deixei de acompanhar com o olhar o crápula sendo arrastado para fora do estabelecimento.

Segundos depois que as portas se fecharam, tentei controlar meus batimentos e senti meu corpo murchar. Braços continuavam a rodear minha cintura, e quando percebi que era Baekhyun o dono dos mesmos, puxei-me com força para fora de seu abraço. 

— Meu Deus, Mia! O que aconteceu? Você está bem? - Jihyo correu até mim e me apertou contra si. Senti suas lágrimas molhando minhas bochechas e me controlei para não imitá-la. Sabia que, se chorasse, ela choraria mais ainda.

— Estou bem, Jihyo, não se preocupe - disse, sem muita convicção de minhas palavras.

Chanyeol e Jongin vieram ao nosso encontro, acompanhados de Suho e Kyungsoo, e rodearam-nos de perguntas. Mais alguns amigos nossos dos rachas se aproximaram e, com a melhor expressão que consegui manter, os tranquilizei e afirmei que estava bem.

— Jihyo, eu estou bem agora, apenas preciso ficar sozinha. Se importa se eu for embora e voltar para buscá-la mais tarde? - Perguntei à minha irmã que, com o cenho franzido, negou prontamente o meu pedido.

— Não! Não vou deixá-la sozinha agora! Se você quer ir embora, eu vou junto!

Um murmúrio cresceu no mesmo instante: meus amigos e minha irmã insistindo para que fossemos embora juntas, e minha dor de cabeça latejando cada vez mais. Mesmo que tentasse falar, minha voz nada era quando comparada ao restante das vozes ao meu lado, e eu agradeci muito, ainda que sentisse que não devesse, quando Baekhyun os interrompeu.

— Eu levo você pra casa - disse, permitindo que eu ouvisse sua voz novamente após todo aquele tempo. Tanto quanto queria socá-lo, queria abraçá-lo e beijá-lo e dizer o quanto senti sua falta.

Mais uma vez no centro das atenções, vi-me encurralada em uma parede feita de olhos, que esperavam ansiosamente pela minha decisão. Alternando entre Jihyo e Baekhyun, amaldiçoei meu estúpido cérebro que, no momento em que eu mais necessitava, decidiu desligar-se e deixar meu coração sob o comando. Como sabia que Jihyo não deixaria que eu fosse embora sozinha, suspirei pesadamente, me preparando para passar pelo menos dez minutos sentada ao lado de Baekhyun, dentro de um carro.

— Jihyo, você pode ir lá pra casa depois, se quiser - segurei suas mãos, envolvendo-as com delicadeza.

A mais velha abriu um sorriso gigantesco, mirando o garoto ao meu lado e retornando a mim novamente.

— Eu acho que vou para a casa do Suho, na verdade. Tente aproveitar o restante da noite. Amanhã eu levo seu carro de volta, tudo bem?

Assenti, abanando para o restante de meus amigos e rumando para fora dali pela porta dos fundos, sem nem olhar pra trás.

 

xxxx

 

Nada. Nem uma palavra. Durante todo o trajeto até a frente do meu prédio, nossas vozes ficaram trancafiadas dentro de nossos pulmões, e o silêncio nunca pesou tanto. Baekhyun trocava a estação de rádio vez ou outra, e quando os sinais mandavam que parássemos, era como se o espaço dentro do veículo fosse tomado pelo vácuo. 

Eu tinha tantas indagações. Céus, ele estava acabado. Nas vezes em que conseguia mirá-lo sem ser pega, notei o quanto ele estava machucado. Um de seus olhos assumia a cor vermelha em todo o seu perímetro, e eu sabia que mais tarde aquilo viraria um misto de vários tons de roxo. No canto de sua boca era formada uma pequena poça de sangue; quase um insulto àqueles lábios fascinantes. Seus fios castanhos - que notei estarem mais compridos do que da última vez - dançavam e bagunçavam-se entre si graças ao vento  vindo da janela, que os atingia. A blusa larga de mangas curtas que o cobria estava repleta de marcas em sua superfície esbranquiçada, tanto amassados quanto alguns respingos de sangue. Seu jeans preto apertava-lhe a perna, delimitando a silhueta de seus músculos perfeitamente. Mesmo com tantas irregularidades, o garoto continuava sendo incrivelmente belo. E aquilo doía pra cacete.

Murmurei um agradecimento quando desci do carro, parado em frente à minha calçada. O baque surdo da porta sendo fechada reverberou por toda a rua, mais solitária que nunca, sendo acompanhado por outro logo em seguida. Provavelmente ele estava em meu encalço. 

Assim que adentrei o elevador, recostei-me em uma de suas paredes e apertei o botão que indicava o quarto andar. Sentindo meu coração estremecer e dar voltas dentro do meu peito, suspirei assim que vi seus dedos impedirem a porta automática de se fechar, e logo o mais velho já havia jogado seu corpo ao lado do meu. Mais uma vez, a distância entre nós era muito maior do que aparentava. Até considerei mandá-lo ir embora, mas estava fraca demais para isso. Ou quem sabe, pensando sobre isso, eu simplesmente não queria que ele me deixasse.

Hera correu em nossa direção quando terminei de girar a chave na fechadura e guardar meus sapatos no armário baixo ao lado da entrada, pendurando meu quimono no cabideiro. Baekhyun acariciou sua cabeça, distribuindo afagos em sua barriga rosada quando a mesma lhe deu permissão.Temendo que perdesse o controle da situação e o abraçasse naquela hora, andei apressadamente até o banheiro da suíte principal, onde separei alguns panos limpos e água morna, levando-os até o garoto sentado em meu sofá. Ele não sabe, mas eu vira claramente sua expressão de dor. Infelizmente, eu vi.

Coloquei a bacia e as toalhas sobre a mesa de centro, deixando o local o mais rápido que pude. Já na cozinha, fechei a porta que levava à sala e recostei-me sobre a pia. Minhas lágrimas quentes foram veladas pelos azulejos nas paredes.

Secando com cuidado os rastros molhados em minhas bochechas, respirei profundamente e decidi que teria de encará-lo, mais cedo ou mais tarde. Logo que um copo de água deslizou para dentro de mim, escancarei a porta, vendo que o menino permanecia no mesmo lugar de antes. Com um espelho pequeno em mãos, Baekhyun envolveu a ponta de seu indicador com o pano umedecido e levou de encontro a seus lábios, franzindo o cenho em agonia e desistindo logo em seguida. Droga, droga, droga! Péssimo dia para deixar o coração ditar meus próximos passos. 

Sentando-me sobre uma de minhas pernas, ao seu lado no sofá, tomei o tecido de suas mãos, surpreendendo o rapaz, que não havia notado minha presença. Afundei completamente o objeto na água insípida, girando-o contra si mesmo e ouvindo o ruído das gotas que se chocavam contra a superfície. Envolvi o queixo do garoto com minha mão livre (estava com saudade da sua pele também) e pressionei de leve o ferimento em sua boca. Ele reclamou, juntando as sobrancelhas.

— Tudo bem, é rápido - ainda incerta de minhas palavras, tomei com mais propriedade a curvatura de seu maxilar, aproximando-me de si e retirando o excesso de sangue que escorria do machucado.

Sentir seu olhar sobre mim só contribuiu para que meus batimentos descompassassem mais ainda. Eu me forçava a focar em seus lábios, que em si já representavam um perigo estrondoso, mas não conseguia me conter e vez ou outra mirava suas orbes. O caimento daqueles olhos não me enganavam: Baekhyun sabia ser violento quando queria - foi o que aprendi naquela noite.

— E-Escuta Mia, eu acho que lhe devo explicações e-

— Fica quieto. Se falar, vai doer mais ainda.

— Eu não ligo. Só... preciso que você me ouça.

Afastei minhas mãos de si, jogando, com certa irritação, o pano dentro da bacia com água. Andei em círculos, respirando profundamente e sendo assistida pelo mais alto, que aparentava ansiedade.

— E eu vou ouvir o quê? Que você reapareceu mais de dez anos depois, dizendo que nunca me esqueceu, mas quando não conseguiu ir para a cama comigo, não perdeu a primeira oportunidade para sumir do mapa? Porque se for isso, você pode calçar seus tênis e ir embora, como fez da última vez - cuspi tudo aquilo que ficara trancado em minha garganta durante todas aquelas semanas, lutando para que o choro não retornasse. 

Encaramo-nos em silêncio. Seus traços me deixaram com mais raiva ainda; não conseguia decifrá-lo. O som de minha respiração pesada me comprimia até a menor parte do átomo, dissipando-me em milhões de pedaços e tornando-me inválida sob seu olhar. 

— Minha mãe foi internada. A médica disse que ela não estava respondendo bem ao transplante - você deve ter ouvido aquele dia no carro -, então tivemos que ir até os Estados Unidos em busca de um tratamento melhor. Eu voltei ontem para Seul, e queria muito encontrar com você, abraçá-la e dizer o quanto senti sua falta, mas imaginei que você não iria querer me ouvir. Eu também não me ouviria - suspirou, cabisbaixo, desviando toda a sua atenção ao piso laminado.

Fiquei imóvel durante alguns segundos. Meus lábios se abriam, prontos para dizer milhares de coisas, e então se fechavam novamente. Eu me senti um monstro. (Ei, Baekhyun. Se você estiver lendo isso, saiba que eu acho que você sempre teve razão. Eu sou a personificação do narcisismo. O que eu pensava? Que o mundo todo girava em meu eixo, sendo arrastado com a força da minha gravidade? Que engraçado.)

— E-Eu nunca imaginei isso. Oh, merda. Me desculpe - minha voz falhou e meu corpo encolheu. Patética.

Ele se levantou e, sem dizer uma única palavra, me envolveu em seus braços e em seu calor. Deixei minha cabeça tombar até a curva de seu pescoço, aspirando sua fragância de que tanto sentia falta, e retribuí seu abraço, apertando-o o máximo que consegui. Senti seu corpo perdendo as forças pouco a pouco, assim como o meu. Será que ele almejava aquilo tanto quanto eu?

— Eu gosto tanto de você. Céus, você é perfeita - sussurrou a última parte, acariciando minha nuca por cima de meus fios tingidos. - Sinto muito por não ter avisado, e também por ter feito você pensar essas coisas enquanto eu não estava presente para lhe dizer o quanto você é especial. 

Separei nossos corpos alguns centímetros; apenas o suficiente para olhá-lo nos olhos. Baekhyun parecia tão lindo e tão... frágil. Me perguntei o que o menino havia presenciado nos últimos dias, e fiquei aflita com o pensamento de que talvez ele passara por momentos difíceis sozinho. Apertei ainda mais meus braços em torno de seu pescoço, deixando sua face há apenas alguns milímetros de distância.

Inebriada pela atração que circulava nossos corpos e me fazia querer jogar-me em seu abismo, deixei que minhas armaduras caíssem por terra e colei nossos lábios. Não tinhamos tempo para beijos superficiais - a necessidade um do outro fazia os segundos correrem e a paixão acender como pavio curto. Quando nossas línguas se encontraram, foi como se nunca houvessem se afastado. Tudo se encaixava, se reconhecia. Era engraçado, já que nos beijamos poucas vezes, mas acho que era mais como o destino. Como se nossos lábios tivessem sido criados para permanecer juntos.

Envolvi seu rosto com minhas mãos, explorando cada centímetro daquele lugar. Seus dedos  dançaram em meu corpo, ora levando minha nuca em sua direção, ora colando ainda mais nossas peles. Quase como se houvéssemos ensaiado aquilo, andamos com passos desajeitados até a parede, sem quebrar o toque de nossas línguas. Pulei assim que senti o frio contra minha pele, fazendo com que nossas testas se esbarrassem e nós caíssemos em gargalhadas ecoantes.

— Caralho, que susto! - Reclamei, vendo seus olhos orientais quase fechados graças ao sorriso estampado em sua face.

Ele segurava minha cintura firmemente, e me surpreendeu quando, sem aviso prévio, forçou meu corpo para cima e literalmente me deixou sem chão. Enrosquei minhas pernas - ambas agora livres - em sua cintura, e diminuí o espaço entre nós, selando novamente seus lábios. Acariciando seu couro cabeludo, dei início a mais um beijo extasiante, já sentindo a umidade que crescia em minha roupa íntima. Eu pegava fogo a cada vez que nossas intimidades se encostavam, sentindo seu volume contra mim, e não conseguia conter alguns gemidos arrastados. Aquilo parecia agradá-lo, já que tratou de levar-me, ainda em seu colo, até a cama mais próxima.

Chegamos ao meu quarto em meio a risadas singelas e gemidos excitantes. Baekhyun soltou-me devagar sobre o colchão, garantindo minha segurança sem separar nossos lábios. Deitada sob seu largo peitoral e sentindo o roçar de sua excitação contra minhas pernas, eu estava enlouquecida. Afastei-nos apenas o suficiente para que sua camisa fosse jogada em algum canto e me deixasse ter a visão esplendorosa de seus músculos definidos. Ansiando por mais, o garoto continuou o beijo hipnotizante de antes, gemendo assim que arranhei a parte mais baixa de sua barriga, perigosamente perto de seu volume. Sorri vitoriosa; eu não podia ser a única em estado absoluto de excitação. Vendo o orgulho estampado em meu rosto, Baekhyun não se deixou ser colocado para trás e rasgou o tecido fino que me cobria, jogando o pequeno cropped desfigurado junto à sua camiseta, no chão.

— Espero que você não goste muito daquela blusa, porque ela não tem mais conserto - sussurrou em meu ouvido, mordiscando o lóbulo de minha orelha e me fazendo arrepiar em cada centímetro quadrado de pele.

Sua mão livre andou até meu pescoço, descendo por minha clavícula até chegar ao vale dos meus seios, ainda cobertos pelo sutiã. Falando em sutiã, agradeci mentalmente por ter escolhido usar um naquela noite que possuia o fecho na frente. Baekhyun pareceu grato também, uma vez que abriu-o e abocanhou um de meus seios com uma avidez impressionante. Junto às blusas e ao sutiã, foram parar também no chão meu cinto e meu jeans, o que significava que eu estava praticamente nua. Gemendo e evidentemente excitado, Baekhyun deixou meus seios e partiu para meu íntimo, marcando o caminho até lá com beijos demorados. 

Assim que senti sua mão acariciando-me minimamente por cima do único tecido que ainda me cobria, arqueei de leve as costas, movimento esse que não escapou de seus olhos perspicazes. Vi-o sorrir, voltando ao nível do meu rosto e distribuindo selares em meu pescoço, ainda estimulando-me pelo pano.

— B-Baekhyun... - deixei seu nome escapar, já me perdendo em meio ao prazer e ouvindo seus gemidos contidos, tão necessitados quanto os meus.

Quando o pequeno tecido deslizou por minhas pernas e se juntou à pilha de roupas no chão do quarto, o mais velho penetrou-me com dois dedos, de uma só vez, e eu não consegui impedir um grito de prazer de ecoar pelas quatro paredes.

— Droga, você está tão molhada. Eu quero muito foder você, agora mesmo - grunhiu, aumentando o ritmo de vai e vem de seus dedos dentro de mim e me forçando a agarrar suas costas, deixando ali marcas que provavelmente demorariam a sair. Fiquei feliz com esse pensamento.

Eu senti que estava chegando ao meu limite. Meus músculos começaram a se agitar, ansiosos com o orgasmo que se aproximava, porém pararam bruscamente quando Baekhyun se retirou de meu interior. Olhei-o manhosa, e isso só o fez gargalhar alto.

— Me desculpa, mas eu não poderia deixar as coisas assim tão fáceis, não é? - Brincou, selando meus lábios rapidamente.

Incrédula com sua atitude, surpreendi o mais velho quando espalmei minhas mãos em sua pele desnuda e o coloquei deitado no colchão, sentando sobre seu colo. Quando entendeu o que estava acontecendo, o garoto tentou se levantar e selar nossos lábios novamente, mas eu não permiti. Forcei-o a se recostar na cabeceira de couro branco, deixando mais uma marca em seu pescoço e indo em direção à única peça de roupa que o cobria.

Ao me deparar com seu cinto, desafivelei-o sem pressa, sustentando o olhar do garoto que parecia estar se policiando para não me ajudar com o trabalho. Estando o objeto fora de seu jeans, acariciei seu membro de leve, ainda por cima do tecido, e ouvi o gemido longo que pareceu ter saído de seu ponto mais profundo, obrigando-o a tombar a cabeça para trás. 

— Você parece animado, uh? Precisa de alguma ajuda? - Sorri maliciosa, abrindo seu zíper e dando às suas roupas o mesmo destino de todas as outras.

Sem demora, tomei por completo seu pênis em minha boca, deslizando minha língua por toda a sua superfície e terminando com um estalo alto. Baekhyun pareceu ir às nuvens e retornar, apertando os olhos e grunhindo enquanto eu aumentava vagarosamente a velocidade de meus movimentos. Seus dedos se enroscaram, sem jeito, em meus fios, ditando o ritmo com que eu o chupava. Quando senti-o agarrar meu cabelo ainda mais forte, cessei o vai e vem e encarei-o com meu semblante mais superior.

— Você não fez isso - falou sério, invertendo habilmente nossas posições e se pondo em meio às minhas pernas.

Nossas línguas se conectaram mais uma vez antes que eu o sentisse me preencher, trazendo-me um prazer que eu nunca fora capaz de vivenciar. Era como se eu tivesse voltado a ser casta.

— B-Baekhyun... - gemi ainda mais alto, envolvendo seu pescoço com meus braços ao passo que o mais velho acelerava seu movimento, depositando sua cabeça acima da minha clavícula, onde eu podia sentir sua respiração descompassada e ouvir seus grunhidos e gemidos de perto.

Com o garoto dentro de mim, entrando e saindo em uma dança hipnotizante, beijando minha pele exposta e sussurrando o quanto eu era gostosa, sabia que não levaria muito tempo até meu ápice chegar. Foi quando o menino segurou minha cintura, tendo mais controle e mais rapidez em seus movimentos, que eu senti um tremor se alastrando por todo o meu corpo e me tomando em uma onda de satisfação alucinante. Um gemido reverberou pelo quarto quando me deleitei em seu membro, aproveitando os poucos segundos de prazer que me foram proporcionados e presenciando o orgasmo que atingira o garoto também.

Seu corpo despencou ao meu lado, ambos suados e com os batimentos irregulares. Tentei me lembrar dos motivos que me deixaram brava com ele; não consegui selecionar nem um. Olhei-o de soslaio, que encarava o teto limpando uma gota que escorria em seu rosto, e me aproximei de si, puxando o lençol abarrotado para cima de nossos corpos.

Baekhyun envolveu-me pelos ombros, me fazendo apoiar a cabeça em seu peito, que ainda subia e descia oscilante. Seus lábios foram de encontro ao topo do meu couro cabeludo, deixando ali um beijo demorado e carinhoso. Sorri de leve, abraçando ainda mais seu corpo e sendo correspondida na mesma intensidade pelo menino.

— Droga... - resmunguei, sentindo meus olhos pesarem pelo cansaço. - Acho que eu gosto de você.

Seus músculos se agitaram em uma risada descontraída, e logo ele entrelaçou nossos dedos por cima de sua barriga.

— Então estamos quites.

E o sono levou minha consciência, ainda que eu soubesse que estava sorrindo.
 


Notas Finais


meu primeiro hentai, to nervouser


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