P.O.V Justin
Nossa primeira catástrofe veio de um local que nenhum de nós esperava e nos atingiu onde mais doía. Nosso coração sangrava ao ver nosso irmão mais querido, Lúcifer, a estrela do amanhã, rebelando-se contra nosso pai, contra nossa família, tornando o céu um campo de luta, irmãos contra irmãos, Lúcifer contra nosso pai.
_ Ele está cego! Está louco! –gritava nosso pai.
Lúcifer estava fora de si, estava cego pela inveja, ele queria o que eles tinham, ele ansiava sua liberdade e acima de qualquer coisa, ansiava seu livre arbítrio e ao ser expulso do céu, juntamente com seus seguidores, toda a maldade ia com ele, infectando cada coisa que tocava, sendo destinado aos confins da terra onde deveria permanecer até o fim dos tempos, quando enfim seria liberto e andaria pela terra.
Logo após sua queda, enquanto ainda nos recuperávamos, uma nova Era iniciava-se, era o começo dos tempos e tudo estava sendo criado, desde uma linda borboleta até um imponente leão. Rios, mares e oceanos começavam a receber seus primeiros habitantes, grandes e pequenos.
As árvores ocupavam cada canto do planeta, produzindo frutos e flores magníficos, coloridos e com cheiros inebriantes. Tudo estava sendo devidamente arrumado por meu pai, ele queria que tudo estivesse perfeito para recebê-los.
_ Eles merecem tudo isso. Eu os amo. –disse ele uma vez.
Seu olhar transbordava amor ao referir-se a eles, era lindo de se ver.
_ Se o senhor está feliz, eu também estou. –respondo com sinceridade.
Sua mão afagou meus longos cabelos e logo ele desceu até a terra. Ainda havia muito a ser feito, o Jardim do Éden ainda estava sendo construído, causando um alvoroço no céu, pois todos queriam apreciar de perto aquela construção e quando ficou pronta era motivo de orgulho em todo canto.
Mas nada se comparava ao fato de poder vê-los. Adão foi o primeiro, o primeiro do que chamamos de homem, a ocupar aquele grande paraíso e meu pai estava radiante, contemplando sua criação, tendo a certeza de que não havia nada mais lindo do que ele, mas não era o suficiente.
Ele havia dito que vivíamos sozinhos, não os humanos. Eles precisam de semelhantes para viver, para sentir-se bem e para amar. Nenhum de nós entendia a grande necessidade de companhia que essas novas criaturas possuíam, mas papai sabia o que fazia e então Eva veio.
Eva era tão linda quanto o pôr do sol, tão linda quanto os oceanos repletos de corais e peixes coloridos, garantiu-nos papai e nós acreditamos. Acreditamos que aqueles seres eram tudo o que papai dizia, eram lindos, justos e acima de qualquer coisa, eram seu grande orgulho.
E então a segunda catástrofe atingiu nosso lar, os humanos desobedeceram a nosso pai, enfurecendo-o e foram castigados. O Éden havia sido feito para recebê-los, devia ser o seu lar, assim como o céu era para nós, eles deviam zelar por ele, mas não foram capazes de obedecer. Ao serem expulsos de lá, vi meu pai afundar-se em desgosto, eles eram tudo para ele, eram seus filhos mais queridos, eram tudo o que ele mais queria que desse certo e ao final daquele dia nosso pai derramava sua primeira lágrima.
Todos os animais e todas as coisas entristeceram-se ao ver o criador naquele estado e nós, que tanto o amávamos e obedecíamos, víamos sem alternativa. Nada pudemos fazer por ele e naquele dia o céu chorou.
Desde então, a maldade de Lúcifer entranhava-se na terra e em seus habitantes. Os humanos começaram a matar uns aos outros, alimentavam-se dos animais e construíam uma nova vida. Nós, de cima, assistíamos a tudo em silêncio, observando os amados homens de nosso pai destruindo aquilo que tantos almejamos alcançar. Os vimos usar o seu livre arbítrio para o mal, fazendo as escolhas erradas e destruindo tudo o que nosso pai construiu.
Ele havia cansado de assistir tanta morte e maldade e retirou-se de nossa presença, nos deixando sozinhos e com medo, abandonando a todos seus filhos. Deus entrou em um sono profundo, dormiu para não ver e esquecer, para esquecer que sua mais preciosa obra acabava-se diante de seus olhos.
_ Ele está louco por nos deixar sozinhos! Talvez Lúcifer tivesse razão... –disse Gadriel uma vez.
_ Não ouse citar esse nome! –esbravejou Gabriel.
Naquela época eu não entendia o que estava acontecendo, mas sabia de quem era a culpa. Eu os culpava pelo abandono de nosso amado pai, eles deviam pagar pelo que fizeram! Era o que eu pensava, até o ano de 1989, quando a escutei chorar em uma noite quente de verão.
Lily Jane Collins havia sido abandonada por sua mãe biológica, ela era apenas um bebê e chorava muito naquela noite. Eu não sabia o que devia fazer e nem se devia interferir, pois Gabriel dizia que nós já tínhamos nossos próprios problemas para nos preocuparmos tanto com os humanos, mas eu não consegui deixa-la. Foi naquela noite de 1989 que cometi meu primeiro erro ao descer a Terra para salvá-la.
Ao voltar para casa eu sentia-me diferente, eu nunca havia tocado um humano e ao segurar aquele pequeno ser em meus braços eu senti que havia feito a coisa certa. Eu a deixei em frente à casa de uma mulher que sabia que cuidaria bem dela, pois todas as noites era possível ouvir suas súplicas para que Deus lhe desse um filho.
_ Não importa o que Gabriel diga, você fez a coisa certa. –garantiu-me Ezequiel.
E então a observei, de longe, e sempre a cuidei. Ela cresceu e ao vê-la eu lembrava perfeitamente da descrição de meu pai sobre Eva.
_ Justin, você precisar parar! Se eles descobrirem você sofrerá as consequências... –pedia Ezequiel.
Eu garantia-lhe que não me envolveria, mas já estava. Meu coração aquecia-se ao vê-la e minha mente me traia com pensamentos que eu não entendia e que me deixavam confuso.
Agora eu sei o que eles significavam. Eu havia sido o sucessor de Lúcifer, eles disseram. Eu havia experimentado o pecado, havia ansiado uma mulher...
E enquanto eu despencava para a Terra só conseguia pensar em minha Eva, a mulher que fez com que eu fosse banido do céu...
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