História Battle Cry - Capítulo 26

-Stiles. 

-Boss. 

-Festejou muito sua vitória? - Stiles parou no seu caminho da porta para o caixa, e ergueu seu olhar de suas mãos para Silvia, ela pareceu perceber que estava sendo encarada e abriu um sorriso de lado antes de erguer um deque de cartas. Stiles rolou os olhos. 

-Ah sim. As cartas. - O adolescente voltou a andar, só parando quando chegou ao balcão para tirar sua mochila de suas costas e entregar a bolsa para Silvia, que mesmo estando com o mesmo olhar vago de sempre, ergueu a mão para pegar a mochila. - Suas cartas conseguem ser pior que revista de fofoca. - Resmungou o garoto quando o sorriso de Silvia tornou-se feroz. 

-Não fale assim delas, - Começou Silvia, voltando o deque de cartas na superfície do balcão com cuidado para não bater em nenhum dos vasos perto de seu braço. - Elas não fazem isso por mal, é o trabalho delas. Aliás... 

-Pronto, lá vem merda. - Resmungou Stiles de novo antes de levar um tapa no braço. Ele levou uma mão para o lugar machucado e fez careta para a ruiva que se virou para encarar reprovadora na direção dele.

-Você quer saber ou não? 

-Desculpe 

-Bom, como eu estava dizendo, - Continuou Silvia, amassando os cachos de seu cabelo para aumentar o volume do mesmo. - As cartas me falaram que você, como sempre, vai acabar se metendo em confusão. 

-Novidade... - Silvia fez sua melhor cara de não impressionada, e Stiles a sorriu sem graça, apesar de saber que ela não consegui enxergar seu rosto. 

-Enfim, você vai se meter em confusão, mas não é só isso... Dessa vez não vai ser tão simples. 

-Simples? - Exasperou-se Stiles, dando um passo para trás. - Onde que um lobisomem demônio, um Darach, um Kanima, caçadores sanguinários e um lobisomem psicopata vingativo foi simples? - Silvia deu de ombros antes de tamborilar os dedos no balcão. 

-Eu não sei, só sei que aparentemente, seja lá o que for essa coisa que irá aparecer, não será tão simples. - Stiles esfregou as mãos em seu rosto desanimado.

Era só o que faltava, mais um ser misterioso para acabar com a paz em sua vida.

- Olha, eu irei tentar descobrir mais alguma coisa sobre isso, okay? Mas só por precaução, tente não fazer coisas idiota. 

-Eu não posso prometer nada, mas eu tentarei ser mais cuidadoso. 

-Já é o bastante. 

Stiles pegou a flanela que Silvia o passou, e começou a limpar as prateleiras enquanto voltava as coisas no lugar certo. 

Assim como nos outros dias, Stiles viu e ajudou alguns clientes que passaram pela loja de chá. Algumas das pessoas que passavam por ali, tinham uma aura bem estranha. Alguns, Stiles tinha certeza de que não eram humanos, mas não é como se ele fosse parar a pessoa e perguntar o que ela era. Enfim, o dia passou normal, ele até mesmo conversou com Val que apareceu na loja pegar sua "mercadoria", algo que ele fazia mensalmente, de acordo com Silvia. 

Stiles gostava de trabalhar ali na loja. Ele podia conhecer e conversar com várias pessoas diferentes, e sempre aprendia alguma coisa nova todo dia.

Ele não podia pedir por uma melhor patroa. Sinceramente, quando você olha pela primeira vez para Silvia, você fica meio intimidado pelo olhar vago dela, e a expressão de "se for dizer algo idiota, melhor ficar calado" que ela mantinha. Mas depois  que você a conhece, você percebe que apesar do jeito meio rude dela, ela era uma pessoa cuidadosa e preocupada com aqueles ao seu redor. O fato de ela ser cega não mudava o peso da presença dela, até porque era como se ele conseguisse ver até mesmo sua alma, e as vezes em que ela olhava exatamente na direção de seus olhos sempre fazia um arrepio estranho subir pela espinha.

As vezes Stiles se perguntava se ela era realmente cega, mas aí ele olhava os orbes embaçados que eram os olhos de Silvia e logo fazia sua cabeça, tentando imaginar se Silvia nasceu sem poder enxergar ou se aconteceu alguma coisa na vida dela que causou essa condição.  

Stiles se levantou de sua posição abaixada no chão quando finalmente terminou de tirar o pó da última prateleira, e bateu de leve em seus joelhos para tirar a sujeira inexistente de seu jeans. Agora ele só precisava ir no estoque e pegar mais essência de lavanda que já estava acabando, e que estava vendendo realmente rápido. Aparentemente muitas pessoas na cidade estavam tendo dificuldade para dormir e estavam vindo atrás de alguma coisa para ajudar a relaxar e os fazer dormir melhor. Essência de lavanda, alfazema e o chá de camomila estava sendo os produtos mais procurados ali desde a semana passada.

Silvia parecia estar meio incerta com alguma coisa, mantendo uma expressão preocupada toda vez que alguém a pedia por uma opinião no que fazer para dormir melhor, o que deixava Stiles confuso. Mas enfim, Silvia não era exatamente normal. Stiles achava que ela era uma bruxa, ou algo do tipo, mas ele nunca a viu fazer algum tipo de feitiço, o máximo que ele já viu, foi Silvia ler a sorte de alguém nas cartas, o que ela fazia sempre. 

-Stiles. - O garoto se virou para olhar Silvia, e a viu fazer um gesto com a mão para que ele chegasse mais perto. Ele andou até ela, parando de frente para o balcão do caixa, e olhou do rosto sério da ruiva para as cartas espalhadas em cima do balcão. 

-Aconteceu alguma coisa? - Perguntou o adolescente incerto, erguendo uma sobrancelha quando Silvia suspirou cansada. 

-Infelizmente, sim, aconteceu alguma coisa, mas eu não sei ao certo o que, e eu estou preocupada porque isto está ligado a você de alguma forma. - Explicou Silvia olhando pra algum lugar perto da cabeça de Stiles enquanto juntava suas cartas para formar um deque. 

-Isso é sobre a tal confusão em que eu irei me meter, não é? - Silvia fez uma careta consternada. 

-Pessoas perto de você irão sofrer, e você não irá saber como resolver esse problema, não quando acontecer pelo menos... Mas... - Ela fechou os olhos e respirou fundo antes de olhar diretamente nos olhos de Stiles. - Tudo irá terminar bem. - Stiles engoliu a seco, observando os olhos de Silvia mudarem seu foco. 

-Eu não gosto disso. 

-Você irá gostar menos ainda quando acontecer. 

-Você não pode me dizer o que vai acontecer? - Tentou Stiles apertando a flanela em sua mão e vendo Silvia sorrir de forma triste. 

-Já está acontecendo. 

E como numa cena de filme, o celular de Stiles começou a vibrar em seu bolço. Ele olhou na direção do celular e voltou seu olhar para Silvia. A loja havia ficado estranhamente silenciosa, como se o próprio lugar soubesse que algo estava para acontecer. 

-Atenda, - Disse Silvia estendendo uma mão para pegar a flanela das mãos de Stiles. - É importante. - O garoto a entregou o pano, tentando pegar de forma rápida o celular do bolço.  

Era Derek. 

-Oi. - Atendeu Stiles apreensivo, notando as vozes do outro lado da linha. 

-Stiles, - A voz de Derek parecia cansada, e Stiles sentiu algo ruim passar por seu peito. 

-Derek, o que aconteceu? - Perguntou apertando seu agarre no celular. 

-Cora, ela.... Eu não sei o que fazer. - Stiles franziu o cenho, preocupado, ao notar a voz de Derek quebrar. A respiração do Alfa estava pesada, como se ele estivesse se forçando a respirar devagar, e as vozes no fundo pareciam estar discutindo sobre alguma coisa. 

-Hey,  - Tentou Stiles num tom mais calmo ao trocar o celular de orelha. - Onde você está? O que aconteceu com Cora? 

-Eu, eu não sei... Isaac a achou andando pela reserva e ela estava... estranha. 

-Onde vocês estão? - Tentou mais uma vez Stiles, ignorando a fraqueza no tom de voz de Derek. 

-Na mansão... Stiles, eu não sei mais o que fazer. 

-Hey, nós vamos dar um jeito nisso, okay? Eu estou indo pra aí agora, okay? 

-Okay... - Eles desligaram o telefone depois de Stiles assegurar Derek de que ele já estava indo para a mansão. O garoto guardou o celular no bolço, e se virou pronto para pedir para sair, e encontrou Silvia já segurando sua mochila em sua direção. Ele pegou a bolça, agradecendo e elogiando Silvia, e esta apenas o desejou boa sorte antes de observar o adolescente sair correndo da loja. 

A ruiva deixou um suspiro cansado sair antes de apoiar um braço no balcão e puxar a primeira carta no deque com sua mão livre. Ela ouviu os sussurros que sempre ouvia de suas cartas quando as virava em cima da mesa, e sorriu triste mais uma vez. 

-Já começou. - Disse ela em voz alta para a loja vazia antes de sair de trás do balcão para trancar a porta da loja.