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História Battle Scars - Conversa


Escrita por: Ryenla

Capítulo 2 - Conversa


“Na verdade, o nome é Amy, mas Ômega está bom também, o que você quiser” Digo com bastante calma. Se tem uma coisa que eu sei sobre Alfas, é que eles ficam com raiva bem rápido.

“Você é uma Ômega? Mas como? Caramba, o seu cheiro... Você está fazendo isso de propósito?”

“Epa, amigo. Eu estou na mesma situação que você, não tenho culpa se o banho não está incluso nesse SPA.” Não irritar o Alfa, o escambau! “E eu não estou fedendo!”

“Não, você não está. Me desculpe, faz muito tempo que eu não sinto o cheiro de um Ômega, e não esperava encontrar uma por aqui. Meu nome é Maverick Carter, e eu estou aqui já há algum tempo.” A voz dele está rouca, mas ele parece bem civil.

“Tem noção de quanto tempo faz? Ou alguma ideia do que é esse lugar?” A sensação de estar presa estava me deixando louca, eu não conseguia imaginar como seria ficar aqui por muito mais tempo.

“Mais do que algumas semanas, mas acho que não chega a ser um ano, é difícil contar os dias com a luz artificial, e mal posso sentir a lua. Quanto a esse lugar... Consegui contar cerca de trinta pessoas diferentes que passaram por aqui, mas deve haver muito mais. Eles vêm, deixam comida pela abertura, e uma ou duas vezes por dia, a porta na parte de trás da sua cela abre pra outra sala vazia, onde um sprinkler no teto te dá o seu banho de SPA” Apesar da brincadeira, não há humor em sua voz, e isso me desanima um pouco mais.

Suspiro e encosto contra a nossa parede divisória, que parece ser feita de algum tipo de metal. Deslizo até o chão e abraço meus joelhos, e começo a pensar sobre minha situação. Fico surpresa ao ouvir que ele se senta próximo a mim, apenas a parede nos separando. A sensação me conforta um pouco, e resolvo iniciar outra conversa.

“Você sabe mais alguma coisa sobre esse lugar? Se tem mais gente aqui como nós?”

Ele parece pensar sua resposta, talvez esteja desconfiado de mim? O silêncio dele me aflige e resolvo tentar de novo. “Olha, você não precisa me responder se não quiser, eu só... Estou fugindo há tanto tempo, e ainda assim acabei aqui, sabendo que ninguém lá fora está procurando por mim, estou meio desesperada...” Putz, agora eu pareço uma coitada. E tudo sobre causar uma boa impressão...

Ele suspira, e enfim responde. “Você é a primeira que aparece, e se isso te conforta, também não há ninguém esperando por mim lá fora.”

“Não conforta, é bem o oposto.” Digo chateada com o mau humor dele, mas ele não parece ligar, e mesmo que fosse me responder, nossa conversa é interrompida pelo barulho da abertura frontal da cela, por onde consigo enxergar um braço enfiando uma bandeja com alguma coisa com um cheiro muito suspeito.

O meu primeiro pensamento foi de tentar estraçalhar aquele ser que teve a ousadia de enfiar o braço por ali, mas eu estava longe demais, e, quando alcanço a parede, a porta já se fechou.

Ouço passos se afastando da cela, mais de uma pessoa passa por ali, o que significa que Maverick também foi alimentado, quando tenho certeza que se afastaram, encosto na parede de metal.

“Hey! Eles fazem isso com você também? Enfiam o braço pela porta? Se eu soubesse de primeira, alguém seria maneta agora!”

“O quê? Não! Eles empurram com uma pá pela minha cela, eu já tentei puxar, mas eles fecham a porta com a pá aqui e colocam sedativo na comida, quando acordo a cela está limpa de novo. Por que não tentou morder ou qualquer coisa? Poderia ter fugido, eu sou grande demais para passar por aquele buraco, mas aposto que você consegue.” 

Rá, então eles não são muito inteligentes.

“Eu te disse, não sabia que iriam fazer isso, e outra! Quem te disse que sou tão pequena assim? Só porque sou Ômega? Ômegas não podem ser grandes?” Não que eu fosse realmente grande, mas como eu também nunca tinha encontrado outro Ômega, era mais pela curiosidade.

“Foi um palpite. E pelo visto, certeiro. Eu só conheci outro Ômega na minha vida, na minha alcateia de nascimento, e ele não era muito grande também.” Posso ouvir uma mágoa em sua voz, e resolvo tentar minha sorte perguntando um pouco mais.

“Como era? Digo, o Ômega, e sua alcateia?”

Ele resmunga sozinho e fica tanto tempo sem responder que já estou quase desistindo, quando escuto uns barulhos de metal e chego à conclusão de que ele foi comer, resolvo seguir o exemplo e me aproximo da bandeja.

O conteúdo ali parece uma espécie de pasta, com cheiro forte de remédio, meu estômago reclama e eu não sei dizer se é de fome ou de repulsa em tentar comer aquilo ali. Acho que ele me ouviu, por que antes colocar uma colherada na boca eu escuto ele falar.

“Se eu fosse você não tentava comer tudo de uma vez, demora um tempo para acostumar com essa coisa.”

Não tendo muita escolha, eu como um pouco mesmo assim. O gosto é horrível, como comer gordura pura, e desisto na quinta colher. Entre as tentativas de manter aquela monstruosidade dentro de mim, me encosto novamente em nossa parede divisória.

“O seu cheiro se parece com o dele, de certa forma. Não. É bem diferente, é só a sensação de calma que é a mesma, acho que todos os Ômegas podem fazer isso, lembro que ele conseguia acalmar a alcateia inteira só de estar lá.”

Eu não tenho forças pra responder ainda sem botar as tripas pra fora, então aproveito que ele está falante, e me reservo ao direito de silêncio.

“Isso já faz muito tempo, ele foi o primeiro que sumiu, ou fugiu, nós nunca tivemos certeza, mas aos poucos fomos percebendo que estávamos sendo caçados. Meu pai, e também meu Alfa, fez de tudo para nos proteger, mas nós não tínhamos muita opção além de nos esconder entre os humanos, tentando suprimir nossos instintos lobos. Ainda assim, não adiantou.”

Dessa vez a curiosidade me vence. “O que aconteceu com eles?”

“Mortos.” Uau, a sutileza em pessoa. Isso coloca um grande ponto final em nossa conversa.

O silêncio domina o ambiente de novo, mas não consigo culpa-lo. Vai saber quanto tempo aquele cara está aqui, talvez eu também iria preferir ficar quieta. Antes que o tédio pudesse carregar minha sanidade e eu começasse a arranhar as paredes da cela, a porta dos fundos se abre, como Maverick havia dito.

Caminho lentamente pela sala quase do mesmo tamanho que a outra, mas mais iluminada. Percebo que essa é um pouco mais clara, com luz própria, e que além do tal sprinkler, há também um vaso sanitário. Hm, conveniente. Isso me poupa a conversa estranha que eu teria com Maverick sobre o chamado da natureza.

O detalhe, é que nada teria me preparado para o jato gelado de água do sprinkler, e mesmo assim, eu gostaria de ter tido um aviso, um alarme, qualquer coisa. Soltei um berro ao sentir a água tão fria que parecia que estava me queimando, e não precisei de três segundos para perceber que não era só água que tinha ali.

“O quê? Têm necessidade de me lavar com cloro? Eu não tenho sarna!” Gritei indignada pra ninguém em particular. Na verdade, estava me sentindo muito frustrada e com raiva de qualquer um no momento. Quem acalma um Ômega quando ele está assim? Ou será que ele causa uma guerra civil na alcateia, com essa coisa de influenciar emoções?

De repente, me toquei de uma coisa que me deixou mais gelada que aquela água. Não! Tenho que estar errada! Já faz três meses? Refiz as contas mentalmente e mal percebi que a água já tinha parado, quando resolvi me conformar com meu problema futuro: Eu ia ter que passar meu calor ali. Naquela cela, ao lado de um Alfa. E, mesmo que eu não seja a mais brilhante em matemática, eu sabia, seria num futuro bem próximo.

Fui caminhando de volta para minha cela, perdida em pensamentos, e me larguei em qualquer canto. Não é que eu tivesse algum problema com a parte ‘Alfa’ da questão, se estivéssemos na mesma cela, eu juro, não daria a mínima pra essa coisa de primeira vez, romance, e amor verdadeiro. Quando se leva uma vida como a minha, você só agradece por ter alguém como você por perto, alguém que não vai tentar te enfiar uma faca no meio da noite. Ou te entregar para alguma organização governamental. História péssima, final trágico. Bem-vindo à minha vida.

O problema é que o calor, aqueles três dias infelizes onde eu estaria perdida em um frenesi sexual, já era algo bem constrangedor para se passar sozinha. E provavelmente não seria legal estar com alguém ao meu lado, alguém que não poderia me tocar, e que seria afetado por isso quase tão mal quanto eu.

“Você está bem quieta. Já aceitou o seu destino?” Eu não acredito que tomar um banho com cloro e água gelada o deixou de bom humor. Esse cara precisa de um psiquiatra!

“Nunca! E vou ficar bem perto daquela portinha, o próximo desavisado que enfiar a mão por ali, já era.”

O ouço rir pela primeira vez, é um som grave, bonito, e acabou rápido demais para o meu gosto.

“E depois, o quê? Vai sair matando todo mundo? Por que realmente não deve ter ninguém armado vigiando lá fora, balas de prata e coisas assim.” Ah, sarcasmo, então? Okay.

“Quem sabe? Se eu tiver a oportunidade, consigo fazer um bom estrago, talvez até soltar você” Resolvo entrar na brincadeira.

“Você pensa grande. Eu gosto disso. Improvável, mas refrescante.”

Não sei se por instinto humano ou animal, acabamos nos aproximando dos furinhos da parede, e quase acho que posso sentir sua respiração por ali.

“Uau. Um elogio, ou quase. Mais um pouco e você começa a me chamar pelo nome.” Tá ok, dessa vez eu provoquei.

Sua única resposta é outro riso baixo, que acaba me fazendo rir também. Foi estranho, fazia muito tempo que eu não ria, e não parecia certo me sentir bem assim aqui, nesse inferno.

Ficamos em silêncio por um tempo, e eu resolvo que é a hora de soltar a bomba.

“Olha, não que isso tenha muito haver com você, e na verdade tem... Quero dizer... Em alguns dias eu...” Droga! Minha voz resolve sumir justo agora. Pra onde foi toda a bravata capaz de provocar um Alfa?

“É o seu calor? Eu já sei. Sei desde que chegou aqui.” E lá se vai o bom humor...

“Mas como? Eu só me lembrei agora a pouco!” Agora estou realmente envergonhada.

“Eu te disse, é o seu cheiro, está ficando mais forte. Eu convivi com um Ômega, lembra?”

O único cheiro que consigo sentir no momento é o de cloro, e olha que eu tenho um bom nariz. Mas aproveito que ele ainda está conversando para perguntar.

“E como é? Quando se tem uma alcateia?”

“Se você nunca esteve em uma, como sabe sobre o nosso tipo?” Ele responde, irritado.

“Eu fui criada por alguém que me explicou algumas coisas, mas não tudo, e apesar de já ter encontrado outros como nós por aí, estavam todos se escondendo, você é o primeiro com quem converso.” Resolvo ser honesta, mas não dar muitos detalhes.

“E quem te criou?” Rá, agora você quer saber sobre mim?

“Não está mais aqui.” Digo isso como quem põe um fim na conversa, agora ele tocou no meu ponto fraco.

Continuo em silêncio e posso sentir ele ficando mais irritado. Eu poderia ajudar, mas realmente não estou com vontade. No fim ele desiste, clareia a garganta, e começa a falar.

 “Quando se tem uma alcateia, seus calores ficam mais frequentes, porém, não são tão extremos, talvez pelo fato de ter mais lobos por perto. Não sei o quanto você sabe sobre isso, e já que não parece muito afim de compartilhar, vou te dizer o que eu sei. O Ômega da minha alcateia não estava exatamente com alguém em especial, e ao mesmo tempo estava com todos que precisassem, para o que precisassem. Era o ponto de equilíbrio da alcateia e quando ele falava, até meu pai escutava.”

“Parece perfeito.” Eu suspiro.

“E foi, durante algum tempo.” Com isso, nossa conversa termina de forma mais agradável, e começo a sentir meus olhos se fechando. Quase posso jurar que sinto a parede mais quente onde estou encostada, e o calor me faz cair num sono profundo e sem sonhos, o primeiro de muito tempo.

 



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