- Rafaela querida, desça aqui um minuto - Ouvi minha mãe gritando do andar de baixo - Tenho uma notícia pra te dar.
Estranhei o tom da minha mãe, geralmente ela é rude e sempre me diz palavras de ódio quando me vê, isso só pode significar uma coisa.
Temos visitas.
Sem nem um pingo de entusiasmo, levantei da minha cama, calcei meus tênis, pois dependendo de quem esta lá em baixo eu já sairia de casa na hora, e sai do quarto rumo à sala.
Enquanto descia as escadas, pude notar através da janela da sala que estava aberta, uma Zenvo ST1 branca parada lá fora. Arregalei os olhos, é um carro muito caro e custa quase dois milhões.
Ainda abalada com o carro, terminei de descer os últimos três degraus da escada, não encontrando ninguém na sala, então fui para a cozinha.
Minha mãe estava lá, mas estava sozinha.
- O que foi? - Perguntei sem a olhar nos olhos, ela não gosta quando eu faço isso.
Ela veio até mim e me agarrou pelo braço, as unhas grandes fincadas fortemente contra a minha pele, aquilo estava machucando.
Minha mãe, se é que eu posso chamar ela assim, me arrastou até a sala e, sem soltar o meu braço, sussurrou pra mim.
- Se comporta garota! Eu finalmente arrumei um namorado rico pra me tirar dessa vida de merda e não é você que vai estragar isso, por isso trate de se comportar direitinho, senão você vai ficar de castigo de novo.
Tremi quando ela falou em castigo, o castigo da minha mãe não é apenas ficar presa dentro do quarto, sem celular e sem poder sair com os amigos. Quando minha mãe fala em me por de castigo, ela quer dizer me trancar dentro do sótão da casa por tempo indeterminado, o mínimo que fiquei lá foram dois dias, sem água, sem comida, sem nada.
Eu não gosto de ficar lá, tem muitos ratos e não tem luz, é cheio de baratas que ficam voando em mim o tempo todo e não importa o tanto que eu grite implorando para ela me tirar de lá, ela não tira.
Ela apertou mais o meu braço, fincando ainda mais as unhas em mim. Mordi o lábio inferior segurando um grito de dor, olhei pra ela, seus olhos transmitiam ódio e repulsa.
Apenas assenti, eu faria qualquer coisa para não ficar naquele lugar cheio de ratos de novo.
- Ótimo - Falou soltando meu braço, estava roxo - Agora vamos comigo até a cozinha e não seja uma idiota, pelo menos por alguns minutos.
Assenti novamente, eu tinha certeza que se eu falasse algo, começaria a chorar.
Eu não gosto de chorar na frente dela.
Minha mãe voltou para a cozinha e eu a segui, eu sinceramente tenho pena do homem que provavelmente é o novo namorado dela.
- Lucas querido, essa é a minha filha, Yongui Rafaela – Ouvi MinJi, minha mãe, dizer, eu olhava para o chão, estava um pouco nervosa, e se ele for ainda pior que a minha mãe e quiser me bater também? - Filha, esse é o novo namorado da mamãe, Lucas olioti.
Levantei os olhos timidamente, encontrando dois olhos escuros me fitando intensamente, ele era lindo.
Era novo, parecia ser poucos anos mais velho que eu, mas mesmo assim era intimidador. O terno caro caía perfeitamente bem nele, os cabelos negros estavam em uma franja para o lado, tive que segurar minhas mãos para não bagunçar esses lindos cabelos macios entre meus dedos.
Ele me olhou de cima a baixo com um olhar predador, eu me senti um pedaço de carne perto de um leão, era como se ele fosse me devorar apenas com o olhar.
- É um prazer Yongui - Até os pelinhos na minha nuca se arrepiaram ao ouvir aquela voz, eu não conseguia nem olhar para ele.
Não consegui dizer nada, minha língua estava travada e o olhar cortante que eu sentia minha mãe dirigir a mim só estava me deixando mais nervosa ainda.
- Ela é meio tímida, querido - MinJi disse um pouco sem graça, eu tinha certeza que ela me daria uns belos socos depois.
- Claro, eu notei - E mais um vez me arrepiei da cabeça aos pés ao ouvir sua voz.
- Bem, por que não vão pra sala de jantar enquanto eu termino de preparar as coisas aqui na cozinha? - Ela disse, pude sentir por trás de suas palavras a mensagem dirigida a mim.
Ela estava dizendo apenas com aquele olhar frio que não queria que eu falasse nada sobre como ela me tratava, como eu poderia falar? Não conseguia nem olhar para o rosto do namorado da mamãe, quem dirá falar com ele.
Fui a passos rápidos até a sala de jantar, podia sentir seus olhos em minhas costas enquanto ele me seguia, mais diretamente em minha bunda.
Para o meu total desconforto, ele foi se sentar justo na minha frente, os olhos intimidantes não desgrudavam de mim por nenhum momento.
Pelos próximos vinte minutos a sala de jantar ficara no mais absoluto silêncio, eu não poderia estar mais desconfortável. Ele não parava de me olhar. De vez em quando eu erguia meus olhos, apenas para ver ele passando a ponta do indicador esquerdo sobre os lábios vermelhos, com um sorrisinho de lado quase imperceptível. MinJi entrou na sala quebrando o meu curto contato visual com ele.
E Lucas pareceu não gostar nenhum pouco disso.
- Como você disse que gosta de pizza de calaloura (Autora : desculpa não pude me conter hehehehe) , eu resolvi fazer - Ela disse colocando a panela no centro da mesa.
- Ótimo - Ouvi a voz dele dizer um pouco rude, mas deveria ser apenas coisa da minha cabeça.
O jantar foi rápido, minha mãe ignorou completamente a minha presença, o que não era nenhuma novidade, e eu até agradecia por isso.
Já Lucas não desgrudava os olhos de mim por nada, nem quando minha mãe perguntou como tinha sido seu dia no trabalho.
Ele respondeu olhando diretamente nos meus olhos. Eu queria correr e ficar longe, mas ao mesmo tempo eu queria ficar perto dele e deixar que fizesse o que quiser comigo.
Depois do jantar fomos todos para a sala de estar. MinJi disse praticamente tudo sobre a minha vida para Lucas. Claro que ela não mencionou que me batia praticamente todos os dias e que me odiava.
Ele pareceu não gostar do fato de minha mãe estar falando por mim, parecia querer que eu falasse, como se quisesse ouvir a minha voz.
Mas eu não iria falar, eu não conseguia.
Quando deu onze horas da noite minha mãe pediu para eu subir para o meu quarto, imediatamente eu a obedeci. Ficar no mesmo lugar que minha mãe era uma verdadeira tortura para mim.
Eu só espero que se esse relacionamento da minha mãe não der certo, ela não venha me culpar, como das outras vezes.
Lucas aparentava ser um predador prestes a atacar.
E não era minha mãe que parecia ser sua presa.
...
Era sexta feira, eu tinha acabado de tomar um banho. Meu melhor amigo Felipe (Autora: Não disse que ia te colocar?!?! Hehe ), iria vir aqui em casa para jogarmos um pouco de vídeo game.
Mamãe não estava em casa, provavelmente deve estar na casa de Lucas, ela tem ficado muito lá. Uma semana havia se passado depois do nosso jantar e desde então eu não tenho visto ele, já que mamãe sempre está na casa dele.
E eu até agradecia por isso. Fiquei praticamente sozinha essa semana, ou seja, sem agressões e sem sótão.
Eu não sabia exatamente em que estágio o relacionamento de MinJi e Lucas estava, mas deveria ser uma coisa séria, já que minha mãe não saia da casa dele.
Deve ser enorme, porque com um carro daquele, ele provavelmente deve ser um homem muito rico.
Eu estou tentando ao máximo não pensar muito em Lucas. Me assusta o fato de ter ficado tão mexida com um simples olhar do novo namorado de mamãe.
Tudo bem que não foi um simples olhar, aqueles olhos intensos dele praticamente me comeram, e eu estaria mentindo se dissesse que não gostei.
Mas ainda sim, ele é o namorado da minha mãe.
E mesmo que ela não tenha me dito nada sobre ser oficial ou não, ele ainda é o namorado dela, ele ainda dorme com ela.
Deixei esses pensamentos de lado assim que ouvi a campainha tocar, Felp estava atrasado. Ele me dissera hoje na escola que estaria aqui às sete, e agora já eram mais de oito horas.
- Guiguiiiii- Felipe falou alto assim que abri a porta, ele carregava consigo uma mochila da cor bege.
- Oi Fe - Dei espaço para ele entrar - O que tem na mochila?
- Hum? Ah sim - Falou retirando a mochila das costas - Eu trouxe algumas roupas - Franzi o cenho - Eu sei o que você ta pensando, e sim, eu estou me auto-convidando para dormir aqui.
Dei de ombros e o chamei para irmos para o meu quarto.
...
Quando eu acordei Felipe não estava mais ao meu lado como deveria.
- Fe? - Chamei em bom som, mas não obtive resposta, então levantei.
Procurei pelo quarto, no banheiro e até em baixo da cama, mas o loiro não estava em nenhum lugar ali.
Desci as escadas, na sala ele não estava.
O encontrei na cozinha bebendo algum tipo de coisa verde em um copo.
- Bom dia Guigui - Disse ainda bebendo aquele negócio verde.
- Bom dia, o que é isso? - Apontei para o copo em sua mão.
- Ah, é vitamina - Bebeu mais um gole - Sua mãe ligou, ela disse que era para você arrumar uma mala com algumas roupas e estar pronto às duas.
- O quê? Mas por quê? - Questionei.
- Eu não sei, ela só mandou você fazer isso e estar pronto porque ela vai passar aqui pra te pegar - Terminou de tomar a sua vitamina e lavou o copo - E eu vou embora porque minha mãe quer que eu a ajude a dar banho no Poop.
Apenas assenti, eu estava tentando imaginar para onde mamãe queria me levar. Talvez ela finalmente decidiu me vender para estupradores ou pro mercado clandestino, ela sempre dizia isso.
Me toquei que estava atrasada, pois já eram uma e meia. Felp tinha me deixado dormir de mais e agora eu teria que me apressar se não quisesse ficar presa junto com os ratos.
Como Felipe havia falado, MinJi chegou aqui às duas em ponto.
E Lucas estava com ela.
Mas ele não entrou. Pude ver, através da janela do meu quarto, ele dentro do seu carro caro. Os fios castanhos estavam perfeitamente alinhados, os belos olhos escondidos por óculos escuros, o terno era preto e combinava perfeitamente com Lucas.
Ele estava tão sexy.
Meus pensamentos impuros com o namorado de mamãe foram interrompidos pela mesma, que adentrou o meu quarto sem nem ao menos bater.
Ela nunca batia.
- Já esta pronta? - Disse rude, eu não entendia porque sempre era tratada por ela dessa forma.
- Sim senhora - Falei baixinho, mamãe não gosta quando eu falo alto. Ela diz que minha voz é muito irritante e os ouvidos dela doem só de me ouvir.
- Ótimo - Se aproximou da minha cama, que era onde eu me encontrava sentada - Nós vamos passar esse final de semana na casa de verão do Lucas.
- Tudo bem, mamãe.
- Eu ainda não acabei - Ela pegou um pouco dos meus cabelos da nuca, aquilo doía muito. MinJi puxava-os enquanto falava, fria e grossa - Eu não quero ouvir uma palavra sobre o que acontece aqui. Eu não quero nem ouvir a porra da sua voz de menininha nesse final de semana, fui clara?
Assenti desesperadamente, eu estava me segurando para não chorar.
Ela largou meus cabelos e foi até a porta do quarto, comecei a massagear o coro cabeludo da minha nuca. Mais um pouco e ela arrancaria meus cabelos.
- Pegue logo essa droga de mala e vamos, Lucas está nos esperando - Disse e saiu do quarto. Tratei de fazer a mesma coisa logo, antes que ela mudasse de idéeia e me deixasse trancada no sótão o fim de semana inteiro.
Assim que mamãe trancou a casa fomos até o meio-fio, onde o caríssimo carro de Lucas estava estacionado. Minha mãe puxou o trinco da porta do carona, arregalei os olhos quando a porta se abriu para cima. Aquilo era incrível, eu nunca estive em um carro como aquele.
Fui até a porta traseira e fiz o mesmo que mamãe, eu estava morrendo de medo de estragar o carro de Lucas, ele parecia uma pessoa que não tolerava que estragassem suas coisas.
- Olá Yongui - A voz dele preencheu meus ouvidos, fazendo minha espinha se arrepiar por um momento, e mais uma vez eu não conseguia falar perto dele.
Isso me fez pensar que Lucas nunca havia ouvido sequer a minha voz, e nem ouviria se meu corpo continuasse reagindo assim a cada simples ato dele.
Ergui o olhar para os olhos intensos, que me encaravam através do retrovisor, ele havia retirado os óculos de sol. Consegui assentir minimamente com a cabeça para Lucas, achei que isso seria uma forma de cumprimento, mas ele pareceu não gostar nem um pouco da minha falta de palavras, se é que posso descrever assim.
As íris ficaram bem mais escuras, quase pretas. Eu ainda o encarava, mas estava quase quebrando o contato visual, era intenso demais para aguentar.
- Como vai? - Ele tentou mais uma vez, estava claro em seus olhos que ele esperava uma resposta minha e que não admitiria que eu não falasse.
Reuni toda a coragem que eu tinha, o que não era grande coisa, e abri minha boca para dizer um simples "bem", mas para minha sorte, ou não, mamãe foi mais rápida e falou na minha frente.
- Ela esta ótima querido, agora vamos, sim? - Falou, conseguindo a atenção de Lucas.
Uma parte de mim estava agradecida, já a outra estava uma bagunça de sentimentos: medo, raiva, confusão...
Tesão.
Não tenho certeza se Lucas olhou ou não para mim depois disso, pois fiquei o tempo todo olhando a paisagem através da janela escura do carro.
Porém eu sentia que ele me olhava.
...
Mais de uma hora havia se passado e nós ainda estávamos no carro, a casa de verão de Lucas era bem longe de nossa casa, pois já tínhamos passado por umas três cidades depois de Busan e ainda não havíamos chegado.
Mamãe não parava de falar. Sinceramente, eu nem sabia mais sobre o que ela falava, já havia parado de prestar atenção nela há mais de meia hora.
Meu celular vibrou no bolso da minha calça. Só poderia ser Felipe, ele era o único amigo que eu tinha.
1 mensagem recebida de: Vadia Mais Lindo S2
"Guigui, eu to morrendo de tédio, onde você está?"
Eu iria responder, quando Lucas anunciou que finalmente havíamos chegado. Levantei o olhar da tela do celular e olhei pela janela.
Minha boca se abriu em um perfeito "O".
Era enorme.
Nós passamos por um portão gigantesco que foi aberto por um porteiro assim que o mesmo viu Lucas.
Assim que passamos, tive a visão da enorme mansão. Haviam duas piscinas, uma grande e uma média na frente da enorme casa. Casa não, mansão.
Ela era na cor bege, havia espreguiçadeiras ao redor da piscina maior, também tinha uma enorme sacada no que parecia ser o quarto principal.
Lucas estacionou a poucos metros de distância das piscinas e logo ja estávamos fora do carro. Mamãe começou a elogiar a casa e dizer como estava feliz.
Interesseira.
Já eu fiquei parada lá, olhando a água de um azul cristalino e surpreendente.
Lucas e mamãe começaram a andar em direção a porta do que eu deduzi ser a sala e eu os segui, com medo de ficar perdida naquela enorme mansão.
Ele respondia com uma voz clara de tédio todas as perguntas que MinJi fazia sobre a decoração, mas é claro que ela não percebia isso, estava eufórica de mais para notar o total desinteresse dele em falar de quadros e vasos caros.
Os olhos da minha mãe chegavam a brilhar em êxtase. Não era novidade nenhuma para mim, ela sempre quis ser rica.
Meu pai morreu quando eu era muito jovem, na verdade mataram ele. Veja bem, meu pai, Jeon, era viciado em jogos e conseguiu arrumar uma dívida realmente grande, a qual ele não conseguiria pagar nem se vendesse tudo que tínhamos, o que não era muita coisa já que ele perdera praticamente todos os nossos bens jogando.
Eu tinha sete anos na época, mas me lembro perfeitamente dos gritos de papai pedindo para mamãe e eu fugirmos, pouco antes de ter os miolos estourados por um tiro certeiro na testa.
Desde então venho sofrendo nas mãos de mamãe, e olha que se passaram dez anos.
Mas me conforta a ideia de saber que ano que vem, quando eu fizer dezoito anos, serei maior de idade e poderei morar sozinha, sair das garras dela e nunca mais sofrer o que eu sofro hoje em dia.
- Gostou da casa? - Dei um leve salto ao ouvir Lucas se dirigindo a mim. Eu estava tão entretido em meus pensamentos que nem notara que mamãe havia sumido entre os corredores e que agora eu estava sozinha em uma sala com Lucas.
Sozinho com Lucas.
Olhei para ele, o terno preto caia tão bem em seu corpo. Olhei para sua gravata, na cor preta também, e vi que ele não conseguia fazer um nó muito bem, já que estava todo torto. Contive a vontade de ir até ele e arrumá-lo.
Minha voz simplesmente não saía, eu estava com medo de falar e gaguejar. Ele me intimidava muito.
E mais uma vez me peguei assentindo para Lucas, eu sabia que ele não gostava quando eu fazia aquilo, mas o que eu poderia fazer se minha voz não saía?
- Use palavras - Seu tom era frio, ele não estava me pedindo, estava me dando uma ordem.
Com as pernas trêmulas e morrendo de medo de gaguejar, sussurrei.
- Sim - Aquilo tinha sido tão baixo, que se não fosse eu mesmo que tivesse falado, eu não escutaria, mas Lucas pareceu ter escutado.
- Ótimo - Ele se virou e começou a andar para um dos muitos corredores dali - Venha, vou lhe mostrar onde irá dormir.
Fui atrás dele antes que o perdesse de vista, observava suas costas, mesmo com o terno dava para ver que ele malhava.
Ele parou em frente a uma porta branca, levou a mão direita até o trinco da mesma e o girou, logo ele estava adentrando o enorme quarto, comigo atrás de si.
Era um quarto lindo, enorme, e totalmente não a minha cara.
Eu não sou o tipo de pessoa que tem uma cara exatamente "chique", não gosto dessas frescuras todas. As casas são muito grandes, os carros muito caros e, principalmente, os quartos são sempre muito brancos, sem vida e sem graça.
Mas saber que eu ficaria naquele quarto extremamente branco apenas por dois dias me tranquilizava.
Havia uma enorme cama no centro do quarto, dois criados-mudos, um de cada lado da cabeceira da cama, onde devem ficar. Havia também duas portas no quarto, uma deduzi ser o banheiro e a outra deveria ser o tal closet.
Que frescura.
- O que achou? - Lucas me perguntou, eu ainda estava parado na porta do quarto.
Me sentia em um hospital.
- É... branco - Falei arrastado, mas minha fala não passou de um murmúrio, eu ainda não me sentia confiante o suficiente para falar perto dele.
- Ótimo – Lucas foi até a cama e colocou a minha mala em cima da mesma. Entrei por completo no quarto, me senti um pouco zonza com todo aquele branco. - Nós vamos jantar daqui a uma hora, arrume suas coisas e desça.
Eu iria assentir outra vez com a cabeça, mas me lembrei que ele não gosta quando eu faço isso ao invés de usar palavras, por isso, reuni um pouquinho de coragem outra vez e falei.
- Sim - Eu estava me sentindo uma idiota por não conseguir falar na frente de Lucas, mas ele parecia um pouco satisfeito por eu estar me esforçando.
- Qual é a sua idade, pequena Yongui? - Tremi ao ser chamada de pequena, ele parecia tão sombrio com suas simples perguntas.
Eu sou maior que você. Pensei.
- D-dezessete - Droga, mesmo sussurrando eu consigo gaguejar.
Você é uma idiota Yongui.
Para minha surpresa, ele começou a andar em minha direção, seus olhos estavam escuros outra vez, mas não era de raiva, era um escuro diferente.
- Hum - Parou em minha frente - Você parece ser bem mais jovem do que isso, princesa.
Princesa.
Ele havia me chamado de princesa, eu não conseguia pensar em nada, não sabia como reagir, eu estava petrificada.
Não sabia se gostava ou não de ser chamada de princesa.
Senti os dedos de Lucas tocarem a minha bochecha esquerda. Eu não conseguia olhar para ele, na verdade, eu não conseguia fazer nada, a não ser ficar ali, parada, olhando para frente, mais especificamente para a sua gravata mal colocada.
Seus dedos deslisavam sobre a pele da minha bochecha, me deixando arrepiada. Fiquei meio mole quando senti sua outra mão segurando possessivamente a minha cintura.
Eu não sabia o que ele queria de mim.
Tudo bem, talvez eu soubesse o que Lucas queria. Mas isso seria errado, ele é o namorado da minha mãe e, mesmo que MinJi mereça tudo de ruim que existe no mundo, ela continuava sendo a minha mãe.
Mas não era como se eu fosse afastar suas mãos de mim, em visto que eu não conseguia nem mexer as minhas próprias para fazer tal ato.
- Você tem a pele tão macia, princesa - Sussurrou no meu ouvido, aquilo estava sendo demais para as minhas pernas aguentarem.
Foi quando eu estava quase desabando no chão, que ouvi passos.
Lucas se afastou rapidamente de mim. Ele ainda estava com os olhos escuros, mas dessa vez eu pude ver a raiva neles.
- Ah, vocês dois estão aqui - Mamãe entrou no quarto me lançando o típico olhar mortal dela. -Lucas, querido, eu procurei você por toda a casa, vamos para o nosso quarto? Eu quero arrumar logo as minhas coisas e quem sabe não podemos fazer algo a mais, hum?
Senti vontade de vomitar com as palavras de MinJi. Saber que Lucas tem relações sexuais com ela me dá uma súbita raiva que não deveria existir dentro de mim.
Pelo menos não por esse motivo.
- Claro - Disse Jimin em tom rude, ele parecia extremamente bravo.
E foi isso. Mamãe saiu puxando ele para fora do "meu quarto", não antes de me lançar o olhar mais grotesco que ela conseguia, me deixando ali, sozinha e perdida com toda a coisa que tinha acontecido agora à pouco.
Resolvi que pensaria sobre isso depois do jantar e fui arrumar minhas coisas. Acabei lembrando que tinha que responder ao Felp.
Tirei meu celular do bolso da calça, enviando uma mensagem para ele em seguida.
Mensagem para:Vadia Mais Lindo S2
"Oi Fe, ao contrário de você, a minha vida esta bem animada. Ah, se quer saber, eu estou no inferno!
E parece que o diabo quer me comer"
Mensagem enviada.
...
Pronto!
Todas as minhas roupas já estavam devidamente arrumadas naquele enorme closet.
Na minha opinião, aquilo era muito desnecessário! Um lugar tão grande para guardar tão pouca roupa, quero dizer, eu só iria ficar naquela casa por dois dias, por que tinha que retirar minhas roupas da mala?
Desnecessário.
Felp não havia respondido a minha mensagem, o que me fez pensar que ele não estava mais com tédio e que já tinha arrumado algo com o que se ocupar, por isso resolvi fazer o mesmo e ir me ocupar guardando as poucas trocas de roupas que tinha trazido.
De qualquer forma, seria uma ótima maneira de não ficar pensando no que havia acontecido com Lucas há pouco. Bem, seria, se minha mente não ficasse se lembrando de como suas mãos me acariciavam, ou como seus dedos deslizavam sobre a minha pele.
Aquelas mãos fortes e nem um pouco delicadas, eram exatamente do jeito que eu gostava.
Eu não quero alguém delicado, de delicada já basta eu!
Quero alguém que me pegue com força, que me foda fortemente.
E Lucas era exatamente esse "alguém".
Não que eu esteja considerando a ideia de me entregar ao novo namorado de mamãe, mas o que eu posso fazer se toda vez que ele sequer olha para mim eu fico completamente entregue?
Submissa.
Talvez eu devesse parar de ficar pensando nessas coisas e apenas passar a ignorar a existência de Lucas Olioti.
A quem eu quero enganar, eu jamais conseguiria fazer isso.
Me deitei na enorme cama, ela era tão macia, deveria ter custado uma fortuna! Eu definitivamente nunca poderia comprar uma cama daquela.
Eu tinha mais trinta minutos antes do jantar. Pensei em tomar um banho até lá, mas eu sempre tomo banho apenas na hora de dormir, então descartei essa ideia.
Fechei os olhos por um breve momento, tentando relaxar, porém foi uma péssima ideia, já que, ao que minhas pálpebras se fecharam, aqueles olhos vieram na hora em minha mente.
Porque tão intimidantes?
Ele havia agarrado minha cintura com tanta força, seu olhos ficaram em um tom tão escuro, pareceu que ele estava vendo a minha alma.
Me levantei e fui até o banheiro, eu precisava verificar uma coisa.
Eu ainda não havia visto o banheiro, mas não fiquei realmente surpresa ao ver o local branco com um enorme espelho, uma enorme pia e uma enorme banheira redonda. Estava maravilhada na verdade, era lindo! Mesmo sendo extremamente branco, continuava sendo lindo.
Foquei no que eu tinha ido fazer no banheiro, fui até a banheira e subi os dois degraus, para poder assim ficar na altura do espelho. Levantei a barra da camiseta, deixando minha barriga, modéstia a parte lisinha, à mostra.
Me virei de perfil e vi o que tanto queria ver.
Uma enorme marca meio arroxeada, meio vermelha, estava realçando minha pele alva. Seus dedos estavam perfeitamente marcados no lado esquerdo da minha cintura.
Eu deveria ter ficado brava, com raiva, entre outros sentimentos horríveis, mas as únicas coisas que eu sentia eram felicidade e orgulho, por saber que ele me deseja, justo ele, um homem tão bonito e sexy.
A marca estava doendo, mas eu não estava me importando com isso - e eu esperava que aquela marca ficasse em minha pele por muito tempo.
Eu realmente queria aquilo.
Me toquei de que precisava descer para o jantar, se não Lucas ficaria bravo comigo.
E eu não queria deixar Lucas bravo.
Desci a barra da camiseta e saí do banheiro, não sem antes lançar um último olhar para a banheira, a qual eu teria o maior prazer em experimentar antes de dormir.
Saí do quarto, fechando a porta do mesmo logo em seguida. Eu não sabia muito bem onde era a sala de jantar, quer dizer, eu não estava realmente prestando atenção quando Lucas nos mostrou a mansão.
Resolvi descer as escadas que ficavam praticamente em frente ao "meu" quarto.
Dei graças a Deus quando ouvi a risada irritante de mamãe.
E ela ainda reclama da minha voz.
Ainda agradecendo por não ter ficado perdida entre os cômodos luxuosos da mansão, segui o som da risada de MinJi, que me levou até a sala de jantar.
Nada mais, nada menos do que uma sala com uma enorme mesa no centro e um lustre de cristais lindos no teto.
Lucas estava sentado na cadeira que fica na ponta, como todo homem mais velho faz, e mamãe estava sentada na cadeira ao lado esquerdo dele.
Deduzi que deveria me sentar na cadeira a direita e assim fiz. Não disse nenhuma palavra enquanto me sentava, até porque, eu me lembrava muito bem das palavras de mamãe ordenando para eu não falar sequer uma vez.
Tudo bem que eu já havia falado, mas ela não estava presente naquela hora, então estava tudo bem.
- Arrumou suas coisas, Yongui? - Lucas perguntou, ele estava bebendo uma taça de vinho.
Assenti olhando para minhas mãos depositadas em meu colo. Eu sei que ele não gosta disso, mas MinJi estava ali e ela havia dito que não queria ouvir minha voz.
Então eu não falaria perto dela.
- Lucas querido, por que não nos fala um pouco do seu trabalho? - Mamãe falou, levantei um pouquinho o olhar vendo sua mão sobre a de Lucas.
- Não - Comprimi os lábios para não rir da cara que mamãe fez ao receber a resposta rude que Lucas a deu, ela parecia tão sem graça.
- Mas... Por quê? - Falou baixinho.
- Yongui- Ele me chamou, ignorando completamente a pergunta de MinJi - Você gostaria de conhecer a biblioteca depois do jantar?
O olhei rapidamente. Eu amava livros, eles eram uma das minhas paixões, mas eu não tinha mais do que dois, já que não podia comprá-los por conta própria e mamãe nunca me deu um.
Os que eu tinha eu ganhara de Felp no meu último aniversário, já havia até decorado as falas de tanto que eu os lia.
- Claro - Respondi animada. Me segurei para não começar a dar pulinhos na cadeira, nem me importando com o olhar que MinJi me lançou.
- Ótimo - Por um breve momento, pude jurar que ele iria sorrir, mas não o fez - Depois do jantar, eu e você vamos até a biblioteca.
Ele fez questão de frisar o "eu e você" olhando diretamente nos olhos de mamãe, eu estava amando tudo aquilo.
Eu sei, sou uma péssima filha.
- Acho que vou observar as estrelas depois do jantar - Mamãe olhou para baixo, retirando a mão de cima da de Lucas.
Ele pareceu satisfeito com isso, ou talvez eu esteja imaginado demais.
Uma empregada entrou na sala de jantar carregando uma bandeja tampada que foi colocada no centro da mesa, depois saiu sem nem ao menos dizer uma palavra ou olhar para nossos rostos.
Em seguida, entrou um homem que parecia ser um tipo de mordomo, bem, não entendo muito dessas coisas, em visto que não sou, nem nunca fui, rica ou estive em jantares importantes.
O homem também carregava uma bandeja, mas era maior do que a da empregada, e também a colocou no centro da mesa.
Parei completamente de prestar atenção nos empregados quando senti um mão sobre a minha coxa esquerda. Eu conhecia aquela mão, marcas feitas por aquela mão estavam em minha pele.
Instantaneamente fiquei tensa, o que Lucas pretendia me acariciando daquele jeito?
De qualquer forma não pude descobrir, já que assim que a mesma empregada de antes colocou os nossos devidos pratos em nossa frente, Lucas teve que retirar sua mão da minha coxa para poder comer.
Eu não sabia o que era aquilo que colocaram no meu prato, mas parecia delicioso, o problema era outro.
Os talheres.
Haviam muitos deles. Garfos e facas de diferentes tipos e formas, eu estava completamente perdido, não era acostumado a usar tantos talheres.
Olhei para mamãe, ela ainda devia estar um pouco sem graça, já que não havia falado mais nada, porém, ela estava comendo e usando todos aqueles talheres.
Desespero me definiu no momento, eu não sabia o que fazer.
- Algum problema, Yongui? - Meu desespero aumentou ao ouvir a pergunta de Lucas.
E agora? O que eu diria à ele?
Não me atrevi a olhar para ele enquanto negava com a cabeça, mantive os olhos presos nos vários talheres alinhados ao lado do meu prato.
Resolvi arriscar pegando um garfo, parecia ser um garfo normal, pelo menos o mais normal comparado aos demais, não me importei de comer com aquele mesmo.
Uma bronca a mais não faria diferença, de qualquer modo.
...
No fim das contas acabei comendo com aquele garfo mesmo.
MinJi sempre me lançava olhares feios, mas Lucas a devolvia com um olhar pior ainda, o que bastava para ela se encolher na cadeira e me deixar em paz.
Depois serviram a sobremesa, que estava deliciosa, fiz uma nota mental para pedir a receita para a empregada. Eu realmente amo cozinhar e adoraria aprender a fazer algo tão delicioso daquele jeito.
Foi quando Lucas olhou para mamãe, como se esperasse por algo, que ela se levantou e saiu pela porta da sala de jantar, sem mais uma palavra.
Mais uma vez eu estava sozinha com Lucas.
- Você gostou do jantar? - Ouvi ele perguntar. Assenti, eu estava brincando com fogo - Você gostou do jantar? – Lucas repetiu, mas dessa vez sua voz não estava mais calma.
Droga Yongui, você sabe que ele odeia quando você não responde, por que ainda faz isso?
Eu realmente não sei.
- Sim - Não olhei para ele, mas me sentia observado.
- Ótimo.
"Ótimo"
Ele vivia dizendo isso, mas por algum motivo eu não conseguia me irritar com essa mania dele.
Na verdade, eu até gostava.
- Levante-se.
Franzi o senho diante de tal pedido, como assim "levante-se"?
- Como? - Perguntei o olhando. Eu estava confusa, por que ele queria que eu me levantasse?
- Levante-se - Repetiu.
Ele não parecia estar brincando, era uma ordem e eu não ousaria contrariá-lo.
Me levantei devagar, minhas pernas estavam trêmulas. Eu estava assustada.
- Venha aqui, princesa – Lucas me chamou com o dedo assim que fiquei de pé, eu nunca iria admitir em voz alta mas...
Eu senti falta de ser chamada de princesa.
Ainda hesitante, fui a passos curtos e lentos até ele, que ainda estava sentado.
Quando estava ao seu lado, ele virou a cadeira, assim ficando frente à frente comigo.
- Mais perto - Ordenou.
E eu obedeci.
Estava praticamente colada em Lucas. A sensação era tão boa, sentir o calor que ele emanava era incrível.
Aquilo era tão errado, mas eu não conseguia parar.
- Sente-se aqui – Lucas deu três tapinhas em sua perna direita. Fiquei um pouco nervosa, mas mesmo assim me sentei ali de lado, sentindo o braço direto de Lucas rodear a minha cintura por trás.
Me arrepiei da cabeça aos pés quando senti seu nariz em meu pescoço, ele estava me cheirando.
Oh meu Deus, como aquilo era bom.
Fechei meus olhos apreciando a sensação e me segurei para não gemer quando Lucas roçou os lábios ali, dando um selinho em seguida.
E outro, e outro, e outro.
Ele foi subindo mais a cada selinho que dava contra a minha pele, chegando assim até a minha boca.
- Abra os olhos princesa - Senti seu hálito quente se chocando com os meus lábios quando ele falou. E assim fiz.
Abri os olhos, encontrando os seus que me encaravam, dilatados e escuros. Não me passava pela cabeça o que ele poderia estar pensando em fazer, de qualquer forma eu não me importava com isso.
- Você é tão linda – Lucas me torturou roçando nossos lábios lentamente, me fazendo fechar os olhos.
- Lucas - Consegui sussurrar, não me surpreenderia se ele não tivesse escutado.
- Daddy, baby. Você deve me chamar de Daddy - Não consegui conter um gemido quando tais palavras deixaram os lábios de Lucas.
Lucas não, Daddy!
- Luuucaaas - Abri os olhos ao ouvir a voz estridente de mamãe se aproximando da sala de jantar – Lucas querido, venha se deitar nas espreguiçadeiras comigo, eu estou tão sozinha.
Imediatamente pulei do colo de Daddy, voltando rapidamente para a minha cadeira e tentando disfarçar a bagunça que eu estava.
Mamãe pareceu não desconfiar de nada. Ao que entrou na sala de jantar, ela fez questão de olhar para mim antes de se sentar no colo do Daddy.
Onde eu estava sentada a pouco, prestes a beijá-lo.
- Nossa tão rápido? - Ouvi ela murmurar consigo mesma, seu cenho estava franzido enquanto ela se remexia sobre o colo do Daddy.
Arregalei os olhos quando percebi que ela falava da possível ereção do Daddy, provavelmente achando que ele deve ter ficado excitado apenas com ela ter se sentado no colo dele.
Me segurei para não falar que ele estava excitado por mim, não por ela.
Uma coisa ruim cresceu dentro do meu peito, era horrível ver aquilo.
Não consegui mais ver, simplesmente não dava! Me levantei silenciosamente, e sem nem olhar para Daddy ou mamãe, saí da sala, subindo correndo as escadas e me trancando no quarto tentando fazer o mínimo de barulho possivel.
Isso não deveria estar acontecendo, eu não deveria estar tão triste.
Não, eu não podia estar começando a ter sentimentos pelo namorado da minha mãe. Não, eu não estava.
Então, porque meus olhos não paravam de produzir lágrimas e eu estava soluçando daquele jeito?
Isso não pode estar acontecendo.
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