3 anos depois.
Cassie Miller
Era o aniversário de 4 anos do Enzo, sobrinho do John, e meio que a minha despedida de Nova York. Minha formatura foi na semana passada e amanhã eu volto para Los Angeles.
Me encostei no batente da porta que dava para o jardim e fiquei observando a minha irmã correndo e rindo junto com as outras crianças. Depois que recebi a herança do meu pai, a primeira coisa que fiz foi contratar os melhores advogados que pude e entrar na justiça pra conseguir legalmente o direito de visitar a minha irmã. Meu padrasto concordou em fazer um acordo e a cada 15 dias ela vem ficar comigo em Nova York durante o fim de semana, mas isso vai mudar e a partir de amanhã poderei conviver mais com ela, já que estaremos na mesma cidade.
— Cerveja? - Ryan diz parando do meu lado.
Eu o encaro com um sorriso divertido no rosto e pego a long neck de sua mão.
— Você é a única pessoa que eu conheço que leva cerveja pra uma festa infantil.
— Até parece que você não gostou - ele diz e toma um gole de sua bebida e eu faço o mesmo.
Apesar de me afastar completamente do Justin, a minha amizade com o Ryan não acabou, pelo contrário, estamos cada vez mais amigos. Ele é como um irmão que eu nunca tive.
Antes de me formar chegamos a trabalhar em alguns filmes juntos, mas eu acabei me apaixonando pelos clipes musicais e desde então tenho seguido esse ramo trabalhando na produção de alguns artistas famosos e até mesmo dirigindo alguns não tão famosos assim.
— Então amanhã você volta pra Los Angeles de vez? - Ryan pergunta mais uma vez.
— Sim, amanhã cedo você vai me levar no aeroporto e vai perguntar mais uma vez se eu tenho certeza disso - falei e ele riu sabendo que era verdade.
— Você já tem algum emprego em vista lá? - ele perguntou e só então eu me lembrei que ainda não tinha contado a ele.
— Eu recebi uma proposta de uma agência. O Miles mostrou o meu portfólio pra chefe dele e ela gostou bastante. Eles querem me conhecer, ouvir algumas ideias. Tenho uma entrevista na semana que vem.
— Miles seu ex namorado? - ele pergunta me encarando.
— Sim.
— Não sabia que ainda se falavam.
— Não é porque a gente terminou que temos que nos odiar, ainda somos amigos - dei os ombros.
— De qualquer forma parabéns, tenho certeza que vai conseguir.
— Obrigada.
Tomei mais algumas cervejas e conversei com mais algumas pessoas que eu conhecia. Depois que o bolo foi cortado e eu comi uma quantidade generosa, chamei a Julie pra ir embora. Me despedi de todos e prometi voltar pra visita-los. Minha irmã queria ficar, mas eu ainda tinha algumas coisas pra arrumar no lofty e nosso voo sairia bem cedo.
-
Ryan e Sr. Jorge, o porteiro do prédio, me ajudaram a descer com as malas e colocá-las no carro do Ry. Quase não coube todas, mas eu dei um jeito e a Julie teve que ir no meu colo durante o percurso até o aeroporto.
— Você vai pagar muito em excesso de bagagem - Ryan disse empurrando um dos carrinhos cheios de malas.
— Eu não podia deixar as minhas coisas e também não ia pagar uma mudança de Nova York pra Los Angeles com apenas algumas malas.
Fomos direto para o desembarque de malas e como Ryan disse gastei um bom dinheiro em excesso de bagagem. Faltava meia hora pro voo então procuramos um lugar pra tomar café da manhã. Encontramos um starbucks e nos sentamos em uma daquelas mesas com sofás em volta. Julie logo se deitou e dormiu, assim como em todo o percurso de carro.
— Você sabe quem você pode encontrar lá né? - Ryan disse com receio.
Eu sabia muito bem de quem ele estava falando. Nunca tocávamos nesse assunto. Apenas falamos dele uma vez, a alguns anos atrás e eu pedi que não tocássemos mais desse nome.
— Você não falou que...
— Não - ele me interrompeu - mas você sabe que é uma possibilidade né?
— Los Angeles é enorme, não vai acontecer - falei tentando converter mais a mim do que a Ryan.
— Se você quer acredita nisso - ele disse por fim e a garçonete trouxe nosso pedido encerrando a conversa.
Eu sabia que existiam possibilidades de nos cruzarmos por lá e não vou negar que já pensei sobre isso. Mas muita coisa aconteceu nos últimos 3 anos e eu não tenho mais tanta certeza se Justin ainda sente algo por mim. Mesmo que eu nunca admita isso em voz alta, o amor que eu sentia por ele nunca diminuiu, pelo contraio.
Quando o meu voo foi chamado eu acordei a Julie e dei um abraço bem apertado no Ryan. Eu sabia que ia ser difícil me acostumar a não vê-lo quase todos os dias.
— Se cuida – ele disse quando me soltou e eu apenas lhe mandei um sorriso afirmando.
Assim que nos sentamos Julie já dormiu novamente e eu tentei acompanha-la, mas não estava dando muito certo então passei as seis horas de voo trabalhando no meu portfólio online, eu iria apresenta-lo na minha entrevista. Reorganizei as paginas, dei uma cara nova ao site e ordenei todos os trabalhos que já fiz até hoje. Estava tentando de tudo pra tirar da minha cabeça o que Ryan tinha me falado sobre esbarrar com o Justin por LA, mas não estava adiantando muito. Desde que decidi voltar para Los Angeles ele tem estado mais presente na minha cabeça do que nunca.
-
Já estava morando em LA a dois meses e as coisas estavam se encaminhando muito bem. Consegui um apartamento incrível perto de onde a Julie mora, estou trabalhando em uma das melhores produtoras de clipes e posso ver a minha irmã com frequência. Mas ainda faltava alguma coisa e por mais que eu não admitisse pra ninguém, eu sabia muito bem o motivo desse buraco que eu tenho dentro de mim a mais de 3 anos.
Eu não vou negar que sinto falta dele. Não vou dizer que consegui preencher o vazio que ele me deixou porque isso seria mentira, mas afinal foi eu quem quis assim não é? Eu escolhi me afastar e não me arrependo, pois acho que naquele momento eu não estava preparada pra ter um relacionamento com ele. Eu ainda acredito que no momento certo o destino vai cuidar de nos levar um até o outro.
Sai dos meus pensamentos ao ouvir meu telefone tocar. Olhei no visor e o nome Lauren piscava, era a minha chefe.
— Oi Lauren – falei logo depois de atende-lo.
— Ola, Cassie. Me desculpe, eu sei que hoje é a sua folga, mas estou precisando muito da sua ajuda.
— Tudo bem, Lauren. Pode falar.
— Nós temos uma gravação hoje que não pode ser adiada de forma alguma, mas o diretor do clipe teve que sair de lá correndo porque houve um acidente com a esposa dele. Será que tem como você assumir a direção? - fiquei em silencio alguns minutos pensando sobre isso.
— Não da mesmo pra adiar Lauren? Não acho certo eu assumir a direção de um clipe que foi todo preparado por outra pessoa.
— Foi o próprio Hans que pediu que você o substituísse – ela disse e eu me surpreendi. Hans é um dos diretores mais conceituados da produtora.
— Se é assim, tudo bem.
— Ótimo, vou mandar os detalhes da gravação por e-mail pra você ir se situando e envio o endereço por mensagem.
Nos despedimos e ela desligou. Eu corri pra tomar um banho rápido e coloquei uma roupa simples. Passei um pouco de rímel e chamei um táxi pra me levar até o local. Era uma casa em um condomínio não muito longe de onde eu morava. Durante o caminho eu li as partes mais importantes do roteiro que Lauren me enviou e já sabia do que se tratava o clipe.
Quando cheguei lá encontrei Matt andando de um lado para o outro, ele era o produtor.
— Ainda bem que você chegou. Nós estamos atrasados e temos horário pra entregar a casa.
— Tudo bem, vai da tempo. Os cenários já estão prontos?
— Tudo montado, artista preparada, só estávamos esperando por você pra contar a Madison sobre a mudança de diretor e iniciar as gravações.
— Então a espera acabou, me leva até a garota – Matt assentiu e foi comigo até um quarto do segundo andar da casa, que servia de camarim para a menina.
As risadas dentro do quarto eram altas. Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo e estranhe o repentino frio. Dei duas batidas e uma voz feminina disse que poderia entrar. Abri a porta devagar e tive a visão de uma garota morena.
— Oi você deve ser a Madison – falei entrando no quarto.
— Cassie? - uma voz do lado oposto do comodo disse. Uma voz que eu reconhecia muito bem, não importa quanto tempo se passe.
Me virei devagar e tive a visão completa dele na minha frente. Justin estava sentado em um sofá me encarando com os olhos arregalados.
— Justin – sussurrei mais pra mim do que pra ele.
O ar pareceu sumir de repente dos meus pulmões e o meu coração batia tão forte que eu temia que alguém pudesse ouvi-lo. Eu não podia negar que estava feliz em vê-lo e minha vontade era correr para os seus braços, mas me contive.
— Vocês se conhecem? - Madison disse quebrando o silencio.
— Longa história – ele respondeu dando um sorriso de lado.
Então me toquei que estávamos nos encarando a tempo demais e me lembrei do motivo de estar ali e voltei minha atenção a garota sentada na cama.
— Então Madison, o Hans teve um problema familiar e não vai poder trabalhar hoje, então ele pediu que eu o substituísse na direção. Tem algum problema pra você?
— Não, se foi ele que pediu. Tudo bem – ela disse simpática.
— Vou pedir pra maquiadora te retocar e começamos a gravar em 15 minutos – ela assentiu e eu me virei saindo do quarto. Não sem antes dar uma olhada para o Justin que ainda me encarava como se não acreditasse naquilo.
Meus olhos estavam com lagrimas e eu precisava pensar pra saber como deveria agir. Caminhei até o fim do corredor abrindo todas as portas e procurando um lugar silencioso pra ficar. Achei um quarto e me sentei na cama, apoiando os cotovelos no joelho e colocando as maos no rosto. Eu tinha plena consciência de que não iria ter muito tempo.
Eu não tinha noção nenhuma do que estava passando na minha cabeça e principalmente no meu coração.
Justin foi o cara que eu mais amei na minha vida e o melhor amigo que eu já tive. A única pessoa com quem eu consegui desabafar os meus segredos mais sombrios. O único a me ajudar com a morte do meu pai, mesmo depois de anos. Ele é o cara que não permitiu que eu chegasse ao fundo do poço me afogando em drogas. A pessoa que em poucos meses de convivência já tinha feito mais por que do que minha própria mãe em toda a minha vida. E então, certa altura da nossa complicada história, nós nos desencontramos e nos magoamos.
Eu escolhi me afastar do Justin. Eu sabia que ele poderia ter qualquer garota que ele pudesse e escolhi me afastar acreditando que o tempo cuidaria das nossas feridas e o destino se encarregaria de nos juntar novamente. Dessa vez mais maduros e preparados pra um relacionamento de verdade. Mas agora que estamos no mesmo ambiente eu não tenho mais tanta certeza se acabaremos juntos.
Justin teve a chance de conhecer outras pessoas e pode ser que agora o seu coração não pertença mais a mim e mesmo depois de tantos anos, me dói ver ele aqui com outra. Eu não conheço a Madison e nem sei se eles são oficialmente namorados, mas por qual outro motivo ele estaria aqui com ela na gravação do seu cilpe? Eu tenho certeza que essa musica não é um Feat. Isso estaria escrito no email que Lauren me enviou, mas não estava. Essa é uma música solo e Justin esta aqui apenas pra acompanhar a garota, ele nem mesmo faz parte do clipe.
Me assusto com o barulho da porta abrindo e vejo o motivo dos meus pensamentos parado ali na frente me encarando. Meu coração quase salta da minha boca e eu não consigo pronunciar uma palavra. Ele fecha a porta devagar atras de si e caminha na minha direção. Involuntariamente me levanto e o olhos nos olhos pela primeira vez. Os olhos castanhos que eu tanto amo.
— Eu não acredito que você ta aqui – Justin me pega de surpresa e puxando pra um abraço.
Retribuo sem pensar duas vezes. Respiro fundo sentindo o seu cheiro o máximo que posso e quando ele se afasta minha pele sente falta do seu contato. Nos encaramos por alguns segundos e ele quebra o contato olhando pra baixo. Justin franze o cenho segurando a minha mão e eu percebo que ele esta olhando a pulseira no meu braço.
— Você usa – ela diz quase sem voz.
— Nunca tirei – falo no mesmo tom que ele encarando a pulseira no meu braço e sendo tomada por lembranças.
A pouco mais de dois anos atrás, no dia do meu aniversário eu recebi um embrulho em casa. Era uma caixa pequena e sem remetente. Assim que me livrei da caixa de papelão e abri a pequena caixa de veludo percebi que se tratava de uma pulseira berlock da pandora. Ela tinha quatro pingentes, um microfone, um ônibus, um coração e um predio. Eu não precisava de remetente pra saber quem tinha me dado aquilo. Também não precisava de explicações pra entender o que cada um dos pingentes significava.
Durante mais um ano e meio os pingentes continuavam a chegar em anônimo nas datas importantes, datas que marcavam a nossa história. Mas depois de um tempo eles pararam. O último que recebi foi no meu aniversário de 21 anos, no dia em que me tornei legalmente uma adulta responsável. Era um coração escrito família de um lado e com o desenho de um bonequinho e duas bonequinhas do outro.
Eu sempre soube que era o Justin que mandava e sempre entendi o significado de cada uma delas, mas confesso que esse me deixou confusa. Depois desse dia não recebi mais nenhum, nem mesmo nos outros aniversários ou no dia da minha formatura e é por isso que eu acredito que ele tenha desistido de nós.
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