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História Be Home - Louis


Escrita por: ohgi

Notas do Autor


Espero que gostem!

Capítulo 2 - Louis


            Já havia se passado cinco dias desde que fugi de casa e essa estava sendo a pior noite de todas. O frio de Londres se intensificara e eu não possuía roupas quentes o suficiente para me aquecer. Ainda assim, estar na rua era melhor do que estar naquele lugar que eu deveria chamar de lar mas que se tornou um local hediondo, rodeado de desespero e agonia.

            Desde que papai morreu e mamãe se casou com um homem ardiloso qualquer, tudo começou a desandar. Nunca fomos pessoas que possuíam dinheiro mas conseguíamos sobreviver, depois que meu pai se foi, dinheiro foi algo que não vimos mais, acabamos por mudar para um dos piores lugares da cidade e aquilo que minha mãe ganhava era gasto em bebidas e cigarros. Comecei a trabalhar mas assim como o dinheiro dela, o meu era gasto em bebidas que eu nem ao menos tomava.

            As coisas nunca foram muito fáceis pra mim e para minha família. Quando papai ainda era vivo, vivíamos em uma casa simples com apenas quatro cômodos: uma sala embutida com a cozinha, o quarto dos meus pais, o meu e um banheiro. Não tínhamos muita coisa também mas éramos felizes. Ou pelo menos, achava que éramos. Minha relação com meu pai era fantástica. Ele era o meu bem mais precioso, como um herói. Costumávamos passar muito tempo juntos, papai me levava para fazer piqueniques, ver o lago, me contava histórias e me fazia rir de um jeito que doía a barriga de tanta felicidade. Por vezes ele me pediu desculpas. Desculpas por não poder me dar tudo o que eu queria ou tudo que ele sonhará em me dar, desculpas por não me levar naquele restaurante bonito, por não viajarmos, por não comprar uma roupa melhor mas eu não ligava, claro, seria ótimo ter tudo isso mas não era assim tão essencial, o essencial mesmo era ele estar ali comigo.

            Minha mãe. Minha relação com ela era péssima, eu a amava tanto mas sabia que não era recíproco. A verdade é que mamãe nunca quis ter um filho e quando papai ficou feliz por eu nascer, ela passou a me odiar ainda mais. Tê-la ali era como ter a companhia de um estranho. Jay não cuidava de mim, não me alimentava, não me dava amor, mal olhava para mim e com isso, precisei, desde pequeno, saber me virar comigo mesmo. Era eu e somente eu. Com a morte de papai, as coisas pioraram. Se antes ela não se interessava por mim, agora esquecia que tinha um filho. Passei a viver em sua sombra e a pisar em ovos, me manter em silencio me causava menos problema dentro de casa. Quando comecei a trabalhar – já que precisava sustentar a nós dois – o tempo que eu passava fora eram as melhores horas do dia, eu era rodeado de colegas simpáticos e um ambiente confortável. Trabalhava em uma pequena doceria da cidade, um lugar repleto de alegria que depois de alguns anos chegou a falência, a competição com as grandes casas de sobremesas era enorme. Despedido, tudo só afundou mais.

            Depois de poucos meses da ida de meu pai, mamãe se casou novamente. Se casou com Steve, um ex- advogado falido com sérios problemas alcoólicos. Steve é um cara bruto, arrogante e ignorante, entendido de tudo e fazedor de nada. Não trabalha e só se interessa por trapaças, sexo e infernizar a vida de todos. Como se não bastasse, o filho de meu padrasto, Calebe, acabou por se mudar para a nossa casa. Ele era quatro anos mais velho do que eu e fazia da minha vida um verdadeiro terror. Assim como o pai, Calebe só era interessado em festas, mulheres, bebedeiras e ignorância, mimado, fazia o que queria na hora que queria e ninguém podia impedi-lo. Depois de sua chegada, eu virei uma bagunça. Adquiri medos das coisas mais banais que possam existir, inseguranças e um ódio por mim mesmo que me destruía a cada dia. Agora, ansiedade e ataques de pânico preenchiam meu dia.  Calebe me fez ser alguém que eu não reconhecia mais.

            Já era a quarta vez que eu parava em frente ao comércio londrino para tentar recuperar o fôlego. Aquele vento tornava a noite mais gélida do que o normal e minha respiração não conseguia acompanhar tal mudança. Era tarde da noite e eu ainda não tinha achado um lugar para ficar, provavelmente não acharia mais. A cada minuto que passava, a ideia de voltar pra casa chegava mais forte em minha mente mas eu não poderia dar esse passo para trás e voltar a viver tudo o que tinha vivido até ali, não poderia dar esse gostinho de “garoto arrependido” para minha mãe e muito menos para Calebe, que saberia exatamente como me punir por ter sido um “garoto malvado”.

            Andei um pouco mais até chegar a uma pequena boate que parecia estar muito cheia. Minha maior vontade era de adentrar o lugar e beber até não conseguir mais porém eu não tinha nenhum dinheiro, havia o gastado nos dias anteriores. Olhei ao redor e a rua estava vazia, algumas gostas de água começavam a cair novamente do céu. Resolvi entrar no local apenas para fugir da chuva e poder esquentar um pouco o meu corpo. Ao passar pela porta, me dirigi ao bar e sentei em um banco no final do balcão, depositei ali minha garrafa de água e percorri meus olhos pelo ambiente. A música estava alta e as pessoas pareciam estar se divertindo muito, sorri com a ideia de poder estar ali no meio delas dançando e provando um pouco de uma agitação diferente. Notei que os que ali estavam me olhavam com uma expressão estranha, uma mistura de nojo e repugnância, eu não estava vestido como deveria para poder frequentar o local, eu realmente parecia um homem de rua, bom, agora eu era mas me surpreendi quando um atendente do bar parou em minha frente e com a voz firme perguntou se eu não iria beber nada.

-Não posso beber nada, obrigado – respondi tentando fazer com que ele parasse de me olhar de forma tão assustadora mas não fui bem sucedido.

            -Olha, amigo, você não pode permanecer na boate se não vai consumir nada, ainda mais estando vestido do jeito que está, parece até que vive nas ruas. – estremeci com sua frase, eu ainda não havia escutado ninguém dizer que eu era um homem das ruas ou que parecia um, só aquelas palavras fizeram meus olhos marejarem, não era justo.

            -Por favor, eu não tenho mais pra onde ir. Está muito frio lá fora, eu não tenho roupas adequadas – tentei.

-Me desculpe mas é necessário que você deixe a boate.

            -Não, por favor, eu faço qualquer coisa. Eu preciso ficar aqui – eu já estava implorando de uma forma humilhante. A expressão no rosto do homem a minha frente passou de indiferente para raivosa, ele tinha as mãos fechadas em cima do balcão e ao ver que eu não me mexia e ainda pedia para ficar, acabou por chamar mais dois caras para me tirar dali. Eu já não me importava se as pessoas ao redor do bar pararam o que estavam fazendo para olhar a cena, eu só precisava de uns minutos para me aquecer e poder retornar as ruas. Com os dois homens segurando os meus braços, tentei suplicar mais uma vez:

            -Por favor, eu não tenho para onde ir. Eu juro que fico pouco, eu preciso ficar, por favor – minhas lágrimas já escorriam pelo meu rosto com grande liberdade e as duas pessoas que me seguravam já estavam perto da porta de saída da boate.

            -Mendigos não são bem vindos aqui.

            Pude ver todos que observavam a cena me olharem com expressões variadas. Variadas entre raiva, nojo, indiferença e algumas até sorriam pela atitude tomada pelos atendentes. Mendigo, eu não era um mendigo. É engraçado poder sentir na pele o quão ignorante as pessoas são. Eu não sabia mais o que fazer, meus soluços agora eram mais audíveis e tenho certeza que a boate inteira estava observando a cena. O atendente que me expulsou ainda falava sobre como aquele lugar era pra gente de classe e que alguém como eu nunca deveria se misturar, aquilo doeu como uma faca enfiada no peito, era isso, eu já não era ninguém. Entre um soluço e outro, ouvi ao longe, alguém gritando:

            -Ei, esperem!  



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