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História Be Yourself - Capítulo Único


Escrita por: _lovemyway

Notas do Autor


Porque o 2x05 e o discurso da Alex me inspiraram ♥

Caso alguém leia, boa leitura :p

Capítulo 1 - Capítulo Único


Alex Danvers precisou se tornar muitas coisas.

 

No começo, ela culpou Kara por isso. Era fácil colocar a culpa na garota alienígena, pois ela era sempre tão educada, tão boa, tão perfeita, e era irritante. Alex a odiava, ela realmente a odiava. Ela odiava como o Super-Homem tinha largado a garota na porta da frente de sua casa como se ela fosse um filhote de cachorro perdido. Ela odiava como a atenção dos seus pais havia mudado dela para a irmã que ela nunca quis ter. E acima de tudo, ela odiava ter cuidar de Kara o tempo inteiro, porque ela era nova no Planeta e não sabia como as coisas funcionavam. Era o trabalho de Alex ensiná-la — e ela odiava isso, também.

 

Desde o dia em que Kara Zor-El apareceu e se tornou parte da família, Alex precisou se tornar a filha perfeita. Ela precisou fazer isso, porque seus pais estavam sempre ocupados se certificando que Kara estava em segurança, não tendo tempo para mais nada. Eles só pareciam saber falar sobre Kara. Como tornar a vida mais fácil para ela. Como ajudá-la a se adaptar a Terra. Como fazer ela se sentir confortável na casa. Alex precisou representar seu papel e ficar longe de problemas. Ela precisou ser a garota perfeita, porque Kara tinha passado por muita coisa e Alex precisava dar o exemplo. Ela precisava ser o modelo no qual a irmã mais nova ia se inspirar (mesmo que ela não quisesse ser modelo algum, mesmo que ela não tivesse pedido por isso). Ainda assim, ela fez o que seus pais pediram. Ela fez o possível para ser a irmã mais velha perfeita, sempre incluindo Kara em suas atividades, tentando muito encontrar algum ponto em comum que pudesse criar uma ligação entre elas. Mas era difícil — Kara não gostava das mesmas coisas que ela, não agia do jeito que Alex esperava que ela agisse, e era sempre tão gentil e tão ingênua que interagir com ela era frustrante, às vezes.

 

Alex não conseguiu ser a irmã perfeita, e muito menos a filha perfeita. Não importava o quanto ela tentasse andar na linha, os problemas sempre pareciam encontrá-la. As coisas pioraram após da morte de seu pai, e houve um tempo em que ela estava tão cansada que simplesmente parou de tentar. Ela parou de tentar ser a pessoa que sua mãe queria que ela fosse. Ela parou de tentar ser a irmã perfeita para a garota alienígena, que muito provavelmente nunca encontraria seu lugar ao mundo. Ela parou de tentar ser uma boa estudante e, como resultado, ela foi expulsa do seu programa de doutorado.

 

E quando ela pensou que não poderia ficar pior, o problema com bebidas estava crescendo cada vez mais. Alex precisava de ajuda. As contas estavam se acumulando, e ela não sabia mais o que fazer. Mais do que tudo, a jovem queria desistir de absolutamente tudo. Ela estava bem perto de fazer isso quando Hank convenientemente apareceu, salvando-a dela mesma. Ele deu a ela um propósito. Ele não esperava que ela fosse perfeita — apenas que ela fosse ela mesma, quem quer que essa pessoa fosse — e Alex viu isso como um alívio. Era o novo começo que ela estava procurando. Era o caminho para fora da confusão que ela desesperadamente precisava.

 

No fim das contas, a vida estava começando a melhorar. Alex sabia que ela só precisava de um pouco de tempo. Um pouco mais de tempo, e tudo ficaria bem.

 

 

 

Ou talvez não.

Uma das coisas que a agente nunca tentou ser perfeita foi em namorar, e apenas porque ela sabia que era uma tarefa impossível. Ela saiu com alguns caras durante a faculdade, e com mais alguns desde que começou a trabalhar no DEO, mas isso foi tudo. A última vez que ela tinha saído em um encontro tinha sido há dois anos — Max Lord não contava — e às vezes ela sentia falta de ter alguém com quem dividir o dia. Entretanto, ainda que encontrasse alguém, a agente duvidava muito que o relacionamento fosse dar certo.

 

Alex sempre teve problemas com intimidade. Ela acreditava que namorar não era “algo para ela”, porque nunca pareceu certo. Todos os homens com quem ela esteve, todos que ela permitiu que a tocassem… Ela sempre sentiu como se alguma coisa estivesse errada, fora do lugar. Ela não sabia exatamente o que, ou por que, e depois de um tempo ela parou de se perguntar. A mulher apenas aceitou que era outra coisa na qual ela nunca seria boa, e seguiu em frente.

 

E claro que nesse momento Maggie Sawyer tinha decidido aparecer, fazendo com que Alex questionasse tudo o que ela pensava que sabia a respeito de si mesma, inclusive sua sexualidade.

 

Lá no fundo, ela sempre soube. Ela soube desde os doze anos, quando aquela garota da classe dela foi beijá-la no rosto e, por acidente, Alex havia virado no último instante, fazendo com que a menina a beijasse nos lábios. As duas nunca falaram sobre isso. Elas fingiram que nunca tinha acontecido, mesmo que tenha levado semanas para que Alex tenha conseguido tirar aquele beijo de sua cabeça. Ela sentiu alguma coisa, não importa o quanto ela tinha tentando se convencer de que não sentira nada.

 

E agora, Maggie estava trazendo todos aqueles antigos sentimentos de volta. Não era justo. Alex não queria se sentir desse jeito. Ela não queria ser gay, porque isso significaria que ela falhou em tudo. Ela falhou em ser uma boa filha, em ser uma boa irmã, ela falhou em ser uma boa estudante, e agora ela estava falhando a si mesma por não ser boa em fingir. Ela costumava ser excelente em guardar seus sentimentos dentro do peito, de forma que ela não reconhecesse sua existência. Onde ela poderia agir como se eles não estivessem lá em tudo. E por causa de Maggie Sawyer, isso não era mais possível. Não era mais possível, porque só olhar para a detetive fazia com que Alex se sentisse como aquela garotinha novamente. Aquela garotinha que teve seu primeiro beijo. Aquela garotinha que queria mais, que poderia se dar ao luxo de desejar por mais. Aquela garotinha que não precisava esconder quem ela era porque estava com medo. Ela escondeu de qualquer jeito, é verdade, mas em grande parte porque ela não entendia o que ela estava sentindo, e não porque ela estava com medo do que aqueles sentimentos significavam.

 

Ela tem uma namorada, Alex dizia a si mesma, usando essa frase como uma âncora que ajudava a manter seus sentimentos sob controle (o que seria bom se realmente funcionasse).

 

Ela não podia usar essa frase, não mais, porque a namorada de Maggie havia terminado com ela, e a detetive estava solteira. A mulher estava solteira e mais do que tudo, mais do que qualquer coisa, Alex queria, ela realmente queria convidar Maggie para um encontro. Ao invés disso, ela fez o que ela fazia de melhor: enterrou-se até a cabeça no seu trabalho e ignorou a dor no peito que só parecia ficar cada vez maior.

 

 

*

 

 

Kara notou que havia alguma coisa errada. Claro que notou, Alex pensou para si mesma, balançando a cabeça. Kara sempre percebia coisas a respeito da irmã mesmo quando ela não estava sendo completamente óbvia (e verdade seja dita, ela estava sendo dolorosamente óbvia). Era como se ela não conseguisse mais esconder seus sentimentos, não importa o quanto ela tentasse. Alex se sentia exposta, vulnerável, e ela odiava isso. Ela odiava se sentir tão frágil, tão pequena, tão insegura.

 

“Qual o problema?”, a kryptoniana perguntou, sentando-se ao lado da irmã no sofá pequeno. Elas estavam na casa da Alex para a noite de irmãs, e Kara tinha ido pagar o garoto da pizza pela entrega. Quando finalmente voltou, ela havia notado o olhar no rosto da irmã mais velha e franzido o cenho.

 

“Nada”, Alex deu de ombros. “Podemos voltar a assistir o filme?”

 

“Você odeia esse filme”, apontou Kara. “Você só assiste porque eu gosto. Sério, Alex, qual o problema?”

 

“Eu disse…”

 

“Não diga que não é nada”, ela interrompeu, soltando um suspiro. “Olha, se você não quer falar sobre isso, tudo bem, você não precisa. Mas não minta para mim, ok? Você é minha irmã mais velha, Alex, eu sei quando tem alguma coisa errada. Eu não vou pressionar, mas saiba que o que quer que seja, você pode me contar quando se sentir pronta. Eu sempre estarei lá por você, ok? Sempre.”

 

“Mesmo se eu fosse gay?”

 

Alex mordeu os lábios, xingando-se mentalmente. Não era assim que isso deveria estar acontecendo. Ela vinha planejando todo um discurso sobre isso desde a conversa com Maggie no bar. Na verdade, ela estava pronta para começar quando Lena Luthor tinha aparecido, no outro dia, e interrompido o momento. Desde então, Alex tinha perdido a coragem de dizer o que precisava ser dito.

 

Não era porque ela estava com medo da reação da irmã. Não completamente. Claro, ela estava um pouco preocupada com o que Kara ia pensar a seu respeito, mas Alex sabia que teria o apoio dela. Não, o que realmente a incomodava era saber que a partir do momento em que ela pronunciasse as palavras, a agente não poderia mais voltar atrás, e isso a assustava. E se ela não fosse realmente gay? E se ela estivesse errada? E se ela fosse apenas quebrada? Tão quebrada que ela era incapaz de se apaixonar por alguém, ou de ter alguém se apaixonando por ela? E se ela contasse para a sua mãe, e Eliza não a aceitasse? A relação entre as duas sempre foi tensa. E se essa fosse a última gota? E J’onn? E se essa pequena coisa sobre ela na verdade se tornasse algo grande? E se tudo mudasse por causa disso? Ela não estava pronta para deixar o DEO, para deixar de fazer algo que ela amava tanto. Todavia, ela também estava cansada. Ela estava cansada de esconder quem realmente era. Cansada de ser tão reservada o tempo todo. Cansada de estar tão assustada, de ser tão fraca, de ser tão…

 

“Alex”, sua irmã disse suavemente.

 

Alex criou coragem para encontrar o olhar de Kara, com medo do que iria encontrar nele. Mas para a sua surpresa, a irmã não parecia nem um pouco chocada. Ela olhava para Alex como se… Como se ela já soubesse, Alex constatou, sentindo o coração começar a bater mais rápido.

 

A kryptoniana não poderia saber, poderia? Não quando nem a própria Alex tinha percebido. Não quando a agente do DEO ainda estava lutando contra os pensamentos confusos e os sentimentos que se acumulavam dentro do peito. Kara não deveria saber, mas sabia. Ela sabia, e Alex podia ver isso claramente estampado no rosto da mulher mais nova.

 

“Mesmo se você tivesse votado para o outro cara nas eleições passadas, mesmo se você decidisse deixar o DEO para se tornar uma criminosa e ladra de bancos, mesmo se você me dissesse que odeia Homeland, o que seria um crime, a propósito”, ela sorriu gentilmente. “Mesmo se você me odiasse como você costumava fazer quando eu apareci…”

 

“Kara…”

 

“Mesmo assim”, ela continuou, ignorando a irmã mais velha, “eu ainda amaria você com todo o meu coração. Você sabe por quê?”

 

Alex balançou a cabeça, sem ser capaz de pronunciar nenhuma palavra.

 

“Porque de todos os seres que eu já conheci em todo o Universo, e você está ouvindo isso de alguém que realmente já esteve em vários planetas, você é a mais extraordinária de todos eles. Você é inteligente, engraçada, generosa, corajosa, e você tem um coração de ouro”, Kara disse, apertando a mão de Alex com delicadeza. “Então hipoteticamente falando, mesmo se você fosse gay… Esse seria apenas um pedaço seu. Um pedaço lindo, claro, mas ainda assim, só um pedaço. Eu não me importo com quem seu coração escolhe amar. Tudo o que eu me importo é que você encontre amor, que você finalmente se deixe abrir para alguém, que deixe alguém entrar em sua vida. É tudo o que eu quero para você.”

 

“Tudo o que eu quero é que você seja feliz”, ela concluiu, dando de ombros. “Você deveria querer isso para si mesma, também.”

 

Alex estava sem palavras. Ela não notou que estava chorando até sentir o gosto das lágrimas em sua boca. Ela se lançou sobre a irmã, abraçando-a com toda a sua força, e se ficou feliz ao sentir Kara a abraçando com a mesma intensidade.

 

Durante toda a sua vida, Alex precisou se tornar muitas coisas. A filha perfeita, a irmã perfeita, a estudante perfeita, a agente perfeita. Entretanto, não importa o quanto ela tentasse, ela nunca conseguiu atingir a perfeição. Alex Danvers nunca foi e nunca será perfeita. Ela sente medo. Ela é teimosa. Ela tem um temperamento difícil de lidar. Ela é super protetora em relação a irmã. Ela é gay. E tudo bem.

 

Tudo bem, porque ela não precisa mais tentar ser perfeita. Pelo menos uma vez em sua vida, ela pode ser simplesmente ela mesma. É o suficiente.

 

“Agora me conta tudo sobre a detetive Sawyer e o que eu vi naquele dia. Vocês estavam mesmo terminando a frase uma da outra? Espera aí… Alex! Vocês estão saindo? Ela é sua namorada? Você…”

 

Alex riu. Ela riu tanto que seu estômago começou a doer. Riu tanto que não conseguia respirar, não conseguia pensar, e a única coisa que ela podia fazer era olhar para a irmãzinha caçula como se ela segurasse o Sol em suas mãos. Quando a agente parou de rir, ela permitiu que Kara fizesse um discurso de como seria legal se Alex e Maggie começassem a namorar, sentindo-se extremamente grata pela afeição e apoio que ela viu nos olhos de Kara.

 

Era apenas o começo, Alex sabia. Talvez um dia ela encontraria coragem para convidar Maggie para um encontro. Talvez um dia ela não precisasse mais sentir medo. Talvez um dia ela pudesse demonstrar mais seus sentimentos para as pessoas com quem ela se importa, do mesmo jeito que ela os demonstra para Kara. Talvez um dia ela pudesse ser verdadeiramente livre.

 

Esse dia não havia chegado, ainda não, mas depois do discurso da irmã, Alex se sentiu mais confiante. Ela sentiu que conseguiria, sentiu que podia ser apenas ela mesma, sem cobranças, sem pressão. Então não, esse dia ainda não havia chegado, mas tudo bem. Com sorte, um dia ele vai chegar.



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