História Beautiful - Monday

De fato quando Taehyung acordou no dia seguinte toda a felicidade já havia passado. Sentiu um vazio muito grande dentro de si, como se um buraco negro estivesse instalado bem no meio de seu peito, sugando todo e qualquer sentimento bom que estivera ali no dia anterior. Tudo que conseguia lembrar naquele momento era que Jungkook não o amava — pelo menos não da forma que gostaria. A pior parte seria encarar o melhor amigo hoje, tendo de suportar vê-lo abraçado ao mais novo namorado, ver Yoongi-hyung receber todo o carinho que deveria ser dele. Não era um bom dia para ser Kim Taehyung.

O garoto levantou-se da cama desanimado, indo em direção ao banheiro e entrando de baixo do chuveiro. A água fria bateu em suas costas e ele se amaldiçoou por ser tão esquecido, congelar a espinha logo pela manhã não fazia parte de seus planos. Fez questão de tomar o banho mais rápido de toda a sua vida e se dirigiu ao espelho, começando a rotina diária de encontrar defeitos em si próprio. Respirou fundo e passou a mão nos cabelos, vendo que os mesmos não lhe pareciam tão ressecados. Sorriu com o pensamento de que talvez os fios estivessem se recuperando de toda a química e logo poderia pintá-los de uma cor nova, possivelmente vermelho. Observou, então, seu sorriso. Pela primeira vez em anos não o odiou — na verdade, achou-o formoso, com os dentes branquinhos e alinhados… O que estava acontecendo?

Voltou para o quarto ainda pensando no porquê de não estar parecendo tão miserável naquela manhã, encontrando a resposta quando mirou o celular jogado na cama. Segurou o mesmo e releu todas as mensagens, não conseguindo conter um sorriso. A ideia de que uma pessoa realmente o achava bonito lhe parecia surreal e sentiu-se feliz em alguns segundos. Contanto, a felicidade não foi suficiente para espantar o desânimo que sentia só de pensar em ir à escola. Não queria escolher uma roupa, não queria se preocupar em ficar belo, sua única vontade era ficar no quarto o dia inteiro com roupas largas e horríveis. Então, mesmo que fosse contra seus princípios, pegou uma calça de moletom, uma camiseta e uma jaqueta jeans, vestindo. Poderia não ser seu melhor visual, mas juntando seu humor com a mudança brusca de temperatura — completamente diferente de domingo, hoje os termômetros marcavam 6º C — estava mais do que perfeito.

Saiu de casa sem tomar café da manhã e andou até o colégio, ainda indisposto. Não estava com vontade de pensar sobre o dia anterior, então colocou os fones de ouvido e deu play numa música qualquer de sua playlist chamada “some days can feel like razor blades”. Era sua playlist mais triste e condizia muito bem com seus sentimentos. Taehyung não queria parecer melancólico ou um adolescente dramático, mas era praticamente impossível, estava tão amargurado com o que acontecia no momento que quase desistiu de ir estudar. Continuou a caminhada, porém; precisava de força de vontade..Não foi preciso andar por muito tempo, uma vez que morava relativamente perto do recinto e logo estava lá.

Quando chegou, porém, desejou ter diminuído o passo no meio do caminho ou ter parado em algum lugar para comprar um café ou algo assim. Ao longe avistou seu melhor amigo, olhando desesperado para o portão com um olhar nervoso. Taehyung sabia que Jeongguk estava esperando por ele, e isso quase acendeu uma chama em seu coração. O mais novo logo encontrou seu hyung e seguiu em sua direção, determinado, arrastando o namorado consigo. Oh, sim, claro que o maknae estava acompanhado de Yoongi, Kim não esperava nada de diferente do mesmo. Sorriu forçado para ambos, caminhando na direção do casal.

— E aí, Kook! — sorriu despretensioso, tentando passar uma confiança que não sentia naquele momento. — Oi, Yoongi. — cumprimentou também o mais velho, recebendo um aceno de cabeça e um sorriso genuíno.

A recepção do melhor amigo, contudo, não fora tão doce. Jeon fez questão de soltar a mão do namorado para estapear o braço de Tae com um pouco mais de força que o normal. O mais alto apenas ria e reclamava, pedindo para que o menos parasse. Uma carranca tomou lugar em seu rosto quando parou de sentir os tapas do dongsaeng, percebendo que Min o abraçava por trás, automaticamente acalmando seus nervos.

— Você me deixou preocupado, hyung! — o mais novo choramingou. — Tínhamos combinado de nos encontrarmos no parque e você não apareceu nem atendeu minhas ligações nem respondeu nenhuma das minhas mensagens… Eu tinha algo importante para compartilhar com você.

Algo importante. Taehyung sabia exatamente o que era e aquilo o entristeceu um pouco.

— Eu estava dormindo, idiota! — Tae riu forçado, tentando não transparecer o quão angustiado estava com toda essa situação.

— Até parece que eu vou acreditar nisso, Kim Taehyung! — o mais novo fechou a cara em um sinal claro que estava decepcionado com a atitude do amigo. — Se fosse o Suga-hyung eu acreditaria, essa criatura só dorme! — riu.

    — Deixe o menino em paz, Kookie… Ele poderia realmente estar com sono, ou simplesmente não quis ir. — Min rebateu, revirando os olhos para a atitude de seu amado. — Não foi tão ruim assim para nós ele não ter aparecido, não? — o garoto pálido falou num sussurro, mas Taehyung pôde entender graças a suas capacidades de leitura labial. Viu o amigo corar e revirou os olhos.

    — Exatamente, Kookie, deixe isso para lá! — disse, enfatizando o apelido do outro — Enfim, o que você queria me contar de tão importante? — fez-se de desentendido.

    Era aquele o momento, ele sabia. Se ainda lhe restava alguma esperança, todas foram por água abaixo. Teria de fingir que estava feliz pelo relacionamento do amigo, dar os parabéns e sorrir abertamente. Ficou feliz de ter feito um curso de teatro em algum momento da sua vida, pois pelo menos conseguiria fingir que toda aquela situação não estava despedaçando seu coração, que ele não estava morrendo de vontade de chorar ali mesmo.

    — Ah sim! — Jungkook deu um pulinho, puxando o mais velho para seu lado e segurando a mão do mesmo — Eu e o Hyung estamos namorando!

    Não é como se Taehyung não soubesse. É claro que sabia, mas ouvir isso dos da boca do garoto por quem era apaixonado há mais de dois anos machucava. Ficou com muita inveja de Min Yoongi naquele momento, quando Jeon passou os braços por seu ombro e o abraçou. Queria ser o garoto pálido para poder segurar o rosto do dongsaeng com as mãos e depositar um beijo em seus lábios, sendo correspondido. Porém sentiu-se mal por almejar tudo isso, sabia que não era certo. Era quase palpável a felicidade dos dois garotos, não era capaz de lembrar qual fora a última vez que viu Jungkook sorrir tão abertamente que seus olhos fechavam. Os dois estavam tão próximos que poderiam se fundir e virar uma pessoa só. Taehyung suspirou e começou a pensar no que deveria fazer para seguir em frente.

    O sinal não tardou a tocar e Taehyung grunhiu alto. Não queria ir para a sala e passar cinco aulas ouvindo seu amigo falar sobre como seu amante era maravilhoso, qual o gosto de seu beijo e os lugares do seu corpo por onde passou as mãos. Já era ruim o suficiente não poder fazer todas essas coisas, não queria em sua cabeça a imagem de outra pessoa fazendo isso em seu lugar. Por mais que tivesse consciência de que precisava superar tal paixão, não acreditava que sentir ciúmes era o melhor caminho para tal.

    — Ugh, acho que vou ficar por aqui… — Tae disse em um tom entediado. — Não estou nem um pouco afim de ouvir sobre a Guerra da Coreia pela terceira vez essa semana.

    — Vai matar aula, hyung? — Kookie perguntou com os olhos brilhando. Kim devia ter pensado nisso, toda vez que resolvia fugir da sala Jeon o acompanhava e passavam o tempo juntos. Sentiu-se idiota. — Vou ficar com você, então. Tchau, amor! — inclinou-se para selar os lábios de Suga, mas o mesmo desviou.

    — Amor, você não vai matar aula! — riu, abraçando o namorado quando este fez uma cara de indignação. — Você está com 67% de presença em história e precisa de pelo menos 75% para passar, não vou te deixar reprovar assim tão fácil.

    — Ah, só dessa vez, hyung? Por favor! — o maknae pediu, arrancando risadas dos outros dois. Seu pedido foi negado, porém. — TaeTae sempre mata as mesmas aulas que eu, como não tem problema de presença?

    — Por que eu fico acordado e respondo à chamada, diferente de você, idiota! — respondeu em meio a risadas, sendo xingado pelo amigo. O casal se despediu de Tae e seguiram caminho para a sala de aula de Jeongguk, já que Yoongi queria certificar-se de que o mais novo não mataria aquela aula.

    Kim ficou sozinho no pátio, olhando para os próprios pés chutando uma pedra de um lado para o outro. Sua cabeça estava nos lugares mais inusitados possíveis, sempre voltando ao pensamento de não ser bom o suficiente para o de cabelos escuros. Naquele momento parou para pensar no quão ridículo estava: não conseguia se lembrar de qual foi a última vez que usara uma calça de moletom em público, mas lá estava ele. E a jaqueta cheia de pelos de gato compunham o visual que ele mais odiava, mas vestia no momento. Deveria estar muito feio. Agradeceu por estar sozinho e ninguém poder ver como estava, seria vergonhoso.

    — Nunca pensei que te veria usando moletom. — ouviu uma voz atrás de si, virando-se e encontrando o sorriso mais radiante que poderia existir.

    — Não era o plano, mas eu estava com muita preguiça e muito frio. — riu, dando espaço para que o outro se sentasse com ele. — É bom que não conte para ninguém que me viu assim, Hobi, ou você é um homem morto.

    — Oh meu Deus! — Hoseok riu alto, não conseguindo fingir que estava com medo da ameaça do mais novo.

    Os dois ficaram conversando por um tempo sem se importar com nada. Taehyung sempre gostou muito da companhia do ruivo, uma pena que ele não estava sempre por perto. As conversas eram sempre tão animadas e alto astral, aquela não foi diferente! Em questão de segundos já havia esquecido do amigo com o namorado e das roupas ridículas que usava, estava concentrado demais em observar Jung falar sobre ter perdido sua garrafa d’água em um “flip bottle challenge”, quando a mesma rolou ladeira abaixo. Honestamente o mais novo não acreditava que ainda estavam jogando aquela besteira, mas tudo fez sentido quando se lembrou de que o melhor amigo do garoto era Namjoon — não é como se Rap Monster, como gostava de ser chamado, fosse exatamente maduro.

    Em algum momento de toda a conversa Tae começou a achar que apenas aquela jaqueta não era o suficiente para protegê-lo do frio, pois estava tremendo. Hoseok logo percebeu e abriu o sobretudo que usava, forrado por um moletom que parecia realmente quente. Chamou o mais novo para aninhar-se ali e o mesmo foi sem hesitar, e talvez aquele tenha sido seu erro, pois foi onde começou. Ou acerto, já que nada especialmente ruim aconteceria por conta daquela troca de calor corporal e um abraço aconchegante. Ali, encolhido e aquecido, Kim quis dormir e ter sonhos maravilhosos com flores e bolsas da Gucci. Fechou os olhos inspirando o cheiro do mais velho, reconhecendo a colônia como a melhor que já havia sentido. Antes de finalmente pegar no sono, porém, ouviu uma última frase.

    — Não sei por qual motivo não quer que as pessoas te vejam com moletom e jaqueta jeans, creio que nunca vi ninguém tão bonito como você está hoje. — Hobi disse, depositando um beijo no topo da cabeça de Taehyung e sentindo-o sorrir na curva de seu pescoço.

Com certeza teria sonhos bons.