História Because Of You - Capítulo Vinte e Cinco - Colar os Pedacinhos

Chapter Twenty- Five -

Eu fugi daquele lugar com lágrimas nos olhos. Eu me sentia um pedaço de cocô, insignificante. Eu consegui fazer Jungkook chorar, e não de felicidade; para depois o deixar para trás, como um covarde. Meu coração batia tão forte, e tudo ao meu redor parecia tão cinza. As ruas e as pessoas pareciam apenas um borrão. Para onde eu iria? Eu apenas fechei meus olhos com força, e tentei não pensar em nada. Se eu fechasse os olhos, eu podia ver o seu rostinho.

Eu corri, não tendo ideia para onde eu ia. Meu coração batia forte no peito, e meu estômago era atacado por borboletas. Eu só sei que depois de tanto correr, acabei parando em frente uma casinha de paredes brancas, simples. Era a casa da vovó e do vovô. Eu respirei fundo, abri o pequeno portão do quintal, passando pelo quintal florido e batendo na porta de madeira.

Não muito tempo depois, a porta foi aberta por uma senhora de olhos verdes e cabelos negros.

“Jiminzinho?” foi tudo que ouvi antes de me jogar nos braços de minha avó. Eu já estava chorando mais uma vez, e sua mão levemente enrugada, afagou meus cabelos. “O que foi, meu amor?” eu soluçava, e ela me trouxe para dentro de casa, me sentando no sofá delicadamente. 

“Vó, eu ‘tô me sentindo tão mal.” disse entre soluços. 

“Oh, meu querido-”

“Hey, senhora Santos! Eu vim aqui trazer a receita da-” minha vó foi impedida de falar. “Jimin?” Jin-hyung se aproximou do sofá, se sentando ao meu lado, sua face trazia uma expressão preocupada. “O que aconteceu, minnie?”

Eu fechei meus olhos, tentando controlar meu choro. 

“Jung-Jungkook.” sussurrei entre soluços. 

“O que ele fez?” Vovó se aproximou, e me perguntou preocupada.

“O que eu fiz.” choraminguei. “Jungkook se declarou ‘pra mim.” eu funguei. Vovó e Jin-hyung não pareciam tão surpresos como pensei que ficariam. 

“E o que há de errado nisso, Jiminzinho?” vovó perguntou, afagando meu cabelo.

“Porque eu o fiz chorar. Eu não gosto do Jungkookie daquele jeito, eu nem sei como é gostar de alguém daquele jeito.” eu sequei minhas lágrimas. Fazer Jungkook chorar, me trazia tanta tristeza.

Jin e Maria trocaram olhares significativos, como se conversassem com apenas aquela olhada. Por fim, suspiraram, e se viraram para mim. 

“Jimin, você por acaso, gostaria de corresponder os sentimentos do Jungkook?” Jin-hyung me perguntou, e abaixei a cabeça, ponderando. Se corresponder aos sentimentos traria um sorriso ao rosto de Jungkook, é claro que sim! Eu só queria o ver feliz, depois de tudo que ele fez por mim. E Jungkook era uma pessoa tão boa, me apaixonar por ele não parecia uma ideia tão ruim. Pois, por mais que eu tenha medo, eu confio em Jungkook. 

"S-sim, hyung. Eu só quero ver Jungkook feliz.” suspirei. “Mas, eu não faço a minima ideia de como essas coisas de ‘se apaixonar’, funciona.”

“Ninguém sabe, na verdade, Jimin.” Jin riu anasalado.

“Mas, se você quiser, nós podemos descrever como é estar apaixonado.” meus olhos se arregalaram. Aquilo me parecia uma ótima ideia!

“Okay.”

“Bom, tudo começa com o carinho. Se apaixonar e passar a amar alguem pode acontecer de diversas maneiras, mas você sempre sentirá um carinho muito grande por aquela pessoa, e a vontade de sempre a tocar. Às vezes a abraçando, outras em um contato mais íntimo.“ Jin-hyung começou. 

“Você se sente ansioso para encontrá-la, e seu coração acelera quando isso acontece. Você pensa nela a maior parte do tempo, e tende a fazer coisas bem estúpidas ou absurdas por aquela pessoa. Você só quer o bem estar dela, e as reações que elas exercem em você são enormes.” Maria disse com um sorrisinho, enquanto acariciava meu rosto. 

“Você quer dar carinho para ela, a fazer feliz, e a proteger do mundo se preciso.”

“Às vezes suas mãos se tornam suadas, seu coração acelerado e é como se borboletas voassem em seu estômago, quando ela está por perto.”

“Aquela pessoa parece dominar seu coração e pensamentos, e quando aquela paixão está se tornando amor, você sente que sua vida não seria a mesma sem ela.” Os dois sorriram docemente para mim, e eu me senti um pouco mais relaxado.

“Se apaixonar e amar alguém, geralmente, não acontece da noite ‘pro dia, leva tempo. E você acaba descobrindo que até os menores e mais ‘insignificantes’ detalhes, daquela pessoa, te encantam.”

“Falando assim, parece tudo muito bonito.” Jin-hyung riu, sabido. Maria olhou para si, cúmplice.

“Mas, como tudo, se apaixonar também tem os seus pontos negativos.” Maria suspirou, e meu olhar se tornou medroso. Eu estava começando achar que paixão não era uma coisa tão ruim assim, porque sempre existe um “porém”?

“Mas, eu acho que nós não precisamos os citar, neste momento.” Jin disse incerto, enquanto alternava seu olhar entre mim, e Maria. 

“Está certo,” vovó concordou. “Jimin, apenas descanse um pouco, e pense sobre isso mais tarde, tudo bem?” a mais velha, deixou um beijo na minha testa. 

[...]

Eu voltei para casa pensativo, em passos lentos e minha cabeça cheia. Eu refletia sobre tudo que aconteceu hoje, minha mente não parava. A culpa por fazer Jungkook chorar era presente, e ela me assombrava a cada passo. Como eu pude fazer isso, depois de tudo que ele fez por mim? 

Suspirei, vendo o ar quente sair da minha boca, e formar uma fumaça, no ar gelado. O inverno estava cada vez mais próximo. 

Me vi encarando as estrelas, e pensando nos olhos de Jungkook. Queria que ele estivesse aqui comigo, assim ele poderia me explicar direito o que sentia por mim. Quem sabe conseguiríamos nos acertar? Desejei um dos seus abraços quentinhos, quando uma rajada de vento frio se chocou contra meu corpo. Eu teria que parar de chorar em algum ponto, mas a solidão apenas me fez mais triste. 

No fundo, eu sentia tanto medo de todas essas sensações novas. A sensação de ser amado, depois de tanto. A sensação de se sentir seguro, e zelo. Eu sentia tanto medo de machucar Jungkook. Seu coração era frágil, e eu não queria o machucar. Mas, eu também não queria me machucar. E essa história de paixão me assustava. 

Eu já entreguei meu coração antes, e tudo que eu recebi foi ele se partindo. Jungkook não era Chung Hee, céus eles não tinham nada em comum, então porque ainda assim, eu hesitava?

O ar da noite me fazia pensativo, solitário. Vou voltar ‘pra casa.

Só que ao chegar no corredor do meu apartamento, tudo me pareceu tão deprimente. Foi aqui que Jungkook me beijou.

Foi aqui que tudo começou. 

Meu coração mais uma vez se partia, com a imagem dele chorando por minha culpa.

Suspirei, e decidi tomar uma ducha quente. Eu precisava dormir. 

Abri o registro, sentindo a água quente contra meus músculos tensos. Levei meus dedos aos cabelos, e os joguei para trás, descansando minha cabeça no mármore da parede.

Eu ouvia vozes gritar em minha cabeça, e eu só queria a paz que o abraço de Jungkook me trazia. Talvez o banho não vá me ajudar.

Me joguei na cama king size, já vestido. Marshmallow se aproximou de mim, se aninhando no meu peito.

Ela choramingou.

“Eu sei,” suspirei. “Também sinto falta dele.”

Fechei meus olhos com força, pensando em Jeon Jungkook, o cara que revirou minha vida. Pensei em tudo sobre ele. Seus olhos, sua boca, seus cabelos, sua personalidade, qualidades, defeitos, seus charmes. Eu queria que ele estivesse aqui do meu lado, sendo a doce criança que ele era, me dando abraços quentinhos. Quem sabe, até outro beijinho. Me vi rindo como um bobo, pensando em Jungkook, e me assustei. Tudo em minha cabeça gritou “Ah!”, e eu levei minha mão a boca. 

“Marshy, não pode ser.” a cadela olhou para mim, e deu um leve latido. “Eu, eu,” estava em choque. “Eu gosto do Jungkook, do jeito que ele gosta de mim.” 

Minha respiração estava desregulada, agora. Tudo girava em torno de Jungkook, aquele que me enlouqueceu. Ele me prendeu, ele me cativou. Como não pude perceber antes?

Como eu fui tão cego, e o deixei sofrer assim? 

Agora eu entendia o coração descompassado, e o nervosismo que me atingia, quando ele estava perto demais. Agora eu entendia, também, as ensinuadas de meus amigos. Acho que eu sempre fui óbvio demais, só eu que não consegui ver o quão cego eu estava.

Por mais radical e imprudente que poderia soar, Jungkook era a pessoas mais importante para mim, neste exato momento. E eu não queria perdê-lo.

[...]

“Minseok-noona?” 

"Jimin? O que está fazendo aqui?” sua voz soava gentil, mas ríspida ao mesmo tempo. Eu entendo, não fiquei magoada com ela, pois afinal de contas, eu fiz seu filho chorar.

“Eu preciso ver Jungkook.” meu tom soava desesperado demais, porém eu não ligava. Eu precisava ver Jungkook, o mais rápido possível.

“Olha, eu não sei o qu-”

“Noona, eu estou apaixonado.” Porque meu coração acelerou, tão de repente? Minha garganta arranhou. “Demorou ‘pra eu finalmente me dar conta. Mas, aqui estou eu! Eu preciso, ver Jungkook!” seus olhos se arregalaram.

“E-ele não está aqui.” suspirei.

“Pode me dizer onde ele está?” mais uma vez aquele tom desesperado se fez presente. O que está acontecendo comigo?

“Ele deve estar no aquário.” uma onda de saudades me atingiu. O Aquário foi o primeiro lugar que Jungkook me levou. 
“Muito obrigado, noona!” sorri grande, e corri para longe.

“Só tome cuidado, Jimin!”

Mais uma vez, lá estava eu, correndo pra longe da casa de Jungkook. Mas, desta vez a tristeza não me rondava, muito menos lágrimas. Eu sentia a adrenalina correr por meu corpo, e a euforia me atingir. Eu estava indo ao encontro de Jungkook, e só aceitaria voltar para casa, depois de ver um sorriso seu. 

E aqui estou eu, novamente. No Aquário do shopping COEX, prestes a encontrar Jeon Jungkook. A ansiedade apenas crescia, meus olhos procuravam uma pessoa, e uma pessoa somente. Jeon Jungkook.

Lá estava ele.

Eu reconheceria aqueles ombros largos, cabelos presos pela toca de frio, e piercings nas orelhas em qualquer lugar. Ele encarava o tanque de peixes, com um olhar um pouco melancólico.

Não faça isso com o meu coração, Jungkook.

Eu me aproximei lentamente, passos incertos, talvez até demais. Quando estava por trás de si, enlacei sua cintura, colando suas costas em meu peitoral e tronco. Minha cabeça descansou no meio de suas costas. Ele não moveu um músculo, já sabia que eu estava ali. 

Minhas mãos desceram por seus braços, e encontraram sua mão cumprida. Nossos dedos se encaixam tão bem. Ele soltou um suspiro.

“Podemos conversar?” perguntei, minha voz ainda abafada pelas suas costas.

“Claro.” 

Segurei sua mão com firmeza, e o guiei até uma parte não populosa do Aquário. Ele apenas me seguiu de cabeça baixa. 

Nos encaramos, olho no olho.

“Sobre ontem," eu comecei. "Me perdoe.”  soltei um grande suspiro.

“Não usei as palavras certas. Acho que eu só estava em choque.”

Jungkook também suspirou.

“Me perdoe também, por ser tão frouxo. Eu devia ter tomado alguma atitude, ter ido atrás de você. Não ter chorado como uma menininha.” seu olhar encontrou o chão. “Eu ainda estou aprendendo a lidar com essa coisa de gostar de você, e tal.” eu abri um sorrisinho.

“Acho que está tudo bem, é tudo novo 'pra mim também." ele abriu um sorrisinho. "Depois que eu saí correndo, eu fui ‘pra casa da minha vó. Ela e Jin me abriram um pouco os olhos.” balancei nossas mãos, que ainda estavam entrelaçadas, de um lado para o outro. “Jungkook-ah,” ele levantou o olhar. “Você pode me beijar, de novo?” seus olhos se arregalaram.

“Co-como a-assi-”

"Só me beije.” 

Sentir seus lábios sob os meus mais uma vez, foi uma alívio. Minhas velhas amigas, borboletas, voavam e dançavam por me estômago, quando Jungkook enlaçou minha cintura, e nossos troncos se chocaram. Meus olhos se arregalaram levemente, quando senti sua língua húmida tocar meus lábios. Seguindo um instinto, separei meus lábios, e arfei ao sentir sua língua em contato com a minha. Agora sim eu entendia porque Yoongi e Hoseok se beijavam, tantas vezes. Aquilo era maravilhoso.

Eu não tinha experiência alguma, mas seguia o que Jungkook fazia. Ah, eu não queria que aquilo acabasse! Mas, o ar nos fez falta, e nossos lábios se separaram. 

Tenho certeza que minhas pupilas estavam dilatadas, como as de Jungkook quando o encarei. Seus lábios estavam vermelhos, e ele parecia levemente ofegante, buscando por ar de uma maneira disfarçada e discreta. 

Eu beijei meu dongsaeng, de novo, e eu tinha adorado.

Olhando para os olhos de Jungkook, que brilhavam como as estrelas de ontem, eu sorri. Já não me restavam dúvidas, eu estava apaixonado por ele.

“Jungkookie, eu estou com medo.” enterrei meu rosto em seu peito, sentindo seus braços me envolverem.

“Porque, Minnie?” suas mãos afagaram meus cabelos, eu sentia seu coração bater forte e rápido no peito. Ele estava como eu.

“Porque eu gosto de você,” olhei para cima, vendo seus olhos levemente arregalados.”E eu não quero te machucar, ou me machucar.” sua reação a seguir, me prendeu o ar. Ele sorriu, charmosamente, como podia ser tão bonito? Aquele sorriso colou todos os pedacinhos de meu coração partido.

“Não se preocupe, Jimin. Seria uma honra ter meu coração quebrado por ti.” selou minha testa com seus lábios. “E se no fim, nossos corações acabarem se despedaçando, nós vamos colar os pedacinhos, juntos."