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História Before... - A vida é cor


Escrita por: naalisaiph

Notas do Autor


Eu não tô nem acreditando que eu tô fazendo isso, meu deus kkkk

Mas enfim, eu voltei a escrever Before...

Provavelmente ninguém mais se lembra dessa fanfic e deve estar pensando "mas quando que eu favoritei isso daqui?". Faz cerca de um ano e meio que eu abandonei ela e nesse meio tempo muita coisa aconteceu no NeoCity e na minha vidinha de ficwriter.
(Aliás tô esperando colocarem a categoria UNB no SS).

Eu peço milhões de desculpas por todas as vezes que eu prometi voltar logo com Before, maaaas, eu demoro mas eu cumpro.

Uma das decisões importantes que eu tomei nesse tempo foi reescrevê-la todinha. Muita coisa PRECISAVA ser revista e, infelizmente ou felizmente, ela se tornou um pouco mais pesada do que era antes (vocês nem devem lembrar como era antes né? Mas beleza). Isso só ficará mais evidente daqui alguns capítulos. Apesar de ter muita coisa para melhorar, acho que consegui progredir bastante e torná-la uma história um pouco melhor do que era.

*E atenção especial para a capa nova que tá pronta há quase um ano pronta.*

Eu ainda estou com dúvida se devo mesmo voltar, mas vou me esforçar para terminá-la. Não vou estipular um tempo, mas vou dar meu máximo para conseguir.


PS.: Eu salvei todos os comentários que tinham sido deixados e vou guardá-los com muito carinho (mas pode comentar de novo não tem problema).

Capítulo 1 - A vida é cor


A vida é cor.  

A vida é a falta de cor.  

A vida é a morte.  

E a morte é a vida.  

Em um suspiro sôfrego o mundo se parte ao meio.  

Porque o mundo é a tinta.  

E a tinta é o sangue.  

E o mundo é sangue e dor.  

Dor em todo meu corpo.  

Meu corpo que não se move.  

Porque o movimento é o mundo e o mundo é sangue e dor.  

E barulho.  

Muito barulho.  

São gritos ao meu redor.  

É a pessoa sem rosto que pergunta se estou consciente e se estou bem, que chama mais alguém para ajudá-la a me tirar dali. E as duas pessoas mexem em meu corpo com cuidado.   

E eu quero pedir que pare.  

Mas não posso.  

"Por favor, pare, isso dói"  

Mas nenhuma palavra sai da minha boca. Porque eu não tenho força. Porque sei que elas têm que fazer aquilo.  

E tudo é tingido de vermelho.  

Porque o vermelho é o sangue.  

E o sangue é a tinta.  

E a tinta é o mundo.  

E meu mundo entrava em colapso em um suspiro doloroso.  

 
 

Eu já tinha me acostumado com tudo naquele hospital. A rotina quase religiosa e muito precisa, os corredores todos iguais, os funcionários, o ar sempre gélido. Estava tão acostumado que não sentia mais medo de lá, só sentia um desespero no fundo do peito, mas nada perto do que senti meses antes. 

Encarei o espelho por um minuto completo. Minhas roupas vestiam mais largas do que antes. Fazia um bom tempo que não as vestia. Era esperado que eu estivesse mais magro, mas não tinha notado a diferença até então. Parecia que aquelas roupas eram de outra pessoa. Tentei não reparar o quanto eu mudei, nem no que eu mudei. 

Olhei para minha mãe que tinha um sorriso no rosto. Um sorriso aliviado, feliz, esperançoso. Afinal, a tempestade tinha passado de vez, estava tudo bem agora, a vida volta ao normal e pronto. Não consegui retribuir o sorriso, apenas me voltei para minhas coisas, ajeitando o que já estava arrumado apenas para não olhar para minha mãe. 

Só tinha que esperar meu médico para me dar a alta, depois disso poderíamos ir embora.   

— Isso tudo vai ficar para trás, filho — disse meu pai muito satisfeito.  

Não ia ficar tudo para trás. Era impossível. Eu ainda teria as poucas sequelas, teria que voltar algumas vezes para o hospital para exames e check up para saber se estava tudo bem e principalmente ainda teria os pesadelos para que eu não esquecesse nem um pouco daquilo tudo.  

Tinha me livrado de todos os médicos que precisei por todo esse tempo. Cardiologista, neurologista, ortopedista, fisioterapeuta, psiquiatra. Não precisava mais ser vigiado de perto, não precisava mais ficar naquele lugar. Teria que fazer visitas ao cardiologista de seis em seis meses, só precisaria ver o neurologista uma vez por ano e se tivesse alguma dor forte na cabeça ou algo anormal acontecesse, o ortopedista disse que uma visita há cada três meses durante o primeiro ano e depois uma vez por ano era mais do que o suficiente, uma vez por mês na fisioterapia e exercícios em casa garantiriam que as poucas sequelas fossem amenizadas com o tempo. Bom, o psiquiatra era um problema. Ele não queria me liberar e achava que deveria permanecer por mais duas semanas na ala psiquiátrica, apenas por segurança, mas após mais uma avaliação cuidadosa e verificar que todos os remédios eram eficazes, fui liberado, com a condição de que compareceria em consultas regulares, uma vez por semana com um psicólogo e uma vez por mês com o psiquiatra. Eu não tinha porquê reclamar disso, não era como se eu tivesse em algum momento tido a ilusão que tudo ficou realmente para trás. 

 O médico entrou com um sorriso e parou ao lado da minha mãe e do meu pai que esperavam mais ansiosos do que eu por aquele aval.   

— Hansol, — começou tirando um papel de uma pasta e me entregando — Está liberado. Pode ir para a casa.  

E pela primeira vez eu tive medo diante dessa ideia. Eu tive medo de ir para casa. Minhas mãos tremiam quando peguei aquele papel que me dava liberdade, olhei para as palavras sem lê-las.   

"Uma vida nova" disseram.  

Mas eu queria minha vida antiga. Minha doce e tediosa vida de antes. Tudo era normal e bom. Então, eu chorei e para todos naquele quarto era de felicidade. Era medo, saudade do que eu jamais teria novamente.   

— Você foi muito forte e precisa continuar sendo — disse o médico. 

E eu assenti depois de me acalmar. O médico me abraçou e me desejou boa sorte. Era a palavra que eu mais ouvia durante aquele tempo. Sorte. E todos diziam que eu a tinha, mas então porque não sentia que eu era sortudo? Me sentia o mais azarado de todos. Como podiam achar que eu tinha sorte? Como poderiam dizer que Deus era maravilhoso depois de tudo? Minha mãe sempre dizia... O tempo todo... Para as enfermeiras, médicos, auxiliares... Qualquer pessoa... 

"Deus operou um milagre na vida do meu filho. Deus é justo e salvou meu menino." 

E por mais que tentasse, aquilo de forma nenhuma era justo para mim. 

O dia era quente demais. Entrei no carro e tomei os remédios que me faziam dormir por duas horas e nem uma guerra poderia me acordar. O caminho era longo pelo o que conseguia lembrar. O psiquiatra achou bem mais prudente que eu dormisse durante a viagem, já era tudo muito conturbado e mais movimentado do que eu tinha me acostumado, era melhor não ter surpresas, era melhor eu não me ver dentro de um carro em movimento.   

— Você vai voltar a morar conosco, Hansol — disse minha mãe quando o médico citou pela primeira vez que eu poderia ganhar alta.  

— Quero ir para casa. Para minha casa.  

— Não vamos te deixar sozinho naquele apartamento — disse meu pai — Você vai precisar de cuidados por algum tempo ainda. Quem sabe no futuro?  

E eu entendia a preocupação deles apesar de não aceitar.   

Acordei com minha mãe me chamando para subir. Minha irmã esperava na porta com um sorriso grande e veio correndo até mim me abraçando com força, começando a chorar em seguida.  

— Oppa, você está bem, não é? Não vai mais ficar no hospital.  

— Eu estou bem agora, Joohyun.   

Joohyun tinha apenas oito anos. Eu lembro de ter levado minha irmã para tomar sorvete uma semana antes de tudo acontecer e agora ela parecia tão maior que me assustei. Mais alta, os cabelos em um corte diferente, até sua voz parecia diferente do que eu lembrava. Meus pais não deixaram que ela fosse no hospital durante todo aquele tempo, o único contato que tivemos foram telefonemas rápidos quando comecei a melhorar.   

Minha irmã me acompanhou saltitante até meu quarto no último andar. Subir as escadas não foi tão fácil e, hora ou outra, ela se virava para mim não entendendo porque eu demorava tanto. Havia algumas caixas lá, coisas do meu apartamento. Depois de perguntarem pela décima vez se eu estava bem e deixarem minhas coisas no quarto, os três saíram fechando a porta. Tudo estava o mais arrumado possível, apesar das caixas no canto do quarto.   

Eu odiava o silêncio, eu odiava o calor, eu odiava não saber o que fazer, eu odiava estar ali. E mais do que tudo eu odiava o vazio no meu peito. Eu sentia que não conseguia fazer nada, eu não conseguia voltar. Fiquei um bom tempo deitado na cama tentando colocar qualquer pensamento em ordem. 

 

 

No começo da semana, minha mãe foi comigo até o terapeuta que foi recomendado. Antes de entrar pela porta de madeira na sala, minha mãe sorriu para mim e disse que tudo ficaria bem. Eu me lembrei do meu primeiro dia de aula que ela fez o mesmo. Eu era um garotinho tímido e que não conseguia falar mais de duas frases com as pessoas, ela sabia disso e sorriu para mim para me dar confiança. Então, naquele momento, eu retribui o sorriso antes de entrar no consultório.   

O consultório era diferente do que eu tinha imaginado. Não parecia um consultório médico, era uma sala normal. Na sala havia uma poltrona maior, uma menor e um sofá com almofadas listradas de branco e azul marinho. Uma estante na outra parede com pastas de arquivos bem organizadas, livros e um monte de miniaturas de esculturas, um pote de balas e maquina de café esquecida.  

— Pode sentar onde quiser — ele disse fechando a porta, depois indo até o celular só para checá-lo e desligá-lo, colocando na estante.  

Deduzi que a poltrona grande era a dele, a poltrona menor parecia mais distante e ele poderia interpretar que queria me afastar (o que não era mentira) então sentei no sofá, um pouco mais próximo da poltrona grande na qual ele se sentou depois.    

Ficamos em silêncio por um tempo. Eu tive sessões com meu psiquiatra e nosso começo não foi assim. Eu estava sem falar desde que tinha acordado depois de tudo. Quando eu já tinha capacidade de falar e os médicos tinham certeza disso, ele apareceu. O psiquiatra entrou com cuidado no quarto e sentou na poltrona ao lado do meu leito e quando percebeu que eu não responderia, ele começou a falar e agia como se eu estivesse respondendo. Ele conversava comigo sobre qualquer coisa e eu não dizia nada. Toda semana ele voltava e contava seus problemas, sobre sua adolescência, sobre seu trabalho e os colegas que gostava ou não.  

— Acho que minha filha tem uma namorada. O que eu faço se ela tiver uma namorada?  

— Convide a namorada da sua filha para jantar — respondi com a voz fraca e rouca pelo desuso. Era estranho escutar minha própria voz. 

Ele não se demonstrou surpreso por eu falar pela primeira vez desde que começou a ir até lá.  

— Não, não. Jantares são formais, talvez possamos ir em uma confeitaria. O que você fez quando conheceu os pais da sua primeira namorada?  

— Namorado. Eu já os conhecia antes de namorarmos. Foi meu primeiro e único namorado.  

— E o que aconteceu com ele?  

— Ele foi embora.  

O barulho da garrafa de água batendo na mesinha de centro me tirou dos meus pensamentos e voltei a prestar atenção no lugar onde eu estava. Sala do psicólogo em um silêncio horrível.   

— Como quer começar? — perguntou.  

— Como deveríamos começar? — perguntei.  

— Meu nome é Moon Taeil — disse ele.  

— Ji Hansol. Você conheceu meu psiquiatra, não é?  

— Ele é meu amigo. Falou muito de você, Hansol.  

— Então sabe o que aconteceu comigo? — ele assentiu.  

— Mas quero escutar de você. Estamos no ponto zero, Hansol, então me diga o que aconteceu com você.  

 

 

Meus pais ficaram surpresos quando toquei no assunto de voltar a estudar um mês depois de sair do hospital. Acho que ninguém imaginava de que ponto eu retomaria, nem eu sabia direito.   

— Não é muito cedo, Hansol? — perguntou minha mãe.  

— Eu preciso voltar para minha vida, não é o que todos dizem? Meu psicólogo acha que é uma boa coisa.  

Eu começava a me entender com Taeil. Ele era calmo demais, diferente de mim que quase entrava em desespero toda vez que sentava naquele sofá esperando que ele perguntasse sobre como eu me sentia em relação aquele tempo no hospital. Mas Taeil nunca perguntava. Toda semana ele perguntava sobre como os últimos dias tinham sido e ele deixava que eu falasse de qualquer coisa, como no dia que eu fiquei irritado com tudo e comecei a chorar no meio da cozinha. Quando eu só pude contar superficialmente o que aconteceu comigo, ele não me pressionou. Então quando eu disse que talvez devesse voltar a estudar e ter minha vida de antes, Taeil me olhou sério.  

— Você não terá sua vida de antes, Hansol. Isso é óbvio. Você pode voltar a fazer as coisas de antes, mas nunca mais será como era. Se quer começar de novo, acho que é uma boa voltar para sua faculdade. Vá em frente. Você pode fazer o que quiser.  

Isso me assustou. Muita liberdade começava a me assustar.  

Assim que o dia começou fui para minha antiga faculdade. Eu estava preparado. Eu tinha que estar. Tudo parecia como antes. Absolutamente. Eu fui para a reitoria ignorando o sentimento de nostalgia que tomava conta de mim e ao mesmo tempo olhando em volta para não ter que cruzar com alguém conhecido. Encontrar alguém que eu conhecia poderia gerar perguntas que eu não queria responder. 

Preenchi os papéis, peguei a lista de documentos necessários para que eu pudesse voltar a estudar de onde parei.   

Eu saí daquela sala um pouco mais animado. Era um começo então queria dizer que eu estava superando tudo. Eu estava seguindo em frente como pediam que eu fizesse. Saí de lá e meus passos fizeram o caminho já conhecido, era perto. A música nos fones de ouvido me distraía enquanto eu andava cada vez mais rápido até quase correr. Meus pés subiram desajeitados aqueles degraus. Minhas mãos abriram trêmulas aquela porta com a chave que ainda estava entre todas as outras. E eu estava em meu apartamento com uma nuvem de lembranças me abraçando.   

Meu apartamento.  

Nosso apartamento.  

— Eu não quero que a parede seja verde. Vai ficar feio — eu disse enquanto nós dois estávamos sentados no chão da sala e olhávamos o catálogo de cores, anos atrás.   

— Não diga besteira. Vai ficar lindo — ele disse animado.  

E a maldita parede era verde porque ele me convenceu a pintar daquela cor, mas eu tinha gostado e ele riu de mim quando admiti aquilo. Eu sentei no chão, com uma dor insuportável na perna sendo ignorada, olhando para aquela parede. E as lágrimas começaram a cair sem que eu controlasse qualquer uma delas.  

Meu celular tocou. Meus pais me forçaram a levá-lo para qualquer emergência. Eu não o usava há mais de um ano então me assustei com o toque.   

— Oi, Hansol — a voz me paralisou.   

— É você?  

— É lógico que sou eu, seu idiota. Você finalmente saiu do hospital! — sua voz era animada.  

— Você foi embora... Você me deixou...  

— Eu sei, eu sei. Abre a porta, Hansol — ele falava ansioso entre um riso harmonioso. 

Aquilo era uma brincadeira de mau gosto, mas do mesmo jeito abri a porta do apartamento. E lá estava ele com aquele sorriso que eu amava e senti tanta falta. Eu estava ficando louco. Eu definitivamente estava ficando louco.   

— Olá, Hansol.   

— Yuta... 


Notas Finais


Eu tô até emocionada kkkk


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