02 de dezembro de 2016 – 03h32 AM
Naquela sala só restou Taehyung e o eco assustador das portas se batendo.
O garoto sentia perfeitamente o vazio que a saída de Jungkook havia provocado, tanto no ambiente quanto em seu coração. Costumava ficar um caco com acontecimentos desse gênero, tão mal a ponto de jogar a culpa do mundo inteiro nos próprios ombros, embora fosse inocente.
Em meio ao conflito interno, deixou um suspiro pesado escapar.
Ficava pensando o que era preciso fazer depois de uma situação dessas. Quer dizer, é claro que ultimamente discutir com Jungkook havia virado parte da rotina – e isso era definitivamente uma droga. No entanto, nunca antes haviam se excedido a ponto de apelar para o uso de palavrões ou chamar a atenção dos outros. Costumavam ser discretos em tudo. Então, considerando os estragos provocados, qual seria a gravidade deste ocorrido?
Taehyung sabia que não deveria ir atrás do namorado. Precisava de um tempo sozinho para pensar um pouco, e não devia ser o único. Ir atrás dele só serviria para piorar as coisas, portanto descartou a opção. Decidiu que esperaria o calor do momento passar e só depois tentaria conversar melhor com o mais novo. Afinal, ainda estavam em um evento importante. Apesar dos pesares, precisavam agir naturalmente agora.
Seokjin adentrou a sala em passos largos, fazendo Tae sobressaltar do sofá onde ainda permanecia inerte. Rap Monster apareceu logo em seguida.
– Pode me explicar o que aconteceu, Taehyung? – era Namjoon falando.
– Eu estava no meio de uma gravação quando ouvi as portas se batendo e Jimin tentando entrar no banheiro pra consolar o Jungkook. O que houve? – Jin demonstrava preocupação, enquanto Namjoon permanecia tenso.
– Diga logo, Taehyung! – pediu impaciente o líder.
O mais novo entre eles levantou-se, mas manteve o olhar perdido no chão.
– Jungkook e eu nos desentendemos. – confessou frustrado – Eu tentei evitar isso, mas não foi possível. A culpa foi toda minha. Desculpa.
– Ah, Tae! Porque vocês precisam brigar tanto? – Seokjin se aproximou com o intuito de acolher o outro Kim carinhosamente em seus braços. Era visível a tristeza naquele olhar e Jin soube que precisava agir.
– Estamos prestes a viver um momento histórico em nossas carreiras, caso recebamos este prêmio, e vocês dois inventam de brigar. Logo aqui! – Rap Monster sentia-se na obrigação de tomar sua posição como líder. Costumava ser compreensivo sempre, mas não podia admitir certas coisas. Essa era uma delas. – Tinha um monte de câmeras lá fora e agora o manager tem que dar um jeito de apagar as cenas do surto de Jungkook. Ele está uma fera! Pode esperar pelas consequências disso, ouviu V?
– Ah, hyung! Eu já pedi desculpas. – a voz falhava pelo desespero. As últimas palavras ouvidas não foram nada agradáveis. O remorso só se multiplicou. – Aish, porque o Jungkook tem que ser tão impulsivo?
– Não diga essas coisas a ele, Namjoon! – repreendeu o mais velho, logo após voltando sua atenção a Taehyung – Não se preocupe, Tae. Vai dar tudo certo. Nós vamos resolver os mal-entendidos. Seja forte, okay?
– Tudo bem, hyung. Obrigada. – agradeceu.
Rap Monster observou o dongsaeng e tentou soar mais calmo ao dizer:
– Taehyung, não tente falar com ele, tá bem? Deixe-o sozinho por um tempo. E lembre-se de que ainda estamos em um evento, precisamos agir legal, como se nada disso tivesse acontecido. Você acha que consegue?
– Claro. Mas não posso responder pelo Jungkook.
– Não se preocupe. Eu estou indo agora mesmo resolver essa questão. – comunicou, dando uns tapinhas nas costas de Tae antes de sair – Fighting!
...
Inevitavelmente, os garotos voltaram lá pra cima. Ocupando novos assentos dessa vez, mantinham os olhos fixos nas últimas apresentações do dia. Quando estas terminassem, automaticamente seria feita a anunciação de diversos prêmios, inclusive o de artista do ano.
Sentados em extremidades opostas, Taehyung vez ou outra tinha uma visão de Jungkook. Havia percebido que ele continuava inquieto, remexendo o corpo sempre que possível, brincando com os dedos, movendo os lábios sem precisão, além de executar algumas de suas manias provenientes do nervosismo. O conhecia bem o suficiente para saber que o mais novo esteve chorando a pouco, e isso o afligia.
Como de costume, tentava se distrair assistindo os shows e se divertindo com eles, mas essa deixou de ser uma tarefa simples quando o maldito MPD chegou para ocupar o lugar ao lado do maknae.
A partir daí foi como se os problemas de Jungkook tivessem ido embora repentinamente, já que um sorriso logo cresceu em seus lábios, seguido de gargalhadas audíveis.
Talvez fosse proposital a maneira como o Jeon aproveitava o ataque de risos para tocar a coxa do homem ao seu lado, fazendo questão de exibir indiretamente o semblante divertido e iluminado na direção do Kim.
Taehyung entendeu o recado. Entendeu que Jungkook estava bem, com ou sem sua companhia, independente da briga que acabaram de ter. Sabia que as interações exageradas da parte do outro com o MPD serviam como lição. Dez minutos atrás estava reclamando sobre os ciúmes do namorado, e agora o próprio podia sentir o desconforto causado por este sentimento.
Irônico.
Admitia que fosse horrível ver a situação se inverter e definitivamente tomaria isso como um aprendizado, mas primeiro daria um jeito de arrumar aquele contexto. Assistir calado estava se tornando uma tortura.
Dessa forma, induzido por um impulso, Taehyung deixou o seu assento e caminhou apressadamente para o lugar mais perto de Jungkook, ao lado do MPD. Os olhares dos companheiros de grupo logo recaíram sobre si, cientes do que acontecia. Taehyung estava claramente descumprindo o acordo de manter-se distante do Jeon, mas não restava outra opção.
Precisava cuidar do que ainda lhe pertencia.
Todavia, os esforços de tentar falar com o mais novo iam por água a baixo, pelo simples motivo do homem com uma esfera na cabeça não dar trégua.
Jungkook fazia questão de voltar toda sua atenção àquela criatura, esnobando Taehyung de propósito, deixando o garoto desolado, cheio de sentimento de derrota, arrependido de ter se deslocado até ali.
Kim esperou até que a apresentação dos meninos do EXO tivesse fim para que pudesse retornar ao antigo lugar ao lado de Seokjin. Estava se sentindo meio triste e perdido naquela situação, e achou que continuar naquela posição não ajudaria em nada, portanto decidiu fazer companhia ao hyung mais velho, passando um braço por cima dos seus ombros e cochichando besteiras em seu ouvido, as mesmas sendo retribuídas.
Estava se sentindo mais relaxado agora, além de finalmente vingado.
Havia aquela necessidade infantil de competir, de mostrar quem era o melhor até mesmo nas piores situações. Jungkook persistia fazendo isso usando o MPD, enquanto Taehyung usava Jin para os mesmos fins.
O mais novo sentia-se deprimido presenciando a cena bem a sua frente, e não era como se Taehyung não notasse o olhar tristonho sobre si. Refletir a respeito disso servia apenas para deixar o Kim ainda mais entristecido.
Por sorte o show do convidado especial, Wiz Khalifa, não tardou a começar.
Alguns minutos antes, Jungkook havia se retirado, talvez para ir ao banheiro, e Tae pensou que definitivamente eles estavam num tipo de jogo sobre quem melhor pagava na mesma moeda. Entretanto, não queria mais jogar. A noite já havia passado de todos os limites da provocação e agora só queria que terminasse logo. Estava exausto.
Ainda assim conseguiu aproveitar o show, movendo o corpo ao som de See You Again. Para o seu alívio Jungkook não demorou muito a voltar. Certamente tinha ido apenas ao banheiro, sem intenção de perder tempo conversando com – ironicamente – alguns amigos.
Entretanto, retornou direto para o lado do MPD insistente, que fazia questão de gravar todos os ângulos do maknae. A essa altura o humor do Jeon havia melhorado um pouco, permitindo até mesmo que executasse dancinhas desajeitadas, quais eram registrada por uma pequena câmera.
A tensão foi retomada pouco depois, quando uma moça segurou o microfone para anunciar o vencedor do prêmio mais aguardado da noite.
Os garotos sentaram para ouvir com atenção. Cada um deles uma pilha de nervos, temendo não receber algo pelo qual lutaram tanto.
A mente de Jungkook percorria outros universos e voltava depressa. Talvez ainda não acreditasse que estava prestes a receber algo tão grande. Contudo, diferente dos seus hyungs, o mais jovem tinha confiança e positividade de sobra pra saber que sim, eles receberiam aquele prêmio.
Costumava imaginar o momento diversas vezes antes de dormir, um passo importante para o futuro do grupo, mas nunca imaginou que seria assim.
Quero dizer, assim, brigado com Taehyung.
O esperado é que estivesse ao lado do Kim nessa ocasião, sorrindo com ele, o abraçando, compartilhando a felicidade. Porém, as coisas haviam saído do controle, e não era como se estivesse orgulhoso disso.
Da parte do Jeon, não houve surpresa ao ouvir a tal moça comunicar:
– Bangtan Sonyeondan! – como vencedores de artista do ano.
Ele já sabia. Não era pretensão ou questão de se achar melhor que os outros ali. Longe disso. O caso é que acreditava em si mesmo, no potencial que cada um dos sete tinha – algo que se tornava ainda mais poderoso quando se juntavam. Acreditava no esforço, nas horas brutas de ensaios, nas costas doloridas após se aventurar em cabos no ar, e no amor dos fãs.
Precisou de um tempo para levantar-se, o sorriso imenso no rosto, sem sobrar espaço para remorso ou tristeza, apenas a felicidade fluindo. Os gritos e palmas ensurdecedores davam certeza de que nada fora em vão.
Juntaram-se em um circulo para que pudessem dar um abraço em conjunto. O corpo de Taehyung agora próximo demais ao do Jeon, silenciosamente dizendo que dariam uma trégua, que deixariam de ser egoísta, pensando apenas em si mesmos, e lembrariam que aquele era o momento do grupo como um todo, assim como de todo o fandom.
Caminharam determinados, com o ar de vencedores que deveriam ter, até o palco. Curvavam-se inúmeras vezes em agradecimento a todos que estavam ali para apoia-los, e só então formaram uma fila organizada junto ao microfone, onde Rap Monster faria o seu discurso, já com o tão cobiçado troféu em mãos. Os gritos quase não o deixaram prosseguir.
Jungkook parou por um só instante para analisar tudo. A aclamação do público, o prêmio que tanto almejaram, um sonho realizado.
Pensou que, sem o amor dos seus fãs, nada disso estaria acontecendo.
Então, o garoto que amava, deixando a boca entreaberta daquele jeito que bem conhecia – uma atitude involuntária em ocasiões que o surpreendesse – posicionado há um ou dois corpos de distância.
Reconhecia que, se o deixasse escapar, nada disso faria tanto sentido.
Cada detalhe começou a se encaixar naquela pobre mente fragilizada e não conseguiu mais segurar o choro. Sentiu a vontade chegando sem pedir permissão, fazendo os olhos umedecerem e a visão embaçar.
Permitiu-se olhar mais uma vez para o dono da sua confusão, Taehyung, e inclinou o corpo pra frente, rendido por completo ao choro e as lágrimas.
Estas caiam sem piedade pelo rosto, e Jungkook sabia que não devia ser o único em prantos do grupo, mas tinha certeza de que era o único que vivia um turbilhão de sensações. Felicidade, orgulho, tristeza, remorso, o que passou e o que ainda estava por vir, tudo se juntava, fazendo-o desaguar.
As lágrimas não eram planejadas, de fato, mas se já estava tão vulnerável gostaria que Taehyung visse e percebesse que os seus sentimentos eram mais do que a besteira considerada por ele. Tudo em si era vívido, intenso e queria que ele tivesse consciência disso antes de pisar em seu coração.
Portanto, ao se juntarem em outro abraço em equipe, Jungkook fez o possível para tocar Tae, a fim de ter a atenção deste voltada para si. Tentou de tudo, até passar o braço por cima dos ombros de Jin numa tentativa de alcança-lo, mas não deu certo, então desejou ir embora.
Ainda fragilizados e muito emocionados, após dar uma entrevista para as câmeras responsáveis pelo Bangtan Bomb, os garotos voltaram aos seus devidos lugares para que pudessem finalizar o evento.
Jungkook tomou a garrafa das mãos de Namjoon e bebeu uns goles de água. Até queria, mas sabia que seria impossível manter-se focado em qualquer coisa que ainda estivesse acontecendo no palco do MAMA.
A persistência do sentimento de frustração e desapontamento o perturbava. As palavras ditas naquela sala no momento de discussão ecoavam em sua cabeça como um mantra assustador, e a vontade de chorar vinha forte.
Tentou se controlar como podia, porque sabia que não seria legal chorar tanto assim. Ninguém chora de emoção durante tanto tempo, certo? Então fez o possível para contornar os próprios sentimentos.
Estava se saindo bem, até virar a cabeça para o lado e vislumbrar a imagem de Tae. E foi tão doloroso! Parecia que ele não estava dando à mínima, plenamente tranquilo, enquanto o Jeon transbordava tormento.
Dessa forma, virou a cabeça para o lado oposto, depressa, como se estivesse fugindo. As lágrimas voltavam a preencher seus olhos, o peito apertado, consumido por um medo terrível de realmente perder tudo o que construiu junto a Taehyung até agora.
Talvez essa fosse a sua maior e eterna preocupação, a de precisar se afastar definitivamente do namorado. Os ciúmes era só uma confirmação de que detestava a ideia de perdê-lo, de ter que abrir mão desse amor. Doía só em que ter que pensar.
À medida que os pensamentos desse gênero surgiam, a vontade de chorar persistia, a ponto de precisar reprimir as lágrimas. O garoto brincava com os próprios dedos e até mesmo batia algumas palmas a fim de dispersar as ideias, mas era torturante. E só ficou pior quando uma maldita câmera o enquadrou, fazendo-o sentir ainda mais pressionado, vigiado.
Sentindo-se sufocado, Jungkook se permitiu chorar novamente. Por algum motivo achou que seria vantajoso fazer isso com o foco da câmera em si, assim sua imagem apareceria no telão, Taehyung veria e finalmente se daria conta de que cada lágrima derramada era por ele, por culpa dele.
Preocupados, porém ciente dos motivos, os membros sentados por perto consolaram o maknae. Os distante apenas observaram de longe, esperando que tudo ficasse bem.
Taehyung se sentiu duplamente mal ao vê-lo naquele estado, logo soube que era por sua causa, mas não fez nada. Suas mãos estavam atadas.
O evento teve o fim concretizado com uma chuva de confetes. Os garotos desfilaram pelo palco, agradecendo ao público e comemorando entre si.
Hoseok puxou Jungkook para um abraço, este que ainda chorava e por esse motivo apresentava um rosto inchado. Taehyung passava por perto no momento e desejou poder toca-lo daquela mesma forma, mas se limitou, sentindo o olhar penetrante do mais novo em si.
Acabou que o líder fez questão de juntar os sete em mais um abraço grupal, mesmo que contra a vontade de alguns. Namjoon ambicionava ter uma conversa particular com Taehyung e Jungkook desde o instante em que percebeu que a desavença deles começava a ressair para as câmeras. Para ele, era nítido que as lágrimas do Jeon eram de sofrimento.
Jungkook aproximou-se do circulo como se estivesse sendo forçado. Avistou a mão de Tae pousar no ombro de Suga e a vontade de toca-la o consumiu. Precisou se controlar de verdade para não fazer isso.
Rap Monster o puxou para mais perto, agora o corpo dos sete pressionando uns aos outros, esperando o que tinha a ser comunicado.
– Jungkook – começou Namjoon – Você tem que parar de chorar. Se resolva com o Taehyung e ajam naturalmente, por favor, antes que alguém acabe percebendo a tensão que há entre os dois.
– Tudo bem, farei isso. – garantiu.
– Nós já estamos resolvidos. Certo, Jungkook? – Tae quis se certificar.
– Certo. – assentiu meio a contra gosto, curvando-se ligeiramente em direção ao mais velho.
O debate disfarçado de abraço se dispersou e cada um fora para um lado, uma vez que já estavam conversados. Acenos passaram a ser direcionados aos fãs, a atenção sendo voltada a eles agora, além dos outros grupos que começavam a se aproximar para parabeniza-los pela conquista.
Taehyung já queria fazer isso há um tempo, então aproveitou a oportunidade e vulnerabilidade de Jungkook para abraça-lo. Certamente pegou-o de surpresa, porque este pareceu desprevenido, além de embaraçado. De qualquer forma, fez questão de pedir-lhe baixinho:
– Pare de chorar!
Inegável que o Jeon fizera aquilo meio que a contra gosto, mas nada o impossibilitou de sentir o peito se aquecer com o toque. Foi preciso força de vontade para conter o sorriso satisfeito do rosto, por isso tratou de findar o contato rapidamente e sair marchando dali, para que não fosse flagrado sendo um bobo apaixonado.
Os ciúmes voltavam a aparecer para Jungkook sempre que presenciava o namorado abraçando caras quais não conhecia, mas que ainda assim pareciam ser íntimos demais do Kim. Entretanto, decidiu ignorar. Problemas era tudo o que não precisava agora.
Foi só durante aquela entrevista para o Bangtan Bomb que Jungkook se deu conta de que não estava mais chateado. Não queria nem mesmo pensar em brigas ou em ciúmes, ou em qualquer coisa que ameaçasse o seu namoro. A cada virada de cabeça a fim de encontrar os olhos de Taehyung – pouco se importando com as câmeras –, Jungkook tinha certeza de que o que realmente importava era tê-lo por perto, o abraçando como minutos atrás. Era tão bobo por aquele Kim, apaixonado em proporções gigantescas, a ponto de permitir que ele alterasse todo o seu humor.
Mais do que um prêmio de fato, ele tinha o seu V hyung, e esse já era o seu maior triunfo.
Quando tudo aquilo acabou e eles puderam voltar ao camarim, Jungkook, sem dizer uma palavra, arrastou Taehyung de volta àquela sala onde tudo começou e aconteceu. Dessa vez, entretanto, não estava disposto a brigar.
Muito pelo contrário.
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