História Behind The Lights - Prólogo

Enquanto bebericava o vinho mais caro que já tinha tomado em toda minha vida, olhava ao redor ainda sem acreditar que estava jantando no Del Posto. É o restaurante mais caro de Nova Iorque, estar aqui é uma das poucas vezes em que eu tenho sorte. Sorri involuntariamente ao me lembrar de quando Jamie insistiu para que eu usasse pelo menos uma das duas cortesias que ganhamos na faculdade. As três pessoas que tirassem as melhores notas no seminário do Sr. Andrew poderiam ganhar as cortesias, ele leciona Antropologia na faculdade de Jornalismo da New York University onde estou há seis meses, agora no segundo período. Jamie e eu fomos escolhidas porém ela ficou doente e não pôde vir, em todo o caso  ela insistiu tanto que eu acabei cedendo. Ela sempre faz isso, sempre.

Jamie é uma boa amiga. Nos conhecemos quando me mudei pra cá há no ano passado, na verdade era pra eu fazer faculdade na Florida onde mora a minha família, porém consegui uma bolsa de Estudos imperdível nessa universidade, eu não podia recusar, era o meu sonho.

- Mais alguma coisa senhorita? – perguntou o garçom após servir mais uma dose daquele vinho delicioso.

- Não, obrigada! – disse, sorrindo – O jantar estava ótimo.

Ele assentiu com simpatia e se retirou. Olhei no relógio e quase tive um surto psicológico irreversível. Eu tinha uma reunião com a Rolling Stone ás oito horas. Isso quer dizer que eu tinha apenas quinze minutos para estar no Masa, outro restaurante onde sempre há entrevistas de emprego por ser um lugar calmo e reservado.

Abri minha bolsa e peguei os vinte e seis currículos que eu tinha feito para levar as melhores editoras daquela cidade e muitas delas as melhores do mundo inteiro. Foi tão fácil para o Ryan conseguir uma entrevista pra mim, eu tinha que dar o meu melhor. Eu precisava mais do que tudo daquele estágio se quisesse manter a minha bolsa de estudos que era cem por cento.

Junto aos currículos estavam todos os meus trabalhos dos últimos seis meses que estavam carimbados “A+”. Sentia orgulho de todos eles e esperava que fosse o suficiente para que me dessem o estágio. Se eu ia me estabelecer por aqui deveria ser em uma revista conceituada. Era isso que eu sempre tinha em mente.

E ainda que não fosse continuar morando em Nova Iorque, precisava de todas as formas encontrar um estágio, que era essencial no segundo período, caso contrário teria que repetir em três matérias e estudar mais um ano o que atrasaria um ano da minha vida, sem contar que eu poderia perder a bolsa.

Não estava nos meus planos.

Definitivamente não.

Suspirei fechando a bolsa e segurando os papeis junto ao meu peito.

Sentia que finalmente as coisas iam tomar um rumo novo, finalmente os meus sonhos iam começar a ser tornais reais, como eu sempre quis.

O Masa ficava há apenas algumas quadras dali mas eu tinha o dever de chegar bem antes, é claro que a Srta. Chelsea, editora, já estava me esperando há muito tempo.

Pensar nisso fez o meu corpo inteiro tremer.

Com a bolsa posicionada em meu ombro e minhas mãos abraçando os papeis sobre o meu peito peguei impulso e sai correndo para a saída, estava tão desesperada que me perguntei o que as pessoas da alta sociedade estavam pensando de mim naquele momento.

Não tinha tempo para me odiar mortalmente por aquilo, só precisava continuar correndo.

De repente eu esbarrei em alguém. Eu estava correndo tão rápido que não percebi que isso poderia acontecer. Mas não foi de propósito, essa pessoa que esbarrou em mim poderia simplesmente ter desviado, isso não podia acontecer, não agora.

O impacto foi violento. Sentia meu corpo tremer,  meus olhos estavam estatelados e a minha respiração entrecortada. A raiva me subiu a cabeça quando notei que minha roupa estava completamente pintada de roxo, de vinho tinto para ser mais exata. E isso não é tudo, os papeis, os arquivos que resumiam a minha vida também tinham a mesma cor. Impossíveis de serem lidos.

- Caralho! – resmunguei sem acreditar que eu poderia ser tão azarenta.

- Desculpa! – uma voz rouca sussurrou enquanto eu tentava me limpar mesmo que em vão já que aquela taça de vinho que agora tinha virado centenas de cacos no chão, tinha feito um grande estrago.

- Desculpa? É isso que... – parei de falar no exato momento em que levantei a cabeça e encontrei aquele par de olhos caramelados.

Pisquei algumas vezes abrindo e fechando os olhos até ter certeza de que não era uma miragem. Justin Bieber estava ali na minha frente me pedindo desculpas depois de ter derrubado uma taça de vinho na minha roupa e molhado o meu futuro na minha carreira.

- Eu não vi você! – ele explicou – Eu acabei de pegar o vinho, eu estava tomando e conversando com o meu amigo Alfredo – ele apontou para o homem ao seu lado – e  então você apareceu correndo, do nada.

- Você devia prestar atenção por onde nada! – disse irritada, eu nem sabia por que estava sendo tão mal educada, mas ao me lembrar que era o fim, que eu ia perder a vaga no estágio me deixava muito grilada.

Sem contar que era tudo culpa dele. Por que diabos ele não podia simplesmente olhar por onde pisa? Ele tem tudo, ele tem o mundo aos seus pés, mas eu? Eu sou apenas uma universitária  de dezesseis anos querendo vencer na vida.

E ele tinha acabado de destruir os meus sonhos.

- Ei, calma ai! – ele soltou um riso fraco e segurou meu braço quando eu fiz menção de continuar andando – Tá tudo bem?

- Olha só o meu estado! – apontei para o meu corpo – Acha mesmo que está tudo bem?

- Bom... – ele me analisou por segundo – Mais que bem, eu devo dizer.

O olhei desacreditada.

- Idiota!

- Calma ai! – ele apertou meu braço com mais força – Eu vou comprar uma roupa nova pra você, espera, vou pedir um pano para você se limpar, só um minuto.

- Me solta porra! – falei irritada – Você acha que só por que é Justin Bieber tem o direito de fazer isso com as pessoas? Meus planos para hoje a noite foram por água abaixo.

Tudo bem, talvez eu estivesse sendo um pouco dramática mas qual é, pensa só no quanto eu estava perdendo. Poderia ser qualquer um que eu ainda iria ficar brava.

Ele deu risada.

- Que saber de uma coisa? – ele soltou meu braço e colocou a mão no queixo me olhando pensativo – Eu não vou mais comprar uma blusa nenhuma, nem pegar um pano, nem nada. Prefiro que você deixe o garoto esperando, ou então você pode ir desse jeito, acredite, está linda para um encontro. – ele riu sarcástico e o homem ao seu lado e mais dois seguranças o encararam para que ele continuasse andando pois lá fora estava cheio de fãs e pelo que pude ver muitos fotógrafos.

- Eu não ia encontrar um garoto – revirei os olhos - eu ia encontrar uma mulher!

- Espera ai, você é lésbica? – ele gritou quando eu dei as costas – Que pena, achei que talvez...

- Vai se foder Bieber! – gritei sem olhar pra trás fazendo um gesto obceno, tudo que pude ouvir foram algumas risadas.

Eu não sabia o que era mais estranho.

Perder o meu possível emprego ou o fato de que eu tinha acabado de mandar Justin Bieber ir se foder.