História Behind The Lights - Oh Shit!

Blake Lewis Berry P.O.V

Foi impossível conter a felicidade quando o sinal finalmente soou nos auto-falantes da enorme sala de aula. Antropologia é uma das matérias mais chatas de Jornalismo. Guardei meu tablet, que tive que comprar em várias prestações para que eu pudesse usa-lo nas aulas, isso é uma das coisas essenciais na faculdade.

Estava quase alcançando a porta por onde quase toda a classe já tinha saído quando fui surpreendida pela voz insistente do Sr. Andrew que me chamou. Eu sabia exatamente do que se tratava.

Virei-me pra ele com o meu melhor e sorriso e me aproximei de sua mesa.

- Sim, Sr. Andrew! – ajustei a bolsa no meu ombro.

- Srta. Berry só queria checar se está providenciando seu estágio em alguma editora, você é a única que ainda não conseguiu e eu devo dizer que precisa mais do que os outros já que é bolsista.

Ele realmente precisava me lembrar disso a cada cinco segundos?

- Está tudo bem! – respondi, sorrindo – Eu já enviei meu currículo para algumas editoras, espero que consiga um estágio em alguma delas.

- Semana passada você me disse algo sobre uma entrevista com a Rolling Stone... não deu certo?

- Eles ficaram de me ligar para marcar. – menti forçando um sorriso.

- Ah, certo. – ele guardou uns papeis em sua pasta tendo plena certeza de que eu tinha fracassado na entrevista, mal ele sabe que eu nem cheguei a ir, o que é bem pior – Até a próxima aula então. – com a pasta logo abaixo de seus braços ele sorriu pra mim – Boa sorte.

Assenti sorrindo fraco e esperei que ele saísse para fazer o mesmo.

Peguei meu velho Volvo C30 prata no estacionamento e dirigi para casa. Aquele carro era a única coisa de útil que meus pais já me deram.

Deixei o carro na minha vaga do prédio em que eu moro e entrei no elevador que me levaria ao sexto andar.

Não era o melhor apartamento do mundo por que ficava em Manhatan, qualquer coisa é cara nessa área de Nova Iorque, o dobro do valor de qualquer outra parte dessa cidade, e como eu não sou a pessoa mais rica do mundo era difícil estar em um apartamento maior e melhor que aquele.

Antes de ir para o meu apartamento passei no Conor, meu vizinho, ele sempre cuida do meu irmão pra mim quando eu estou na faculdade. Eu não tenho dinheiro pra pagar uma babá, mal sobrevivo com o merreca que minha mãe manda todo mês.

Ok, talvez eu esteja exagerando mas eu realmente não tinha grana pra pagar uma babá e como o Conor gostava de passar o tempo com o menininho de apenas cinco anos eu não reclamava.

É estranho ele morar comigo não é? Eu sei disso.

O fato é que com apenas três meses depois de eu me mudar pra cá minha irmã bateu na minha porta e deixou ele aqui. Simplesmente deixou e saiu.  Eu fiquei desesperada, liguei pra minha mãe, afinal ela era a única pessoa no mundo que me compreendia, a única pessoa no mundo por quem eu daria a minha vida, mas ela me surpreendeu,ela me disse que não tinha tempo pra cuidar dele, que minha irmã estava ocupada com seu casamento e que eu devia tomar conta dele por uns tempos.

E agora já fazem três meses.

Nós mal nos falamos desde então. Eu pensei em dar um gelo para que ela sentisse a minha falta, mas a poucas vezes que nos falamos foi por que eu liguei. É tão ridículo como ela deixou de se importar comigo quando foi ela que insistiu para que eu viesse fazer faculdade aqui, mesmo sendo o meu sonho, achei que ela exitaria em me deixar mudar de cidade, eu só tenho dezesseis anos.

Bati na porta e Conor a abriu alguns segundos depois.

Ele é o cara mais lindo que eu já vi em toda a minha vida. Ele é tipo um Deus Grego sabe. Ele tem os olhos azuis, cabelos castanhos, corpo bem definido, sorriso encantador e é a pessoa mais legal da face da terra. Mas ele tem sei lá, uns vinte e quatro anos ? Muita areia pro meu caminhãozinho de nada.

- Hey Bels! – ele me chamou pelo meu apelido e me deu um beijo na bochecha.

- Conor!

- Bels Bels! – Joey veio correndo e pulou no meu colo.

- Como está o meu gatinho? – afaguei os cabelos dele.

- Eu ajudei o Conor a revelar um monte de fotos! – disse animado abraçando meu pescoço.

Esse era um dos motivos por Conor e eu termos nos dado bem desde que nos conhecemos. Ele ama fotógrafia e tem um estúdio na sua própria casa, ele tira fotos de celebridades que eu nunca pensei que poderia ver nem a alguns metros de distância.

O cara fotografou Michael Jackson uma vez.

Sem contar que o apartamento dele era um dos mais caros do prédio.

- Que legal! – sorri pra ele – Depois eu quero ver todas.

- Tá bom.

- Obrigada por cuidar dele! –agradeci com um sorriso.

- Você sabe que eu adoro o seu irmão! – ele disse e então estendeu a mão para que eu entrasse – Entra ai, pra eu te mostrar as fotos.

- Eu adoraria mas tenho um trabalho de Antropologia pra entregar amanhã, vou passar a noite inteira digitando ele.

- Que saco! – ele riu – Ainda bem que os meus dias de faculdade já se foram a muito tempo.

- Sorte sua! – dei risada – Quero ver é como vou arrumar um estágio depois de perder uma entrevista com a Rolling Stone cara!

Ele gargalhou.

- Pensa por um lado, você conheceu Justin Bieber e ainda levou um banho de vinho dele.

- Uau! – falei sem ânimo algum e ele riu.

Me lembro de quando contei pra ele o que aconteceu. Eu passei pra buscar o Joey e estava toda ensopada, ele perguntou por que eu voltei tão cedo e quando eu contei o que tinha acontecido ele e Joey ficaram rindo por pelo menos duas horas seguidas. Vou ser zoada pra sempre.

- Sério, devia ficar feliz.

- Devia? – arqueei a sobrancelha.

- Bom, pelo menos muitas garotas ficariam.

- Eu não dou a mínima para aquele idiota mesquinho ridículo.

- Hum, sei sei.

- Qual é!- ri e dei um tapa em seu braço.

- Ué, eu não disse nada! – ele levantou as mãos em sinal de paz.

- Agora eu tenho que ir, sabe qual é o meu sonho mesmo?

- Não sei não, diz ai.

- Que alguma editora seja bem simpática, olhe o meu currículo com muito amor e carinho e decida me chamar para outra entrevista.

- Milagres podem acontecer! – disse contendo o riso – Até por que eles só recebem uns trilhões de currículos por dia não é mesmo?

- Caramba, estou impressionada com o seu otimismo!

Ele riu.

- Isso é pra você! – sua mão estava escorada na porta – Eu não sou o tipo que espera as coisas acontecerem, que cria expectativas, já você é tão jovem e tão cheia de vida, de sonhos...

-Você tem o poder de me fazer sentir uma criança menor que o Joey!

Ele gargalhou.

- Não é isso, é que eu acho incrível, quer dizer, eu ainda queria ter essa inocência de que no fim tudo vai dar certo.

- Você vai ver, vai dar certo mesmo.

- Espero que sim! – disse com sinceridade.

- Agora eu tenho mesmo que ir! – falei ao notar que Joey já estava cochilando no meu ombro.

- Até mais! – ele sorriu e beijou novamente a minha bochecha.

Passei meu cartão magnético e abri a porta do meu apartamento. Coloquei Joey para dormir e depositei um beijo em sua bochecha. Ele parecia um anjinho dormindo.

Tomei um belo de um banho e fui digitar o meu trabalho.

Só que eu não conseguia pensar nem por um segundo.

O fato de que eu poderia perder a minha bolsa de estudos estava começando a me incomodar muito. Eu não podia deixar que isso acontecesse, poderia ligar pro Ryan e pedir que ele conseguisse outra entrevista pra mim mas isso seria abuso demais e  eu não queria que ele soubesse que eu faltei a outra entrevista mesmo que por motivos óbvios.

E pensar que é tudo culpa do Justin.

Justin Bieber você é um idiota.

Desisti de fazer o trabalho e fui dormir.

Abri os olhos assim que uma pequena brecha de sol invadiu a minha cama, esfreguei os olhos tentando me acostumar com a claridade e encarei o teto. Eu só queria dormir até chegar a hora de ir pra faculdade.

Me levantei e fechei a cortina que deixou o quarto escuro. Cai na cama novamente me aconchegando no edredom quentinho que me aquecia. Eu daria qualquer coisa pra ficar ali pra sempre, aquela cidade era sem dúvidas a mais fria do universo.

Mal fechei os olhos e a droga do celular começou a tocar sem parar.

Levei meu braço até a mesinha do lado sem se quer me mexer. Atendi ainda de olhos fechados meio irritada por alguém estar ligando a essa hora da manhã.

- Alô? – atendi emburrada.

-Uh, bom dia, eu falo com Srta. Blake Lewis?

- Ela mesma! – me sentei na cama colocando os pés no chão – Quem é?

- Aqui é Gracie Adams, da Billboard, espero não te-la acordado.

Meu queixo caiu.

- Srta. Blake, ainda está ai?

- Ham?- voltei a si – Sim, estou aqui.

- Eu acabei de ver os currículos enviados essa semana, na verdade os escolhidos pela redação da editora, você foi uma das selecionadas, é uma garota muito jovem, dezesseis anos não é?

- Sim! – gaguejei – Faço dezessete em seis meses.

- Exato,você começou a estudar muito cedo,certo? Não é todo dia que se entra na faculdade com tão pouca idade. Está no segundo período na New York University, correto?

- C-correto! – minha voz saiu tremula- Na verdade eu meio que pulei duas séries, os professores achavam que eu era uma daquelas alunas super dotadas sabe? Então eu acabei ficando duas séries adiantadas.

- Fantástico! – exclamou – Está gostando de Jornalismo?

- Cada dia mais! – respondi ansiosa.

- Tudo bem, consigo um estágio pra você aqui na Billboard se você conseguir o que as outras pessoas também terão que conseguir.

- E o que seria? – perguntei quase sem fôlego.

- Como você sabe a Billboard é a revista mais conceituada dos Estados Unidos, nós não brincamos em serviço, queremos ter os melhores trabalhando conosco – ela suspirou – Por isso estipulamos um teste para sabermos se é realmente capaz de estagiar aqui.

- Qualquer coisa! – eu disse atropelando as palavras – Oh Meu Deus, Billboard? Isso mesmo? Eu faço qualquer coisa.

- Precisamos de um furo de reportagem para essa semana. Não é fácil conseguir uma entrevista com Rihanna, Katy Perry, One Direction e ainda estar a par das rebeldias que Justin Bieber anda cometendo.

- Então eu...

- Você vai ter que cobrir um escândalo dessa semana, na verdade não precisa ser exatamente um escândalo, mas tem que ser uma novidade única, que só você tenha.

- Eu tenho quanto tempo pra isso?

- Três dias meu anjo. – disse simpática, tive vontade de matar a mulher naquele momento.

- Três dias pra conseguir entrevistar uma celebridade com uma notícia sobre eles que ninguém tenha? – sorri sínica – Moleza.

- Eu tenho certeza que sim! – ela disse com seu bom humor – Não precisa ser exatamente as pessoas que estão aparecendo mais na mídia.

- Ah não? – fiquei mais esperançosa.

- Não meu amor. Mas caso os outros estagiários consigam uma entrevista melhor que a sua, já era.

Claro que sim né.

Revirei os olhos.

- Nós aguardamos a sua matéria Srta. Blake, e vamos mandar até o seu endereço o gravador e a pasta de anotações exclusiva da Billboard com o seu crachá para que não pensem que você é uma estagiaria qualquer da Rolling Stone ou da Teen Vogue.

Retorci o estômago.

Eu só queria gritar “ HEY A ROLLING STONE E A TEEN VOGUE VIVEM COBRINDO AS MATÉRIAS MAIS BAFÔNICAS DOS FAMOSOS”

Mas eu não podia por que antes de qualquer coisa a matéria sempre chegava a Billboard primeiro.

É como se eles fizesse uma macumba ou sei lá.

Como eles conseguiam estar sempre no lugar certo e na hora certa?

Como conseguiam ser os primeiros a fazer uma ligação e conseguir uma entrevista logo após uma bomba explodir na mídia?

Inacreditável.

- Tudo bem então!

- Ótimo. Boa sorte, estamos contando com você.

- Obrigada. – ela desligou.

Me diz, como eu vou conseguir uma entrevista com uma celebridade?

Em três dias?

Algo que ninguém ainda saiba sobre eles?

Isso é tortura, eu só tenho dezesseis anos.

E aliás, essa é a minha desculpa pra tudo.