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História Behind the roses - XI - I feel my heart beating


Escrita por: wellcarryon

Notas do Autor


Oi gente, tudo bem? Espero que sim. Boa leitura!

Capítulo 11 - XI - I feel my heart beating


Como era de se esperar, a semana de Frank foi bastante agitada, e pontuada por várias outras noites de insônia, como a que sucedeu o convite para o casamento.

No sábado, Gerard comunicou aos seus empregados que decidira comparecer ao casamento de seu irmão, e com isso concedia uma noite de folga aos três no sábado seguinte. Frank não podia deixar de se admirar da capacidade de Gerard para manter-se impassível quando ele próprio se sentia enrubescer mesmo consciente de que seus colegas não suspeitavam de nada.

O anúncio gerou comoção nos bastidores da casa, e uma rodada de suposições quanto à razão por trás de o Sr. Way estar saindo pela segunda vez em um intervalo de menos de um mês era feita a cada oportunidade que tinham de conversar. Frank inclusive arriscou alguns palpites – auto consciência, necessidade de recuperar coisas que estavam prestes a se perder – que realmente eram verdadeiros, mas não se viu capaz de dizer mais nada, apenas concordar ou discordar dos palpites dos colegas, sentindo a comida ficar presa na garganta quando o assunto surgia durante as refeições. Os palpites mais improváveis incluíam a possibilidade de o Sr. Way estar sendo chantageado.

Na segunda-feira Gerard recebeu o costureiro e uma funcionária de uma loja de trajes de festa. Ele experimentou alguns elegantes ternos trazidos por eles, e após fazer sua escolha, a peça foi marcada por alfinetes onde era necessário fazer ajustes. Na saída, enquanto Ray acompanhou-os até a porta, Gerard fez um gesto para Frank, indicando o bolso da calça que vestia. Frank observou-o com uma expressão interrogativa, mas recompôs-se ao perceber que Ray estava voltando. Gerard seguiu em direção às escadas, Ray passou por Frank em direção à cozinha, e Frank, sem entender muito bem o que estava acontecendo, retomou suas tarefas do dia.

À noite, quando Ray fez questão de lembrá-lo de que ele deveria ir à lavanderia no dia seguinte, Frank decidiu deixar as roupas já separadas nos sacos e prontas para serem levadas. Depois de juntar todas as suas roupas e dos colegas, Frank começou a juntar as roupas de Gerard em um saco separado, quando lembrou-se do gesto que ele fizera.

Procurou dentro do saco a calça que ele estava usando durante o dia, e quando encontrou-a vasculhou seus bolsos, encontrando um cartão de visitas da loja onde Gerard comprara seu terno. Atrás, havia um recado escrito com a caprichosa caligrafia de Gerard:

Escolhi um modelo de terno para você, já está pago. Vá até a loja amanhã e peça para falar com a Kimberly. Ela fará as devidas marcações e ajustes.

Com medo de ser pego no flagra, Frank guardou o cartão no bolso e continuou sua tarefa fingindo que nada havia acontecido. Ou, pelo menos, tentando.

Na terça-feira, o motorista levou Frank até a lavanderia e, para sua surpresa, até a loja de roupas de festa. De todas as pessoas, Frank não podia imaginar que Gerard confiaria no seu motorista para guardar um segredo.

Frank adentrou a loja, pediu para falar com a Kimberly e em pouco tempo estava dentro de um terno bonito e caro, a mulher fazendo as devidas marcações onde a roupa teria de ser diminuída. Com tudo pronto, Frank voltou para casa e o resto do dia seguiu sem mais eventos.

Na quarta-feira, depois de um dia cansativo de trabalho, Frank se aprontava para dormir em seu quarto quando o alarme de seu celular tocou, assustando-o.

Sem entender, pois não havia programado o alarme naquele dia, Frank pegou seu celular sobre a escrivaninha e viu um lembrete piscando na tela:

“Checar notas do celular”

Franzindo o cenho, se perguntou o que estava acontecendo enquanto corria um dedo pela tela, cancelando o alarme e em seguida procurando pelo atalho das notas. Lá, acima de algumas baboseiras que ele escrevera quando não tinha nenhum papel por perto, como trechos de música ou nomes de livros para ler, estava uma nota diferente, que ele com certeza não escrevera.

Instruções para sábado: 
Me encontre no portão às 2h da madrugada de quinta para sexta-feira, levando uma mochila com roupas e o que você precisar para passar algumas noites fora. Pergunte para Julian se você pode ficar com ela até domingo. Se não puder, você irá para um hotel. O motorista vai levá-lo – estará do lado de fora do portão. Vou dizer aos outros que você precisou resolver um problema. Busco você no endereço de Julian, me envie por mensagem (o número está na sua agenda). 
Ps: Você deveria tomar mais cuidado com o seu celular.  
-G

Vasculhando seus contatos no celular, incrédulo, Frank realmente encontrou o número de Gerard.

Então ele entrara em seu quarto quando não havia ninguém por perto, escrevera uma nota no seu celular, salvara seu número na agenda, programara o alarme para a meia noite e saíra sem ninguém perceber?

Isso era um pouco assustador.

Guardando o celular dentro de seu armário, Frank pensou que talvez fosse hora de bloquear o aparelho com senha.

...

Pouco antes das duas da madrugada de sexta-feira, Frank estava sentado em sua cama no quarto escuro, usando a lanterna do celular para iluminar o interior da mochila que preparara e verificar se não esquecera nada.

A agitação da semana e as noites mal dormidas estavam começando a cobrar seu preço. Ele estava com muito sono, e seus olhos pareciam cheios de terra. Também começara a se perguntar o porquê de estar se submetendo a algo tão trabalhoso, e ainda por cima tendo que envolver Julian, que teria de ficar acordada até tarde quando, na manhã seguinte, precisaria trabalhar.

Mas ele já havia começado com aquilo, e terminaria como fora planejado. Confirmando que estava tudo certo com sua mochila, Frank fechou-a, enfiou as alças pelos braços e levantou-se da cama. Abriu a porta do quarto devagar, tentando evitar ao máximo fazer qualquer ruído, e colocou a cabeça para fora, espiando o corredor. Não havia luzes por baixo das portas dos colegas, o que era um bom sinal. Estavam todos dormindo, assim como ele deveria estar.

Como na noite em que conversara com Gerard no telhado, Frank percorreu de pés descalços a distância entre seu quarto e a porta da cozinha. Depois de calçar os tênis, abriu a porta devagar, saindo para o ar frio do quintal. No gramado, não precisava ter tanta cautela. Percorreu com passos apressados o caminho até a entrada de cascalho, encontrando a sombra escura de Gerard parado junto ao portão. Sem trocarem nenhuma palavra, Gerard abriu o portão e Frank saiu, entrando no carro que o esperava na calçada.

Fora o breve cumprimento, o motorista dirigiu em silêncio, como de costume, conduzindo-os pelas ruas e avenidas desertas da cidade até o bairro onde Julian morava. Parou o carro sob a luz de um poste e esperou que Frank descesse e fosse até a porta de entrada antes de dar a partida.

Segundos depois de pressionar o botão do apartamento de Julian no interfone, a porta estalou e Frank subiu pelas escadas até o quarto andar. Ela o esperava com a porta aberta, e vestia um roupão felpudo sobre seu pijama.

– Oi! – sussurrou, abraçando-o brevemente antes de puxá-lo para dentro e trancar a porta.

O apartamento de Julian era pequeno, mas de um jeito aconchegante e não sufocante. A porta de entrada dava na sala, onde havia um sofá grande com almofadas – no qual Frank dormiria –, outro sofá menor e um móvel com televisão, e que era separada da cozinha por uma bancada. Um corredor, na parede oposta à cozinha, conduzia ao restante do apartamento – quartos e banheiro.

– Desculpe o incômodo – disse Frank, deixando que ela tirasse a mochila de seus ombros.

– Você só pode estar de brincadeira. Isso vai ser muito divertido! – respondeu Julian, conduzindo-o pela sala e deixando sua mochila sobre o sofá menor. – Só fico chateada por não podermos conversar sobre tudo agora. Eu realmente preciso dormir, já que não consegui tirar o dia de folga amanhã, e você também não parece muito disposto a qualquer coisa agora.

Frank sorriu brevemente em concordância. Realmente, ele se sentia um frangalho.

– Enfim, essa é a sua cama – disse ela, gesticulando em direção ao sofá. – Se você sentir frio, tem mais cobertas ali. – Apontou uma pilha de cobertores sobre uma cadeira perto de uma das janelas. – O banheiro fica na primeira porta no corredor, e a cozinha você pode ver daqui. Precisa de alguma coisa?

– Não, só dormir – respondeu Frank, sem conseguir conter um bocejo.

– Ótimo. Se precisar, é só chamar. Boa noite!

– Boa noite.

E com isso, Julian saiu em direção ao corredor, deixando Frank sozinho. Ele abriu sua mochila, retirou o pijama que trouxera e seguiu até o banheiro, onde vestiu seu pijama no piloto automático, sem prestar atenção ao ambiente. De repente era como se o que o estava impedindo de ter uma boa noite de sono tivesse ficado para trás, na casa de Gerard, e ele mal conseguia manter os olhos abertos.

Voltou para a sala e deitou-se em sua cama improvisada no sofá já com os olhos fechados, abraçando o que seria sua melhor noite de sono, não apenas na semana, mas em muito tempo.

...

Mais um dia de trabalho começava na casa do Sr. Way. Eram sete da manhã, e Bob estava na cozinha pondo a mesa para o café da manhã dos três enquanto Ray aprontava a bandeja com o café do Sr. Way.

Com a bandeja pronta, ele levou-a até a sala de jantar, dispondo os utensílios para a refeição sobre a mesa, e em seguida subiu a grande escadaria para avisar seu chefe que o café estava pronto.

Tarefa cumprida, ele voltou para a cozinha e sentou-se à mesa com Bob, que já estava tomando seu próprio café. Frank ainda não havia aparecido, o que não era novidade. Depois, de servir-se, olhou para o relógio na parede e balançou a cabeça pelo atraso do colega.

Terminado o café da manhã sem nenhum sinal de Frank, Ray decidiu intervir. Percorreu com passos firmes a curta distância entre a cozinha e a porta do quarto do colega e bateu.

– Frank, você não vai levantar? Está atrasado.

Aguardou em silêncio por uma resposta que não veio. Com um suspiro frustrado, bateu novamente. Detestava esse jeito irresponsável de Frank, com aquele ar de que nenhum horário marcado era importante o suficiente para que ele se preocupasse em cumprir.

Sem obter nenhuma resposta e já perdendo a paciência, Ray abriu a porta do quarto do colega.

– Frank, se você não-

Interrompeu-se. A cama estava feita, e nenhum sinal de Frank.

– Bob!

– O quê? – gritou Bob, da cozinha.

– Você viu o Frank hoje?

– Não, por quê? Ele não está aí?

– Não.

Uma checada rápida no banheiro comprovou que ele também não estava lá. Voltando para a cozinha, Ray apoiou-se no batente da porta e cruzou os braços em frente ao peito, com uma expressão intrigada.

– Será que ele está lá fora? – sugeriu Bob.

Em resposta, Ray cruzou a cozinha em direção à porta e saiu para o quintal. Depois de uma rápida inspeção ao redor da casa, constatou que Frank realmente não estava em lugar nenhum.

Voltou para a casa e foi até a sala de jantar retirar a louça do café da manhã. Encontrou o Sr. Way ainda no cômodo.

– Senhor, não conseguimos encontrar Frank em lugar algum – disse, enquanto recolocava os utensílios na bandeja.

– Ah, isso – Gerard murmurou. – Ele precisou sair durante a noite para resolver um problema pessoal, e eu permiti. Deve voltar no domingo.

– Domingo? – Ray deixou escapar. – Mas, senhor...

– Algum problema? – perguntou Gerard, virando-se para encará-lo.

Após um instante de silêncio, Ray respondeu:

– Não, senhor. Nenhum.

Gerard assentiu e se retirou, deixando Ray para trás, intrigado e perdido em pensamentos. O que diabos Frank estava fazendo que fosse mais importante do que seu trabalho? Ele deveria estar sempre à disposição. A expressão de curiosidade de Ray foi substituída por uma irritada. Frank estava sempre fazendo coisas do tipo, e sempre se safando. Ray decidiu que, a partir daquele dia, ficaria de olho em Frank. Talvez contratá-lo tivesse sido um erro.

...

O som de uma moto acelerando e passando em alta velocidade na rua ao lado fez com que Frank acordasse. Ele abriu os olhos sonolentos, fechando-os novamente pela claridade no cômodo. Ao contrário de outras vezes, ele não se sentia cansado enquanto sentava-se no sofá. Pelo contrário, seu sono foi tão renovador que ele sentia que talvez pudesse ter dormido por um mês inteiro.

Esticando o corpo para dissipar a preguiça, Frank coçou os olhos e bocejou. Em seguida, ergueu-se do sofá e caminhou sem pressa até a cozinha.

Havia um bilhete sobre a bancada, ao lado de uma garrafa térmica.

“Bom dia, não quis acordar você porque você parecia muito cansado ontem à noite, e como não sabia a que horas você faria isso por conta própria, deixei um pouco de café na garrafa térmica. Se já for tarde demais para isso, tenho algumas refeições congeladas na geladeira, sirva-se à vontade. Se quiser cozinhar, idem. Fiz as compras ontem, então os armários estão cheios, pode pegar qualquer coisa.        
Volto à tardinha e vamos comer pizza à noite.
- Julian”

Frank olhou ao redor da cozinha e encontrou um relógio sobre o portal que levava à área de serviço adjacente. Arregalou os olhos ao ver que passava poucos minutos do meio dia.

Não precisou pensar muito tempo sobre o que fazer – seu estômago logo tratou de decidir por si mesmo com um ronco sonoro. Frank abriu um dos armários, vasculhou o conteúdo rapidamente e encontrou um pacote de macarrão instantâneo. Preparou-o e levou o prato até o sofá, onde o comeu enquanto assistia à televisão.

Depois de almoçar, limpou os utensílios que utilizara e guardou-os onde os encontrara. Voltou para a sala, onde desfez sua cama no sofá, e em seguida trocou seu pijama por uma roupa casual. Quando terminou, parou colocando as mãos na cintura e olhando ao redor. Aparentemente, não havia mais nada a fazer. A casa de Julian estava limpa e organizada, então ele não poderia fazer nada para ajudá-la.

Decidiu passear pelo restante do apartamento, que ainda não conhecia, e ver se encontrava alguma coisa para fazer.

O quarto de Julian não lhe oferecia nada. Havia apenas uma cama de casal, dois criados mudos com abajures, onde ela deixava tudo o que poderia precisar durante a noite: remédios, o controle remoto da televisão, elásticos de cabelo, um creme para as mãos, entre outras coisas. Havia um armário embutido na parede à direita, mas nem em seus maiores momentos de curiosidade ele seria capaz de abrir sem autorização algo que estava fechado. Sua inspeção incluía apenas o que estava à vista.

Uma rápida vistoria do quarto restante, que na verdade era um misto de escritório e o famoso cômodo onde se coloca tudo que não coube no resto da casa, revelou a Frank o que ele inconscientemente procurava: uma estante repleta de livros.

Vários deles eram livros técnicos sobre maquiagem ou moda, mas havia também alguns livros de ficção, dentre os quais Frank escolheu um de seu interesse. Com o exemplar em mãos, voltou para a sala e olhou ao redor, procurando um bom lugar para ler. O sofá parecia ótimo, mas a iluminação não era tão boa no centro da sala, e a cadeira onde estavam os cobertores extras parecia muito desconfortável.

Testando o peso do sofá menor e constatando que era mais leve do que imaginava, Frank arrastou-o até uma das janelas, onde a luz era perfeita para leitura e ainda lhe oferecia a música de fundo do canto dos pássaros do lado de fora.

Ele colocaria tudo de volta no lugar antes de Julian chegar.

Pelo menos era o que pensava.

Frank mergulhou tão fundo na leitura que não ouviu, no fim da tarde, o som da chave na fechadura, embora a luz do lado de fora houvesse sido reduzida a um terço do que era quando ele ali se acomodou e já atrapalhasse sua leitura. Julian abriu a porta de seu apartamento e encontrou-o silencioso e um tanto vazio, até a breve desorientação ser esclarecida pela visão de um de seus sofás embaixo da janela, com Frank em cima dele.

Não havia nenhuma luz acesa, e ele estava completamente imerso na leitura. Como de costume, Julian trancou a porta atrás de si, largou suas chaves no aparador ao lado da porta, colocou sua bolsa no chão, e tirou seus sapatos.

Foi até a cozinha, onde pegou um copo d’água, e voltou para a sala, jogando-se pesadamente no sofá, ao lado de Frank.

Ele fechou o livro com um baque e levou uma mão ao peito, assustado.

Julian deu um largo sorriso.

– Estava preocupada que você ficasse entediado, mas pelo visto você se divertiu muito hoje – disse ela.

Frank balançou a cabeça e tirou a mão do peito.

– Eu pretendia colocar tudo de volta no lugar, mas... Quando você chegou? – perguntou ele.

– Há uns cinco minutos – respondeu ela, erguendo o copo e balançando os pés descalços.

Frank inclinou a cabeça para trás e encostou-a no sofá. Os dois desfrutaram de um momento de silêncio enquanto observavam as nuances no teto do apartamento transformando-se em tons cada vez mais escuros.

Julian bebia pequenos goles de sua água e balançava os pés apoiados no sofá. Frank deixava a calmaria novamente dominá-lo. O apartamento da amiga era muito tranquilo – o mais perto de um lar que ele já esteve desde a morte de sua mãe. Se ela a tivesse conhecido, com certeza teriam se dado muito bem.

Tentando escapar do aperto na garganta que a ideia lhe causou, Frank pensou em Gerard. O que ele estaria fazendo? Estaria se sentindo nervoso, com medo? Conseguindo lidar com suas emoções?

Impulsivamente Frank pegou o celular no bolso da calça e desbloqueou a tela, indo rapidamente para a conversa de Gerard nas mensagens. A única mensagem fora a que enviara com o endereço de Julian, assim que o descobrira.

Julian virou a cabeça para Frank e observou-o enquanto ele olhava para o celular, parecendo ponderar sobre algo. Ela desviou o olhar para o aparelho discretamente e estreitou os olhos para enxergar o nome na janela de mensagens aberta.

Com um sorrisinho maroto no rosto, Julian voltou-se para a frente. Havia algo ali, ela sabia.

...

Onze horas da noite, e eles estavam na metade do terceiro filme. Uma caixa de pizza vazia estava aberta sobre a mesa de centro, um pacote de salgadinho quase vazio abandonado ao lado, enquanto Frank e Julian mergulhavam suas mãos em um pote de pipoca doce já pela metade e dividiam uma garrafa de refrigerante, amontoados no sofá.

– Ainda bem que você veio. Não consigo imaginar uma noite de sexta melhor do que essa – disse Julian, apoiando a cabeça no ombro de Frank.

Ele sorriu, e enfiou outro punhado de pipocas na boca. Também não conseguia imaginar nada melhor, para qualquer dia da semana.

Quando o filme terminou, Julian tirou o DVD e levantou do sofá, derrubando várias pipocas que haviam caído. Ela levou o pote vazio para a cozinha, e Frank a seguiu com o restante das coisas.

– Ainda bem que você veio – repetiu Julian.

– Você já disse isso – debochou Frank.

– Argh, eu sei! É que com a Ella viajando eu estava me sentindo sozinha – disse ela, sorrindo e piscando repetidas vezes, tentando parecer meiga.

Frank revirou os olhos.

– Você está me usando.

Julian deixou escapar uma exclamação indignada.

– Eu? Tem certeza?

Frank franziu o cenho e resmungou. – Você disse que estava tudo bem.

– Duh. E está. Você sabe que é brincadeira.

Julian amassou a caixa que Frank trouxe e colocou-a na lixeira. Em seguida, virou-se com o pacote de salgadinhos e comeu um.

– Então – começou, erguendo uma sobrancelha insinuadora. – Como você está se sentindo sobre amanhã?

Frank encolheu-se involuntariamente.

– Tudo bem.

Julian cruzou os braços.

– Só “tudo bem”? – Frank assentiu. – Nenhum sentimento de empolgação do tipo “ai meu deus eu vou sair com o meu chefe que apesar dos pesares é muito sensual”?

– Julian!

– Frank! – devolveu ela, rindo. A essas alturas, Julian já havia sido esclarecida quanto a todas as implicações e papéis da história. – Ok, mas falando sério agora. Você está bem com isso? Não se arrependeu, não é?

Frank revirou os olhos e pensou na resposta.

– Não me arrependi. Quer dizer, não totalmente. – Suspirou. – Acho que ele precisa de ajuda, é algo importante... E eu quero ajudar. Não sei por que, mas quero.

Julian deu um sorriso maroto, e ergueu uma sobrancelha.

– Não sabe, é?

– Pare com isso! – exclamou Frank, dando as costas para ela.

– Ah, você sabe que eu adoro implicar com você! – disse ela, abraçando Frank pelas costas.

“E eu acho que tem mais coisas por trás disso, mas vou deixar você descobrir sozinho.” – acrescentou mentalmente.

Os dois voltaram para a sala logo em seguida, e se acomodaram no sofá após colocarem mais um filme para assistir. Pouco depois da metade do filme, no entanto, o interesse deu lugar à exaustão e os dois caíram em um sono profundo.

...

Frank acordou na manhã seguinte com o barulho da campainha. Ouviu passos e em seguida a porta foi aberta. Julian falou com alguém e tornou a fechá-la, e Frank a viu ir para a cozinha com algo nas mãos.

Ele sentou no sofá, espreguiçando-se e bocejando.

– Bom dia, raio de sol – disse Julian. – Estava me perguntando por quanto tempo mais você dormiria.

– Que horas são? – perguntou Frank, estreitando os olhos para as janelas.

– Meio dia.

– Oops – murmurou Frank.

Apressou-se até o banheiro, jogou água fria no rosto e fez rapidamente sua higiene matinal, para em seguida juntar-se a Julian na cozinha. Ela estava abrindo uma caixa de pizza.

– Você tem uma alimentação tão saudável – brincou ele.

– Tenho que aproveitar que você está aqui e usá-lo como desculpa, não concorda?

– Claro. Não estou reclamando.

Os dois almoçaram conversando, sentados lado a lado em frente à bancada da cozinha. Depois, lavaram e guardaram a louça do almoço, e então Julian saiu para buscar o terno de Frank. Sozinho, ele sentou no sofá em frente a televisão e ligou-a, mas não conseguiu prestar atenção em nada. Sua mente estava agitada. Pegou então seu celular, e colocou os fones nos ouvidos. Deitou no sofá e ficou encarando o teto, deixando-se levar pela música.

Julian voltou um tempo mais tarde, e encontrou o amigo no sofá, de olhos fechados, acompanhando o ritmo da música com a cabeça. Ele parecia muito tranquilo, e por isso ela não queria ter de chamá-lo para a realidade, mas era preciso. Embora fosse cedo, Frank precisava tomar banho e se arrumar, e se precisasse fazer algum ajuste de última hora na roupa, seria melhor se não fosse exatamente na última hora.

Com isso, ela aproximou-se do sofá e chamou-o antes de tocar em seu braço, para não assustá-lo.

Frank abriu os olhos e enxergou-a.

– Oi, não vi você entrar.

– Eu sei. Fofoca quente... Foi bom você ter ficado. Encontrei aquele seu colega, o do cabelo cacheado.

Frank sentou imediatamente no sofá.

– Mesmo? E o que aconteceu?

– Ele perguntou se eu sabia alguma notícia sobre você. Parecia meio descontente. Respondi que não, então a atendente me entregou sua roupa e eu disse que precisava ir, porque meu irmão tinha que experimentar a roupa. Espero que ele não tenha percebido que a roupa parece feita para um gnomo. Ai!

Frank bateu na amiga com uma almofada.

– É brincadeira! Mas agora falando sério, é bom você ir para o banho. Não vai querer se atrasar hoje, princesa.

Ele resmungou e levantou do sofá, jogando a almofada na amiga.

– Ei! Você devia se comportar melhor, se não vou inventar de tirar fotos do casal antes de vocês saírem.

Frank fez um gesto impróprio para ela enquanto remexia sua mochila procurando suas coisas para, enfim, tomar banho.

...

Gerard estava pronto, sentado em sua cama com o notebook aberto à sua frente. Ainda tinha alguns minutos antes de sair, então resolveu ceder a uma curiosidade que estava lhe atormentando desde cedo.

Abriu a página de busca no navegador e digitou o nome de seu irmão. Vários resultados surgiram, mas o que lhe interessava estava logo acima. Ele abriu o link da rede social e observou a foto de perfil.

Michael estava diferente da última vez que Gerard o vira. O cabelo estava maior, mais claro e volumoso, e o rosto do irmão ganhara traços mais maduros. Ele sorria abertamente, coisa que raramente fazia em fotos naquela época. Rolando a tela, encontrou outras fotos, algumas com uma mulher de cabelos loiros e curtos com ondas suaves, outras sozinho. Ao vê-lo de corpo inteiro na cadeira de rodas, Gerard baixou a tela do computador e empurrou-o para o lado.

Olhou para o relógio no pulso e viu que estava na hora. Levantou da cama, ajeitou a roupa e olhou-se no espelho, colocando o tapa-olho e ajeitando o cabelo. Antes de sair, mandou uma mensagem para Frank, avisando que passaria para buscá-lo dali a pouco.

No apartamento de Julian, Frank andava de um lado para o outro em frente às janelas. Julian, que tentava encontrar um programa para assistir na televisão, já desistira de tentar fazê-lo sentar. Os dois ouviram o sinal de mensagem no celular de Frank, e quando ele leu-a, deixou a sala e foi para o banheiro. Julian escorregou mais fundo no sofá e suspirou.

Frank voltou minutos depois.

– Você não acha que eu deveria fazer alguma coisa com o cabelo? Não parece muito desleixado para um casamento?

– Eu posso fazer uma trança embutida se você quiser – resmungou Julian.

Frank não respondeu, apenas desapareceu novamente por mais alguns minutos, e quando voltou, jogou-se deitado no sofá e suspirou.

Julian desligou a televisão e foi para a cozinha preparar um sanduíche. Quando voltou, o interfone tocou. Frank levantou e aproximou-se enquanto ela atendia.

– Sim. Ok, ele já vai descer – Julian colocou de volta o aparelho no suporte e virou-se para Frank, sorrindo. – Sua carruagem chegou, princesa!

– Como estou? – perguntou ele, alisando a roupa.

– Ótimo, já disse. Cuide-se, e não perca as oportunidades que a vida lhe der.

Frank revirou os olhos e lhe deu um abraço rápido de despedida.

– Você vai ficar bem sozinha?

– Frank, eu MORO sozinha. Agora ande de uma vez, vamos, xô – disse ela, abrindo a porta e empurrando-o para fora.

Gerard estava encostado no carro quando a porta do prédio se abriu. Ver Frank vestido daquela forma fez um sentimento estranho remexer-se em seu peito, e ele abriu a porta do carro para desviar sua atenção.

– Oi – disse Frank, quando alcançou-o.

– Boa noite – disse Gerard, indicando o interior do carro.

Frank entrou, seguido por ele, e murmurou um olá para o motorista. Quando os dois estavam devidamente acomodados, o carro partiu.

No caminho, nenhum dos dois disse mais do que algumas palavras. Ambos estavam nervosos, Gerard por rever a família, e Frank por nunca ter ido a um casamento, especialmente um em que não era exatamente um convidado.

 

Era possível perceber o requinte da cerimônia mesmo na entrada do local. O carro parou em frente a um centro histórico da cidade, um prédio de dois andares cercado por um imenso jardim com largos caminhos calçados. De ambos os lados dos portões foram colocados arranjos de flores, e canhões de luz iluminavam o caminho que se perdia de vista.

Gerard identificou-se na entrada com um recepcionista, e os dois foram conduzidos até o local da cerimônia, atrás do prédio do centro histórico. O altar foi montado em frente a um enorme chafariz também iluminado por canhões de luz, e o caminho por onde passaria o cortejo estava delimitado por um tapete branco.

Os dois se sentaram em uma das fileiras do fundo. Gerard queria passar despercebido de pessoas conhecidas, e felizmente a maioria dos familiares e amigos da família estavam sentados mais a frente. Frank, por sua vez, olhava ao redor com admiração, tentando absorver todos os detalhes sem chamar atenção para si.

Aos poucos os lugares vazios foram preenchidos e um certo ar de expectativa pairou no ar como uma corrente elétrica. Gerard avistou sua mãe tomando sua posição no cortejo ao fundo, e ela parecia exatamente a mesma de sempre – a jornalista dedicada ao trabalho, com um penteado que intensificava seu ar auto-confiante, usando um vestido verde oliva que alongava sua silhueta – acompanhada por um homem de meia idade que Gerard não conhecia.

Uma agradável música instrumental começou a tocar, e a entrada do cortejo teve início. Os avós da noiva – já que Michael não tinha mais avós – foram seguidos pelas famílias dos noivos, e tomaram seus lugares nas primeiras fileiras. Em seguida, a música mudou e o celebrante entrou por uma porta à direita, seguido pelo noivo e pelos padrinhos, e todos tomaram suas posições.

Frank sentiu Gerard se retesar ao seu lado e desviou sua atenção para o noivo. Michael estava em sua cadeira de rodas, olhando com expectativa para o caminho no centro das cadeiras. Frank imaginou que ele seria diferente, fisicamente menor e com aparência frágil, mas encontrou um homem que aparentava ser alto e com feições resolutas.

As madrinhas começaram entrar pelo centro, uma atrás da outra, com vestidos longos em tom rose, segurando seus pequenos buquês, e depois de posicionadas à esquerda do altar, entrou um menino carregando os anéis, e uma menina, derrubando pétalas de flores pelo caminho.

Finalmente, a marcha nupcial teve início. Todos se levantaram, e a noiva fez sua entrada triunfal, impecável em seu vestido branco com mangas longas e bordadas, o cabelo curto com um detalhe trançado e o comprimento arrumado em ondas, sustentando o véu que caía delicadamente até o quadril. A cerimônia começou, arrancando lágrimas de muitos dos presentes, inclusive de Frank, que fingiu estar coçando o olho para eliminar a prova do crime antes que Gerard percebesse. Ele, por sua vez, permaneceu impassível durante toda a solenidade. Era impossível ler qualquer coisa em sua expressão.

A cerimônia terminou e o cortejo de saída teve início, e foi nesse momento que os olhares de Gerard e de Michael se encontraram. Houve um momento de surpresa em que Michael estacou no caminho, mas ele rapidamente se recuperou e seguiu em frente. Foi então que sua mãe também percebeu Gerard, e fitou-o com uma expressão de desconfiança.

Os convidados deixaram o local da cerimônia e foram conduzidos até a recepção no interior do prédio, em um salão envidraçado na parte de trás. Michael encontrou Gerard na multidão e chamou-o para conversar. Relutantemente, Gerard disse a Frank que já voltava, e sem querer entrar sozinho no salão, Frank esperou-o do lado de fora.

Todos já estavam acomodados em suas devidas mesas, como ele pode observar pelas janelas. Fazia já alguns minutos que Gerard desaparecera com seu irmão, e Frank começou a perambular pelo jardim, sentindo-se um bobo por estar parado do lado de fora quando as pessoas no interior do salão já começavam a observá-lo com curiosidade.

Estava olhando distraído ao redor quando avistou ao longe uma sala, cuja porta estava aberta. Identificou uma parte da cadeira de rodas de Michael, e percebeu que Gerard estava parado à sua frente, os dois conversando. Atrás de Michael estava uma mulher que Frank supor ser a mãe de ambos. Ela pareceu sentir o olhar de Frank sobre si, e lançando-lhe um olhar irritado, fechou a porta.

Franzindo o cenho e sentindo-se ofendido, Frank retornou para a entrada do salão e apoiou-se na estreita faixa de parede que separava a porta da primeira grande janela, um ponto cego onde ninguém lá dentro poderia vê-lo.

Era só o que lhe faltava acompanhar Gerard àquele casamento para ser destratado por sua família. Dado o ar de sofisticação que todos os presentes demonstravam, Frank pensou que provavelmente enfiara-se em um covil de ricos mal-educados. Ele só esperava que aquela primeira impressão fosse equivocada. Com um suspiro de irritação, tirou o celular do bolso e procurou o número de Julian para enviar-lhe uma mensagem, já que não tinha nada mais para fazer.

Estava no fim do pequeno texto quando ouviu a voz de Gerard aproximando-se. Adiantou-se e o viu acompanhado do irmão, seguindo em sua direção. Michael fitou-o rapidamente, e talvez pensando que Frank não pudesse ouvi-lo àquela distância, dirigiu-se a Gerard:

– Quem está com você?

– Um amigo – respondeu Gerard, olhando para Frank, e apressando-se em sua direção. – Esse é Frank Iero. Frank, este é Michael.

– Muito prazer, Sr. Way – disse Frank, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

– O prazer é meu – respondeu Michael, observando-o com curiosidade.

Frank não conseguiu sustentar aquele olhar por muito tempo – logo desviou os olhos para um arbusto não muito distante.

– Como você não confirmou, guardei um lugar para você perto da família. Não sabia que viria acompanhado – disse Michael.

– Sem problemas, vou me sentar com Frank em qualquer lugar onde possamos ser encaixados.

– Tudo bem, como quiser. – Michael fez um gesto a um recepcionista que acabara de surgir na entrada do salão. O homem aproximou-se. – Conduza os dois para uma mesa com lugares vagos.

O homem assentiu e gesticulou para que o seguissem. Os dois assinaram o livro dos convidados, Gerard deixou um envelope com seu presente de última hora na mesa dos presentes, e foram inseridos em dois lugares vagos, em uma mesa com um casal, que logo descobriram se tratar de Sarah, uma colega de trabalho de Sam – a noiva, e Jacob, seu marido.

Os quatro conversaram amenidades. Na maior parte do tempo, foi Frank e Sarah quem falaram, pois Gerard estava imerso em um universo próprio e Jacob parecia fazer o tipo que prefere concordar com tudo a dizer alguma coisa, mas ainda assim, os dois homens fizeram algumas contribuições. Depois que os padrinhos, madrinhas e os noivos se acomodaram à mesa e os discursos foram feitos, o jantar foi servido.

 

Gerard desapareceu fisicamente no início da festa, pois mentalmente Frank não o encontrara em nenhum momento naquela noite. Sob o pretexto de ir ao banheiro, Gerard deixou a mesa, e Frank realmente o viu entrar no banheiro, mas distraiu-se e não o viu sair. Continuou conversando com Sarah e Jacob, que após alguns drinques se tornara mais participativo, mas em poucos minutos os dois se levantaram para dançar, deixando Frank sozinho.

Ele estava se sentindo um tolo. As pessoas não paravam de olhar para ele e para Gerard, graças à entrada de destaque dos dois, acompanhados do recepcionista. Agora que estava sozinho isso se tornava dez vezes mais sufocante e irritante. Pegando uma taça de vinho com um garçom, Frank deixou a mesa e saiu do salão.

Os jardins estavam desertos, pois todos estavam lá dentro dançando. A música chegava aos seus ouvidos em tom um pouco mais baixo, uma balada romântica que ele nunca ouvira.

Frank explorou os caminhos desconhecidos até encontrar um lago artificial. Que se dane o gramado perfeito – pensou, enquanto caminhava sobre ele até a borda do lago, delimitada por pedras. A água cristalina refletia o céu estrelado e permitia que ele visse alguns peixes coloridos nadando de um lado para o outro.

Fora uma noite repleta de emoções. Frank nunca soubera o que esperar da família de Gerard, e até aquele momento podia dizer que sua primeira impressão era um pouco decepcionante. Não que ele esperasse uma recepção com flores e abraços, mas talvez um pouco mais de afeto não fizesse mal a ninguém. Não sabia o que havia acontecido na reunião a portas fechadas, nem onde Gerard estava agora, mas a julgar pela expressão irritada da mãe dele, a família parecia ser um pouco fria e distante.

Uma nova música começou a tocar e Frank se sentou na grama, sentindo o efeito do álcool em seu cérebro. Talvez fosse ele que estivesse tornando a noite de Frank melhor, porque ele não se sentia tão chateado quanto deveria. Esvaziou a taça e deixou-a ao seu lado, desejando por outra. Em vez de buscá-la, entretanto, inclinou-se para trás e deitou cruzando as mãos atrás da nuca.

Não soube por quanto tempo ficou deitado, ouvindo a música que ecoava do salão, mas sentiu um movimento ao seu lado e abriu os olhos. Gerard finalmente aparecera.

– Tudo bem? – perguntou ele.

– Sim – respondeu Frank, sentando-se, pois percebeu que Gerard trazia duas taças consigo.

Ele entregou uma para Frank e acomodou-se na grama, ao seu lado.

– Me desculpe por desaparecer. Michael queria conversar – disse Gerard, revirando os olhos com uma expressão contrariada. – Depois Eileen, minha mãe, me colocou contra a parede achando que eu estava tramando alguma coisa.

– Ela parece bem controladora – murmurou Frank. – Quer dizer, desculpe, estou falando mal da sua mãe.

– Não, tudo bem. Eu sei como ela é. No fundo é uma boa pessoa, mas tem mais determinação do que sensibilidade.

Frank assentiu. Gerard afrouxou a gravata e bebeu o conteúdo de sua taça de uma vez só, e Frank, com uma risadinha de deboche, imitou-o. Gerard inclinou sua taça vazia.

– Às péssimas decisões – disse.

– Aos bons drinques – acrescentou Frank, tocando suas taças.

Depois eles as deixaram no chão, e olharam distraidamente para o lago.

– Como foram os dias de folga? – perguntou Gerard, para puxar assunto.

– Legais – respondeu Frank, fitando-o para tentar descobrir o que ele queria ouvir, mas Gerard apenas assentiu.

Frank odiava o fato de que as conversas de ambos eram sempre pontuadas por longos silêncios e que nunca sabiam o que dizer. Gerard parecia legal. Parecia ser alguém que teria boas conversas, se não fosse tão introvertido, tão preso em si mesmo.

– Que foi? – perguntou Gerard, pois Frank estava encarando-o por tempo demais.

Ele não respondeu. Talvez fosse o vinho e sabe-se lá o que mais ele já tomara, talvez fosse uma reação impulsiva, mas de repente ele estava inclinando-se em direção a Gerard, cada vez mais perto, seu coração martelando no peito... Os lábios do outro se entreabriram com a surpresa, mas ele não se afastou. Frank estava muito próximo de descobrir como seria tocá-los com os seus...

Então se levantou de supetão, tropeçou em seus próprios pés e caiu. Gerard estendeu os braços a meio caminho de fazer alguma coisa, mas não fazia ideia de quê, então apenas observou Frank em expectativa. Ele sustentou uma expressão confusa pela perda abrupta de rumo, mas logo explodiu em uma gargalhada que fez Gerard recuar por um momento antes de começar a rir também.

Depois disso, os dois deixaram o gramado e decidiram ir embora. Frank disse que esperaria na entrada enquanto Gerard se despedia, pois já se convencera de que perdera a coerência em algum lugar entre uma bebida e outra, e também nem conhecia a família de Gerard direito, conhecê-la bêbado seria uma péssima ideia.

Ele ficou perto do portão trocando o peso de um pé para outro até Gerard voltar. Estava tão surpreso pelo que quase fizera que nem conseguia sentir vergonha direito. Era melhor fingir que nada havia acontecido.

Viu o carro chegar, Gerard devia ter ligado para o motorista lá de dentro. Quando ele voltou, os dois entraram no veículo, que partiu rumo ao apartamento de Julian.

O silêncio nos ouvidos de Frank, que estavam chiando pela música, mais a sonolência pela bebida, o fizeram cair no sono logo no início do percurso. Com os movimentos do carro ele escorregou pelo banco e sua cabeça tombou no ombro de Gerard, que não havia percebido que ele estava dormindo.

Gerard timidamente tirou uma mecha de cabelo do rosto de Frank e observou-o por um instante. Ele estava completamente entregue ao sono, os lábios entreabertos e os braços frouxamente pousados sobre o banco. Gerard deu um suave beijo em sua testa e pegou uma de suas mãos segurando-a na sua.

Era bom que Frank estivesse dormindo, pois assim Gerard podia tentar organizar seus pensamentos e entender o que era aquilo que ele sentia toda vez que prestava atenção em Frank, e até mesmo quando não prestava. Ele era bom em fingir, pois mesmo quando parecia imerso em pensamentos, uma parcela de sua mente estava em Frank. Frank olhando para os lados, absorvendo os detalhes da decoração. Frank fingindo que não se emocionara no casamento. Ele também era bom em perceber coisas pelo canto do olho. Quando Frank analisava-o tentando ler sua expressão. Quando ele tinha algum pensamento que rapidamente transparecia uma emoção em seu rosto – expectativa, tristeza, timidez.

Mesmo tão observador, ele se surpreendeu ao ver Frank inclinar-se em sua direção na beira do lago. Ele se afastou rapidamente, caiu e os dois fingiram que nada havia acontecido, mas embora Gerard houvesse ficado contente com isso, também sentiu um pouco de pesar. Talvez fosse a bebida, talvez um impulso, mas Frank realmente pensara em beijá-lo. Mas ele não queria que Frank se aproximasse por compaixão, e sabia que não era uma pessoa interessante para Frank, tão cheio de vida e com sonhos para realizar – embora encobrisse isso com seu constante ar de tristeza.

Gerard entendia que a morte da mãe tirara o chão de Frank e era por isso que ele ficava assim, mas nos momentos em que algo o deixava animado e transpassava pela sua expressão... Era nesses momentos que Frank parecia ser o melhor de si mesmo.

Mas Gerard não podia negar para si mesmo que algo surgira em seu peito e em sua cabeça.

O carro parou em frente ao prédio de Julian e Gerard rapidamente soltou a mão de Frank, cutucando-o para que acordasse. Ele o fez, com os olhos sonolentos, e levantou a cabeça, confuso.

– O que aconteceu? – resmungou.

– Chegamos.

Gerard desceu do carro e ajudou Frank a descer. Ele cambaleou pela calçada até a porta e tirou as chaves do bolso. Gerard pegou-as de suas mãos e abriu a porta, conduzindo-o pelos lances de escada até a porta do apartamento de Julian.

– Você vai ficar bem? – perguntou, contendo um sorriso ao ver Frank com os olhos semi cerrados esperando que ele abrisse a porta.

– Vou, só estou com sono.

Gerard abriu a porta e Frank entrou.

– Boa noite, então – disse Gerard, colocando as chaves na mão de Frank.

– Boa noite – resmungou Frank, e ficou parado na porta como se estivesse sonâmbulo.

Gerard fechou a porta, desceu e entrou no carro, deixando escapar um profundo suspiro. Frank ainda ficou parado por alguns minutos até perceber que estava em casa. Então, deu meia volta tirando a gravata, andou até o sofá e jogou-se nele sem tirar a roupa, voltando imediatamente a dormir.


Notas Finais


Oléeeee... quase! Não me matem hahaha
Andei um pouco sem criatividade e desmotivada, mas consegui escrever esse capítulo e até que gostei bastante dele, espero que também tenham gostado. E agora, como será a vida quando todos voltarem ao trabalho? Beijos e até o próximo.


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