1. Spirit Fanfics >
  2. Behind the roses >
  3. XIII - A little bit closer

História Behind the roses - XIII - A little bit closer


Escrita por: wellcarryon

Notas do Autor


Oie, boa leitura!

Capítulo 13 - XIII - A little bit closer


Frank desceu do carro carregando o buquê de flores que comprara para a lápide de sua mãe – rosas brancas e vermelhas. Fazia três semanas que Gerard sugerira que ele fosse até o local, mas apenas agora ele conseguira um dia de folga – pelo menos em parte.

Ele caminhou pela trilha principal do cemitério em direção ao local onde estava a lápide, sentindo na pele o efeito que a chegada de dezembro trouxera. Agora as temperaturas estavam por volta da casa de 0ºC, gerando correntes de ar cada vez mais frias. Em compensação, o dia estava bonito, com o céu limpo, o sol amenizando um pouco a sensação de frio.

Demorou alguns minutos para encontrar a lápide, olhando uma por uma nas proximidades do local em que lembrava. Estava tão transtornado na ocasião do falecimento, que o sepultamento passara-lhe como um borrão. Encontrou-a em meio a duas grandes sepulturas, uma pequena placa no chão contendo o nome de sua mãe, bem como as datas de nascimento e falecimento.

Frank ajoelhou-se e observou a pedra, desejando que algo inesperado pudesse acontecer. Talvez se ele a observasse por tempo suficiente, regrediria no tempo, retornaria para casa e tudo voltaria a ser como antes. Talvez ele pudesse abraçar sua mãe uma última vez, tão apertado que tentaria impedi-la de partir.

Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto e ele fechou os olhos, inspirando profundamente, tentando controlar suas emoções, tentando vencer uma batalha que já estava perdida.

– Mãe – disse ele, a voz baixa e estrangulada. – Você... Você consegue me ouvir? Em algum lugar?

O silêncio foi sua única resposta. O cemitério estava vazio, uma imensidão de pedras e gramado estendendo-se por muitos metros a todo redor.

– Mãe... Eu sinto muito sua falta... – Colocou o buquê em frente à lápide e arrancou a pétala de uma flor, apertando-a entre os dedos. – Eu não sei se o que estou fazendo é o certo. Se você pudesse estar aqui e me dizer o que fazer...

Frank acabou se derramando em lágrimas nesse momento. Sentou-se abraçando os joelhos e chorou. Por vários minutos, tudo o que ele conseguia ouvir eram seus soluços e o som do vento nas árvores à distância.

Quando enfim sentiu que a rodada de lágrimas havia cessado, tornou a levantar a cabeça e enxugou o rosto.

– Muita coisa mudou nesses últimos meses – começou. – Eu fiz uma amiga. O nome dela é Julian, e ela é uma das melhores pessoas que eu já conheci. Acho que vocês se dariam muito bem. Ela é simples, mas tem uma alma incrível. – Sorriu, pensando na amiga. Em seguida, seu pensamento se desviou para outra pessoa importante. – Eu também conheci outra pessoa. No meu novo emprego. Mãe, eu estou trabalhando em uma casa muito grande, você nem imaginaria. Eu não gostei desde que entrei lá pela primeira vez. Muito chique, sabe. Parecia que eu estava enjaulado. Há muitas regras. Mas não era só por isso que eu não gostava. Acho que agora eu entendo. Tem uma pessoa, um cara... Ele me deixava louco. De raiva, de vergonha... Mas agora acho que entendo o que realmente acontecia.

Ele sentiu o coração se agitar em seu peito conforme evocava a imagem de Gerard em sua mente.

– Eu ouvi o que você dizia, sobre agirmos como gostaríamos que fosse feito com a gente. Tentei ajudar ele, talvez tenha atrapalhado um pouco, mas acho que acabei fazendo o bem no final. E agora ele também me faz sentir bem, ele consegue me ajudar... Foi ele que me disse pra vir aqui, mãe.

“Ele tem uma cicatriz no rosto, foi uma queimadura em um acidente com o irmão dele, e isso ferrou com a vida dele. Mas... Ele é bem bonitão ainda assim. – Frank sentiu o rosto esquentar. – Eu não acredito que estou falando isso – murmurou. – Bem, a gente tem conversado muito, quase todos os dias. E agora, se a gente não conversa eu sinto falta. Só que ele é meu chefe, mãe. Isso é muito errado, e eu não sei o que fazer.

De fato, Frank e Gerard conversaram muito nas últimas três semanas. Encontros como os do telhado ou o café da manhã se tornaram rotina, e eles se viam quase diariamente, contando desde o que haviam feito no dia – mesmo as bobagens mais simples – até coisas sobre suas vidas que de repente lhes vinham à cabeça. Frank se acostumara tanto com essas conversas que sentia falta quando não ocorriam.

Com as temperaturas cada vez mais frias foi impossível continuar indo para o lado de fora, de forma que eles tinham que procurar lugares diferentes dentro da casa onde pudessem falar sem serem ouvidos. E Frank ainda tinha que se preocupar em não ser visto pelos colegas. Dessa forma, as conversas acabavam ocorrendo quase sempre antes de dormir, o que por vezes acarretava em um Frank um tanto ineficiente no dia seguinte, sendo repreendido por Ray a cada erro que cometia.

– Eu não sei se devo continuar com isso, sabe – confessou.

Frank ficou sentado, deixando os pensamentos vagarem. Aos poucos, uma grande sensação de calma começou a invadi-lo, lhe fazendo sentir um pouco mais otimista. Talvez tudo tomasse seu rumo de forma natural. Era como se sua mãe estivesse dizendo isso em seu ouvido.

Ele ficou lá por um bom tempo, até que acabou tirando o celular do bolso para verificar as horas, e percebeu que estava na hora de ir.

– Bom, tenho que voltar. Mesmo que eu tenha escapulido até aqui, ainda preciso fazer uma coisa a trabalho. – Levantou-se do chão e limpou as calças com as mãos. – Obrigado por tudo, mãe. Eu prometo voltar.

Dando uma última olhada na lápide com as flores, Frank virou-se e seguiu pelo caminho de volta ao carro. Apesar de ter conseguido sair, a folga foi apenas parcial. Ray o encarregara de comprar um pinheiro de natal – com alguns dias de atraso, já que a árvore deveria ter sido montada no final de semana anterior.

 

Frank apressou-se em comprar o pinheiro a fim de voltar para casa cedo – Ray comeria seu fígado se ele demorasse, e, além disso, a cada minuto o tempo esfriava um pouco mais. Parecia impossível, mas nuvens grossas e escuras começaram a aparecer no horizonte, um possível indício de chuva depois do dia de céu limpo.

A árvore seria entregue diretamente em casa, pois não cabia no carro. Assim, Frank deixou a loja e voltou para o abrigo do veículo quente, tirando o celular do bolso para dar uma olhada enquanto o motorista dirigia de volta para casa. Para sua surpresa, havia cinco ligações do número de Julian.

Ele retornou a ligação, mas não foi a voz de Julian que ele ouviu quando a chamada foi atendida.

– Frank? – ele reconheceu a voz de Ella.

– Sim, a Julian me ligou, o que foi?

– Estamos no hospital, ela foi atropelada.

Nesse momento Frank sentiu o sangue gelar, e fez sinal para que o motorista parasse o carro.

– Meu Deus, como ela está? – perguntou, temendo a resposta.

– Está em observação aqui na emergência, mas bem.

– Estou indo para aí, daqui a alguns minutos eu chego!

– Tudo bem, até daqui a pouco.

– Até.

Frank encerrou a ligação e guardou o celular, voltando a atenção para o motorista.

– Escute, mudança de planos. Preciso que me leve para o hospital, depois se você quiser pode ir embora que eu volto de táxi.

– Certo – respondeu ele, voltando para o tráfego e mudando a rota.

 

Frank adentrou a emergência do hospital e imediatamente buscou por informações na recepção, caminhando apressado para o local indicado. Adentrou uma enfermaria repleta de macas separadas por cortinas, e não demorou a avistar as duas, em uma cama à esquerda do quarto.

Julian estava sentada na maca, com um saco de gelo na cabeça, e abriu um sorriso ao vê-lo. Frank sentiu as pernas amolecerem ao ver que ela parecia bem.

– Vocês quase me mataram de susto! – disse ele, se aproximando do leito. – Como você está?

– Bem. Foi só um erro técnico, desci do fio da calçada distraída e um carro bateu em mim, mas não aconteceu nada. Só caí e bati a cabeça, mas está tudo certo. Sem danos, apenas um “galo”.

– Você me disse que ela tinha sido atropelada, pensei que ia encontrar um cadáver desmantelado – desabafou Frank, voltando-se para Ella.

– Ella! – exclamou Julian.

– O que foi?! Foi o que aconteceu!

– Mas você não precisava fazer tanto drama! Me desculpa Frank, se eu tivesse visto isso teria dito pra você não se preocupar, mas ela saiu para pegar um café e levou meu celular.

– Tudo bem, eu só fico muito aliviado de saber que você está bem – disse ele, sorrindo tranquilizadoramente para a amiga. – E nunca mais façam isso, sério!

Frank permaneceu com as duas até um médico aparecer confirmando que estava tudo bem, e que ela já estava liberada para voltar para casa. Foi convidado para comer uma pizza com as duas no apartamento de Julian, mas recusou. Já estava escuro, e ele já deveria estar em casa. Já que liberara o motorista, chamou um táxi, e logo foi deixado em frente à entrada.

Ray abrira o portão pelo interfone, mas Frank não o encontrou na cozinha quando entrou pela porta. Foi até o quarto deixar o celular e trocar de roupas, e depois saiu para procurar os colegas, encontrando-os perto da escadaria, com várias caixas espalhadas ao redor.

– Ah, aí está você. Finalmente! Onde andou? A árvore chegou e nada de você – disse Ray com um tom de censura, ao que Frank se aproximara.

– Houve um imprevisto, me desculpe.

– Como sempre – replicou, e Frank não gostou nem um pouco de seu tom de voz, mas decidiu ficar quieto. Ele sabia que Ray estava certo, ele deveria ter avisado que demoraria a chegar. – Vamos, me ajude a montar essa árvore enquanto o Bob volta para as coisas dele.

Frank obedeceu, sentindo o ar de contrariedade de Ray aos poucos se dissipar, conforme os dois decoravam a árvore com os enfeites das caixas. Devido à altura do pinheiro, Frank precisou subir alguns degraus na escada enquanto Ray virava a árvore logo abaixo, para que assim conseguissem preencher todos os espaços.

Terminaram de arrumar tudo quase ao mesmo tempo em que Bob reapareceu, avisando que o jantar estava pronto. Ele parou por um instante com os braços cruzados e observou a árvore com uma expressão pensativa.

– Faz tempo que não vemos uma dessas por aqui – comentou.

– É, há muitas coisas estranhas acontecendo nessa casa ultimamente – disse Ray, saindo em direção à cozinha e deixando os dois para trás.

Para Frank, foi como um soco nos rins. Bob logo seguiu Ray, e Frank foi atrás, sentindo o peso de sua consciência empurrando-o para baixo. De repente ele não estava mais tão confiante assim.

 

Era por volta de onze e meia da noite, e Gerard estava em seu estúdio, a tela de Samantha no cavalete à sua frente. Estava quase pronta, faltavam apenas alguns retoques de luz e sombra. Na verdade, a pintura já deveria ter sido entregue, mas Gerard precisou de pelo menos uma semana para obrigar-se a começá-la, e mais duas intercalando-a com outras coisas, arrumando falhas quase imperceptíveis, tentando deixá-la perfeita.

Molhou o pincel em um tom de tinta que criara para o cabelo e acrescentou luz a uma mecha que caía ao lado do rosto de Samantha. A pintura estava tão vívida que era como tê-la olhando para si por uma janela – de fato, Gerard podia jurar que aquele era um de seus melhores trabalhos.

Mergulhou o pincel em um vidro com água para limpá-lo, e antes de pegar outro ouviu o sinal de mensagem de seu celular. Ele nem precisava ler o nome para saber de quem se tratava.

Frank: Posso subir?

Quase todos os dias Frank lhe mandava uma mensagem igual ou parecida, então Gerard lhe esperava na escada e os dois conversavam por um bom tempo, antes de irem dormir. Isso já havia se tornado rotina – mesmo que não houvesse nada de importante para ser dito, simplesmente ouvir a voz de Frank ou estar em sua presença já lhe proporcionava uma sensação de paz inexplicável.

Respondeu a mensagem e saiu do estúdio para esperá-lo na porta do escritório. Na maioria das vezes eles acabavam indo para a sala onde tomaram café da manhã, onde conseguiam conversar mais à vontade, ou então Gerard lhe mostrava algum outro lugar do andar superior, já que com as temperaturas cada vez mais frias o telhado deixou de ser uma opção.

Hoje, no entanto, Gerard decidiu mostrar um lugar mais pessoal, onde não deixava ninguém entrar, nem mesmo Ray.

Ouviu os passos de Frank ecoando no hall, e logo sua figura surgiu ao pé da escada de cabeça baixa. Subiu os degraus devagar e quando chegou ao topo ergueu a cabeça, encontrando o rosto de Gerard, que sorria enquanto o observava.

– Que foi? – perguntou, passando a mão no rosto como gesto reflexo, limpando alguma sujeira imaginária. Gerard continuava sorrindo.

– Você – respondeu ele, simplesmente, estendendo a mão. Frank segurou-a. – Você é sempre uma boa visão.

Frank revirou os olhos e baixou a cabeça, sentindo o rosto esquentar. Gerard o puxou para seus braços e encostou o rosto na parte superior de sua cabeça. Frank pousou as palmas das mãos sobre o peito de Gerard e suspirou, enterrando o rosto na camisa dele. Tinha cheiro de tinta.

– Por que você está sempre com essas roupas tão sociais? – perguntou.

– Hábito – respondeu Gerard, desfazendo o abraço, mas segurando sua mão. – Venha, quero lhe mostrar um lugar.

Frank se deixou ser guiado para dentro do escritório, e sentiu o coração acelerar quando percebeu para onde estava indo.

A porta de conexão dava para um ambiente de tamanho médio, com as paredes repletas de folhas de papel com desenhos e pinturas – isso quando os mesmos não estavam diretamente na parede. Havia uma bancada bloqueando a porta que daria para o corredor, sobre a qual vários materiais estavam espalhados, e na parede ao lado, havia uma estante de metal lotada de tintas, potes, pincéis e outros objetos.

Do lado oposto, havia um sofá preto de couro sintético, sobre o qual era possível perceber algumas manchas de tinta. O cômodo estava iluminado apenas por uma luminária de chão postada no centro, próxima de um cavalete com uma pintura perfeita de Samantha, um banco alto e uma mesa auxiliar repleta de tubos de tinta, pincéis e materiais de pintura.

Gerard soltou sua mão e deixou que ele conhecesse o ambiente enquanto o observava da porta.

– Isso é muito legal! – disse Frank, correndo os olhos pela parede acima do sofá. Havia papéis recentes e outros amarelados pelo tempo, com marcas de fitas nos cantos onde ela fora colada mais de uma vez. Era possível traçar uma cronologia, tanto pelas características do papel quanto pelos traços – os papeis mais antigos se distinguiam também pela falta de experiência do artista, testando técnicas e as evoluindo até alcançar o resultado atual.

– Este é o meu local de trabalho. É o lugar mais pessoal da casa. Você não vai encontrar tanto de mim em nenhum outro lugar.

– Dá pra perceber. É como entrar em um laboratório de artes muito personalizado – comentou Frank. – Daqueles que dá vontade de pegar tudo e criar alguma coisa, mesmo que você seja péssimo nisso.

– Fique à vontade. Tem papel ali – disse Gerard, apontando para uma prateleira da estante.

– Não, obrigado. Eu não me arriscaria a tocar em nada disso – respondeu Frank, desviando sua atenção para a janela. Caminhou até ela e olhou para fora.

O vento aumentara consideravelmente e as nuvens escuras agora pairavam pela cidade, cobrindo as estrelas. Seria uma sorte se a chuva esperasse até o dia seguinte para começar.

Gerard se aproximou e colocou uma mão em seu ombro.

– Tem algo de diferente com você. Aconteceu alguma coisa?

– Foi um dia louco – respondeu Frank, repassando mentalmente as coisas que aconteceram. – Fui ao cemitério hoje.

– E aí? – Gerard apertou um pouco o ombro de Frank, demonstrando suporte.

– Foi bom. Você estava certo. Acabei saindo mais tranquilo de lá.

Gerard sorriu, contente por saber que havia ajudado. Mas havia algo mais no rosto de Frank.

– E depois? – incentivou. Seu objetivo não era arrancar informações de Frank, longe disso. Se o rapaz não quisesse lhe dizer nada, ele jamais o forçaria. Mas ele sentia que nesse caso ele queria.

– Você nem vai acreditar no susto que a Ella me deu - a namorada da Julian, lembra? Ela me ligou um montão de vezes pra dizer que a Julian tinha sido atropelada. Mas não, não aconteceu nada grave – acrescentou diante da expressão de surpresa no rosto de Gerard. – Aparentemente ela desceu da calçada e não viu o carro, mas o motorista estava devagar e só derrubou ela.

– Que sorte! Ela podia ter se machucado.

– Sim! Quase tive um negócio quando ligaram, pensei que ia ver ela em pedaços.

– Foi por isso que você demorou hoje.

– Foi.

Gerard esperou em silêncio observando Frank. Este, por sua vez, olhava pela janela, mas não parecia se fixar em nenhum ponto específico. Virou-se para Gerard, erguendo os olhos para fitá-lo.

– Ray está desconfiando de algo – disse.

Gerard ficou em silêncio por não saber o que dizer.

– Ele está bravo.

– Ele te disse alguma coisa?

– Não para de soltar frases no ar e faz com que eu me sinta culpado.

– Você não tem motivos pra se sentir culpado, Frank. Não estamos fazendo nada de errado.

– Muito menos de certo – resmungou Frank, fechando os olhos e suspirando. – Ok, só um instante.

Ele sacudiu a cabeça e apertou os olhos, convencendo-se a deixar a tensão para depois. Quando tornasse a abrir os olhos, nenhuma dessas questões estaria em sua mente, e ele estaria totalmente imerso naquele momento. Eles não tinham muito tempo pra ficar juntos, e ele não gastaria o pouco que tinham pensando em coisas que poderia pensar depois.

Surpreendeu-se ao sentir os lábios de Gerard nos seus e abriu os olhos brevemente. Gerard afastou o rosto para fitá-lo, com um sorriso tão adorável que foi Frank quem buscou o contato novamente, enlaçando os braços no pescoço de Gerard e entregando-se ao momento por completo.

De alguma forma os dois logo foram parar no sofá, as mãos de Gerard trilhando um caminho inconstante por baixo do paletó de Frank, que se agarrara ao colarinho de sua camisa de tal forma que seu equilíbrio parecia depender disso. Ele descobrira com o passar dos dias que beijar Gerard era como tomar Felix Felicis, a poção do universo de Harry Potter que concedia sorte a quem a bebesse, e a sensação de ser invencível.

É claro que a realidade aguardava logo do lado de fora da bolha de amor, pronta para assumir o controle novamente e insatisfeita por ser ignorada. E dessa vez ela se manifestou sob a forma de Ray.

Os dois se separaram de supetão ao ouvirem batidas na porta do escritório. Gerard saltou do sofá e correu a mão pelo rosto e cabelos enquanto Frank olhava ao redor, buscando um lugar para se esconder. Tendo apagado quase todos os vestígios de suas últimas atividades, Gerard abriu a porta de conexão e saiu, colocando um pincel atrás da orelha para fingir que estava pintando.

Frank ouviu quando ele abriu a porta do escritório e Ray se manifestou.

– Desculpe o incômodo senhor, só vim para saber se deseja alguma coisa antes que eu me retire para dormir.

– Não, tudo bem. Pode dormir – disse Gerard, com a voz tão calma que parecia quase entediada.

– Certo – disse Ray, mas Frank sabia que ele não havia se mexido porque não ouvira os passos. Ele hesitou por um instante antes de falar novamente – Na verdade, senhor, vim perguntar se você teria visto o Frank.

– Frank? – perguntou Gerard, em tom de surpresa. – Não, por quê?

– Eu o procurei e não o encontrei.

– Bem, ele tem que estar em algum lugar.

Ray estava atrás dele, e voltaria a procurá-lo pela casa. Frank não poderia simplesmente aparecer lá embaixo vindo do restante da casa, pois o colega já imaginava que ele pudesse estar por ali. Seu cérebro agiu em alta velocidade. Ele colocou a cabeça para fora da janela e sem pensar muito, subiu no peitoril. Era muito alto, mas com a adrenalina correndo freneticamente por suas veias, Frank não tinha tempo para se preocupar com isso.

Se pendurou na janela, alcançou com os pés a janela do andar de baixo se segurando nos recortes da parede e desceu. Quando estava próximo o suficiente do chão, soltou-se, caindo de lado e reprimindo um grunhido. Dali, foi até a horta, arrancou alguns galhos de ervas de chá e ajeitou suas roupas antes de chegar à cozinha.

Quando Ray passou pela porta, Frank estava parado em frente ao fogão, esperando a chaleira esquentar. Ray ficou tão surpreso por vê-lo que quase deu um passo atrás.

– O que você está fazendo aqui? – perguntou.

– Estou fazendo um chá. Está frio, não consegui me aquecer.

– Eu procurei você, onde estava? – perguntou Ray, desconfiado.

– Na horta, pegando o chá. – Frank respondeu como se fosse óbvio.

– Tem chá na gaveta.

– Você não está querendo comparar um saquinho de chá com um chá fresco, feito na hora, está? – Frank ergueu as sobrancelhas.

Ray fitou-o por um momento, procurando algum indício de que Frank estava mentindo, mas não encontrou nada. Ele tinha a expressão inocente que só quem está dizendo a verdade consegue ter.

Dando-se por vencido, resmungou um “boa noite” e virou a costas. Frank ficou observando-o se distanciar. Quando teve certeza de que ele havia ido para o quarto, fez uma careta remedando o colega e depois massageou a lateral do quadril, que ficara doendo pelo tombo.

Talvez ele estivesse aprendendo com Gerard como ser convincente, pois nunca se sentiu tão calmo durante uma mentira. Quem sabe fosse a raiva por Ray ficar se metendo, a vontade de provar para ele que estava errado – mesmo que não estivesse.

Mas, de qualquer maneira, Frank conseguia sentir no ar a eletricidade que aquela situação toda estava causando. Sabia que a tempestade não demoraria a chegar.


Notas Finais


Então, capítulo meio bobinho, mas importante pra situar vocês e preparar para o que pode acontecer no futuro. A previsão do tempo de hoje aponta nuvens carregadas de tretas aproximando-se da mansão Way, será que vem tempestade mesmo por aí?
Obrigada pelos comentários no último capítulo, fiquei tão empolgada com a resposta de vocês que não parei de pensar na história até conseguir postar esse capítulo. Se encontrarem algum erro, favor avisar, revisei meio na pressa e pode ter passado alguma coisa. Se houver algo desconexo, idem, às vezes mudo frases de última hora e pode ter ficado estranho.
É isso, espero vê-los nos comentários! Até o próximo!!!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...